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Capítulo 02

GIOVANA VITALLE

Tudo está em silêncio, minha cabeça dói, sinto uma dor forte em minhas costelas. Tento abrir os olhos, mas eles estão pesados demais. Sinto minha boca seca, sede, eu tenho muita sede. Tento novamente abrir meus olhos e dessa vez, consigo. Com a visão ainda embaçada, não enxergo muito, mas ela vai se adaptando aos poucos à claridade do ambiente, não tenho ideia de onde estou. Meu ofuscado cérebro procura entre suas lembranças recentes algum indício que me lembre do que aconteceu e o que me trouxe aqui. Pouco a pouco as imagens fragmentadas começam a me torturar. Lembro que ouvi carros, freios, até que fui envolvida pela escuridão.

Com os pensamentos ainda embaralhados, olho ao redor, o quarto é grande e luxuoso, decorado em tons de marrom, o ambiente, embora tenha ostentação em excesso, não tem vida, e olhar para ele me causou uma sensação estranha. Era como se algo sombrio estivesse a minha volta.

Não tenho tempo de processar essa nova sensação, pois a maçaneta é girada e a porta se abre, revelando um homem que nunca tinha visto antes. Tenho um momento de deslumbre diante de tamanha beleza. Ele é um homem alto, trajando roupas pretas, forte, cabelo impecável, barba por fazer em seu maxilar quadrado, revelando uma força de personalidade feroz. Ele para em minha frente, com um olhar penetrante através daqueles olhos castanhos, me encarando de uma forma intensa, fazendo todo o meu corpo se arrepiar.

Ele se aproxima e sob seu olhar frio, que me analisa por completo, tento levantar, e nesse momento sento uma pontada forte vinda das minhas costelas, não consigo evitar gritar de tanta dor. Minha cabeça fica zonza e eu me forço a me manter sã. Volto à realidade com o som da voz do homem ecoando por todo ambiente.

— Se eu fosse você, não levantaria dessa cama, suas costelas ainda estão machucadas, mas não trincadas ou quebradas. Você teve muita sorte.

Estava tão apavorada que não conseguia pensar em nada. Levei as mãos ao encontro do local onde o homem havia chutado, logo senti o tecido macio sobre minha pele. Meus olhos vão ao encontro do meu corpo, estou com uma camisola bege de seda.

Droga, o que aconteceu?

O pânico se instalou por todo o meu corpo quando um pensamento cruza minha mente.

Será que...

Mal tenho tempo de raciocinar quando o homem volta a falar.

— Não curto Necrofilia. Você estava quase em coma — ele dá um sorriso de lado, quase imperceptível. — Quando fodê-la, acredite, estará mais lúcida do que nunca. Quero ouvir seus gritos clamando por misericórdia.

Meus olhos se arregalam, meus batimentos cardíacos aceleraram, esse homem é um psicopata. Apavorada, tentei levantar novamente, mas foi em vão. As lágrimas já desciam sem minha permissão.

— Eu... e... u... Quero ir embora — o som da minha voz quase não sai por minha boca.

Ele avança em minha direção, pegando meu queixo com brutalidade. Posso ver que seus olhos mudaram de tonalidade, estão mais escuros.

— Você não vai a lugar algum, assim que melhorar vamos começar a diversão, ficará a minha disposição até o momento que assim, eu desejar.

No momento que ouvi suas palavras, meu coração disparou, o meu corpo gelou, uma adrenalina de tristeza se apoderou sobre mim.

"Meu Deus, o que fiz para passar por tudo isso."

PIETRO SALVATORE

Fecho meus olhos e meus pensamentos me guiam para os dias mais felizes da minha vida. Dezesseis anos atrás, quando meus pais avisaram que iríamos almoçar na casa dos Greco. Confesso que uma carranca se fez presente em minha face, porém, assim que adentramos a mansão, os sons de risos se faziam presentes por todo ambiente. A felicidade pela chegada da herdeira de Fillipo Greco, chegava a me causar ânsia, não sabia o porquê de tanta felicidade com o nascimento de uma menina. Desde os cinco anos, quando começou meu treinamento, fui ensinado sobre o papel da mulher na máfia e que se o homem se mostrar capaz de manter o controle total sobre a sua mulher aos olhos dos outros, será capaz de manter o controle até mesmo de seu território.  O pudor feminino representa a maneira de manter intacta a honra masculina.

Assim que me chamaram para conhecer a Ângela, eu fui contra a minha vontade, me perguntando o que poderia ter de interessante em conhecer um bebê, ainda mais sendo menina. Ao me aproximar do berço onde ela se encontrava, meus batimentos cardíacos estavam mais intensos, quando enfim a olhei, já não conseguia mais desviar meus olhos dos seus. Eles eram de um azul tão cristalino como o mar, nunca tinha visto alguém tão bonito quanto aquele simples bebê.

Os anos foram se passando e cada dia nós nos tornávamos inseparáveis, até o momento que aconteceu aquela fatalidade. Meses depois, meu pai faleceu vítima de um ataque cardíaco, e aos 15 anos, eu passei pelo ritual de consagração, me tornando o Chefe mais novo na história da Cosa Nostra. Passei dois meses com as mãos enfaixadas devido ao ritual, mas mesmo em meio à dor, tinha que me manter forte perante os membros presentes. Aos 16 anos já era o mais temido e exaltado no mundo da máfia italiana.

Todos acreditam que Sophia será a nova Dama da máfia, o que jamais vai acontecer. Nunca me casaria com uma pessoa tão fútil como ela. Depois da morte da Ângela, passei a desprezar todas as mulheres e quando não me dão o prazer que espero, logo acabo com suas vidas inúteis. Saio dos meus devaneios ao lembrar-me daquela bambina.

