13 de agosto, quinta-feira,
Duas horas antes do lançamento.
O edifício A ainda parecia vazio, mas Estefen sabia que isso mudaria em breve. A maior parte dos guardas de segurança havia sido redirecionada para lá, e o heliporto situado no terraço contava com o dobro de funcionários para receber e orientar os figurões cuja presença era esperada no evento.
Ilías, com as mãos no volante do carro de Estefen, não chegou a entrar pela alameda. Estacionou numa calçada e relanceou olhar para o complexo. Estefen notou um tom de abstração e remorso no homem, mas nada comentou a respeito.
— Obrigado por me trazer.
Ilías demorou um instante para responder.
— Ah, sim. Claro!
Pedira que ele dirigisse, com a desculpa de que estava agitado demais para se concentrar na direção. Não era mentira, mas seu interesse maior era ter certeza de que Ilías aprenderia a usar bem o automóvel — dependendo de co
Lá fora ainda era noite, embora não fossem nem dez da manhã. Vince teve a sensação de que poderia ser noite para sempre naquela câmara. Artur olhava pela janela. Não se moveu quando Vince se aproximou e o abraçou delicadamente por trás. — É como dormir — falou Artur, quase sem abrir os lábios. — É como dormir e não sonhar, só que… diferente. — Voltei tão logo quanto pude. — Não tem problema. Foi indolor. Vince fechou os olhos e ouviu as ondas se quebrarem. — Me desculpe. Artur se virou e, com calma, levou um beijo até a bochecha de Vince. — Temos trabalho a fazer, não temos? — E sorriu. Ele parecia estranhamente tranquilo. Nada como o Artur que Vince havia abandonado na noite anterior, aterrorizado e solitário; parecia resignado. Vince contemplou seus olhos pequenos e escuros, seu queixo pontudo. Havia algo comovente em Artur, algo que o induzia a querer avançar, a tomá-lo para si. Quem sabe pudesse sacu
Ele não esperou anoitecer. Durante as primeiras horas da manhã, o edifício B da OneBionics parecia morto. Demitre não sabia se isso era positivo ou negativo, mas não recuaria agora. Os guardas de segurança não estavam na porta, e, até então, ele não vira nenhum usuário entrar. A arma de plástico se mantinha firme no cós da calça, fazia com que Demitre se sentisse mais poderoso, apenas durante os breves instantes em que ele não se relembrava de que ela era inofensiva. Precisaria ser convincente ao segurá-la contra alguém. Seu rosto ainda doía. E se o capturassem também? E se apenas uma arma de brinquedo não fosse o bastante? O que pretendiam fazer com ele? Pior: o que vinham fazendo com Lexia? Não queria pensar nisso. Esperava que os pais dela também a estivessem procurando; desse modo, caso Demitre fracassasse, Lexia ainda teria alguém lutando por ela. Finalmente viu movimento. Um automóvel subia a rampa do estacionamento interno, emergindo do subterr
13 de agosto, quinta-feira, Lançamento do OneConnect. Depois que o primeiro vídeo de divulgação foi projetado acima da cabeça dos discursistas, o impacto da novidade não pôde ser contido por consideráveis minutos. Primeiro, uma salva de palmas; depois, o burburinho indiscriminado. Octavia precisou levantar o tom de voz para continuar falando e, ao perceber que seria inútil, esperou até que os ânimos se acalmassem. Estefen acompanhara parte da introdução em sua objetiva. A transmissão estava disponível na rede, ao vivo. O mundo inteiro sabia do OneConnect agora; o mundo inteiro assistia. Por fim, Octavia explicou resumidamente a essência do produto. O slogan ainda pairava no telão de luz: “OneConnect: conectando você à sua verdadeira realidade”. Muitas das palavras da dirigente já haviam sido repetidas à exaustão no interior da OneBionics, “descubra uma nova maneira de ver o mundo”, “viaje para onde você
