Letícia estava na sala do RH, terminando a análise de registros quando algo incomum chamou sua atenção.Um pedido de análise de pessoal do setor de TI.Isso, por si só, não era estranho. A GT Corporation fazia reavaliações periódicas para garantir eficiência nos departamentos. Mas o que a fez parar foi o nome listado como possível realocação: Ricardo.Ela franziu a testa.Isso não faz sentido.Ricardo tinha sido transferido há pouco tempo e já havia resolvido inúmeros problemas técnicos que antes ficavam pendentes por semanas. Seu desempenho era excelente, e ela sabia que a matriz não estava com problemas de orçamento para justificar cortes.Curiosa, Letícia acessou os registros internos e verificou as métricas de produtividade do TI. Os números eram claros:Ricardo era essencial para a equipe.Ele não estava sobrando. Ele estava incomodando alguém.Apertando os lábios, abriu o histórico do pedido, procurando saber de onde essa solicitação havia partido.Rolou a tela com calma, seus o
Letícia não gostava de se envolver em problemas que não eram seus.Mas algumas coisas simplesmente não podiam ser ignoradas.Até por que Bruno estava se envolvendo em setores que ele não tinha propriedade.Agora que sabia o que Bruno estava tentando fazer com Ricardo, deixar Ester no escuro não era uma opção.E no dia seguinte respirando fundo, ela seguiu em direção ao setor de qualidade, onde sabia que encontraria Ester.Ester estava sentada à sua mesa, folheando alguns relatórios quando ouviu passos determinados se aproximando.Ao levantar os olhos, encontrou Letícia parada à sua frente, os braços cruzados e uma expressão séria no rosto.- Podemos conversar?Ester franziu a testa.- Claro. Algum problema?Letícia puxou uma cadeira e sentou-se ao lado dela.- Eu sei que talvez não queira ouvir isso, mas achei que devia saber.O tom dela fez Ester largar a caneta, sentindo um leve aperto no peito.- O que aconteceu?Letícia respirou fundo antes de continuar.- O Bruno esta tentando ti
Apos a conversa com Leticia, Ester cruzou os corredores da empresa com passos rápidos, ignorando os olhares curiosos de alguns funcionários ao passar.Seu coração batia forte, mas não era nervosismo. Era de raiva.Ela não sabia o que a incomodava mais: o fato de Bruno ter tentado manipular a situação pelas costas ou a arrogância com que ele sempre acreditava que estava no direito de fazer o que bem entendesse.Respirou fundo quando chegou à porta da sala dele.Sem bater, girou a maçaneta e entrou.Bruno estava sentado atrás da mesa, analisando alguns papéis, mas ergueu os olhos assim que a viu.Seu olhar avaliativo percorreu seu rosto, e um meio sorriso surgiu nos lábios dele. - Ah, Ester - disse, recostando-se na cadeira. - A que devo a vizita?A calma dele só alimentou ainda mais sua irritação.Ela fechou a porta com mais força do que o necessário.- Não se faça de desentendido.Bruno arqueou uma sobrancelha, ainda com aquela maldita expressão despreocupada.- Não faço ideia do qu
O restaurante escolhido por Laura era o tipo de lugar que exalava exclusividade desde a entrada.As paredes em tons escuros eram adornadas com detalhes em dourado, criando um contraste sofisticado com a iluminação suave das luminárias suspensas. O ambiente era elegante sem ser pretensioso, com música instrumental tocando em um volume baixo, permitindo que as conversas fluíssem com naturalidade.O chão de madeira polida absorvia o som dos passos dos clientes, e as mesas, cobertas com toalhas impecavelmente alinhadas, estavam organizadas de maneira estratégica, o suficiente para garantir privacidade, mas sem parecer isoladas.No centro do salão, um bar requintado exibia garrafas importadas alinhadas em prateleiras de vidro iluminadas, refletindo um brilho sutil sobre os cristais perfeitamente polidos das taças. O aroma no ar era uma mistura sutil de especiarias, vinho envelhecido e o leve toque amadeirado dos móveis finos.Os garçons moviam-se com discrição, trajando uniformes impecávei
