Lucas Park
Eu... o vilão. A verdade nunca foi agradável aos ouvidos. Talvez fosse por isso que ele a lançava tão despreocupadamente a cada oportunidade que a surgia. Quando somos feridos por uma mentira, basta desmascará-la. Mas o que fazer quando a dor vem justamente da verdade?
Eu conhecia bem minhas falhas e pecados. E estava tudo bem. Eu estava disposto a pagar, com juros, por cada uma das minhas transgressões. Mas lidar com o fato de que os outros enxergavam essa culpa estampada no meu rosto... isso me corroía.
Gadreel sabia como me ler. Dominava essa arte com maestria, uma habilidade refinada ao longo dos anos em que me mantinha sob suas asas, não para me proteger, mas para me preparar para o abate. Ele sabia exatamente onde tocar, quais palavras usar, como esculpir a dúvida dentro de mim até que se tornasse um peso imp
Gabrielle Nem sempre antes da tempestade vemos raios e trovões ecoando no céu; às vezes, é só o vento. Mas a sensação, aquela que cresce como uma sombra, me disse que algo muito ruim estava prestes a acontecer. Mesmo nos braços de Lucas na noite passada, onde eu deveria estar plena e feliz, meu coração estava inquieto, como se soubesse que não tínhamos muito tempo. Parecia errado estar ali, entregue a uma paz que não combinava com o caos ao nosso redor, enquanto o universo preparava algo grande, algo implacável. Mesmo enquanto ele me segurava tão firme, parecia que o chão debaixo de nós se desfazia aos poucos, como areia que cede à maré. Meu coração sabia o que minha mente se recusava a aceitar: algo estava para acontecer. Mas não tinha importância. Não poderia permitir que minha autossabotagem me tirasse aquele momento, que levamos tanto tempo para conquistar. Senti o calor do sol aquecendo minha pele e acariciando meu rosto. A vontade de me levantar brigava contr
Gabriele Quando entrei na cozinha, o cheiro doce de bolo recém assado e o café preto me envolvem imediatamente. Leslie e Dave estavam sentados à bancada, tão imersos em sua conversa sobre a reunião em algumas horas, que nem notaram minha presença. Lucas estava de costas, ao lado da ilha, cortando fatias de bolo de laranja, com uma postura tranquila e confiante. O aroma doce inundava o ambiente, enquanto preparava o café da manhã que ele claramente não me deixaria recusar. Sem hesitar, caminhei até ele e o abracei por trás, como sempre fazia. Afundei meu rosto em suas costas, sentindo seu cheiro e o ritmo constante das batidas de seu coração. Ele se virou para me encarar, me envolvendo nos braços como sempre fazia, com aquela naturalidade que só ele tinha. — Que bom que decidiu se vesti
Gabrielle Ele me conduziu até o jardim de Leslie, um lugar que carregava mais memórias do que eu estava preparada para lidar. O mesmo espaço onde, anos atrás, costumávamos brincar, agora parecia completamente transformado. Onde antes havia um gramado impecavelmente aparado, perfeito para nos sentarmos, rolarmos e rirmos sem fim, agora havia mosaicos florais em tons vibrantes, exalando perfumes doces e delicados. Por que nunca percebi essa mudança antes? Meu coração apertou ao lembrar de como, após sua partida, passei semanas sentada naquele gramado, sozinha, chorando. Lembro-me de Jullian me levar para um passeio. Quando voltei, o gramado havia desaparecido, substituído por essas flores. Na época, ignorei, concentrando minha raiva em outro lugar. Mas agora, tudo fazia sentido. Leslie tentou apagar uma memória que acreditava ser dolorosa.<
Gabrielle Lucas havia encontrado a forma mais eficaz e precisa de me fazer ceder. Refinou essa habilidade ao ponto de torná-la quase imperceptível, uma obra-prima de manipulação envolta em toques e beijos. Eu, ingênua e vulnerável, deixei que isso acontecesse vezes demais. Não era que eu desgostasse de sentir seus lábios nos meus ou suas mãos mapeando meu corpo como se fosse território sagrado. Longe disso. Mas odiava, com uma intensidade avassaladora, como ele fazia questão de desarmar minha mente no processo. Ele me desmontava, peça por peça, até que eu não pudesse lembrar de nada além dele. ― Não vai funcionar dessa vez ― murmurei, ofegante, pressionando suas mãos para afastá-lo, com a pouca força de vontade que consegui reunir.  
