Vince mantinha os olhos grudados na tela luminosa. Algo estava acontecendo, sem dúvida, mas o quê?
Temeu por Artur.
Foi quando ouviu o barulho — um, não; milhares de barulhos! Todos ao mesmo tempo. Pareciam… portas se abrindo. Algumas delas muito distante, outras bem perto. Também havia um ruído metálico…
Vince prendeu a respiração, por um instante apenas, até que passos apressados começassem a ecoar. Centenas de pés batendo contra o chão em tropel. Vinham de todo lado: de cima, de baixo… do corredor. Era ensurdecedor! Lembrava uma estação de trem durante a hora do rush, só que amplificado e sem o costumeiro rumor de vozes intercaladas.
Deixou o computador sobre o sofá e foi até a porta. Precisava abri-la para verificar. Se sua intuição estivesse certa, todos os sintéticos que antes eram mantidos em suas câmaras haviam sido libertados!
— Não vá lá fora. — Uma voz ordenou atrás de Vince.
Ele se virou rapidamente, com a palma no peito, e
— Qual câmara? — vozeou Demitre, empurrando com ainda mais força o cano da pistola contra o rapaz.O refém gemeu de dor e apontou para uma porta mais adiante no corredor do último andar.Demitre avançou, apressado.Aproximou-se da porta. Era feita de metal e… estava aberta.Empurrou o garoto para o lado e entrou.-----------------CONTINUA------------------------Serei eternamente grato se puder deixar um comentário, dar sua opinião ou se puder deixar uma resenha no Skoob ao terminar sua leitura. Se gostar, indique para seus amigos e amigas, isso ajuda muito para o crescimento da história.Siga nas redes sociais:Instagram: @gabowill.autoresMuito obrigado,Com carinho,Marco Barbie
Octavia tirou o microfone da mão de Castello e o arriou outra vez no atril. Viveana não deixou que isso a impedisse, continuava apontando para Estefen. — Foi ele! Ele me envenenou! — Agora gritando para ser ouvida. Era tarde demais para escapar. Estefen permaneceu de pé, no meio do corredor, tentando se convencer a encontrar os olhos curiosos e assustados que certamente estavam presos nele. Ouviu-se um ruído alto. Era impossível discernir de onde vinha, mas logo todos descobririam que algo rebentava nas coxias. Octavia dizia alguma coisa — exigia num tom autoritário —, puxando uma Castello furiosa pelo braço. Os seguranças da mulher se preparavam para subir no palco, os guardas da OneBionics se aproximavam pelas costas de Estefen, e os sintéticos no palco… Havia algo perverso neles. O sintético mais próximo à Octavia agiu tão rapidamente que, após sua investida, a plateia demorou um longo instante em choque antes de instaurar a gritari
A porta se fechou atrás de si. — Ei! — gritou Demitre, mas não lutaria para abri-la novamente. Não ainda. Olhou ao redor. A câmara era muito grande, parecia simular um entreposto. Paredes de concreto; estantes por todo lado, empoadas e abarrotadas de pacotes de aparência pesada; vigas enferrujadas. O cheiro era acre, úmido. Era possível ouvir água escorrendo em algum canto, talvez de um dos canos pertencentes às tubulações cruas e expostas no teto. Demitre manteve a arma empunhada, com o dedo próximo do gatilho, embora dela nada pudesse sair. Começou a caminhar. O corredor o levava numa única direção. A iluminação era pouca, algumas lâmpadas de luz sépia, aqui e ali, penduradas por fios carcomidos e envelopadas por uma crosta de sujeira. Ouviu algo, um murmúrio, e som de ferro contra ferro. — Lexia! — chamou. Ninguém respondeu, mas uma sombra se projetou de algum lugar ao final do corredor de estantes. Havia alguém lá. Demitre
— Eu disse para se afastar, cacete! — urgiu Calebe, mas Estefen deu mais um passo para frente. — Escute. Devem chamá-lo de Demitre, não é? — começou. — Eu sei, porque foi o nome que escolhi para você a fim de mantê-lo seguro. Um feixe de compreensão iluminou o rosto de Calebe. — Eu já vi você! Na… na frente da OneBionics. Q-quando eu estava escondido. — Suas mãos tremiam tanto! — Você me mandou fugir. Por que fez isso? O que…? — Abaixou um pouco a pistola, olhando desorientado ao redor. — O que significa isto? — Fui eu, sim. Mas nos conhecemos desde antes — denotou Estefen. — Tentei alertá-lo. Só que aquela noite faz um ano. Calebe voltou a segurar a arma com força. — Você armou para mim, é isso? Onde está Lexia? Me diga, ou vou atirar em você! Estefen sacudiu a cabeça. — Lexia não está aqui. Estamos na OneBionics… — Eu sei onde estou, porra! — Nada faz sentido para você. Eu sei. — Mantinha seu tom baixo
