O pequeno estabelecimento no primeiro andar da empresa era um refúgio discreto para quem queria um café descente sem precisar sair do prédio.E foi ali que Ester e Bruno estavam sentados, cada um com uma xícara à sua frente, envoltos no leve murmúrio das poucas pessoas ao redor.Bruno olhou para ela com um sorriso de canto.- Sabe, de todas as pessoas daqui, você é a que menos parece precisar de um café para se manter acordada.Ester soltou uma risada fraca, sem muito humor.- E de todas as pessoas daqui, você é o último de quem eu esperaria um elogio sincero.Bruno ergueu as mãos em rendição.- Olha, eu sei que tem dificuldade em confiar em mim, mas… não sou tão mau assim.Ester girou a xícara entre os dedos, desviando o olhar.- O problema é que até mesmo nas coisas pequenas fica difícil confiar em você.Bruno arqueou uma sobrancelha, interessado.- E isso significa que confia em alguém mais do que em mim?Ester bufou, soltando um riso sem humor.- Pelo jeito, nem mesmo eu sei em qu
A conversa com Bruno não saía da cabeça de Ester.Ele não foi direto, o que era estranho ate mesmo para ele, mas deixou claro que havia algo no passado de Laura que não estava nos registros comuns.Ester não gostava de mistérios, principalmente quando envolviam alguém que ela achava que conhecia.Então, decidiu procurar Letícia.Se alguém podia ajudá-la a encontrar mais informações internas sobre Laura, era ela.Mas, ao chegar perto do setor de RH, percebeu que havia algo errado.O local estava em caos absoluto.Funcionários iam e vinham, papéis eram carregados de um lado para o outro, e a tensão no ar era nítida.Ester franziu o cenho.- O que está acontecendo aqui? - murmurou para si mesma.Antes que pudesse se aproximar mais, esbarrou em alguém que parecia tão distraída quanto ela.- Ei, cuidado! - A voz irritada veio antes do olhar surpreso.Ester piscou ao reconhecer Júlia.Mas, diferente do normal, Júlia não parecia no seu tom provocador habitual.Na verdade, ela estava visivelm
Ricardo estava no setor de Marketing, mais especificamente na sala de Bruno, finalizando a atualização do sistema no computador do gerente.Ele já tinha preocupações demais. Mas estar ali só tornava tudo pior.O ambiente carregava a presença de Bruno, mesmo na sua ausência.A mesa bagunçada, mas de um jeito proposital, como se cada objeto tivesse sido deixado ali para parecer despretensioso. Os troféus de campanhas bem-sucedidas estavam estrategicamente posicionados, lembrando qualquer visitante de que aquele escritório pertencia a um homem que gostava de vencer.E, no ar, o perfume amadeirado discreto, mas marcante, um lembrete da arrogância de Bruno, que parecia querer dominar o espaço até com o cheiro.Ricardo não gostava daquele lugar.Mas trabalho era trabalho.E ele só queria terminar logo e sair dali.O som da porta se abrindo interrompeu seus pensamentos.Ele levantou os olhos no exato momento em que Júlia entrou.Ela segurava algumas pastas nos braços e parou imediatamente ao
Júlia estava sentada na sua mesa, com os olhos fixos na tela do computador, mas sua mente estava em outro lugar, em qualquer outro lugar.Seus dedos batucavam contra o teclado, hesitantes, aquele não era seu habitate natural, nunca foi.O cursor piscava no documento aberto à sua frente.Ela estava fazendo algo que jamais pensou que faria voluntariamente.Estava trabalhando.A ironia da situação quase a fez rir. Ela sempre soube como se esquivar, delegar, manipular. Sempre foi boa em manter-se confortável, sem esforço.Mas agora, ali estava ela, tentando, de fato, fazer seu trabalho. E odiando cada segundo.Porque não era só o tédio que a incomodava.Era a sensação de que tudo estava errado, de que ela não sabia o que estava fazendo.Francisco tinha virado o jogo contra ela.Bruno não estava tão acessível como de costume.E, pela primeira vez em muito tempo, ela não tinha um plano. Isso a deixava irritada. Isso a deixava… angustiada.Ela olhou ao redor. O setor de Marketing estava agita
