Ester entrou para a empresa com passos firmes, sentindo-se revigorada depois de seu dia de folga.A pausa havia sido necessária.Depois de tudo que acontecera, o jantar, a noite intensa com Laura, ela precisava de um momento para processar as coisas.Mas agora, de volta à rotina, estava pronta para lidar com Laura novamente.Ou pelo menos, achava que estava.Seguiu direto para sua mesa e começou a organizar seu dia, tudo parecendo normal.Até que ao ligar o computador viu a mensagem de Laura."Preciso que foquemos apenas no trabalho. Acho melhor mantermos as coisas profissionais a partir de agora."Ester franziu a testa ao reler as palavras, uma irritação crescente tomando conta dela.Aquilo não fazia sentido.Depois da forma como Laura a olhou, a tocou, a puxou para mais perto... simplesmente cortar tudo assim?Não.Isso não combinava com Laura.Algo estava errado.Decidida, levantou-se e foi até a sala da gerente.Parou em frente à porta por um instante antes de bater duas vezes.A
Novamente Julia estava no setor de RH com a mesma confiança de sempre, jogando os cabelos para o lado e deslizando os dedos sobre a mesa do gerente como se aquele lugar lhe pertencesse.- Espero que não esteja muito ocupado, amor.O gerente do RH, Francisco, ergueu os olhos da tela do computador, mas não sorriu, não pareceu minimamente interessado.Na verdade, ele parecia cauteloso.- O que te traz aqui, Júlia?Ela fingiu surpresa.- Preciso mesmo de um motivo para vir te ver?Rafael cruzou os braços e se recostou na cadeira.- Depende. Mas considerando que o RH está um caos desde ontem, acho difícil acreditar que só veio dar um "oi".Júlia continuou sorrindo, mas sentiu um pequeno incômodo crescer em sua nuca.Ele nunca havia sido tão direto com ela antes.- Sim, ouvi falar da confusão. Parece que tem muito trabalho pela frente.- Bastante. - Ele assentiu lentamente. - O que é estranho, porque muitas das mudanças no sistema não foram aprovadas por mim.Júlia manteve a expressão leve,
O pequeno estabelecimento no primeiro andar da empresa era um refúgio discreto para quem queria um café descente sem precisar sair do prédio.E foi ali que Ester e Bruno estavam sentados, cada um com uma xícara à sua frente, envoltos no leve murmúrio das poucas pessoas ao redor.Bruno olhou para ela com um sorriso de canto.- Sabe, de todas as pessoas daqui, você é a que menos parece precisar de um café para se manter acordada.Ester soltou uma risada fraca, sem muito humor.- E de todas as pessoas daqui, você é o último de quem eu esperaria um elogio sincero.Bruno ergueu as mãos em rendição.- Olha, eu sei que tem dificuldade em confiar em mim, mas… não sou tão mau assim.Ester girou a xícara entre os dedos, desviando o olhar.- O problema é que até mesmo nas coisas pequenas fica difícil confiar em você.Bruno arqueou uma sobrancelha, interessado.- E isso significa que confia em alguém mais do que em mim?Ester bufou, soltando um riso sem humor.- Pelo jeito, nem mesmo eu sei em qu
Ester estava novamente em frente ao espelho do pequeno lavabo do escritório, recitando novamente as palavras que diria a Bruno. A imagem refletida mostrava mais do que uma mulher organizada em seu blazer bem alinhado e maquilhagem impecável, ela estava visivelmente nervosa, mordendo levemente o canto do lábio inferior. Por mais que tentasse ensaiar todos os cenários possíveis, o rosto de Bruno sempre aparecia na sua mente com aquele sorriso descomprometido que a desarmava. Toda vez que ela tentava abordar um assunto mais sério, ele mudava de tema. Mas hoje, Ester estava decidida. Ela precisava desta conversa.Com um suspiro profundo, alisou a barra do blazer, endireitou a postura e voltou à sua mesa. O dia prometia ser longo, e ela sabia que a ansiedade faria companhia a cada segundo. No fundo do escritório, Julia aproximava-se com aquele andar confiante e olhar predatório, como se sempre estivesse a calcular a próxima jogada. Julia era uma mulher que sabia usar sua beleza a seu favo
