Ava
Minha vida mudou completamente quando eu, uma simples cirurgiã, fui cercada por dois carros pretos, em uma rua pouco movimentada. Senti como se meu sangue tivesse se transformado em gelo. Eram carros duvidosos; um na frente e outro atrás do meu. Eu não tinha para onde correr, e nem sabia se conseguiria. Minhas mãos suaram e o meu coração quase parou de funcionar quando vi os estranhos vindo em minha direção. Fiquei petrificada. Meus olhos estavam arregalados e eu rezei para que aquilo, no mínimo, fosse um engano ou um pesadelo. Eu tinha passado por um plantão, e o sono me fazia ficar estressada, mas confesso que, naquele momento, não consegui reagir. Vi um homem de cabelos pretos, óculos escuros e roupas pretas. Sua camisa, de mangas dobradas até a metade, tinha alguns botões abertos, expondo suas tatuagens, que, provavelmente, não paravam por ali. Eu podia imaginar que ele tinha o corpo coberto por tatuagens. Sua pele era clara, por isso ele se destacava tanto, e também era sensual. Quando o homem, com cara de poucos amigos, dirigiu-se até mim e encostou um dos braços sobre a porta do meu carro, que tinha os vidros abaixados, eu senti um frio na espinha e o encarei. Notei que ele estava ofegante e só o ouvi dizer: — Doutora Steven. — O som que saiu da sua boca me fez engolir em seco. Era impossível não o encarar. E me martirizei por achar aquele sujeito bonito. Bem, bonito era pouco. Ele tinha aquela cara de cafajeste que destruía a vida de uma mulher. Infelizmente, esse era o meu tipo. Só que, naquele instante, eu não podia ser a maluca que saía com qualquer um, pois a situação ali era outra. — Sabe o meu nome? — Eu ri de nervoso. — Me desculpa, mas... estão atrapalhando a passagem. — Não era como se ele não soubesse disso. Sem tirar os olhos de mim, ele abaixou os óculos escuros. Foi aí que percebi que os seus olhos eram verdes. Um verde intenso. Ele era muito lindo, com cabelos lisos, tendo alguns fios mais longos sobre a testa, e com uma barba bonita e bem definida, assim como o seu maxilar. Acho que passei muito tempo o encarando, ou o admirando, pois ele deu um sorriso sexy e falou: — Não vim até aqui para ficar de papo. — Então, o que deseja? — Fiquei confusa. Sem a minha autorização, ele apenas abriu a porta do meu carro, deixando-me com os olhos arregalados novamente. Sua presença imponente quase tirava o ar dos meus pulmões. Eu acreditava que aquilo fosse um sonho e que, provavelmente, em vez de ir para casa, acabei me deitando em algum beliche, em um quarto particular do hospital. Eu supus também que ainda estava com as mesmas roupas, depois de sair de uma cirurgia, como já tinha acontecido diversas vezes, e pensei que nunca havia tido um sonho tão doido quanto esse. Apenas ri novamente, nervosa, achando que tudo era uma piada. Falei em voz alta para mim mesma: — Acho que está na hora de acordar. — Olhei para o volante em minha frente. — Sei que está cansada, as 32 horas foram demais. Acredite, eu sei, mas... é melhor voltar para casa e... Novamente, fui surpreendida pela ação do desconhecido, que pegou em meu braço e me puxou para fora do veículo. Foi aí que percebi que não era um sonho. Sonhos não são tão realistas e não reproduziriam a força que aquele homem pôs em meu braço ao me puxar. Ele me firmou para que eu não caísse do carro e, segurando em meus dois braços, deixou-nos frente a frente. Eu estava em silêncio, como se minha língua estivesse dormente na boca, e o olhei. Estando com o coração na mão, engoli em seco e vi que a expressão dele tinha mudado totalmente: ele estava meio que paciente, só que parecia bem irritado. E a culpa era minha. A culpa sempre era minha. Eu falava demais, e falava muitas besteiras. Não sei como consegui chegar até ali sem que me desse mal. Contudo, parecia que o mundo tinha resolvido me punir daquela vez. — Está na hora de calar a boca — ele falou, rude, puxando-me para o veículo escuro que estava em nossa frente. — Espera. O que está acontecendo? — protestei. Minha ficha estava caindo, porém eu não conseguia digerir a situação. — O que foi que eu fiz? — Cale a boca. — Comecei a me debater, desesperada. — Olha aqui, doutora... — Ele me colocou contra o carro, tirou os óculos e me olhou nos