Gabrielle Para John, havia alguns atos imperdoáveis, e brincar com os sentimentos das pessoas era um deles. O que ele pensaria de mim, se soubesse que eu estava cogitando iniciar uma relação apenas para apunhalar alguém pelas costas mais tarde? Apesar de ter aprendido a nunca fazer promessas que não tinha a intenção de cumprir, ou simplesmente a nunca ludibriar alguém, descobri, com o passar dos anos, que era absurdamente boa nisso. Jullian me advertiu inúmeras vezes por meu comportamento “confundir” seus estagiários. Não era minha culpa que seus mensageiros se apaixonassem tão facilmente, ou que acreditassem tanto em minha inocência, pois inocente nunca fui, tampouco me preocupava em parecer imaculada. O fato é que perdi a conta de quantos estagiários foram demitidos por minha causa, e não por culpa minha, pois culpa eu não tinha. Claro que não. Tentava justificar meus atos a mim mesma, me perguntando se meu pai entenderia se eu explicasse a ele que, o mundo em que viv
Gabrielle — Tem um carro te esperando na portaria — disse Jullian ao telefone. — Vista-se adequadamente para o trabalho. Jullian não me deu brechas para negociação. Eu não fazia ideia de como ele havia me encontrado, nem de como descobriu que eu fugi da festa. Mas isso não importava, eu estava disposta a cumprir minha palavra, independentemente de tê-lo latindo em meu calcanhar. Embora pudesse facilmente ignorá-lo, o incômodo constante de Jullian me fazia lembrar que, apesar de toda a minha independência, ainda estava presa às expectativas dele. Jullian sempre me censurava pela forma como eu me vestia. Para ele, eu simplesmente ignorava as regras de etiqueta. Já que logo teria um cargo de maior visibilidade, deveria me comportar e me vestir como uma dama da mais alta classe. Usar roupas com brilho e decotes estava fora de cogitação. Tudo o que pude fazer com o closet jovial que Murilo havia preparado para mim, foi vestir um vestido tubinho azul-marinho. Embora fosse um
Gabrielle — Está achando engraçado? — disparei, incrédula. — Acredite, Gabrielle, isso me diverte mais do que você imagina — disse Lucas, com um sorriso tranquilo, como se já tivesse vencido a batalha antes mesmo de começar. — Dada a nossa situação, acho que você deveria se comportar de acordo com o cargo que ocupa. Olhei para Jullian, que, por trás de sua carranca, tentava suportar a vontade de rir. Eles estavam se divertindo à minha custa. Eu poderia culpá-los, mas a verdade é que havia procurado por aquilo, uma vez que o sigilo havia sido ideia minha. Eu não queria que descobrissem quem eu era, porque não desejava tratamento especial. Já havia sido o suficiente crescer escondida das pessoas; foi o suficiente ser tratada como quebrável por todos aqueles que conheciam minha identidade. Eu não desejava que me tratassem com formalidade; eu queria que me respeitassem, independentemente de minha identidade. Ao que parecia, Jullian e Lucas estavam ali para me fazer passar p
Gabrielle Confesso que não fiquei nada feliz com minha posição inicial. Na verdade, estava pronta para jogar tudo para o alto no primeiro desacato que sofresse. Foi simplesmente humilhante vestir aquele uniforme da limpeza e passar o restante do dia sorrindo para todos que entravam no prédio, pisando sem o menor respeito no chão que eu havia limpado. Como era possível que existisse esse tipo de emprego? Como era possível alguém passar seis horas lustrando o chão da entrada? John deveria estar louco quando designou esses serviços. Quando recebi aquele uniforme, realmente pensei que passaria meu dia esvaziando as lixeiras de papel picado dos escritórios. Nunca imaginei que Julls me colocaria numa posição tão inferior. Mas estava disposta a suportar. Enquanto limpava o balcão da recepção, percebi que funcionários em minha posição eram simplesmente ignorados. As pessoas que passavam por ali cumprimentavam Alice, a recepcionista, mas me ignoravam completamente, como se eu fosse i
