Eu me lembro como se fosse hoje. Me lembro com muita clareza do dia em que olhei para ele e senti que meu coração tinha o escolhido para amar.Lembro de descer as escadas correndo como uma maluca, me recordo de chegar no jardim e ver uma multidão de pessoas espalhadas por lá, e me lembro muitíssimo bem que por mais que meus olhos foram levados ao corpo de Corey quase nu, minha atenção maior foi em Scott.Ele estava usando uma bermuda azul, quase da cor de seus olhos e muito próximo ao tom da água da piscina. Seu sorriso enorme era direcionado a algum amigo deles que eu não me recordo visto que toda a atenção foi depositada nele.Não soube o que aconteceu.Não conseguia entender porque a imagem dele sorrindo, com o abdômen de fora e com um copo de cerveja na mão me atraiu tanto. Não fazia o menor sentido. Não naquele momento.Estava confusa, ainda sentia medo de muitas coisas e meus traumas ainda me cercavam.Usava uma regata e um short justo, diferente de todas as pessoas que andava
— É câncer, Chloe. Câncer de mama.De um segundo para o outro senti minhas pernas amolecerem e um frio na espinha me deixou amedrontada.Porra! Ela estava doente.— Quando descobriram?— Faz dois meses que tivemos a confirmação. Ela está bem, apesar de tudo. Não te contei porque… bom, você sabe porquê.Claro, eu não queria informação alguma sobre a vida deles. Eu me recusei a saber.— Eu vou providenciar minha passagem e chego aí o quanto antes — decretei muito certa de minhas palavras.— Não faça isso, de jeito nenhum! — protestou bravo. — Não venha para ter que partir outra vez e deixar ela em um poço escuro novamente. Eu te amo muito, Chloe, mas sério, você não sabe como foi difícil fazer ela reagir quando você foi embora. Então não venha se vai deixar ela mais uma vez quando achar que para você é o momento certo, porque nunca será para ela.Senti uma dor imensa ao ouvir Jason Legard me falando isso. Jason. Ele estava abrindo a boca para me implorar que ficasse longe porque… porqu
— Sei que você nunca soube respirar sem trabalhar, e sei que você amava isso. Entendi muito bem que o seu fôlego de vida se encontrava mais na Hayans e no seu lado profissional, do que em mim. E não te julgo, Scott. Eu não julgo as suas escolhas, só não quero ter que falar sobre elas porque a verdade é que ainda me dói.Por que eu esconderia dele o óbvio? Não faria sentido.— Eu amo muito você, e sofri demais com sua ausência, mas acho que você precisava desse tempo para se encontrar, e se eu viesse junto você nunca saberia quem é Chloe Jessey de verdade. Não saberia encontrar quem é você quando está sozinha.— Agora eu sei, obrigada pela ajuda — exprimi bem sarcástica.Poderia não saber quem era Chloe Jessey sozinha, mas sabia que a Chloe com o Scott era muito, muito feliz e completa, entretanto, isso não deveria estar em discussão.— Não seja má comigo quando eu só tive o intuito de ajudar da forma que consegui.Ri balançando a cabeça de um lado para o outro.— Não pensando em falar
Muitas vezes achei que estava sendo injusta com as pessoas.Às vezes olhava para uma situação que eu mesma criei e pensava em como era ridículo o meu modo de agir perante aquilo.Muitas vezes cheguei à conclusão de que errei e que não fui o melhor que poderia ser, e ao ouvir Scott falando tudo, me coloquei na posição de ingrata.Lily estava morta. Não pelas mãos da Família, não por deixar Corey, não por sofrer algum tipo de acidente suspeito. Ela estava morta porque perdeu sangue demais no parto, morreu quando deu à luz a um bebê que Scott disse ser a coisa mais linda do mundo.Aceitei ver uma foto. O garotinho era loiro como a mãe, e tinha os olhos e muitos outros traços de Corey. Era lindo, assim como os filhos de Buck, que tinham quase a mesma idade, apenas alguns meses de diferença.Gêmeos. Buck teve gêmeos e Corey teve um só bebê, totalizando três novos membros para a família Legard.Marisa devia estar se sentindo a mulher mais feliz do mundo, claro, antes de descobrir o tumor.
