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Logan

Aquela mulher era louca, com certeza. Como ela pôde falar comigo daquele jeito?

Ava Steven era uma ótima cirurgiã. Eu nunca levaria até ali uma pessoa que não fosse excelente em sua função, pois se tratava da vida do meu pai. Mas eu jamais apostaria que ela era assim... provocativa.

Nenhuma mulher me tratou assim antes. A maioria tinha medo de mim, e as que me conheciam, tentavam me seduzir para se deitar comigo. Porém, Ava... Ela não teve medo de mim. Ela disse aquelas palavras, mesmo depois de eu ter falado que poderia matá-la.

E o pior, isso me excitou de um jeito que eu não conseguia explicar. Ela me provocou e me olhou nos olhos, mesmo eu segurando em seu pescoço com força. Eu poderia acabar com a sua vida antes mesmo de ela piscar os olhos, contudo, a mulher não abaixou a cabeça.

Mas eu tinha que me lembrar de que ela era apenas uma forma que achei de salvar o meu pai. Depois disso, iria matá-la, mesmo que tivesse prometido que ela sairia dali viva, caso ele sobrevivesse.

— Então... Como está a doutora? — Elijah chegou, despertando-me. No fundo, eu lhe agradeci por isso, mesmo que o assunto ainda fosse a m*****a.

Fui até o minibar, no canto da sala, esperando beber algo. Minha cabeça doía e eu estava sem paciência.

— Elijah, você poderia falar sobre outra coisa?

— Logan, sei que está estressado com isso, mas o papai vai ficar bem. Você mesmo disse que...

— Ele pode morrer a qualquer momento. Acha que vou relaxar?

— Você sequestrou uma cirurgiã cardíaca, e ela é a melhor. Acho que isso já é alguma coisa.

— Fico impressionado com a sua calma.

— Me estressar e quebrar tudo que visse pela frente não iria ajudar. Deixe a mulher fazer o trabalho dela.

É... Mas o trabalho dela seria salvar uma vida; não era como se fosse trocar alguns fios ou algo do tipo. Estávamos falando do nosso pai. Todavia, Elijah não se importava tanto com a sobrevivência dele.

— Se ele morrer, pelo menos, irá sentir algo? — Virei-me para o meu irmão, que estava sentado no sofá.

Ele parecia aéreo com a minha pergunta.

— Não é que eu não sinta nada. — Abaixou a cabeça. — Mas o nosso pai sempre preferiu o trabalho, a liderança. Mamãe era mais afetuosa, e ela sempre disse que... tudo o que ele mais queria era um filho para o suceder. E você nasceu primeiro, foi o orgulho.

Eu não gostava de tocar no assunto “mãe”. Ela deixou um buraco em nossos corações, e não tinha nada que o preenchesse. E eu não achava que, algum dia, fosse existir algo que o preenchesse.

— Ser o primogênito não foi e nem é fácil.

— Mas ele te ama — Elijah apontou. Ele sempre guardou esse rancor.

Nosso pai não era o melhor do mundo, fazia coisas que nos afetava. A verdade é que ele sempre esteve ao meu lado, mas não significava que era por amor. Podia até existir isso no fundo do seu peito, mas ele não deixava sair tão facilmente.

— Se estivéssemos eu e você no meio do fogo cruzado, ele escolheria te salvar — meu irmão completou.

Respirei fundo, deixando o copo no balcão de vidro, e fui até ele. Sentei-me ao seu lado, abaixando a cabeça.

— Sabe que, neste mundo em que vivemos, amar é complicado. — A única pessoa que realmente nos amava, morreu. Ela era a única coisa boa naquilo tudo, e nós a perdemos. Por isso, eu pensava em jamais amar outra pessoa; não queria sentir essa dor novamente. — Não sei dos sentimentos do nosso pai, mas sei que ele tentaria salvar nós dois. — Elijah permaneceu calado. — Talvez, assim como eu, ele pense que amar alguém signifique fraqueza. Sabe que é difícil ser quem somos. Olha só o que aconteceu. Imagina se entregar de corpo e alma e, depois, perder aquela pessoa.

— Eu amava a mamãe, e... até você, eu amo. — Eu sorri, batendo de leve em suas costas. — Apesar de corrermos o risco de perder quem amamos, não deixo de me afeiçoar a você ou a... ele. Mas o papai nunca me olhou no rosto e disse que se orgulhava de mim. Ele nunca me deu um pouco do seu conhecimento ou tempo, sempre me critica.

— Você não ajuda, sendo teimoso.

— Sou assim para que ele me note.

— Elijah, não precisa fazer merda para ser notado. Apenas...

— Devo me parecer com você — ele completou, com seu tom ríspido, e se levantou, ainda irritado. — Não sou como você, irmão. — Encarou-me. — Por isso ele nunca irá se orgulhar de mim.

Eu me levantei também, mas Elijah saiu da minha frente. Queria confrontá-lo sobre aquele argumento. Todavia, eu não tinha tempo para consertar o passado ou os sentimentos de alguém, e não achava que seria eu a mudar algo.

Ficando sozinho, voltei a pensar na mulher que dormia no quarto de hóspede. Bem... Ela não era uma convidada, e eu esperava não ter que ficar com ela por muito tempo, ou enlouqueceria.

Que mulher era aquela que me desafiava?

Será que ela não tinha medo da morte?

Morte. Quando pensei em levá-la até ali, não sabia exatamente como resolveria os problemas depois que ela operasse o meu pai. Apenas, no desespero, busquei pelo melhor especialista na área. Quando eu soube da excelência dela, achei que tivesse encontrado a pessoa certa. Porém, como levaria comigo uma cirurgiã para ajudar o meu pai sem ter que revelar alguma coisa sobre nós? Se eu pedisse uma transferência de hospital, provavelmente, o FBI apareceria e prenderia todos nós. Por isso tínhamos um clandestino.

Nada era tão fácil. Eu estava no fogo cruzado. Ava Steven estava desaparecida. Por sorte, ela morava só, mas logo sentiriam a falta dela. E se eu a deixasse ir, depois do trabalho concluído, ela poderia abrir o bico. Eu não permitiria que isso acontecesse.

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