Alianças Improváveis" é um capítulo que explora como o desespero e a necessidade de justiça podem unir pessoas que, em outras circunstâncias, jamais estariam do mesmo lado. Aqui, vemos Marta, Antônio e Rudney deixando de lado suas diferenças e desconfianças para enfrentar um inimigo comum: o passado que os assombra. Escrever essa dinâmica foi desafiador e gratificante, pois mostrou como a complexidade dos relacionamentos humanos pode ser tanto uma fonte de conflito quanto de força. A aliança entre eles não é perfeita — está cheia de tensões e dúvidas —, mas é justamente essa imperfeição que a torna real e emocionante. Espero que vocês, leitores, tenham sentido o peso dessas escolhas e a urgência que move cada personagem. Obrigado por acompanharem essa jornada e por se conectarem com essas alianças tão improváveis quanto necessárias. 💜
Antônio dirigia com cuidado, com Paulo e as crianças no carro. Eles acabavam de sair do hospital, e o silêncio no veículo era quase palpável. Os semblantes sérios e os olhos distantes indicavam que cada um estava perdido em seus próprios pensamentos, imersos nas tensões que a situação trazia.Quando Antônio virou à esquerda, Paulo, com voz áspera, interrompeu o silêncio: — O endereço da minha casa fica em outra direção. Sem olhar para trás, Marta respondeu com firmeza: — Sua casa não tem condições de nos abrigar, Paulo. Eu não vou ficar longe das crianças. Estamos morando na casa dos meus pais agora. Lá temos quartos suficientes e uma suíte no térreo, já que você não pode subir e descer escadas. Além disso, já matriculei as crianças em uma escola a duas quadras da casa.Betriza perguntou se não voltariam mais para Porto Belo e por que a mãe não tinha vindo com eles. Pablo, que estava no colo dela, olhou fixamente para Marta, esperando uma resposta. Sorrindo para ele e alisando seu c
Naquela mesma noite, após a discussão com Paulo, Marta sentou-se na varanda da casa dos pais, o café ainda quente entre as mãos. O aroma suave da bebida misturava-se ao cheiro da noite, enquanto o vento trazia consigo memórias que ela tentara enterrar há muito tempo. Era estranho como, após anos, aquela cena ainda conseguia fazê-la sentir um nó no estômago, como se o passado insistisse em não ser esquecido.Ela fechou os olhos, e a imagem de Rudney invadiu sua mente como se fosse ontem. O rosto dele, a voz firme, as palavras cortantes — tudo voltava com uma clareza que a deixava sem ar. Marta apertou a xícara com mais força, sentindo o calor do café penetrar em suas mãos. "Por que ele ainda tem esse poder sobre mim?", pensou, frustrada consigo mesma.Era uma noite quente de verão, e ela tinha apenas dezoito anos. Rudney, alguns anos mais velho, sempre fora uma figura fascinante para ela — inteligente, charmoso e com um ar de mistério que a atraía como um ímã. Naquela noite, após uma fe
Estelle sentiu uma brisa suave acariciar seu rosto. Um toque sutil que trazia um breve conforto. Logo em seguida, algo quente e macio tocou seus lábios. Deslizou suavemente por sua face, deixando um rastro de calor familiar. Sem abrir os olhos, ela sorriu, saboreando a ternura daquele momento. Uma risada masculina, grave e suave, soou perto do seu ouvido. O coração dela acelerou por um instante. Ainda imersa na estranha mistura de paz e inquietação, Estelle abriu os olhos de repente. Encontrou um par de olhos azuis que a observavam, com um sorriso contido e divertido. A visão do homem tão próximo a ela era desconcertante. Seu corpo congelou antes mesmo de sua mente processar o que estava acontecendo. O coração martelava no peito, como se ela tivesse sido arrancada de um sonho bom e jogada de volta a um pesadelo. Ela permaneceu imóvel, encarando-o. Aquele rosto que agora já era familiar. Ela fechou os olhos e moveu a cabeça para o lado, evitando o contato com ele.— Estelle, não fuja. O
O som dos passos firmes ecoava pelos corredores do hospital enquanto o delegado Eduardo Vasconcelos se aproximava da ala onde Estelle havia desaparecido. Sua expressão mantinha uma calma contida, mas seus olhos atentos perscrutavam cada detalhe ao seu redor. Sendo de poucas palavras, entretanto, possuía um olhar penetrante que parecia enxergar além das aparências. Era exatamente disso que ele precisava para lidar com aquele caso: algo ali cheirava a segredo.Ele parou diante do balcão de atendimento, onde uma recepcionista digitava algo no computador, alheia à sua presença. Eduardo pigarreou levemente, e ela levantou os olhos, visivelmente surpresa.— Com licença, sou o delegado Vasconcelos. Estou investigando o desaparecimento da senhora Estelle Karie Treventos — anunciou, exibindo sua identificação. — Preciso falar novamente com a equipe médica que estava de plantão na noite do desaparecimento.A moça, visivelmente desconfortável, assentiu rapidamente.— Claro, senhor delegado. Todos
