— Acalme-se, não vou machucá-la, quero um momento com você. — Ele diz, apontando para a cama.— Então abre a porta! — Exijo, me recusando a sentar. Pelo contrário, me mantenho o mais longe possível da cama. Ele ri pelo nariz e revira os olhos, sentando-se nela indiferente ao meu desespero.— Me disseram que já está de casamento marcado. É verdade?Semicerrei os olhos, atenta.— Receio que sim. Mas você já sabia disso... — Sibilo desconfiada. — Eu sei que está noiva desde criança, mas nenhum noivado dura tanto tempo assim. Imaginei que fossem desistir em algum momento. — Fala sincero, encostando as costas no apoio da cama. Leonard parecia torcer por isso. — Pretende realmente levar isso adiante? — Sonda.— Não tenho escolha, Leonard. — Respondo confusa, mesmo que ansiasse para que ele tivesse algum plano de resgate mirabolante. Como se ele se importasse... — Por que a pergunta? Sua consciência pesou? — Desdenho. Ele ri.— Só me arrependo do que não fiz. — Diz sugestivo. — Me importo co
— Acalme-se, não vou machucá-la, quero um momento com você. — Ele diz, apontando para a cama.— Então abre a porta! — Exijo, me recusando a sentar. Pelo contrário, me mantenho o mais longe possível da cama. Ele ri pelo nariz e revira os olhos, sentando-se nela indiferente ao meu desespero.— Me disseram que já está de casamento marcado. É verdade?Semicerrei os olhos, atenta.— Receio que sim. Mas você já sabia disso... — Sibilo desconfiada. — Eu sei que está noiva desde criança, mas nenhum noivado dura tanto tempo assim. Imaginei que fossem desistir em algum momento. — Fala sincero, encostando as costas no apoio da cama. Leonard parecia torcer por isso. — Pretende realmente levar isso adiante? — Sonda.— Não tenho escolha, Leonard. — Respondo confusa, mesmo que ansiasse para que ele tivesse algum plano de resgate mirabolante. Como se ele se importasse... — Por que a pergunta? Sua consciência pesou? — Desdenho. Ele ri.— Só me arrependo do que não fiz. — Diz sugestivo. — Me importo co
Os raios solares invadem o ambiente pelas cortinas abertas. Meus olhos estão pesados, levo alguns segundos para conseguir abri-los. Percorro o olhar por todo o ambiente, tentando reconhecê-lo o mais depressa possível e confirmar se aquilo havia sido apenas um sonho ruim. Com dificuldade, me levanto da cama, recebendo as memórias de todo o ocorrido da noite passada de uma só vez. Minha cabeça dói com a pontada forte das lembranças. O estômago embrulha e meu coração aperta. A angústia é latente.Arranco todas as minhas roupas na frente do espelho, conferindo onde estavam os hematomas. E não há nenhum. Exceto uma pequena cicatriz no formato de uma estrela no pulso e outra no pescoço. No modo automático, me visto e sento na cadeira da cômoda. Meu olhar está perdido, me sinto perdida, oca, como se fosse uma hóspede no meu próprio corpo. Atentei-me ao colar desconhecido reluzindo ao lado da escova de cabelo, e pego depressa a carta que o acompanha. Quebro o selo do envelope e retiro a fo
Capítulo três.Scorpius. Jogo o cigarro dentro da lareira, sentindo o olhar de Keimon pairando sobre mim. Ele estava na sua forma de lobo, analisando-me silenciosamente sentado pouco à frente com uma postura impecável como se fosse um cão adestrado. Até parece. Vira-lata dos infernos, a sua obediência equivalia a de uma miniatura humana, birrenta e pavorosa, nessa dimensão são chamados de crianças. Não há muitas delas no inferno. São inocentes e entediantes demais para pararem lá.— O que você quer? Está começando a me incomodar! — resmungo, ajeitando as luvas de couro sobre as mãos. Ele rosna e sai do ambiente, deixando-me, finalmente, em paz. Não preciso de seus julgamentos. Eu sei o que estou fazendo.Ajudar os humanos não faz parte da minha tarefa. Eu sei. Nunca os ajudaria de bom grado. Keimon devia saber. Esses demônios estúpidos não me deram alternativa quando se meteram com Anghel. A condenação de Seth ao vale dos torturados já era mais do que garantida. Quando eu descobrir o
