Lucas Park Ele me olhou profundamente, com a mesma calma firme de sempre. ― Nem tudo na vida é tão simples como certo ou errado, preto ou branco ― respondeu, sua voz cheia de sabedoria. ― Você precisa aprender a relaxar, Lucas. Não se culpe por coisas que estão além do seu controle. A maneira espontânea como ele falou me pegou de surpresa. Ficou claro que ele sabia mais sobre o assunto do que eu havia contado a Jullian. O que significava que meu pai sempre esteve a par de tudo o que acontecia ao meu redor, assim como sabia exatamente quem eram aquelas pessoas. ― Você sabe quem eles são ― afirmei, sem esconder minha frustração. Ele manteve a expressão calma e respondeu com uma serenidade desconcertante: ― Quem eles são não é tão importante quanto o que eles querem. ― Querem o conglomerado Gold. Meu pai soltou uma risada irônica. Ele sabia muito mais do que estava deixando transparecer, e essa falta de transparência me incomodava profundamente. Aq
Lucas Park Era inevitável: eu precisava adotar uma postura mais firme. Teria que agir de forma estratégica, provocando-a na medida certa, desarmando suas barreiras uma por uma. Eu conhecia Gabrielle o suficiente para saber o que poderia balançá-la. Mas isso não significava apenas seduzi-la; eu queria conquistar seu coração de verdade. E, para isso, teria que me conter muito mais do que achava possível. Mas seria capaz de estabelecer um limite entre nós? Mesmo que ela tentasse ultrapassar, eu teria a força necessária para contê-la? Mais importante ainda, conseguiria conter a mim mesmo? Eu precisaria ser forte, pois o nosso futuro dependia diretamente da minha capacidade de resistir à tentação de me entregar completamente à sua presença. O caminho até o coração dela nunca seria fácil. Eu soube disso no momento exato em que ela virou as costas naquela manhã, me deixando sozinho, com os biscoitos que eu havia feito. Desde então, a cada dia, ela erguia novos obstáculos. Se e
Lucas Park — O que está fazendo? — perguntei, retirando sua mão da minha testa. — Estou verificando sua temperatura — respondeu ela, aparentemente confusa. — Você não parece bem, seu rosto está todo vermelho... Como ela podia pensar que meu estado febril era por causa de alguma doença? Ela era a única coisa que me deixava nesse estado. Seu gesto de preocupação fez meu coração apertar por um segundo, mas o que era aquela pequena brisa de ternura em comparação ao furacão que eu estava enfrentando por dentro? — Pelo amor de Deus, Gabrielle — a interrompi, minha voz falhando miseravelmente. — Não me toque assim, tão de repente. Eu esperava que ela não percebesse o quanto eu estava lutando para manter o controle. Meu desespero estava escancarado em cada palavra, e ela não tinha a mínima ideia do efeito que causava em mim. Seus olhos, cansados e cheios de perguntas, me encaravam sem entender nada, e isso só tornava tudo mais insuportável. Como Leslie pôde sugerir qu
Gabrielle A situação não estava favorável. O que mais me irritava não era o alívio de não ter que retornar à empresa para mais uma rodada de humilhação, mas sim o fato de Leslie ter observado todos os meus passos, silenciosa e paciente, aguardando o momento perfeito para me desarmar. Ela sabia. Sempre soube. E esperou o instante certo para me confrontar, como se tudo fosse parte de um jogo que eu nunca tive chance de vencer. Jullian recusava minhas ligações, nem ao menos respondia às minhas mensagens. Era óbvio que ele estava se escondendo de mim. Talvez porque soubesse que, se me encarasse, não seria capaz de mentir. Ele me contaria o que Leslie estava tramando, sem dúvida. E essa fuga dele doía mais do que eu gostaria de admitir. Murilo, por outro lado, simplesmente desapareceu. Não houve mais encontros, nem mensagens, nada além de silêncio após aquela longa conversa. Dave, por algum motivo, insistia em estar presente em cada refeição. Sua constante presença, que ante