O delegado Eduardo estacionou seu carro em frente ao hospital, com o coração acelerado. A visita à casa de Murilo havia sido frustrante, não trouxera as respostas esperadas. A casa, embora desorganizada, não revelara nenhuma pista sobre onde ele poderia ter levado Estelle. Apesar de ser o suspeito número um, nada até o momento o incriminava diretamente. A falta de evidências tangíveis só aumentava a inquietação de Eduardo.Antes de entrar no hospital, decidiu ligar para o diretor. Ele precisava ter certeza de que Silvana e Murilo estavam lá. O diretor informou que apenas Silvana estava trabalhando naquela tarde. A ausência de Murilo era mais uma peça no quebra-cabeça que não se encaixava. Eduardo respirou fundo, sentindo o peso daquela investigação sobre seus ombros. Sabia que algo estava prestes a acontecer, e Silvana poderia ser a chave para desvendar tudo. A imagem de Silvana, a atendente, não saía de sua mente. Seus gestos nervosos e a expressão tensa da última conversa se repetia
Murilo estacionou o carro nos fundos da cabana, os dedos pálidos de tanto apertar o volante. Ele havia escapado por uma fração de minutos e, ao ver o delegado entrar no hospital, teve a certeza de que Paulo e a polícia já sabiam de seu envolvimento no desaparecimento de Estelle. A cabana não era mais segura. As pessoas que o ajudaram da primeira vez haviam recusado colaborar novamente. Estava sozinho e não podia se dar ao luxo de cometer nenhum deslize. Ninguém destruiria sua felicidade ao lado de Estelle. Ninguém.Com passos rápidos, ele entrou na cabana, fechando a porta com firmeza atrás de si. Silvana entrou logo em seguida, olhou para ele e sentiu seu olhar de acusação por ela não estar dentro da casa.— Eu estava trabalhando — justificou-se, evitando o contato visual. — A enfermeira disse que mandaria uma conhecida dela cuidar da sua convidada na minha ausência.O olhar vidrado de Murilo e seu rosto pálido denunciavam o estado mental perturbado. Silvana sentiu um calafrio percorr
Murilo apareceu carregando a bandeja. Suas roupas estavam amassadas e uma saliva branca acumulava-se no canto da boca, indicando sua instabilidade. Apesar de tentar se controlar, seu estado mental perturbado era evidente.Com passos lentos, ele se aproximou da cama. Estelle instintivamente se encolheu, como se esse gesto pudesse protegê-la.— Olá, Estelle... — Murilo falou com a voz suave.Ele sorriu, exibindo uma calma controlada que contrastava com a intensidade em seus olhos.— Tenho boas notícias. Você está se recuperando maravilhosamente bem. Não é bom?Ele ajeitou a bandeja na pequena mesa ao lado da cama e continuou:— Outra coisa: vamos precisar mudar de local. Aqui não é mais seguro para você. Paulo pode aparecer a qualquer momento, e nós não queremos isso, não é verdade?Murilo inclinou-se ligeiramente, os olhos perturbados fixos nos dela.— Eles nos separaram no passado, mas agora não conseguirão. Nosso destino é ficarmos juntos, Estelle.O silêncio pesado se instalou entre
O delegado Eduardo dirigia em direção ao município na divisa com Florianópolis, seguindo uma pista que o levava a um suposto cativeiro. O sol já começava a se pôr, lançando tons alaranjados sobre a paisagem rural. A casa abandonada, localizada em um sítio em estado de decadência, parecia saída de um filme de terror. O mato alto cobria o caminho, e o portão enferrujado rangeu ao ser empurrado. Eduardo entrou cautelosamente, revólver em punho, enquanto dois agentes o acompanhavam.Dentro, o cenário era desolador. O chão estava coberto de poeira e detritos, as paredes descascadas revelavam infiltrações, e o cheiro de mofo era insuportável. Nenhum móvel, nenhum sinal de que alguém havia ocupado o local recentemente. Eduardo revirou cada cômodo, mas não encontrou nada que ligasse o lugar ao desaparecimento de Estelle. Frustrado, ele ordenou que os agentes vasculhassem o terreno, mas os resultados foram os mesmos: nenhuma evidência.— Estamos perdendo tempo aqui — murmurou Eduardo, esfregand