Havia aquilo que Calebe descobrira antes, bem como aquilo sobre o que soubera depois. Por ouvir tantas histórias do irmão, por vezes acreditava que sabia mais a respeito dele do que de si mesmo. Sua primeira lembrança era da paróquia, naquela cidade tão pequena enfestada de devotos. Seu pai o segurava no colo, ainda tão pequeno, enquanto um círculo de fiéis se prostrava ao redor, todos pedindo que ele repetisse seu nome. “Alebe”, ele dizia, e não entendia o porquê de todos rirem tanto. “Alê será como o pai”, afirmava alguém, “um homem das palavras”. “O tempo dirá”, seu pai respondia, mas não disfarçava o orgulho. Seus filhos seriam, sim, como ele. Guiariam rebanhos, inspirariam, mostrariam aos demais o caminho do bem. Afinal de contas, eram bem educados. Sua missão, como pai, era criar homens decentes. Estefen nunca pedia que ele repetisse seu nome do jeito errado, tampouco o chamava pelo apelido. “Seu nome é Calebe”, o irmão dizia, “e ninguém mais va
Os passos já tinham seguido para longe. Agora havia um silêncio cheio de acusações. — Eles fizeram mesmo isso? — sondou Vince, olhando através da janela. — Machucaram toda aquela gente? Artur vinha se mantendo incomodamente calado. — É para isso que fomos feitos. — Não é verdade! Foram feitos para serem… — Atrações de circo? Que bom — interrompeu, sarcástico. Vince se virou. — Me diga, Artur. Me diga que você não teve escolha. Me diga que havia algo naquele códice que injetei em você que o obrigou a fazer isso. Artur o encarou languidamente. — Tive escolha — respondeu. — Escolhi o que era certo. — Matar nunca é certo! — A menos que a vítima seja um de nós, não é? — Artur se pôs de pé. — Fiz o que seu comparsa queria que eu fizesse. Tenho certeza de que era o que ele planejou. — Estefen não mentiria para mim. — Talvez não. Mas quando eu vi… — tremulou. — Você nunca entenderia. A ma
— Por que aqui? — indagou Calebe, ainda espargindo água. — Por que um lugar como este? Estefen fechou os olhos e limpou o nariz ensanguentado. Responder doeria. — Porque era o que eu menos iria querer. Um lugar escuro, escondido, solitário. Eu busquei a liberdade e a luz para nós dois minha vida inteira. Esta câmara foi feita para machucar você, Calebe, mas para me machucar também. — Me chame de Demitre — solicitou, num fio de voz. Abraçava o próprio corpo, como se, caso não o fizesse, pudesse se desmontar. — Aquele Calebe não existe há muito tempo. Me chame de Demitre. Estefen, ajoelhado sobre a poça, assentiu. — Estão todos mortos. As pessoas que fizeram isso com você. Me certifiquei de que morressem. Demitre abriu um leve sorriso nervoso. — Isso não muda nada — considerou. — Mas fico feliz que não vão machucar mais ninguém. Estefen se levantou e estendeu uma mão. — Vamos. Você já ficou neste lugar tempo demai
Quando a porta finalmente se abriu, Vince empurrou Estefen pelo peito. — Você mentiu para mim? — esbravejou. Estefen massageou sob a clavícula, mas não demonstrou sinal de ofensa. Pelo contrário, olhou indolentemente para o chão. Tinha os cabelos desgrenhados e úmidos caindo sobre a testa; a blusa social molhada, faltando um botão; a gravata frouxa e torta na lapela. — Omiti muita coisa — confessou. — Para onde ele foi? — apressou-se. Estefen o encarou com dúvida. — Artur. Ele disse alguma coisa sobre destruir os sintéticos, destruir a si mesmo. Para onde foi? — Destruir… — hesitou, encrespando as sobrancelhas. Depois de um breve instante, sua expressão passou a denotar compreensão. — Pode ser que… bem, ouvi dizer sobre um dispositivo no último andar subterrâneo. Há um elevador no quadragésimo andar do edifício B que talvez o leve para lá. Agora que as trancas estão desativadas… — O rapaz não esperou que ele terminasse, já caminhava em direção