olhos. Com a surpresa, apenas me calei, com medo de ele me machucar. — Você tem um trabalho, e vai fazê-lo calada, ou irá se arrepender. — Não o conheço e nem sei por que está fazendo isso, mas devo alertá-lo de que não fico calada. — O verde dos seus olhos ficou vermelho e eu expliquei. — É natural, tenho a língua solta. — Então, costure-a na boca, ou vai se arrepender. — Sendo assim, ele me largou, abriu a porta e me fez entrar no veículo. Naquele momento, o meu desespero bateu e eu senti a necessidade de gritar, no entanto, não havia ninguém por perto.LoganTempos antesDesgraçados!!! Como isso foi acontecer? Estávamos indo para casa tranquilamente, depois de uma reunião com os membros do conselho, até que fomos surpreendidos por um comboio que já chegou atirando. Meu pai e irmão estavam no carro à minha frente, enquanto eu e outros três seguíamos atrás.Antes deles, havia outro veículo com guardas que nos protegeriam, mas parece que a nossa tática não funcionou. Estávamos presos em uma ponte vazia, tarde da noite, sendo alvejados como se fôssemos sacos de merda.Eu sabia quem era o responsável por isso: Joseph Gonçalves, nosso inimigo declarado. Ele queria nos derrubar, a todo custo, para poder ter a cidade toda para si.Olhei ao redor, em meio ao caos. Só as luzes dos postes estavam acesas. Busquei pelo meu irmão, que estava escondido atrás de um dos carros, atirando contra os inimigos, assim como os nossos homens, que tentavam nos proteger. Eu, com uma pistola na mão, preparava-me para correr para o automóvel da frente, que
AvaAgoraSim, eu estava morrendo de medo. Havia acabado de ser levada por homens fortemente armados, criminosos que não tinham piedade de ninguém. Eu nunca tinha passado por isso em toda a minha vida. Já tinha feito muitas loucuras, devo admitir, contudo, aquela era uma situação digna de um filme de Hollywood.Eu havia terminado de sair de um plantão duplo, minha cabeça estava cheia e tudo o que eu mais queria era tomar um banho e dormir. Entretanto, fui abordada, no meio do caminho até a minha casa, por um homem que tinha um olhar frio e um sorriso sexy.Eu acreditava que estava alucinando, que era uma fantasia minha pensar no meu sequestrador. Porém, essa era eu: a mulher doida que adorava um homem bruto como ele.Já tinha passado por muitos relacionamentos nos quais perdi o interesse e acabei achando que o melhor para mim seria ficar solteira para sempre. Mas parecia que o “sempre” estava prestes a acabar.O que, realmente, aqueles homens queriam de mim? Dinheiro? Bem, eu tinh
LoganAquela mulher era louca, com certeza. Como ela pôde falar comigo daquele jeito?Ava Steven era uma ótima cirurgiã. Eu nunca levaria até ali uma pessoa que não fosse excelente em sua função, pois se tratava da vida do meu pai. Mas eu jamais apostaria que ela era assim... provocativa.Nenhuma mulher me tratou assim antes. A maioria tinha medo de mim, e as que me conheciam, tentavam me seduzir para se deitar comigo. Porém, Ava... Ela não teve medo de mim. Ela disse aquelas palavras, mesmo depois de eu ter falado que poderia matá-la.E o pior, isso me excitou de um jeito que eu não conseguia explicar. Ela me provocou e me olhou nos olhos, mesmo eu segurando em seu pescoço com força. Eu poderia acabar com a sua vida antes mesmo de ela piscar os olhos, contudo, a mulher não abaixou a cabeça.Mas eu tinha que me lembrar de que ela era apenas uma forma que achei de salvar o meu pai. Depois disso, iria matá-la, mesmo que tivesse prometido que ela sairia dali viva, caso ele sobrevives
AvaAo acordar, senti que mal conseguiria ficar de pé.Não era como se eu estivesse em um hotel qualquer, eu tinha sido levada quando saía do trabalho. Um bruto me sequestrou para que eu salvasse a vida do seu pai.Como poderia ficar calma com tudo isso?O pior era que eu temia que tudo desse errado.Orgulho-me quando penso que, ao entrar na sala de cirurgia, eu deixava todos os meus problemas do lado de fora e fazia o meu trabalho com maestria. Contudo, daquela vez era caso de vida ou morte. E não estou falando apenas do meu paciente.Não nego que eu estava com medo. Aquele homem teve sangue frio para me sequestrar; por que não teria para me matar?Claro que sim. E olha que eu nem conhecia o desgraçado.Naquele momento, eu estava batendo os pés no chão enquanto pensava em tudo que estava acontecendo. Como tudo isso irá terminar?Será que Logan realmente vai cumprir com o que prometeu e me libertar?Bem, eu esperava que sim.Então, ouvi passos vindo para o quarto, o som da
