Damon se foi com a mesma intensidade . — como um raio que rasga o céu e deixa o ar carregado. O salão parecia mais frio sem ele, mais vazio… mais perigoso. Mas era o vazio dentro de mim que me deixava inquieta. Aquele homem me deixava em ruínas, confusa entre ódio e desejo, entre medo e curiosidade. E agora… me deixara sozinha de novo.Não. Eu não aceitaria isso.Caminhei pelo salão com passos firmes, o som dos meus saltos ecoando nas pedras antigas. A seda vermelha do vestido ainda colava ao meu corpo como uma segunda pele — como se ele me tivesse marcado com seus olhos e agora eu carregasse a lembrança em cada curva. E mesmo assim, a raiva pulsava.Ele me sequestrou. Me trancou. Me usou em jogos que eu não compreendia. E agora, desaparecia sem dar respostas?Atravessando os arcos de pedra, fui em direção à varanda ao lado do salão principal. O dia estava claro, mas o céu carregado anunciava uma tempestade iminente. Era como se o clima respondesse ao que eu sentia — e talvez fosse ex
O vento soprava ao nosso redor como um aviso. As nuvens densas se acumulavam no céu, ameaçando romper em trovão e chuva. Mas ali, entre os dedos de Damon pressionando minha cintura e o olhar que queimava mais do que o sol, havia uma tempestade muito mais perigosa prestes a explodir.Ele não se afastou. Tampouco recuou. Seu rosto estava tão perto do meu que eu podia sentir o ar que escapava entre seus lábios, o leve toque da barba em minha pele. Mas era o olhar dele que me despia. Que me atravessava. E que dizia, sem palavras, que ele também estava em guerra.— Você está brincando com fogo, Elara — ele disse, a voz rouca, baixa, quase um aviso sussurrado contra meus lábios. — Eu sou feito de escuridão, de fome... de sede. Eu não sou um homem. Sou algo que você deveria temer.— Eu tenho medo — confessei, sem me afastar. — Mas desejo muito mais do que temo.Os olhos dele se estreitaram, faíscando com algo cru, indomável.— Não diga isso... — ele murmurou, os dedos deslizando de minha cin
A tempestade caiu no exato momento em que seus lábios tocaram os meus.Não foi um beijo suave, nem romântico. Foi um rasgar de pele e fogo. Foi possessão. Fome. Um grito calado vindo das profundezas do nosso desejo reprimido. Damon me beijou como se eu fosse o ar que ele precisava para continuar existindo. E eu correspondi com toda a sede que carregava desde o instante em que seus olhos me encontraram naquele bosque.A chuva começou a cair pesada, tamborilando contra o parapeito de pedra da varanda. Mas não nos importamos. Nossos corpos estavam colados, nossas bocas se devoravam com urgência animalesca. A seda do meu vestido colava na pele conforme a água nos encharcava, e ainda assim eu queria mais. Mais dele. Mais daquele toque que fazia meu corpo queimar e minha alma se contorcer de prazer.Damon passou os braços pela minha cintura e me ergueu como se eu não pesasse nada, me pressionando contra a parede. Seu quadril roçava no meu, e eu podia sentir sua ereção, rígida, latejando con
Narrado por Elara Há mil anos, dizem que o sol deixou de nascer sobre os Montes de Eldraven. Mas eu nunca vi o sol, então pra mim… ele é só mais uma lenda. Como tantas outras que nos contam pra manter a gente obediente. Aqui em Caerlyn, vivemos sob o véu da escuridão eterna, cercados por muralhas altas e preces sussurradas. Prata nas portas, símbolos sagrados nas janelas, e medo... muito medo. As pessoas acham que isso nos protege. Eu sei que só nos isola. As Terras Escarlates se estendem logo além da floresta. Ninguém fala nelas em voz alta, mas todos já ouviram os nomes que o vento carrega: Vareth, o castelo negro, e Damon Valtor — o vampiro ancestral, o príncipe do sangue, o monstro escondido em silêncio há séculos. Mas eu não tenho medo de nomes. Meu nome é Elara, e desde pequena eu soube que não pertencia a esse lugar. Fui criada por uma curandeira velha que me ensinou mais com livros do que com bênçãos. Sempre achei que os muros não estavam ali pra manter os monstros for