Vince fizera sua lição de casa. A maior parte do trabalho já havia sido previamente preparada. No entanto, reprogramar Artur não vinha sendo tarefa fácil, uma vez que não se tratava de um biônico comum. Ele estudara muito sobre a sintaxe utilizada na programação dentro da OneBionics, sondara seu supervisor a respeito de manuais e literatura na área. Esse definitivamente não era o melhor momento para que suas habilidades o desapontassem. O processo já levava mais de meia hora. No início, Vince se interrompia apenas para olhar para o lado e verificar se Artur parecia bem. O rapaz não se mexia ou abria os olhos, o que era um bom sinal. Algo não estava funcionando. Vinha cometendo algum engano; sempre acabava recebendo erro de sintaxe no código. Precisou verificar três vezes todos os códigos adicionados para se dar conta de que adicionara um colchete na linha errada, interferindo na label de uma seção. Após a correção, sem que Vince tocasse em ma
— E-eu não sei de nada. Eu juro! — implorava o jovem. Demitre não perguntara seu nome. Empurrava o cano da pistola de brinquedo contra suas costas na direção das portas automáticas do edifício B. As câmeras já deviam captá-lo, mas isso não o preocupava mais. — Meu chefe ordenou que eu buscasse uma coisa para ele. Só isso. É por isso que saí… — Você trabalha aí dentro, certo? — grunhiu. — C-certo. — Onde está Lexia? — Quem? — Onde está a garota que vocês sequestraram, caralho? — Não sei! — É melhor saber, senão… — Espere! Fiquei sabendo de uma coisa — gaguejou o rapaz. — No último andar. Numa das câmaras de simulação. Trouxeram alguma coisa de algum lugar e guardaram lá em cima. Foi o que ouvi dizer. — Quando isso aconteceu? — Sei lá. Uma semana atrás, se não me engano. Mas não sei se é o que você está procurando — engrolou. Estava apavorado. — Por favor… Passaram pelas portas. Alguém espe
13 de agosto, quinta-feira, Lançamento do OneConnect. — Dois dias?! — Estefen tapou a boca. Octavia lhe dissera que Castello provavelmente não conseguiria comparecer ao evento, mas não dera detalhes do estado de saúde dela. Estefen já esperava que uma hora ela fosse se recuperar, mas não a tempo do lançamento. Socou a própria coxa. Claro que Octavia não o informaria sobre melhoras no quadro de Castello. A culpa era de Estefen, que não acompanhara a condição da mulher. Devia tê-la espionado, quem sabe tentado visitá-la em seu leito… — Estefen, acho que os homens que a acompanham são seguranças particulares. Vestem uniforme — salientou Ilías à chamada. — Ela deve estar planejando alguma coisa… — inferiu. Logo agora, justamente quando tudo estava prestes a terminar! — Precisa que eu vá aí ajudar? — Não! — declinou de pronto. — Continue exatamente onde está.
Vince mantinha os olhos grudados na tela luminosa. Algo estava acontecendo, sem dúvida, mas o quê? Temeu por Artur. Foi quando ouviu o barulho — um, não; milhares de barulhos! Todos ao mesmo tempo. Pareciam… portas se abrindo. Algumas delas muito distante, outras bem perto. Também havia um ruído metálico… Vince prendeu a respiração, por um instante apenas, até que passos apressados começassem a ecoar. Centenas de pés batendo contra o chão em tropel. Vinham de todo lado: de cima, de baixo… do corredor. Era ensurdecedor! Lembrava uma estação de trem durante a hora do rush, só que amplificado e sem o costumeiro rumor de vozes intercaladas. Deixou o computador sobre o sofá e foi até a porta. Precisava abri-la para verificar. Se sua intuição estivesse certa, todos os sintéticos que antes eram mantidos em suas câmaras haviam sido libertados! — Não vá lá fora. — Uma voz ordenou atrás de Vince. Ele se virou rapidamente, com a palma no peito, e
— Qual câmara? — vozeou Demitre, empurrando com ainda mais força o cano da pistola contra o rapaz.O refém gemeu de dor e apontou para uma porta mais adiante no corredor do último andar.Demitre avançou, apressado.Aproximou-se da porta. Era feita de metal e… estava aberta.Empurrou o garoto para o lado e entrou.-----------------CONTINUA------------------------Serei eternamente grato se puder deixar um comentário, dar sua opinião ou se puder deixar uma resenha no Skoob ao terminar sua leitura. Se gostar, indique para seus amigos e amigas, isso ajuda muito para o crescimento da história.Siga nas redes sociais:Instagram: @gabowill.autoresMuito obrigado,Com carinho,Marco Barbie