Quatro dias atrás mandei Lucca pedir ao Cristóvão a ficha dela no histórico de funcionários do restaurante e através dela, obtive um arquivo completo da sua vida. Após analisar todas as informações, descobri que se chama Giovana Vitalle, nasceu em Manhattan, recentemente completou 19 anos. O que me deixou mais irritado, pois além de a infeliz ter os mesmo olhos da Ângela, se não fosse por alguns meses a mais, teriam a mesma idade. Embora os olhos sejam parecidos, ela tem uma cor de pele pálida e não vibrante.

Assim que a vi naquele quarto e olhei em seus olhos, tive que me manter impassível contra tudo que estava sentido. Além de bonita, tem algo nela que me atrai e não é somente sexo. Mesmo com uma aparência desleixada, ela tem uma beleza natural e demonstra singeleza pelo pouco que lhe observei. Ao ver o medo em seus olhos quando falei que logo a teria, só despertou em mim a vontade de possuí-la de todas as formas. Caso não me satisfaça, terá o mesmo fim que todas as outras.

Após finalizar mais uma reunião, adentro minha limusine, é hora de ir para casa e só em pensar naquela infeliz, meu membro já lateja indomavelmente.

“Giovana Vitalle, você não sabe o que te aguarda.”

GIOVANA VITALLE

Eu preciso ser forte. Quatro dias que estou nesse ambiente, não vou mais chorar ou me lamentar. Depois de aquele homem falar àquelas palavras que acabaram por me deixarem em pânico, antes de sair, ele chamou uma senhora que aparentava ter por volta de uns 55 anos, de baixa estatura e olhos verdes, ela se chama Maria e seria ela quem iria me ajudar até fica boa, e desde então, ela sempre vem arrumar o quarto, trazer minhas refeições e me auxiliar com o banho.

Ontem tentei me levantar e a dor em minhas costelas já não estava tão forte, depois que as persianas se ergueram das soleiras da janela, olhei naquela direção e tudo indicava que estamos em um apartamento. Antes que aquele homem apareça novamente, eu terei que dar um jeito de fugir. Não suportaria ser violentada e ter que conviver todos os dias com as consequências, seria mais um sofrimento que levaria para vida toda. Jamais imaginei que um homem tão bonito, também fosse alguém tão cruel. Ainda que por minutos, tive um deslumbre por aquele ser tão maligno, mas isso passou.

Daqui a alguns minutos a Maria, com certeza, virá para me ajudar no banho, será o momento ideal para colocar meu plano em ação. Quando ela veio trazer meu café, algumas horas atrás, pegou o telefone que estava a tocar e começou a falar, pelo que deu a entender, o homem se chamar Pietro. Ela falava em italiano, pensando que assim eu não teria como saber o conteúdo da conversa, e eu fingi não entender nada.

Mesmo passando dez anos no orfanato e não dialogando em italiano com ninguém, eu jamais esqueceria. Nunca entendi o fato de ter nascido em New York e como os meus pais, eu falava tão bem esse idioma.

Pelo que intendi, o homem chegaria tarde hoje, ela informou algumas coisas e ouvi quando disse que os dois seguranças já estavam nos seus respectivos lugares.

(...)

Adentro o banheiro, visto minhas roupas, que felizmente, Maria tinha lavado e deixado no quarto, assim como minha bolsa também estava. Fiquei atrás da porta segurando o abajur com bastante firmeza e que Deus me perdoe por ter que fazer isso. Minutos depois, ouço passos se aproximando, meu coração b**e mais forte com a difícil escolha em ter que decidir se devia b**er ou parar de uma vez com tudo isso.

Dio mio, dê-me coragem.

Conforme ela se aproximava mais do banheiro, mais desesperada eu estava, assim que a maçaneta foi girada, fechei os olhos e rezei para ter forças, quando a porta foi aberta, não perdi tempo e passei o objeto em sua cabeça. Com os olhos arregalados, desorientada e sem equilíbrio, Maria caiu no chão. Aproveito o momento e saio disparada, do quarto. Ao chegar ao que presumo ser a sala, fiquei completamente desnorteada, meu Deus, o que vou fazer? Pensa Giovana, pensa, se sair por essa porta, vai encontrar os dois seguranças, eu olhei em volta do local, se é um apartamento tão luxuoso quanto aparenta, deve ter um acesso dos empregados, segui caminho até a cozinha, a dor no meu corpo não é mais forte que meu desespero para sair dessa situação.

Ao chegar lá no ambiente, agradeço a Deus por ver uma porta, orei para que a trava estivesse aberta, ao girar a maçaneta, vejo que minhas orações foram atendidas, não acredito que estou livre.

Enquanto descia os degraus em direção à enorme porta, já não suportava a dor e meu corpo, meus ossos estavam frágeis, mas segui firme, quando já tinha passado uns seis andares. Diante da porta, esfreguei a ponta dos dedos na área abaixo dos meus olhos e correndo a palma da mão por meus cabelos. Uma rápida ajeitada na minha roupa e em minha coluna, adentrei o elevador de serviço e logo encontrei uma senhora, ela me olhava com bastante intensidade e ao perceber meu nervosismo, acabou por perguntar o que estava acontecendo. Não contei de fato a situação, falei que briguei com meu padrasto e queria um jeito de sair dali sem que ele me encontrasse. O silêncio que se instalou me deixou angustiada, a senhora pensou por um tempo e disse que me ajudaria a sair pela entrada dos funcionários.

Assim que senti o vento batendo em meu rosto, agradeci a Deus por ter me livrado de tudo isso, espero nunca mais cruzar o caminho daquele homem perverso.

"Nada melhor que ter minha liberdade de volta."

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