Ava
Agora Sim, eu estava morrendo de medo. Havia acabado de ser levada por homens fortemente armados, criminosos que não tinham piedade de ninguém. Eu nunca tinha passado por isso em toda a minha vida. Já tinha feito muitas loucuras, devo admitir, contudo, aquela era uma situação digna de um filme de Hollywood. Eu havia terminado de sair de um plantão duplo, minha cabeça estava cheia e tudo o que eu mais queria era tomar um banho e dormir. Entretanto, fui abordada, no meio do caminho até a minha casa, por um homem que tinha um olhar frio e um sorriso sexy. Eu acreditava que estava alucinando, que era uma fantasia minha pensar no meu sequestrador. Porém, essa era eu: a mulher doida que adorava um homem bruto como ele. Já tinha passado por muitos relacionamentos nos quais perdi o interesse e acabei achando que o melhor para mim seria ficar solteira para sempre. Mas parecia que o “sempre” estava prestes a acabar. O que, realmente, aqueles homens queriam de mim? Dinheiro? Bem, eu tinha uma boa quantia no banco, mas nada milionário ou que faria alguma diferença para eles. Eu era filha única e os meus pais eram tipo vagantes. Eles adoravam viver viajando e entrando na natureza. Nós não tínhamos muito dinheiro para ser cobiçados por aqueles criminosos. Naquele momento, eu estava com as mãos algemadas, dentro de um quarto grande com janelas e cortinas que dançavam com o vento. Uma janela estava entreaberta, uma enorme cama king-size estava ali, com lençóis brancos, a mobília era contrastante, elegante e simples, e havia um banheiro e um closet. Quem me levou até ali tinha muito dinheiro no bolso. O que me trazia tantas incertezas. Então, ouvi passos. Pela fresta da porta no chão, vi alguém se aproximar. Meu coração se alarmou, entrando em desespero e quase saindo pela boca. Minhas mãos estavam suadas e eu estava incomodada com a algema, que machucava os meus pulsos. Em seguida, alguém abriu a porta e entrou. Era ele, o homem que me tirou do meu carro bruscamente e me levou até aquele quarto. Eu realmente estava tentando focar apenas no quanto tudo aquilo era assustador, e não na beleza dele, que, claramente, deixava-me tonta. — Até que enfim. — Eu deveria ficar calada, não o provocar, porém sempre acabava falando as coisas sem pensar. — Você pode me explicar o que está acontecendo? — Você não tem medo de nada, não é mesmo? — Cerrou os olhos ao se aproximar de mim. — Eu deveria ter medo? — Franzi o cenho e pensei. — Certo. Você me sequestrou, me ameaçou e me colocou neste quarto, presa. Eu deveria ver os sinais. — Você é mesmo uma médica ou eu peguei a mulher errada? Quando o encarei, ele estava com o cenho franzido. O que me fez rir. Perigoso e cafajeste. Com certeza, fazia um estrago na cama. Pare, Ava. Não pense nessas coisas, ainda mais com esse homem. — Doutora Ava Steven, formada em cardiologia, residente no hospital Hope Health, onde estou trabalhando atualmente como chefe de cardiologia, sendo a mais nova na história do hospital. — Falei tudo isso com muita empolgação. Acho que me vendi muito para tão pouco entusiasmo dele. O homem, de quem eu ainda não sabia o nome, apenas me lançou o seu olhar fixo e sem emoção. — Ótimo, doutora. Então, que tal deixarmos de lado as diferenças e seguirmos com o plano? — Desculpa, bonitão, mas... qual é o seu nome mesmo? — Levantei-me da cama e caminhei até ele sem perceber. Quando vi, já estava perto dele o bastante para sentir o seu perfume. Aproveitei para dar uma olhada geral nele; coisa que eu não tinha feito antes. Ele realmente tinha tatuagens por todos os lados, e também músculos e cicatrizes. — Logan. Mas não está em um SPA, tem um trabalho para fazer. Confusa, pisquei algumas vezes e questionei: — Tenho? — Franzi o cenho. — Que trabalho? Ele pegou algo no bolso, a chave das algemas, e me soltou. Meus pulsos estavam doendo. Na verdade, tudo em mim doía. — Meu pai foi baleado. — Arregalei os olhos. — Tem uma bala alojada no peito dele, que causou um dano em uma das artérias. — Qual o estado do paciente agora? — Foi automático. Eu estava tão acostumada com isso, que me esqueci de que ali não era o hospital onde eu trabalhava, e sim um cativeiro chique. — O médico que nos ajudou apenas parou a hemorragia, então ele ainda está em estado grave. Eu precisava de