PovAva estava muito furiosa. Ela se limpava na pia, em frente à sala onde seu paciente já a aguardava, e não conseguia tirar Logan da cabeça.Aquele homem não tinha escrúpulos nem gentileza. Como pôde tratá-la assim?Ela rezava para que aquilo acabasse logo, para que pudesse voltar para a sua casa e esquecer tudo que tinha acontecido.— Devo confessar que nunca passei por nada disso antes. — Ava estava nervosa. Sua mente atordoada lhe pedia calma para que ela não matasse o homem que estava deitado na sala cirúrgica. Ela lavava as mãos na sala adjacente, assim como fazia sempre antes de operar. Contudo, daquela vez, as coisas não eram tão simples. — Nunca fui sequestrada antes para realizar uma cirurgia.O médico ao seu lado, o mesmo que havia discutido com Logan minutos antes, estava se preparando para a auxiliar. Ele lavava as mãos com tanta força, que quase se machucava. Ava fazia o mesmo, mas não percebia.A mulher encarava fixamente o homem que estava desacordado.— Eu deve
Ava— Devo admitir que você é impressionante — a voz de Logan entrou pelos meus ouvidos, causando um grande estrago.Eu estava de costas para ele, retirando todos os meus aparatos que usava para o procedimento. Foi quando me virei, assustada, e senti como se o meu coração fosse parar.Ele estava se aproximando de mim, com um meio-sorriso no rosto, mas o olhar... O olhar me deixou apavorada pela primeira vez.As palavras do doutor me torturavam e eu não conseguia me concentrar na realidade. Bem... Quando peguei aquele bisturi, tudo foi apagado, mas ali, quando eu já estava sem ele, sentia-me vulnerável.— Você fica bem com essas roupas.Desviei meus olhos dos dele, que me fuzilavam. Eu não sabia ser eu mesma na sua frente, sabendo do que ele era capaz. Apesar de ser corajosa, não poderia passar do ponto. Logan não ameaçaria apenas a minha vida, mas também a da minha família, e com isso, eu não brincava.— Bem... — Pigarreei, esperando não gaguejar. — O procedimento foi um sucesso
LoganEu estava mais aliviado. Tinha passado as últimas duas horas assistindo ao meu pai ser aberto e costurado. Eu já havia visto homens sangrando até a morte, de diversas formas possíveis, e eu mesmo já havia dado cabo de vários. Mas, como era o meu pai deitado naquela maca, sendo aberto, com risco de morte, as coisas eram diferentes.Eu sabia que tinha sangue frio. Fui criado para isso. Meu pai me criou para ser o melhor assassino e líder da cidade. Porém, naquele momento, fraquejei, assim como em diversas situações antes dessa. Minha cabeça estava cheia. Óbvio que, depois de duas horas e de tudo ter dado certo, ele ainda corria o risco de não acordar ou de sofrer um infarto. Mas, pelo menos, não estava mais sangrando até a morte, e seu coração estava costurado. Eu esperava que tudo desse certo dessa vez.Entretanto, o meu problema não acabava por aí.Além de eu ter observado todo o procedimento, meus olhos não saíam daquela mulher. Ela estava me enlouquecendo. Eu nunca tinha
Ava— Por que me trouxe até aqui?Eu não fazia ideia do que aquele homem queria comigo. Fiz tudo que ele tinha me pedido, mas, naquele momento, eu me via em um lugar suspeito, vazio, longe de tudo, em frente a uma mesa para duas pessoas. Logan estava sério e silencioso. Não parava de me encarar, com aquele olhar perigoso que me deixava com o coração na mão.— Fiz o que me pediu. Já não posso voltar para a minha vida?— Como seria a sua vida depois disso?Franzi o cenho. Pensei e... Realmente, seria estranho e difícil de esquecer tudo que aconteceu. — Voltarei à minha rotina. Trabalho. Casa. Logan, ainda com a mesma expressão, cruzou as pernas e cruzou os dedos em frente ao corpo. — Tudo que aconteceu aqui, ficaria em segredo? — Levantou uma das sobrancelhas. — Esqueceria? Ou iria correr até a delegacia e dizer tudo que fez?Eu estava encolhida na cadeira. Pensei na resposta. Minha mente vagou, e as imagens das últimas horas que passei ali, com Logan e seu bando, voltaram e