Gabrielle Lucas percebeu meu silêncio e suspirou profundamente, como se também estivesse cansado de carregar o peso das expectativas. ― Eu só quero que você esteja preparada para o que está por vir ― disse ele, suavizando a voz. ― Isso não é algo que você pode enfrentar sozinha, Gabrielle. Eu o encarei, tentando decifrar suas intenções, mas algo me dizia que ele sabia muito mais do que estava disposto a compartilhar. E isso me irritava tanto quanto me confortava. ― E por acaso acha que isso mudaria, se eu estivesse grávida? ― desafiei, cruzando os braços e encarando-o. Lucas manteve o olhar fixo em mim, a intensidade em seus olhos quase me fazendo vacilar. ― Sua gravidez abrirá os portões de sua casa ― respondeu, com uma
Gabrielle Sem olhar para trás, segui em direção à garagem. Não parei para conferir se ele estava me seguindo, e no fundo, desejei que não estivesse. A última coisa que eu queria era outra conversa com mais meias-verdades, rodeios e tentativas de controle. A casa estaria vazia em alguns minutos, já que todos foram obrigados a participar daquela reunião que Jullian não parava de enfatizar como sendo "crucial". Mas eu não tinha interesse em ficar. Cada parede, cada espaço vazio parecia um lembrete cruel de como eu estava sendo aprisionada, não por tijolos, mas pelas expectativas e manipulações de todos ao meu redor. Sem pensar muito no que estava fazendo, caminhei direto até o McLaren. Se Lucas queria me irritar com suas mentiras, eu poderia muito bem retribuir privando-o de seu mais nov
Gabrielle A cobertura tinha apenas dois apartamentos, e eu sabia exatamente qual deles pertencia a Lucas. A presença daquela mulher era desnecessária, uma irritação adicional que eu não estava disposta a suportar. Ela não precisava me acompanhar e, acima de tudo, não deveria presenciar o que viria a seguir. ― Eu sei o caminho ― murmurei, firme, saindo do elevador sem olhar para trás. Graças a Deus, ela não me seguiu. Caso contrário, não sei se minha paciência teria durado. Cada passo até a porta pareceu aumentar a ebulição dentro de mim. Quando finalmente cheguei, toquei a campainha com tamanha força que o som ecoou lá dentro como uma sirene anunciando um desastre iminente. Não levou nem meio minuto para a porta se abrir. Não me de
Art. Único: A herdeira terá posse absoluta, irrefutável e intransferível, após a maioridade de 21 (vinte e um) anos, sob o cumprimento das seguintes exigências: 1. A herdeira deverá ser apta ao cargo de CEO, tendo pleno conhecimento certificado das seguintes áreas: a. Administração de empresas e finanças corporativas b. Economia c. Engenharia d. Arquitetura e. Gestão de pessoas Essa foi a primeira das dez exigências de meu pai, nada fáceis de se cumprir. Ele era a pessoa que mais me conhecia no mundo, talvez soubesse mais de mim do que eu mesma, o que me deixava desconfortável, pois sabia exatamente como lidar com meu narcisismo. Não pude conter o riso quando li pela primeira vez, na verdade, eu ri alto e tão descontroladamente, que senti cada músculo do meu corpo vibrar. Me obrigar a ser social mediante um documento era tão John. Ele sabia que eu não gostava de participar de eventos sociais, sabia que eu não gostava das pessoas da minha idade, assim como sabi