Caminho ao lado de Astryd pelo o grande salão, apresentando-lhe o castelo durante o percurso. Ela se atenta em absolutamente tudo ao redor, seu olhar entrega o encanto com a decoração estrategicamente escolhida para despertar desejo e cobiça. A frequência baixava na zona umbralina, na ala Sul. Lá, vagavam as almas que ainda não tiveram seu julgamento ou foram rejeitadas do paraíso. Era comum que os visitantes sentissem presenças de energias infernais e muitas vezes relatassem com espanto suas experiências com os espíritos desencarnados perdidos pelo castelo. Proibia a entrada de visitantes por lá, exceto em ocasiões muito especiais, como essa.— O que estamos fazendo aqui? — Ela quebra o silêncio e interrompe o percuso antes que começássemos a descer as escadas em direção das masmorras.Abro um sorriso galanteador para a mais nova e desço em sua frente, estendendo a mão para ela. Com alguma hesitação, Astryd concorda, me permitindo guiá-la para o salão subterrêneo. De longe, aquele e
Os olhos avelãs de Astryd ganham os mesmos pigmentos avermelhados dos meus. Os cabelos antes negros, clareiam da raiz às pontas, assumindo a coloração platinada da minha. Ao me dar conta do que estava acontecendo, gargalho, numa mistura de diversão e escárnio.Ela permanece em silênio no canto da câmara. Suas lágrimas são de sangue, mas confundem-se com o sangue abundante que escorre da ferida. O castelo para de tremer ao mesmo tempo que a dor desaparece. Minhas feridas se curam rapidamente, as dela, não. Assim que me levanto e caminho na direção da garota, ela se encolhe ainda mais, apavorada. Eu me sentiria culpado por aquilo se fosse capaz de sentir remorso. — Me desculpe por isso. — Falo por cordialidade. Humanos apreciam isso, mesmo que não seja honesto. Tento me aproximar de Astryd, mas ela não reage tão receptiva à minha tentativa. Pelo contrário, se ela conseguisse abrir um buraco na parede para se esconder de mim, provavelmente o faria. Quero rir, mas não posso. Ela não rea
Anghel.Meu coração b**e acelerado. Nunca senti tanto medo em toda a minha vida. O frio esquisito da floresta ainda gela o meu corpo e mantém todos os meus pelos arrepiados. O que era aquela coisa?Engulo em seco, revivendo na cabeça os gritos e a imagem daquele homem sendo devorado vivo pela criatura mais assustadora que já vi. Tenho certeza de que aquele monstro habitaria os meus pesadelos de agora em diante. Ou será que ainda estava sonhando?Tento falar alguma coisa, mas não consigo. Minha voz não sai, no lugar dela, uma fumaça preta escapa da minha boca e me faz tossir. Entro em desespero instantaneamente, sufocando.Não sou capaz de distinguir se aquilo é resultado de um feitiço maluco de Leonard ou apenas uma crise de pânico. Antes que eu surte completamente, a minha garganta arde e a tosse aumenta, mas com ela, a minha voz retorna. — O que foi isso? Por que ele não me viu? — Pergunto apavorada, levantando-me depressa.— Preferia que tivesse visto? Vou me lembrar disso na próx
O sol adentra pelas janelas do quarto, iluminando todo o ambiente. Mal preguei o olho durante toda a noite, e quando finalmente consegui dormir, mesmo que por poucas horas, era despertada pelos pesadelos mais esquisitos possíveis.Não que eles superem qualquer coisa que eu estou passando agora.Aperto os olhos ao me levantar, estranhando a lama no chão e nos meus pés. — Bom dia. — Um homem de cabelos longos e olhos negros e frios como a noite, entra pela porta, carregando uma bandeja de café da manhã. Sua voz era muito grave, mal parece humana.Seus trajes são tão elegantes quanto os de Leonard, além de ser muito bonito. Os acessórios que usa assemelham-se aos de um pirata moderno. Não estranharia se dissessem que veio do furuto.Entretanto, ele não pode ser comparado à Leonard. Ninguém poderia. Não que isso signifique alguma coisa. A beleza do duque já não parece encantadora, mas me causa arrepios.— Mantenha as janelas fechadas. — Ordena, erguendo as mãos para fechá-las com magia.