Às vezes estamos em uma família onde muito de você é exigido, e é necessário que todas as regras sejam seguidas.Você até se esforça, faz o possível e o que está ao seu alcance para agradar um pai, uma mãe, uma avó… mas no fim, não pode matar suas próprias vontades e nem pode abrir mão de quem você é de verdade.Aprendi que talvez eu fosse uma coisinha fora da caixa. Eu não me encaixava em todos os padrões impostos e não podia agradar a todos. Escolhi minha felicidade, optei por fazer aquilo que me trazia alegria. Escolhi ser eu mesma, mesmo com as consequências que viriam.O fato é que elas sempre vêm.Independente de qual caminho você escolher para seguir, o que te agrada, ou o que agrada os outros, ambos vão trazer algumas consequências, o que é necessário se pensar é que, em algum deles sua paz vai ser maior.Com o tempo, aprendi que o caminho que decidi traçar pode ser difícil, contém certos obstáculos e não é nada fácil, mas é, definitivamente, o caminho que me faz extremamen
— Jason não mentiu. Você voltou mesmo.— Voltei e estou doida para conhecer meu sobrinho! Onde ele está?Corey me soltou, fez uma cara de cansaço olhando para o interior da casa.— Mia está tentando fazer ele dormir. Já faz algumas semanas que só a presença dela vem ajudando. É cansativo lidar com uma criança como ele. É um Legard, afinal.Um Legard muito gracioso, por sinal.As fotos que vi dele espalhadas pelo apartamento de Jason eram encantadoras. Quem diria que o nascimento de uma criança seria capaz de unir os dois que viviam em pé de guerra.Corey me guiou para dentro da casa me fazendo um milhão de questionamentos. Perguntou como tinha sido os três anos longe e também quis saber se eu havia me casado, o que me fez forçar uma ânsia de vômito.Quando enfim cheguei na sala de estar que tinha uma coisa ou outra diferente na decoração, vi a silhueta de uma mulher enrolada em um robe.Marisa não percebeu que eu estava ali, mas quando Corey a chamou fazendo os passos dela cessarem
Podiam se passar três, quatro e até cinco anos, eu ainda não sabia quem era Chloe Jessey de verdade, e por alguma razão tinha a certeza de que Kiara me faria enxergar um potencial talvez adormecido.Me avaliei no espelho do banheiro por uma última vez. A maquiagem pesada vinha sendo constante nos últimos dias, lápis preto e rímel deixavam meus olhos menos "mortos".Passei o dedo pelo cabelo todo platinado sentindo falta de quando deixava que as ondas naturais desse volume a ele.Agora estava completamente liso, acinzentado de tal forma que quando Sophie me viu pela primeira vez disse que eu parecia "Kalid" a personagem de um dos livros que lia para ela dormir. Uma guerreira, uma domadora de dragões.Talvez até tenha me inspirado nela para mudar o tom dos fios, mas também tive bastante influência vindo de Sullivan, que esteve ao meu lado por um certo tempo, no intuito de dar apoio à Marisa.Deixei que por um último momento todas as lembranças daqueles últimos dias passassem pela minh
Azul era literalmente a minha cor favorita.Toda vez que olhava para as íris de Scott sentia como se estivesse me afogando em um mar de possibilidades e de desejos. Era como se meu corpo estivesse sendo levado por uma correnteza de maravilhas. Amava ver seus olhos tão claros me encarando com todos os sentimentos sendo ditos em apenas um olhar.Eu amava Scott.Só que era difícil. Sempre foi difícil, isso não mudaria de uma hora para outra.Mas encarando mais uma vez o meu mar particular, pude me sentir como uma garotinha boba apreciando toda a excitação do primeiro amor.Deixei minhas pernas falharem porque seria uma das últimas vezes. Passaria tanto tempo em Kodar que não teria como me permitir passar por aquela merda mais uma vez.Seria a última.— Posso saber onde está o papai? — perguntei ríspida, cruzando os braços.Scott umedeceu os lábios e então olhou para trás, como se pudesse procurar por alguém, no entanto, só éramos eu e ele no meio de uma pista de pouso.Paul deveria es