RYDERDepois de nos recompormos, ajeito uma mecha do cabelo de Savannah atrás da orelha, e ela sorri — aquele sorriso satisfeito e provocador que me faz perder a cabeça.Sorrio também e me aproximo, deixando um beijo leve na ponta do seu nariz coberto de sardas.— Linda — murmuro, e vejo seu sorriso se alargar.Ela segura meu rosto e me dá um beijo rápido nos lábios antes de se afastar.— Acho melhor voltarmos para junto dos outros antes que sintam nossa falta - digo, embora minha vontade fosse trancá-la aqui comigo por mais algumas horas.Ela assente e desliza os dedos pelo meu braço antes de abrir a porta e sair primeiro. Quando chegamos à mesa, Savannah vai direto até Harper na pista de dança, enquanto eu me junto aos meus irmãos.Hunter me olha com aquele maldito sorriso de quem sabe demais.— Onde você estava, hein, Ryder?Reviro os olhos, pego minha cerveja e bebo um gole.— Não enche o saco, Hunter.Ele ri e dá de ombros.Savannah e Harper voltam depois de um tempo, as duas ofe
SAVANNAHJá se passaram quinze minutos desde que Ryder saiu para pegar a sua carteira no carro. E ele ainda não voltou.Algo dentro de mim deixa-me inquieta. O meu estômago revira-se com uma sensação ruim.Será que aconteceu alguma coisa?As minhas mãos estão inquietas sobre a mesa. Olho para os outros, mas eles estão distraídos conversando, sem perceber a minha tensão.Não consigo mais ignorar esta sensação.Levanto-me abruptamente.— Onde vais? — Harper pergunta.— Procurar Ryder. Ele está a demorar muito.Ela franze a testa, mas assente. Saio apressada do bar, empurrando a porta com força.O ar fresco da noite toca meus braços nus, me fazendo estremecer. Abraço-me enquanto caminho pelo estacionamento mal iluminado.Olho ao redor, os meus olhos percorrem os carros estacionados.— Ryder? — chamo pelo seu nome, mas só o silêncio me responde.Dou mais alguns passos e, de repente, vejo algo no chão.O meu coração dispara.Os meus pés param bruscamente quando percebo que não é algo.É al
SAVANNAHLandon e Hunter o seguram pelos ombros, cada um de um lado, enquanto Isaiah já corre para ligar o carro e aquecer o motor.— Vamos, irmão, só mais um pouco — Hunter diz, ajudando Ryder a caminhar.Ele solta um gemido baixo, e o meu peito aperta.Assim que eles colocam-o no banco de trás, entro junto e sento-me do lado dele.O meu coração está disparado, e lágrimas continuam a escorrer pelo meu rosto enquanto seguro a sua mão.Vejo o seu rosto ferido, o corte profundo na sobrancelha, o inchaço na lateral do rosto, o sangue seco misturado à pele.— Meu Deus, Ryder... — a minha voz falha.Ele vira a cabeça lentamente para mim, os seus olhos castanhos observam-me no meio da dor.Mesmo assim, mesmo todo ferido, ele ainda se preocupa comigo.Ele levanta um pouco o braço com esforço e, com a pouca força que tem, puxa-me para o seu peito.— Vem aqui, ruiva... — ele murmura, a voz rouca e fraca.Eu não hesito.Aconchego-me nele com cuidado, sentindo o cheiro do seu sangue misturado ao
SAVANNAHVoltamos para o rancho em silêncio.Harper veio connosco, ainda assustada demais para ficar sozinha depois do que aconteceu com Ryder. O choque do ataque, a brutalidade daquilo tudo, ainda pairava no ar.Quando ofereci a minha cama para ela, Hunter pareceu agradecido. Acho que esta noite foi traumática para todos nós.Assim que estacionamos, noto a luz da varanda acesa.E então vejo-a.Rose.Sentada numa cadeira de balanço, ainda vestindo o seu robe de dormir, com uma expressão preocupada.Hunter solta um palavrão e desliga o carro.— Droga... — ele murmura antes de sair apressado para ajudar Ryder.Rose levanta-se no mesmo instante, descendo os degraus da varanda assim que vê os irmãos a carregar Ryder.— Meu Deus, o que aconteceu? — a sua voz sai tremida, cheia de pavor.Mas quando se aproxima o suficiente para ver o estado do filho, leva as mãos à boca, horrorizada.— Ryder! — lágrimas já enchem os seus olhos.— Estou bem, mãe... — Ryder murmura, mas a sua voz soa fraca.R
