Júlia estava sentada na sua mesa, com os olhos fixos na tela do computador, mas sua mente estava em outro lugar, em qualquer outro lugar.Seus dedos batucavam contra o teclado, hesitantes, aquele não era seu habitate natural, nunca foi.O cursor piscava no documento aberto à sua frente.Ela estava fazendo algo que jamais pensou que faria voluntariamente.Estava trabalhando.A ironia da situação quase a fez rir. Ela sempre soube como se esquivar, delegar, manipular. Sempre foi boa em manter-se confortável, sem esforço.Mas agora, ali estava ela, tentando, de fato, fazer seu trabalho. E odiando cada segundo.Porque não era só o tédio que a incomodava.Era a sensação de que tudo estava errado, de que ela não sabia o que estava fazendo.Francisco tinha virado o jogo contra ela.Bruno não estava tão acessível como de costume.E, pela primeira vez em muito tempo, ela não tinha um plano. Isso a deixava irritada. Isso a deixava… angustiada.Ela olhou ao redor. O setor de Marketing estava agita
Ricardo precisava encontrar alguém para compartilhar o que descobriu, e a primeira pessoa que veio em sua mente foi a Ester.O que ele viu no backup do computador de Bruno não podia ser ignorado.Ele passou pelo setor de qualidade, com o olhar atento, até finalmente encontrá-la sentada em sua mesa, folheando alguns papéis com a testa franzida.Ela parecia ocupada, tensa, completamente absorta no que estava fazendo.Mas Ricardo não podia esperar.Aproximou-se e chamou seu nome.- Ester.Ela levantou os olhos rapidamente, claramente surpresa por vê-lo ali.- Ricardo? O que esta fazendo aqui?Ele olhou ao redor, garantindo que ninguém estava prestando atenção neles, e abaixou o tom de voz.- Precisamos conversar. Agora.Ester soltou um suspiro impaciente, voltando a olhar para os papéis.- Ricardo, seja lá o que for, pode esperar. Estou ocupada agora.Ricardo cruzou os braços, firme.- Não, não pode. É sobre o Bruno.Ela parou por um breve instante, mas logo balançou a cabeça.- Eu realm
O setor de RH parecia ser outro lugar comparado ao caos dos últimos dias. Quase podendo competir com os setores mais calmos da empressa.As pilhas de documentos que antes se acumulavam descontroladamente nas mesas estavam finalmente organizadas. Os chamados urgentes haviam diminuído, e, pela primeira vez em dias, não havia gritos ou discussões acaloradas ecoando pelo corredor.O barulho incessante dos telefones tocando, os e-mails com marcação de prioridade máxima, as cobranças vindas da diretoria… tudo parecia finalmente ter cessado.Letícia se recostou na cadeira, soltando um suspiro cansado, mas satisfeito.Havia passado os últimos dias apagando incêndios, corrigindo erros e tentando entender o que diabos tinha acontecido no sistema, mas com o curto tempo que ela teve no meio da confução, era praticamente impossivel desvendar o misterio que causou tudo aquilo.Agora, as coisas estavam voltando estar sob controle novamente. Ela observou a equipe ao redor.Os funcionários trabalhav
O dia de Laura, como sempre, começava antes mesmo do sol nascer.Seu celular vibrou incessantemente ao lado da cama, a luz azulada da tela sendo a unica iluminação do quarto escuro. Sem sequer abrir os olhos, ela deslizou os dedos pelo aparelho e conferiu as notificações. Uma enxurrada de e-mails, mensagens pendentes e lembretes de reuniões tomavam conta da tela. Mas não era nada de novo.Suspirando, ela sentou-se na cama, sentindo o cansaço acumulado pesar nos ombros. A última noite de sono decente que ela teve? Nem se lembrava mais.Ate por que ela não se permitia ter pausas. Não quando sabia que tudo dependia dela.Depois de um banho rápido, vestiu-se com a mesma precisão meticulosa de todos os dias. A camisa alinhada, a saia impecável, os saltos firmes, cada peça escolhida para transmitir o controle que ela gostaria de ter no momento. Se ela não podia ter paz, pelo menos poderia ter a ilusão de que nada estava fora do lugar.Assim que chegou à GT Corporation, já foi direto para su
