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03 - Vittorio Romano

Vittorio Romano

Posso ser apenas uma criança, mas ser filho de meu pai, é triste…

Não suporto ter que passar por tudo o que tenho que ver.

Sei que ele me ama e que apenas está me treinando para não acontecer comigo o que aconteceu com a minha mãe. Tem quase dois anos que a nossa outra casa foi invadida por homens maus, por pouco não me machucaram, mas a minha mãe não teve a mesma sorte.

Meu tio Enrico me protegeu como pôde e por pouco ele também não se foi. Por isso hoje moramos na cidade e não mais na fazenda de uvas. Amo aquele lugar e faço de tudo para que papá nos leve de volta.

Estar longe de nossa casa de campo estar começando a me fazer perder as lembranças de minha mãe, já que essa casa ela esteve poucas vezes.

Ver todas as minhas babás querendo se exibir para o meu pai é algo que não suporto. Elas estão sempre me maltratando pelas costas de meu pai e tio, já tentei falar com eles, mas como nunca prestam atenção em mim, acabei me especializando em colocá-las para correr.

E com a última não foi diferente, sei que ela foi ao quarto do meu pai na noite anterior, mas para o seu azar meu pai precisou viajar para ir até nossa casa de campo. Por isso aprontei com ela embaixo da maceira.

Mas não esperava que fosse encontrar Laura e algo nela me trouxe a lembrança de minha mãe, não sei se foi como ela sorriu para mim ou a forma que tentou me defender.

Mas gostei dela.

— Tio a contrate, precisamos de alguém e gostei dela! — Digo enquanto a vemos se afastar.

— Vittorio seu pai não gostará, se ela estiver lá pode ter certeza que serei morto. — Reviro os olhos e saio andando em direção aonde ela ia.

Começo a gritar chamando, o que me irrita. Sempre quando chamo alguém todos me atendem. Percebo quando os soldados de casa começam a se aproximar de mim e a vejo entrar no ônibus.

— Parem… — Digo e corro em sua direção. — Eiii…

Sinto as mãos de meu tio me segurando de ir até onde ela estava, o vejo respirando fundo e sei que ele fará o que estou pedindo. Sorrio vitorioso por conseguir ter a babá que acabei de escolher, vejo dando ordem para que parem o ônibus.

Estava andando atrás de meu tio e percebo que quando o ônibus para a mulher mal consegue se segurar e a vemos cair no colo de outro homem. O que não gosto, fico incomodado ao vê-la naquela posição. Fico feliz quando vemos ela se erguer e vir em nossa direção irritada e não entendo os seus motivos.

Com tudo resolvido e com Laura em nossa casa, decidi dar realmente uma chance para mostrar que ela não é igual a todas as outras babás que sempre se jogam no colo de meu pai e meu tio.

Gosto quando ela parece desafiar meu pai e como me olha, parece que vai me proteger caso seja necessário, algo que nenhuma nunca fez.

Mas a sua postura me fez ficar com medo que meu pai não permitisse que ela se tornasse a minha babá.

— Então ela poderá ficar papá? — Pergunto de dedos cruzados.

Ouvir meu pai a recebendo em nossa casa me alegra. Meu tio dá espaço para que ela o siga e sorrio de mãos dadas com ela e já estava saindo.

— Vittorio Romano sedetevi! “Sente-se” — Ouço a voz grossa de meu pai

Olho para Laura que lança um olhar para meu pai e sorri para mim.

— Estarei na cozinha, vou arrumar o que sujou. — Ela diz e aperta a minha mão.

Vejo meu tio se afastando com um olhar triste em minha direção, quando as portas se fecham na minha frente viro em direção ao sofá do escritório e meu pai já estava puxando a poltrona para sentar.

Baixo a cabeça e caminho lentamente, me preparando para ouvir o sermão que levarei, sei que não gostou do que aprontei, com mais uma babá que foi embora.

— Sente-se meu filho, vamos ter uma conversa séria. — Ele diz e me acomodo no sofá com meus olhos presos no chão.

Amo meu pai e sei o quando ele me ama também, sei que nos últimos meses estou dando trabalho.