Gabrielle Por fora, o lugar não chamava muita atenção. As paredes estavam cobertas por trepadeiras, escondendo qualquer vestígio de cor. Pelas janelas de madeira rústica, percebi que não havia muitas pessoas lá dentro. Acima da porta de entrada, também de madeira envelhecida, uma placa entalhada exibindo o nome do estabelecimento: “Meia Noite”. Assim que entrei, a iluminação suave do lugar imediatamente me acolheu. As luzes baixas criavam um ambiente aconchegante, enquanto uma música de fundo abafava as conversas discretas nas poucas mesas ocupadas. Ao caminhar pelo bar, meus saltos fizeram um som distinto e ritmado no piso laminado de mogno, e aquilo me fez sorrir por dentro. Olhei ao redor, absorvendo os detalhes da decoração. Era surpreendentemente lindo. Nunca imaginei que um bar com um toque rústico pudesse me fazer sentir tão confortável. Depois de alguns minutos sentada na mesa mais próximo à saída, descobri que aquele não era apenas um bar qualquer. Sentado próx
Gabrielle Rodriguez pegou uma das taças, sem hesitar, e as duas garotas o seguiram, cada uma pegando a sua. Ele casualmente ergueu a sua, olhando diretamente para mim. — Vamos nos divertir essa noite — forçou ele, sua voz compartilhada de uma falsa camaradagem. — Vamos brincar ao início de uma próspera amizade! Aquela última frase soou como uma provocação velada. Ele sabia, de alguma forma, que eu não estava ali para fazer amigos. A ideia de "amizade" parecia ridícula naquele contexto. Ainda assim, ali estava ele, insistindo em forçar uma conexão que claramente não existia. Peguei uma das taças, apenas para não dar o gosto a ele de minha recusa. Mas algo em mim hesitou. Eu sabia que aquele brinde tinha muito mais do que ele estava contando. Lucas sorriu para mim, e por um breve momento, fiquei confusa. Aquele sorriso era um incentivo ou um pedido de desculpas? Talvez ele soubesse o que significava aquele brinde, e, ainda assim, não tentou me impedir como fez na fes
Gabrielle Quando consegui controlar meu desejo, quando tive certeza de que não iria matá-las com minhas próprias mãos ao me deparar com elas, permiti-me sair daquela cabine e voltar para o salão. Ao me aproximar, percebi que as duas estavam sentadas, rindo de algum comentário de Rodriguez. Lucas, por outro lado, não parecia achar graça. Ele estava de pé, com uma carranca terrível, claramente desaprovando o que ouvia. Parecia querer matá-los tanto quanto eu, mas duvidava que estivesse tão disposto quanto. Não consegui descobrir o que ele disse rispidamente àquelas pessoas. Antes que eu pudesse me sentar, Lucas já estava me puxando para fora dali. A forma como ele me arrastou, seus movimentos, até mesmo sua respiração... tudo me causou um certo receio. Ele estava irritado, claramente irritado. Não questionei quando me colocou no banco do passageiro do BMW, nem mesmo quando começamos a dirigir sem destino. Com certeza, aquele não era o caminho de casa. Confesso que vê-lo a
Gabrielle A vista era magnífica. Daquela cobertura, eu podia ver a cidade inteira, tão pequena, com todas as luzes acesas, os prédios comerciais iluminados e os carros cruzando as ruas. Consegui até avistar minha casa, do outro lado da cidade, na colina. John insistira em construí-la ali para que pudéssemos ver toda a cidade e ter a melhor vista do nascer do sol. Papai sempre foi muito atencioso. Confesso que, na minha condição, não consegui prestar muita atenção nos detalhes. Não percebi o ambiente por completo quando cheguei, e muito menos depois de ver aquelas garrafas de vinho tinto dispostas em um quadro de losangos na parede branca. Puxei uma delas, abri-a com um saca-rolhas que encontrei em algum lugar. Sinceramente, nem sei como consegui fazer isso, nem como bebi metade da garrafa antes de Lucas reaparecer. Ele trazia duas toalhas e um roupão. Seus olhos se estreitaram ao me ver bebendo de sua reserva pessoal. — O que está fazendo com esse vinho? — pergunto