Júlia batia os dedos sobre a mesa, com o olhar perdido na tela do computador. Sua mente, porém, estava bem longe dali.Ela não estava gostando nem um pouco da sensação de perder. De saber que estava sendo ignorada. Mas, acima de tudo, odiava sentir que não tinha controle da situação.Nesse meio, o controle não era apenas desejado. Era essencial. Quem não controlava, era controlado. E Júlia se recusava a ser uma peça no jogo de outra pessoa.Nos últimos dias, era exatamente assim que se sentia.Francisco tinha conseguido virar o jogo contra ela. Bruno, que deveria ser seu aliado, agora a tratava com indiferença. E, pela primeira vez, Júlia percebia que sua posição dentro da GT Corporation não era tão segura quanto imaginava.O desconforto crescia dentro dela. Não era apenas irritação. Era algo mais profundo. Uma ameaça real.Ela estava sendo empurrada para fora.Primeiro foram os olhares de canto. Depois, os sorrisos falsos e as reuniões das quais ela não era mais convidada. Agora, até
Letícia voltou para o setor de RH e tentou continuar seu trabalho, mas o ambiente estava carregado de tensão. O ar parecia mais denso, os murmúrios entre os funcionários eram mais frequentes e, acima de tudo, Francisco não estava agindo como de costume.Ele andava de um lado para o outro, os ombros rígidos, o olhar perdido em algum ponto distante. Algo o incomodava.E isso estava começando a incomodar todo o setor.Afinal, quando o chefe está nervoso, todos sentem as consequências.Francisco parecia estar encontrando desculpas para jogar mais trabalho na equipe. A carga de tarefas, que havia finalmente normalizado após o caos recente, voltava a se acumular de maneira exagerada.Pedidos que poderiam ser resolvidos com um simples ajuste no sistema agora exigiam aprovações intermináveis. Documentos que nunca precisaram de tanta revisão eram devolvidos com marcações desnecessárias. O ritmo de trabalho, que finalmente havia desacelerado, voltava a se tornar frenético.E Letícia sabia que i
Letícia já sabia qual o próximo passo que precisava tomar.Sem perder tempo, levantou-se de sua cadeira e saiu do setor de RH, caminhando com determinação até o elevador. Seu destino era claro: o setor de marketing.As portas do elevador se abriram, e ela atravessou o corredor com passos firmes. O ambiente ali era barulhento, movimentado, cheio de conversas e telefonemas. No meio daquilo tudo, como um ponto insignificante à primeira vista, estava Júlia.Sentada em sua mesa, Júlia parecia alheia ao caos ao redor. O rosto carregava um ar de tédio, os olhos fixos na tela do computador, os dedos brincando distraidamente com uma caneta. Uma cena quase inocente, se Letícia não soubesse melhor.Sem hesitar, pegou o celular e agendou uma reunião formal com Júlia. Um convite direto, impossível de ser ignorado.Em seguida, seguiu para a sala de reuniões do marketing. Por sorte, estava vazia.Letícia entrou, fechando a porta atrás de si. Caminhou até as janelas, puxando as cortinas, bloqueando qu
Entre a confusão de trabalho no setor de TI, Ricardo encontrou alguns minutos para verificar a transferência de Laura. Ele sabia que acessar esses dados diretamente era impossível, sua permissão não cobria arquivos administrativos de alto nível. Mas isso nunca o impediu antes.Com habilidade, ele navegou pelo sistema interno do RH, utilizando o acesso de Francisco. Nada além de um pequeno disfarce digital. Francisco estava em horário de almoço, então não havia risco imediato de ser descoberto.Os olhos de Ricardo se fixaram na tela enquanto digitava rapidamente, filtrando as informações até encontrar o que procurava. Histórico profissional de Laura Almeida.Laura já tinha alguns anos de trabalho na GT Corporation, mais do que ele imaginava. No entanto, algo no relatório não fazia sentido. As informações estavam organizadas de forma estranha, como se alguém tivesse passado tempo demais reescrevendo e editando detalhes que deveriam ser simples.Era uma tentativa óbvia de esconder algo.A