Capítulo três.Scorpius. Jogo o cigarro dentro da lareira, sentindo o olhar de Keimon pairando sobre mim. Ele estava na sua forma de lobo, analisando-me silenciosamente sentado pouco à frente com uma postura impecável como se fosse um cão adestrado. Até parece. Vira-lata dos infernos, a sua obediência equivalia a de uma miniatura humana, birrenta e pavorosa, nessa dimensão são chamados de crianças. Não há muitas delas no inferno. São inocentes e entediantes demais para pararem lá.— O que você quer? Está começando a me incomodar! — resmungo, ajeitando as luvas de couro sobre as mãos. Ele rosna e sai do ambiente, deixando-me, finalmente, em paz. Não preciso de seus julgamentos. Eu sei o que estou fazendo.Ajudar os humanos não faz parte da minha tarefa. Eu sei. Nunca os ajudaria de bom grado. Keimon devia saber. Esses demônios estúpidos não me deram alternativa quando se meteram com Anghel. A condenação de Seth ao vale dos torturados já era mais do que garantida. Quando eu descobrir o
Caminho ao lado de Astryd pelo o grande salão, apresentando-lhe o castelo durante o percurso. Ela se atenta em absolutamente tudo ao redor, seu olhar entrega o encanto com a decoração estrategicamente escolhida para despertar desejo e cobiça. A frequência baixava na zona umbralina, na ala Sul. Lá, vagavam as almas que ainda não tiveram seu julgamento ou foram rejeitadas do paraíso. Era comum que os visitantes sentissem presenças de energias infernais e muitas vezes relatassem com espanto suas experiências com os espíritos desencarnados perdidos pelo castelo. Proibia a entrada de visitantes por lá, exceto em ocasiões muito especiais, como essa.— O que estamos fazendo aqui? — Ela quebra o silêncio e interrompe o percuso antes que começássemos a descer as escadas em direção das masmorras.Abro um sorriso galanteador para a mais nova e desço em sua frente, estendendo a mão para ela. Com alguma hesitação, Astryd concorda, me permitindo guiá-la para o salão subterrêneo. De longe, aquele e
Os olhos avelãs de Astryd ganham os mesmos pigmentos avermelhados dos meus. Os cabelos antes negros, clareiam da raiz às pontas, assumindo a coloração platinada da minha. Ao me dar conta do que estava acontecendo, gargalho, numa mistura de diversão e escárnio.Ela permanece em silênio no canto da câmara. Suas lágrimas são de sangue, mas confundem-se com o sangue abundante que escorre da ferida. O castelo para de tremer ao mesmo tempo que a dor desaparece. Minhas feridas se curam rapidamente, as dela, não. Assim que me levanto e caminho na direção da garota, ela se encolhe ainda mais, apavorada. Eu me sentiria culpado por aquilo se fosse capaz de sentir remorso. — Me desculpe por isso. — Falo por cordialidade. Humanos apreciam isso, mesmo que não seja honesto. Tento me aproximar de Astryd, mas ela não reage tão receptiva à minha tentativa. Pelo contrário, se ela conseguisse abrir um buraco na parede para se esconder de mim, provavelmente o faria. Quero rir, mas não posso. Ela não rea
Anghel.Meu coração b**e acelerado. Nunca senti tanto medo em toda a minha vida. O frio esquisito da floresta ainda gela o meu corpo e mantém todos os meus pelos arrepiados. O que era aquela coisa?Engulo em seco, revivendo na cabeça os gritos e a imagem daquele homem sendo devorado vivo pela criatura mais assustadora que já vi. Tenho certeza de que aquele monstro habitaria os meus pesadelos de agora em diante. Ou será que ainda estava sonhando?Tento falar alguma coisa, mas não consigo. Minha voz não sai, no lugar dela, uma fumaça preta escapa da minha boca e me faz tossir. Entro em desespero instantaneamente, sufocando.Não sou capaz de distinguir se aquilo é resultado de um feitiço maluco de Leonard ou apenas uma crise de pânico. Antes que eu surte completamente, a minha garganta arde e a tosse aumenta, mas com ela, a minha voz retorna. — O que foi isso? Por que ele não me viu? — Pergunto apavorada, levantando-me depressa.— Preferia que tivesse visto? Vou me lembrar disso na próx
O sol adentra pelas janelas do quarto, iluminando todo o ambiente. Mal preguei o olho durante toda a noite, e quando finalmente consegui dormir, mesmo que por poucas horas, era despertada pelos pesadelos mais esquisitos possíveis.Não que eles superem qualquer coisa que eu estou passando agora.Aperto os olhos ao me levantar, estranhando a lama no chão e nos meus pés. — Bom dia. — Um homem de cabelos longos e olhos negros e frios como a noite, entra pela porta, carregando uma bandeja de café da manhã. Sua voz era muito grave, mal parece humana.Seus trajes são tão elegantes quanto os de Leonard, além de ser muito bonito. Os acessórios que usa assemelham-se aos de um pirata moderno. Não estranharia se dissessem que veio do furuto.Entretanto, ele não pode ser comparado à Leonard. Ninguém poderia. Não que isso signifique alguma coisa. A beleza do duque já não parece encantadora, mas me causa arrepios.— Mantenha as janelas fechadas. — Ordena, erguendo as mãos para fechá-las com magia.