— Sabe que ela não poderia estar aqui, Vittorio, é perigoso para você e talvez até mesmo para ela. — Meu pai diz e senta na cadeira a minha frente. — Olhe para mim!

Suspiro e ergo os meus olhos para ele, meu pai havia retirado o terno sempre tão impecável em seu corpo e me olhava com o mesmo carinho de sempre.

— Por que tem lutando tanto com suas babás? Pense antes de me responde, sabe bem que não admito mentiras. — Mordo o lábio e me posiciono melhor no sofá.

— Todas as que estiveram aqui as vi tentando ocupar o lugar da minha mãe. — Digo sentindo a raiva de todas as outras babás.

Meus olhos começam a se se encher de lágrimas e não deixo que meu pai as veja cair. Não sou um fraco, sou Vittorio Romano e quando chegar o momento comandarei tudo o que meu pai diz sempre para mim.

— Vittorio, por que se importa se alguma dessas mulheres se interessar por mim e porque com essa mulher foi diferente? — Meu pai senta ao meu lado e sinto seu braço passar por trás de mim.

— Porque todas foram maus comigo e sempre que disse algo vocês nunca acreditaram em mim, quando vi Laura e disse que a babá foi má ela me colocou ao seu lado. — Suspiro e revelo ao meu pai.

— Filho, nunca nenhuma mulher ficará no lugar de sua mãe, se em algum momento houver uma mulher em nossa casa informarei a você. — Fixo o olhar em seu rosto e sei que meu pai não mentiu.

Steffano Romano não é um mentiroso, ele sempre dirá a verdade mesmo que ela possa doer e magoar, mas sempre dirá a verdade.

— Por que realmente gostou de Laura? — Pergunta.

— Não sei dizer. — Não vou dizer que é porque algo me fez lembrar de minha mãe.

Meu pai sabe que estou mentindo, ele estreita os olhos em meu rosto e suspira forte.

— Última chance Vittorio, se não der certo com ela te envio para a casa de campo e só aparecerei por lá uma vez por mês, estamos entendidos? — Confirmo com a cabeça.

— Desculpe papá, prometo que não irei mais aprontar…

Sorrio quando meu pai bagunça os meus cabelos e me puxa para mais perto de seu corpo.

— Você sabe que não podemos ter pessoas estranhas. — Ele insiste.

— Prometo que serei cuidadoso, não deixarei que ela perceba o que somos. — Prometo ao meu pai.

Rimos e fico feliz que ele não ficou realmente irritado com o que aconteceu. Deito a minha cabeça no peito de meu pai e o abraço.

— Sinto saudades… — revelo ao meu pai. — Saudades da mamãe, de nossa vida no campo, não gosto daqui.

O ouço suspirar e suas mãos vem para as minhas costas fazendo carinho. Brinco com seus botões e relaxo nesse nosso momento.

— Vá se arrumar para a escola, tenho certeza que Laura o levará. — sorrio e saio correndo do escritório e vou à procura de minha babá.

Corro em direção à cozinha, mas não os encontro, talvez meu tio esteja mostrando as dependências da mansão. Subo as escada e vou em direção ao meu quarto e também não os encontro. Olho para os lado e pelo corredor, o quarto ao lado é da minha babá, talvez estejam lá.

Acelero e vou para o meu quarto e vejo o meu tio mostrando os cômodos do quarto e noto que Laura não estava dando muita atenção a ele, ele parecia irritado.

Laura sorri em minha direção e caminho meio receoso, não quero que ela achei que farei algo para prejudicar. Quero que ela fique aqui, que cuide de mim.

— Tenho que ir para escola, pode me levar? — Peço com carinho.

— Claro que sim, querido. — Sinto o seu olhar mais meigo, diferente de todas as outras. — Preciso apenas trocar de roupas.

Ela diz e vejo quando o meu tio indica onde deve ir. Volto para o meu quarto e começo a me arrumar para a escola.

Assim que fico pronto, Laura surge na entrada do meu quarto usando uma das roupas que as empregadas de casa sempre usam.

— Estou pronto…

Pela primeira vez me sinto feliz em ir para a escola com minha babá.

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