SAVANNAHO 4 de Julho paira no ar como um fantasma de festejos passados. Desde o ataque a Ryder, a alegria parece ter se evaporado, substituída por uma sombra persistente. As cores vibrantes dos fogos de artifício e o burburinho das festas parecem distantes, quase irreais. Optamos por uma celebração discreta: um jantar familiar no rancho, sem muito alarido. Mas mesmo na tranquilidade do rancho, a ausência de Ryder é palpável. O trabalho, antes dividido entre nós dois, agora recaí sobre os meus ombros, e embora me esforçasse, a falta dele é um peso constante. Sinto falta das suas provocações, do brilho travesso nos seus olhos, da maneira como a sua sobrancelha se arqueia quando cometo um erro. É uma falta que vai além do físico, atingindo um lugar profundo no meu coração. Sempre que possível, escapava para o andar de cima do estabulo onde ele se recupera. Precisava vê-lo, certificar-me de que está bem, sentir a sua presença por perto. É egoísmo, talvez, mas a necessidade de estar pe
SAVANNAHOs dias seguintes são marcados por uma frieza cortante. Durante os jantares na cozinha, Rose tenta puxar assunto, mas corto as suas tentativas com respostas frias e monossilábicas. O silêncio que se instala é palpável, carregado de tensão. Percebo que Ryder me observa, o olhar confuso e preocupado. Ele nota a minha mudança de atitude em relação a Rose, a frieza que antes não existia. Mas ele não diz nada, como se esperasse o momento certo para abordar o assunto. Mais tarde à noite, deitados na cama, a distância física reflete a crescente distância emocional entre nós. Deitada de lado, de costas para ele, sinto o peso do silêncio a separar-nos. Ryder move-se, apoiando o cotovelo no colchão, a voz suave dele quebra o silêncio. — Ruiva... O meu coração acelera, a antecipação da conversa inevitável deixa-me tensa. — O que foi? —, murmuro, tentando manter a voz firme. — O que está a acontecer entre tu e a minha mãe? —, pergunta, a sua voz está carregada de uma preocupação
SAVANNAHO ar da varanda está frio, mas não tanto quanto o que ficou na cozinha. Sinto o cheiro da terra molhada e o bolo de cereja que recusei ainda paira no ar, como um lembrete da minha fuga apressada. Cruzei os braços, tentando manter a compostura, quando ouço passos atrás de mim. Ryder chega rápido, determinado, e agarra-me pelo braço com uma firmeza que me obriga a parar.— Savannah, o que se passa? — A voz dele é baixa, mas carrega uma urgência que não consigo ignorar.Endireito as costas, olho em frente, sem ceder. Não vou dar parte fraca, não agora.— Não se passa nada, Ryder.Ele solta um suspiro frustrado, mas não me larga.— Não sou idiota, Savannah. Sei que alguma coisa se passa contigo.Viro-me, os olhos fixos nos dele, e deixo escapar, quase num sussurro, mas carregado de amargura:— Se sabes o que se passa, porque perguntas?Ele recua ligeiramente, surpreendido com a minha defensiva. O maxilar dele trava, como se estivesse a tentar controlar-se.— Sei que não estás bem
RYDERO rancho parece maior desde que Savannah se foi. Os dias arrastam-se, iguais, mas faltando qualquer coisa que não consigo nomear. Tento ocupar-me com o trabalho, mas a verdade é que não sei por onde ela anda. Desconfio que esteja com a Harper em Creekville, mas ninguém me confirma nada. Rose limita-se a dizer que ela precisava de espairecer, e eu fico a remoer o vazio que ela deixou.É já noite quando me sento na varanda da casa principal, o Bear deitado aos meus pés, a cabeça pesada no meu colo. Passo-lhe a mão pelo pêlo, sentindo a respiração lenta do cão, o único som além do coaxar distante das rãs. O cheiro da terra húmida, misturado com o aroma das flores do jardim da minha mãe, traz-me memórias de outras noites, mais leves, em que Savannah se ria ao meu lado, enrolada numa manta.Ouço passos atrás de mim. Hunter surge na penumbra, duas cervejas na mão. Atira-me uma, que apanho no ar, e senta-se ao meu lado, sem dizer nada durante uns segundos. O Bear levanta a cabeça, curi