O ar fresco da noite deveria ter ajudado Ester a clarear a mente.Mas não ajudou.O vinho ainda corria quente por suas veias, e Laura ainda estava perto demais.Elas caminhavam lado a lado, sem pressa, sem necessidade de palavras. Mas a cada passo, Ester sentia a tensão entre elas crescer, se expandir, se tornar algo quase tangível.E então, sem aviso, parou.Laura notou o movimento e virou-se para encará-la, os olhos carregados de expectativa silenciosa.Ester sentiu o coração bater forte.Poderia simplesmente seguir em frente. Poderia ignorar tudo o que acontecera naquela noite, fingir que aquele jantar não foi nada além de um jantar.Mas estaria mentindo.Ela não queria ir embora.Não queria mais fugir.Antes que pudesse se convencer do contrário, deu um passo à frente, quebrando a distância entre elas.Laura nem se moveu. Apenas observou, permitindo que Ester se aproximasse, testando o limite que finalmente estava prestes a ser cruzado.Ester parou perto o suficiente para sentir o
Laura chegou à empresa como sempre: impecável, no controle, e sem dar espaço para que qualquer um ao redor imaginasse que a noite anterior havia sido diferente de todas as outras.Mesmo que seu corpo estivesse relaxado depois de ontem.Nenhuma pausa. Nenhuma distração.Mas quando passou pelo setor de marketing e encontrou Bruno encostado casualmente contra a mesa, um sorriso insolente nos lábios, soube que aquele dia seria mais interessante do que imaginava.Ele ergueu os olhos para ela, analisando-a por um segundo antes de falar.- Sempre chegando cedo. Energia renovada?Laura sorriu de canto, cruzando os braços.- Sempre.Bruno inclinou a cabeça ligeiramente, os olhos afiados, como se enxergasse algo além do que ela queria mostrar.- Que bom. Porque vai precisar dessa energia.Laura manteve a expressão impassível.- Você acha?- Tenho certeza.Ela deu um passo mais perto, sustentando o olhar dele sem piscar.- Sabe, Bruno, achei que estaria mais… frustrado hoje.Ele soltou um riso c
Laura já sabia que Bruno voltaria.Ele não era do tipo que deixava as coisas passarem facilmente.Então, quando o viu se aproximando com aquele andar confiante demais e um sorriso contido, não se surpreendeu.Bruno parou em frente à sua mesa, apoiando uma das mãos no tampo de madeira, como se tivesse todo o tempo do mundo.- Precisamos conversar.Laura ergueu os olhos lentamente, sem pressa alguma.- Isso parece sério.- É.Ela cruzou os braços, avaliando-o.- Se veio tentar me distrair antes da inspeção, vai ter que se esforçar mais.Bruno riu baixo, balançando a cabeça.- Isso não tem nada a ver com a inspeção.Laura manteve o olhar firme.- Então?Ele respirou fundo antes de falar, o tom mais sério do que o habitual.- Você vai se afastar da Ester.O silêncio que se seguiu foi denso.Laura piscou lentamente, processando as palavras dele.Então, sem mudar a expressão, inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos sobre a mesa.- Perdão?Bruno sustentou o olhar dela.- Eu
Bruno saiu do setor de qualidade com um meio sorriso no rosto.Laura poderia tentar manter a pose de sempre, mas ele tinha visto a fissura em sua máscara no momento em que mencionou Camila.Ele sabia que, naquele instante, tinha ganhado vantagem.E, se conhecia Laura, ela tomaria a decisão mais lógica.Se afastaria de Ester.Agora, ele só precisava garantir que outras peças do tabuleiro estivessem no lugar certo antes da inspeção.Caminhou pelo corredor até o setor de marketing, sentindo a leve tensão no ar. Todos sabiam que a visita do supervisor estava se aproximando, e os funcionários pareciam mais atentos do que o normal.Mas uma pessoa, como sempre, parecia não se importar com nada disso.Júlia estava sentada em sua mesa, mexendo no telefone com um tédio visível.Bruno não perdeu tempo.- Sala de reunião. Agora.Júlia ergueu os olhos, franzindo a testa.- Mal chegou e já quer mandar?Bruno nem respondeu. Apenas virou-se e seguiu em direção à sala de reuniões, certo de que ela o s