Astryd Anghel.Não tive um segundo sozinha desde que Leonard fez aquele anúncio. Me casar com o duque não era exatamente o que tinha em mente quando pedi a sua ajuda para me livrar de Seth, mas não é como se eu tivesse escolha.Quando o castelo esvazia e o silêncio volta a reinar, desço para caminhar pelo jardim.Não há muito o que eu possa fazer por lá.O jardim parece um labirinto de rosas e espinhos, mas uma rosa preta em meio às vermelhas e brancas, chama a minha atenção.Estendo a mão para pegá-la, me espetando com o espinho que faz um pequeno corte no meu dedo.— Ai. — Gemo, levando o dedo para a boca.Antes que pudesse lambê-lo, a mão do duque me impede, levando o meu dedo para aboca dele ao invés da minha.Tento me livrar do seu toque, mas ele não alivia a pressão e vira minha palma para baixo. Com a mão esquerda, tira uma caixinha aveludada do bolso da calça e abre, mostrando-me o anel de brilhantes com muitos diamantes.Minha boca se abre num “o” perfeito, deslumbrada com a j
Scorpius.Invado silenciosamente o quarto de Astryd e coloco a caixinha de veludo com a aliança em cima da cômoda, mas a respiração alta chama a minha atenção. Seu sono parece conturbado, não resisto à tentação de invadir sua mente e descobrir o que a deixa tão agitada.Ela acorda alguns segundos depois, correndo o olhar perdido pelo quarto como se tentasse reconhecer o ambiente. Quando me vê encostando em sua cômoda com os braços cruzados, seu rosto ruboriza.— Tendo sonhos eróticos comigo, Anghel? — Sondo perverso, notando a respiração acelerada da garota e os seios suados no decote.Me aproximo da cama dela sutilmente, mas Anghel se senta depressa e ajeita os cabelos, puxando o lençol para cobrir o corpo. Sua expressão está confusa e assustada, mas ignoro o estado da garota com facilidade e me sento em sua frente, revelado a aliança dentro da caixinha de veludo.Os olhos de Anghel se arregalam.— Pertenceu a sua mãe? — Pergunta. Agora eu que não consigo esconder a surpresa. Como ela
Anhgel.Encaro o meu reflexo em frente ao espelho do quarto. Quase não me reconheço naqueles vestidos extravagantes, decotados e muito sensuais. Meu novo closet está repleto deles. Os cabelos brancos se destacam no vestido vermelho até os pés, e o decote nos peitos parece mais exagerado do que o habitual, os meus peitos também parecem maiores. Tento me livrar daquela lembrança, mas não consigo tirar Mihai da cabeça. Por que não me lembro daquilo? O que o pai de Seth fazia comigo? O meu pai sabia disso? E permitiu? São tantas perguntas sem respostas, sinto que vou enlouquecer. Na verdade, acho que já enlouqueci.Pelo reflexo do espelho noto a porta do quarto ser aberta lentamente, mas ninguém está do outro lado. Aquilo devia me apavorar, mas já não sinto medo. Não sinto nada. Quando me dou conta estou caminhando sem rumo pelos corredores que ainda não explorei. As paredes são decoradas com muitos quadros, mas um em especial chama a minha atenção. O de uma rainha. Uma bela rainha de olh