Gabrielle No final daquele dia interminável, não voltei para o apartamento de Murilo. Eu não queria preocupá-lo com minha situação. Decidi que já era hora de retornar para casa, antes que Leslie se esquecesse de quem era a verdadeira dona daquele lugar. Assim que o táxi parou em frente aos portões de casa, a "guarda real" já estava à minha espera. Eu me referia aos seguranças que Julls havia contratado para monitorar meus passos. Era extremamente irritante ser seguida o tempo todo. Sua falta de confiança era ultrajante. Caminhei lentamente pelo gramado, ignorando os dormentes completamente. Olhar aquele por do sol, que desaparecia atrás da enorme casa, me fazia lembrar de quando era meu pai quem caminhava por aquele caminho, enquanto eu o esperava, paciente, sentada na varanda a várias horas. Ele se sentia tão sobrecarregado e desesperado para voltar para casa, assim como eu? Pelo menos ele não tinha que dar explicações a ninguém, nem mesmo tinha uma recepção tão forçad
Gabrielle Acidente? Que acidente? Minha mente tentou processar a informação, mas minha expressão se manteve firme. Eu não sabia o que havia acontecido com Lucas, e o fato de não ter sido informada me irritou ainda mais. Por que ninguém me contou antes? Eu não sabia se a raiva que começou a crescer em meu peito, era por Lucas não ter me dito nada sobre o assunto, ou por Dave estar usando minha desinformação a seu favor. Dei uma rápida olhada em Lucas, que continuava imóvel. Por que ele não continuava calado? Por que raios não olhava para mim? Minutas atrás estava desesperado por minha atenção, e agora simplesmente parecia querer se esconder nas sombras de seu pai. Ao que parecia, Dave havia tocado em um ponto delicado para ele também, pois não parecia nada feliz com a revelação do pai. — Fico realmente feliz em rever-la, princesa — Continuou Dave — Estou voltando para Seul esta noite, deixo meu filho aos seus cuidados. Aquela pessoa sabia como me afetar. Somente meu
Gabrielle Qual oferta? O que ele queria de mim? Por que estava se aproximando assim agora? Mil perguntas surgiram em minha mente, mas nenhuma delas escapou por meus lábios. Seu corpo era tão quente quanto o de Murilo, mas seu toque era mais gentil, e seus lábios, mais delicados, quando encontraram minha testa. Fiquei tão surpresa que simplesmente paralisei. John era o único que já havia feito isso por mim. Eu realmente não esperava por aquela demonstração de afeto. Não teria me surpreendido se ele tivesse me puxado para um beijo depravado, considerando o fato de eu estar nua por baixo do roupão de banho; afinal, isso seria o mais lógico. Minha mente gritava que eu deveria empurrá-lo, que deveria odiar aquele gesto. Ele se foi por tanto tempo, me deixou sozinha, e agora aparecia com toda essa ternura? Mas meu corpo não respondia, e um calor estranho se espalhou por mim. Talvez fosse raiva, talvez fosse algo mais. A verdade é que, por um segundo, eu não quis me afastar.
Lucas Park No momento em que estacionei na garagem da casa dela, pude sentir como se todo o meu corpo enrijecesse. O que eu diria a eles? Eu sabia que parte da ferida dela era culpa minha, e não havia um só dia em que eu não me arrependesse de ter partido. No entanto, parecia que quanto mais eu tentava consertar as coisas, mais eu acabava afastando-a. Como poderia justificar que Gabrielle havia chegado em casa sozinha? Pelo menos ela não tinha colocado aquela bebida nojenta na boca. À medida que caminhava entre os carros e percebi que tanto o carro de Jullian quanto o do meu pai também estavam ali, me obriguei a apertar o passo. Eles não a aborreceriam ainda mais. A personalidade de Gabrielle havia se tornado muito diferente do que eu esperava. Todos os dias, enquanto lia meu diário antigo e assistia aos vídeos da nossa infância, que gravávamos escondidos dos olhos de John, eu me lembrava de como ela sempre foi uma garota alegre e amorosa. Embora nunca tivesse sido muit