Na manhã seguinte, fui até os arquivos da vila. Um casarão antigo, com cheiro de mofo, pergaminhos empilhados até o teto e janelas seladas com velhas orações. Loran estava como sempre — debruçado sobre um livro empoeirado, com o cenho franzido e os dedos manchados de tinta. — Preciso de ajuda — disse, sem rodeios. Ele levantou os olhos devagar. Sempre me olha como se estivesse lendo algo invisível em mim. — Você esteve fora da vila de novo, não é? — murmurou, voltando os olhos pro livro. — Você sabia? — perguntei. — Eu imaginei. Você carrega o cheiro da floresta quando entra. E... está tremendo. Me sentei ao lado dele, baixando o tom da voz. — Encontrei pegadas perto do lago. Grandes. Recentes. E... um símbolo desenhado na lama. Uma rosa negra. Loran parou. Fechou o livro com cuidado e olhou pra mim como se tivesse acabado de ouvir o fim de uma profecia. — Você viu mesmo isso? — Ele nunca fala com ênfase. Mas agora... havia urgência. Assenti. Ele puxou um pergami
Ele falou meu nome como se fosse uma oração esquecida. Ou uma maldição. — Quem é você? — minha voz ecoou no sonho, mas parecia pequena diante dele. Ele sorriu, lento. Perigoso. — Você me chamou. — Eu não fiz isso. — Mas está em você. O sangue. O laço. O poder. Você sente, não sente? Dei um passo para trás, o ar ao redor dele parecia vibrar — como eletricidade ou calor antes de uma tempestade. — Fique longe de mim! — Não posso. — Ele caminhou em minha direção, cada passo ecoando como um trovão silencioso. — Porque somos ligados. Porque você é a chave que pode libertar… ou destruir tudo. Meus pés estavam cravados no chão. Eu queria fugir, gritar, acordar — mas não conseguia. — Por que eu? — perguntei, a voz trêmula. — Porque seu destino foi escrito antes mesmo do seu nascimento. Ele ergueu a mão e tocou meu rosto. Gélido, mas inexplicavelmente... familiar. — E porque, Elara… você é minha. Acordei ofegante, com o grito preso na garganta. A pedra no colar bri
Acordei com a sensação de estar sendo observada.As pálpebras pesavam como se tivessem sido costuradas, e um gosto metálico tomava minha boca. Quando finalmente consegui abrir os olhos, percebi que não estava mais na floresta. Estava deitada sobre uma cama enorme, coberta por lençóis de linho escuro, em um quarto que definitivamente não pertencia à minha realidade.As paredes eram de pedra polida, cobertas por tapeçarias antigas. Havia uma lareira acesa, crepitando suavemente, lançando sombras dançantes por todo o cômodo. Um candelabro de ferro pendia do teto abobadado, tremeluzindo com chamas vivas. Era um quarto luxuoso, silencioso e... fechado.Levantei de súbito. A cabeça latejou com o movimento brusco, mas ignorei. Caminhei até a porta com passos hesitantes e tentei girar a maçaneta. Trancada. Testei mais duas vezes, com mais força, até bater o punho nela com frustração.— Alguém? — gritei. — Está me ouvindo?Nenhuma resposta. Só o eco da minha própria voz voltando como zombaria.
A luz tênue que filtrava pela pequena fresta da janela mal tocava o chão de pedra polida. Eu havia perdido a noção do tempo. Horas? Dias? Não importava. Estava presa naquele quarto luxuoso demais para ser uma cela, mas restrito o suficiente para parecer uma prisão.As portas permaneciam trancadas. Sem trancas visíveis, sem maçanetas por dentro. Apenas a certeza de que, por mais que tentasse, não sairia dali por vontade própria.O colar ainda pendia sobre meu peito, morno agora, como se adormecido.Sentei-me novamente sobre a enorme cama de dossel, tentando não pensar nele.Damon.A lembrança de seu olhar cravou-se em mim como uma lâmina quente. Aquela aura de comando absoluto, o modo como me fitava... como se já soubesse o que eu tentava esconder até de mim mesma.Tentei apagar seu rosto da minha mente. Mas era inútil.Minutos depois — ou talvez uma eternidade — a porta se abriu com um estalo suave.Meus olhos voaram na direção do som.Ele entrou com passos silenciosos, vestindo roupa