O ar fresco da noite deveria ter ajudado Ester a clarear a mente.Mas não ajudou.O vinho ainda corria quente por suas veias, e Laura ainda estava perto demais.Elas caminhavam lado a lado, sem pressa, sem necessidade de palavras. Mas a cada passo, Ester sentia a tensão entre elas crescer, se expandir, se tornar algo quase tangível.E então, sem aviso, parou.Laura notou o movimento e virou-se para encará-la, os olhos carregados de expectativa silenciosa.Ester sentiu o coração bater forte.Poderia simplesmente seguir em frente. Poderia ignorar tudo o que acontecera naquela noite, fingir que aquele jantar não foi nada além de um jantar.Mas estaria mentindo.Ela não queria ir embora.Não queria mais fugir.Antes que pudesse se convencer do contrário, deu um passo à frente, quebrando a distância entre elas.Laura nem se moveu. Apenas observou, permitindo que Ester se aproximasse, testando o limite que finalmente estava prestes a ser cruzado.Ester parou perto o suficiente para sentir o
Laura chegou à empresa como sempre: impecável, no controle, e sem dar espaço para que qualquer um ao redor imaginasse que a noite anterior havia sido diferente de todas as outras.Mesmo que seu corpo estivesse relaxado depois de ontem.Nenhuma pausa. Nenhuma distração.Mas quando passou pelo setor de marketing e encontrou Bruno encostado casualmente contra a mesa, um sorriso insolente nos lábios, soube que aquele dia seria mais interessante do que imaginava.Ele ergueu os olhos para ela, analisando-a por um segundo antes de falar.- Sempre chegando cedo. Energia renovada?Laura sorriu de canto, cruzando os braços.- Sempre.Bruno inclinou a cabeça ligeiramente, os olhos afiados, como se enxergasse algo além do que ela queria mostrar.- Que bom. Porque vai precisar dessa energia.Laura manteve a expressão impassível.- Você acha?- Tenho certeza.Ela deu um passo mais perto, sustentando o olhar dele sem piscar.- Sabe, Bruno, achei que estaria mais… frustrado hoje.Ele soltou um riso c
Laura já sabia que Bruno voltaria.Ele não era do tipo que deixava as coisas passarem facilmente.Então, quando o viu se aproximando com aquele andar confiante demais e um sorriso contido, não se surpreendeu.Bruno parou em frente à sua mesa, apoiando uma das mãos no tampo de madeira, como se tivesse todo o tempo do mundo.- Precisamos conversar.Laura ergueu os olhos lentamente, sem pressa alguma.- Isso parece sério.- É.Ela cruzou os braços, avaliando-o.- Se veio tentar me distrair antes da inspeção, vai ter que se esforçar mais.Bruno riu baixo, balançando a cabeça.- Isso não tem nada a ver com a inspeção.Laura manteve o olhar firme.- Então?Ele respirou fundo antes de falar, o tom mais sério do que o habitual.- Você vai se afastar da Ester.O silêncio que se seguiu foi denso.Laura piscou lentamente, processando as palavras dele.Então, sem mudar a expressão, inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos sobre a mesa.- Perdão?Bruno sustentou o olhar dela.- Eu
Bruno saiu do setor de qualidade com um meio sorriso no rosto.Laura poderia tentar manter a pose de sempre, mas ele tinha visto a fissura em sua máscara no momento em que mencionou Camila.Ele sabia que, naquele instante, tinha ganhado vantagem.E, se conhecia Laura, ela tomaria a decisão mais lógica.Se afastaria de Ester.Agora, ele só precisava garantir que outras peças do tabuleiro estivessem no lugar certo antes da inspeção.Caminhou pelo corredor até o setor de marketing, sentindo a leve tensão no ar. Todos sabiam que a visita do supervisor estava se aproximando, e os funcionários pareciam mais atentos do que o normal.Mas uma pessoa, como sempre, parecia não se importar com nada disso.Júlia estava sentada em sua mesa, mexendo no telefone com um tédio visível.Bruno não perdeu tempo.- Sala de reunião. Agora.Júlia ergueu os olhos, franzindo a testa.- Mal chegou e já quer mandar?Bruno nem respondeu. Apenas virou-se e seguiu em direção à sala de reuniões, certo de que ela o s