Ester entrou para a empresa com passos firmes, sentindo-se revigorada depois de seu dia de folga.A pausa havia sido necessária.Depois de tudo que acontecera, o jantar, a noite intensa com Laura, ela precisava de um momento para processar as coisas.Mas agora, de volta à rotina, estava pronta para lidar com Laura novamente.Ou pelo menos, achava que estava.Seguiu direto para sua mesa e começou a organizar seu dia, tudo parecendo normal.Até que ao ligar o computador viu a mensagem de Laura."Preciso que foquemos apenas no trabalho. Acho melhor mantermos as coisas profissionais a partir de agora."Ester franziu a testa ao reler as palavras, uma irritação crescente tomando conta dela.Aquilo não fazia sentido.Depois da forma como Laura a olhou, a tocou, a puxou para mais perto... simplesmente cortar tudo assim?Não.Isso não combinava com Laura.Algo estava errado.Decidida, levantou-se e foi até a sala da gerente.Parou em frente à porta por um instante antes de bater duas vezes.A
Novamente Julia estava no setor de RH com a mesma confiança de sempre, jogando os cabelos para o lado e deslizando os dedos sobre a mesa do gerente como se aquele lugar lhe pertencesse.- Espero que não esteja muito ocupado, amor.O gerente do RH, Francisco, ergueu os olhos da tela do computador, mas não sorriu, não pareceu minimamente interessado.Na verdade, ele parecia cauteloso.- O que te traz aqui, Júlia?Ela fingiu surpresa.- Preciso mesmo de um motivo para vir te ver?Rafael cruzou os braços e se recostou na cadeira.- Depende. Mas considerando que o RH está um caos desde ontem, acho difícil acreditar que só veio dar um "oi".Júlia continuou sorrindo, mas sentiu um pequeno incômodo crescer em sua nuca.Ele nunca havia sido tão direto com ela antes.- Sim, ouvi falar da confusão. Parece que tem muito trabalho pela frente.- Bastante. - Ele assentiu lentamente. - O que é estranho, porque muitas das mudanças no sistema não foram aprovadas por mim.Júlia manteve a expressão leve,
O pequeno estabelecimento no primeiro andar da empresa era um refúgio discreto para quem queria um café descente sem precisar sair do prédio.E foi ali que Ester e Bruno estavam sentados, cada um com uma xícara à sua frente, envoltos no leve murmúrio das poucas pessoas ao redor.Bruno olhou para ela com um sorriso de canto.- Sabe, de todas as pessoas daqui, você é a que menos parece precisar de um café para se manter acordada.Ester soltou uma risada fraca, sem muito humor.- E de todas as pessoas daqui, você é o último de quem eu esperaria um elogio sincero.Bruno ergueu as mãos em rendição.- Olha, eu sei que tem dificuldade em confiar em mim, mas… não sou tão mau assim.Ester girou a xícara entre os dedos, desviando o olhar.- O problema é que até mesmo nas coisas pequenas fica difícil confiar em você.Bruno arqueou uma sobrancelha, interessado.- E isso significa que confia em alguém mais do que em mim?Ester bufou, soltando um riso sem humor.- Pelo jeito, nem mesmo eu sei em qu
Ester estava novamente em frente ao espelho do pequeno lavabo do escritório, recitando novamente as palavras que diria a Bruno. A imagem refletida mostrava mais do que uma mulher organizada em seu blazer bem alinhado e maquilhagem impecável, ela estava visivelmente nervosa, mordendo levemente o canto do lábio inferior. Por mais que tentasse ensaiar todos os cenários possíveis, o rosto de Bruno sempre aparecia na sua mente com aquele sorriso descomprometido que a desarmava. Toda vez que ela tentava abordar um assunto mais sério, ele mudava de tema. Mas hoje, Ester estava decidida. Ela precisava desta conversa.Com um suspiro profundo, alisou a barra do blazer, endireitou a postura e voltou à sua mesa. O dia prometia ser longo, e ela sabia que a ansiedade faria companhia a cada segundo. No fundo do escritório, Julia aproximava-se com aquele andar confiante e olhar predatório, como se sempre estivesse a calcular a próxima jogada. Julia era uma mulher que sabia usar sua beleza a seu favo