O escritório estava quase vazio, o som dos poucos teclados ainda ativos ecoava suavemente pelo ambiente, criando um pano de fundo discreto para o que estava por vir. As luzes reduzidas criavam sombras alongadas nas paredes, dando ao local um ar mais íntimo e carregado de tensão. Ester arrumava seus papéis com movimentos automáticos, mas sua mente estava longe dali. O peso dos relatórios inacabados parecia menor diante do turbilhão de sentimentos confusos que a assombravam desde o início do dia. Algo no ar estava diferente, e ela sentia isso na pele.Quando abriu a porta da sala de reuniões, encontrou Bruno encostado na mesa, com os braços cruzados e um sorriso que irradiava o seu charme natural. Ele era assim, sempre à vontade, como se o mundo girasse no seu ritmo. Os olhos dele, escuros e penetrantes, encontraram os de Ester, e por um breve momento, o tempo pareceu desacelerar.- Achei que não viesse - disse ele, inclinando a cabeça para o lado, o olhar fixo nela com uma intensidade
Na manhã seguinte, o escritório ganhou ação gradualmente com o som dos passos apressados, telefones tocando e conversas abafadas pelos corredores. Laura, entretanto, já estava em sua nova sala antes mesmo do horário de expediente começar. O sol mal iluminava a cidade lá fora, mas dentro dela, as engrenagens já giravam com precisão.Com a xícara de café ainda quente ao lado, enquanto organizava sua lista de tarefas, conferindo cada detalhe com a meticulosidade que a definia. Foi então que um novo e-mail apareceu na sua caixa de entrada. Era de Letícia, do RH, informando a necessidade urgente de contratar uma nova secretária para o setor.Laura sorriu para a tela, um sorriso que misturava oportunidade e estratégia. Sem hesitar, a única pessoa que passou por sua mente foi Ester. Não era uma mudança tão drástica da função atual dela, mas a ideia de tê-la mais próxima, sob sua supervisão direta, era tentadora demais para ignorar. Além disso, o cargo de secretária do gerente trazia benefíci
O dia seguinte começou com um céu cinzento e carregado, refletindo o clima dentro da cabeça de Ester. O e-mail de Letícia ainda estava fresco na sua mente, assim como a sensação desconfortável de saber que Laura, de alguma forma, estava por trás daquela “promoção”. O aumento de salário e os benefícios eram tentadores, mas a proximidade forçada com Laura fazia seu estômago revirar. Ou talvez fosse outra coisa que a deixava inquieta, aquela tensão elétrica que pairava entre as duas, como se cada encontro fosse uma partida de xadrez onde nenhuma queria admitir o verdadeiro jogo. Ester ainda estava imersa nesses pensamentos quando o telefone vibrou novamente. Era Bruno, insistente como sempre. "Me encontra para um café? Precisamos mesmo conversar." A mensagem parecia inocente, mas Ester sabia que havia mais ali do que trabalho. Ela respirou fundo, pegou a sua mala e decidiu que não podia adiar aquilo. Talvez entender o que Bruno queria ajudasse a clarear a confusão que se formava na sua
O som constante dos teclados e o zumbido baixo das conversas nos corredores criavam uma trilha sonora quase reconfortante para Ester naquela manhã. Mas, por dentro, ela sentia-se como se estivesse num terreno instável, cada passo calculado para não escorregar. A oferta de Laura ainda ecoava em sua mente, misturada com a conversa ambígua que tivera com Bruno no dia anterior. Nada parecia ser o que realmente era, e isso a deixava mais desconfortável do que gostaria de admitir.Enquanto revia alguns documentos, uma nova notificação apareceu na sua tela: “Letícia do RH gostaria de agendar uma reunião rápida contigo. Sala 4, 10h.”Ester franziu a testa. Não esperava um novo encontro com Letícia, mas algo na formalidade do convite parecia indicar que não era apenas sobre processos burocráticos. Decidiu que precisava de respostas e talvez Letícia pudesse oferecê-las.Letícia estava à espera na pequena sala de reuniões no fim do corredor. A mulher, conhecida pelo seu profissionalismo impecáve