Ricardo precisava encontrar alguém para compartilhar o que descobriu, e a primeira pessoa que veio em sua mente foi a Ester.O que ele viu no backup do computador de Bruno não podia ser ignorado.Ele passou pelo setor de qualidade, com o olhar atento, até finalmente encontrá-la sentada em sua mesa, folheando alguns papéis com a testa franzida.Ela parecia ocupada, tensa, completamente absorta no que estava fazendo.Mas Ricardo não podia esperar.Aproximou-se e chamou seu nome.- Ester.Ela levantou os olhos rapidamente, claramente surpresa por vê-lo ali.- Ricardo? O que esta fazendo aqui?Ele olhou ao redor, garantindo que ninguém estava prestando atenção neles, e abaixou o tom de voz.- Precisamos conversar. Agora.Ester soltou um suspiro impaciente, voltando a olhar para os papéis.- Ricardo, seja lá o que for, pode esperar. Estou ocupada agora.Ricardo cruzou os braços, firme.- Não, não pode. É sobre o Bruno.Ela parou por um breve instante, mas logo balançou a cabeça.- Eu realm
O setor de RH parecia ser outro lugar comparado ao caos dos últimos dias. Quase podendo competir com os setores mais calmos da empressa.As pilhas de documentos que antes se acumulavam descontroladamente nas mesas estavam finalmente organizadas. Os chamados urgentes haviam diminuído, e, pela primeira vez em dias, não havia gritos ou discussões acaloradas ecoando pelo corredor.O barulho incessante dos telefones tocando, os e-mails com marcação de prioridade máxima, as cobranças vindas da diretoria… tudo parecia finalmente ter cessado.Letícia se recostou na cadeira, soltando um suspiro cansado, mas satisfeito.Havia passado os últimos dias apagando incêndios, corrigindo erros e tentando entender o que diabos tinha acontecido no sistema, mas com o curto tempo que ela teve no meio da confução, era praticamente impossivel desvendar o misterio que causou tudo aquilo.Agora, as coisas estavam voltando estar sob controle novamente. Ela observou a equipe ao redor.Os funcionários trabalhav
O dia de Laura, como sempre, começava antes mesmo do sol nascer.Seu celular vibrou incessantemente ao lado da cama, a luz azulada da tela sendo a unica iluminação do quarto escuro. Sem sequer abrir os olhos, ela deslizou os dedos pelo aparelho e conferiu as notificações. Uma enxurrada de e-mails, mensagens pendentes e lembretes de reuniões tomavam conta da tela. Mas não era nada de novo.Suspirando, ela sentou-se na cama, sentindo o cansaço acumulado pesar nos ombros. A última noite de sono decente que ela teve? Nem se lembrava mais.Ate por que ela não se permitia ter pausas. Não quando sabia que tudo dependia dela.Depois de um banho rápido, vestiu-se com a mesma precisão meticulosa de todos os dias. A camisa alinhada, a saia impecável, os saltos firmes, cada peça escolhida para transmitir o controle que ela gostaria de ter no momento. Se ela não podia ter paz, pelo menos poderia ter a ilusão de que nada estava fora do lugar.Assim que chegou à GT Corporation, já foi direto para su
Júlia batia os dedos sobre a mesa, com o olhar perdido na tela do computador. Sua mente, porém, estava bem longe dali.Ela não estava gostando nem um pouco da sensação de perder. De saber que estava sendo ignorada. Mas, acima de tudo, odiava sentir que não tinha controle da situação.Nesse meio, o controle não era apenas desejado. Era essencial. Quem não controlava, era controlado. E Júlia se recusava a ser uma peça no jogo de outra pessoa.Nos últimos dias, era exatamente assim que se sentia.Francisco tinha conseguido virar o jogo contra ela. Bruno, que deveria ser seu aliado, agora a tratava com indiferença. E, pela primeira vez, Júlia percebia que sua posição dentro da GT Corporation não era tão segura quanto imaginava.O desconforto crescia dentro dela. Não era apenas irritação. Era algo mais profundo. Uma ameaça real.Ela estava sendo empurrada para fora.Primeiro foram os olhares de canto. Depois, os sorrisos falsos e as reuniões das quais ela não era mais convidada. Agora, até