um cardiologista, e parece que você é a melhor na cidade. — Sou sim. Muito obrigada. — Não sei o porquê, mas acabei me esquecendo dos fatos e da minha situação. Pensando que esse homem me sequestrou para salvar o pai dele sem necessidade, fiquei perdida nos meus pensamentos, contudo, um flash em minha mente me trouxe de volta. — Logan. — Dei um sorriso. Ele estava perto demais de mim, por isso dei dois passos para trás. — Você, simplesmente, poderia ter transferido o seu pai para o hospital em que eu trabalho. Então... por qual razão, estou presa aqui? Não seja idiota, Ava. Será que não vê o óbvio? Claro que sim, mas quero pensar positivo. Eu ouvia muitas coisas quando não estava na sala de cirurgia ou estudando casos raros, porém nunca apostaria que esse homem era um criminoso. — No hospital, fariam muitas perguntas — ele respondeu, duro. — Vamos deixar de papo, você tem um trabalho a fazer. — Depois disso, poderei sair? — Minha esperança era essa, por isso eu cogitava ser boazinha. Pensando bem, era melhor eu não saber de muito. Assim, não correria risco algum. — Se o meu pai sobreviver, sim. Era muita pressão. Ele não podia pôr nas minhas mãos a responsabilidade de salvar, 100%, a vida de uma pessoa. Apesar de estudar e desejar que todos os meus pacientes sobrevivessem, eu não poderia garantir isso, afinal, são muitos fatores de risco. Além do mais, em uma cirurgia cardíaca, tudo pode acontecer. — Bonitão... — Eu tinha que parar de chamá-lo assim, apesar de ele ser sexy, com aquele corpo todo musculoso e tatuado. Até as cicatrizes eram excitantes, e ainda tinha o perfume, os cabelos pretos escorridos, os olhos verdes e intensos, a barba... — Você tem alguma avaliação, doutora? — Ele levantou uma das sobrancelhas, encarando-me. Logan não estava de bom humor. Óbvio que não, Ava. O pai dele está quase morrendo. Pare de ficar admirando esse idiota. Ele é um criminoso, ou não teria sequestrado você. — Desculpa. — Fiquei vermelha de vergonha. — Tenho que informar que, apesar de ser boa no que faço, qualquer cirurgia cardíaca que realizo tem riscos, ainda mais no quadro do seu pai. — Sei que vai dar um jeito, ou vai ter o mesmo fim que ele. — Ele se projetou sobre mim, com um olhar assustador que me fez engolir em seco. Porém, também tinha algo a mais, como uma faísca que se alastrava pelo meu corpo. Logan era lindo e muito sedutor, mesmo não sendo essa a sua intenção. — Não pode pôr a minha vida e a do seu pai nas minhas mãos médicas. Há riscos... — Salve a vida dele, e eu terei piedade da sua. Vi a verdade nas suas palavras e senti como se meu corpo estivesse todo congelado por dentro. — Eu te achei muito abusado — disparei, irritada. — Está em uma posição de comando. Sei que seu pai corre riscos, mas isso não lhe dá... — Descanse, doutora Steven. Amanhã entrará na sala de cirurgia e salvará o meu pai. Caso contrário... — Você me mata. Eu já entendi, seu idiota. — Isso saiu sem que eu percebesse. Naquele momento, com raiva, não me importei. Contudo, ele sim. Logan me agarrou, colocando-me contra a parede. Ele segurava em meu pescoço com uma certa força que quase me deixava sufocada. Olhei nos olhos dele, com as minhas mãos na sua, tentando me soltar. Ele me encarou tão de perto, que senti um frio passar pela minha espinha. Exercendo uma energia fora do comum, ele me deixou com medo pela primeira vez. — Tome cuidado com o que fala, bonequinha — a voz grave, perto do meu ouvido, deixou o meu corpo gelado. — Vai me matar antes que eu tente salvar o seu pai? — Um dos meus problemas era debater com alguém, mesmo a pessoa sendo bem mais forte que eu. Era instintivo, e Logan despertava essa mulher em mim. — Cuidado com minhas mãos, são elas que vão salvá-lo. Curiosamente, Logan fitou meus lábios, quase me fazendo pensar que ele me beijaria. Então, ele me soltou e, finalmente, eu pude respirar direito. — Não me faça matá-la, doutora. Agora, descanse. Meu pai precisa que você o salve. Caso contrário, duas famílias irão enterrar um ente querido. — Sendo assim, ele saiu batendo a porta. Sozinha, arregalei os olhos e disse a mim mesma: — Qual o seu problema? — Jamais imaginei que faria tal loucura. O sujeito, claramente, era um criminoso. Eu não podia provocar alguém assim. — Meu Deus, me ajude a passar por isso. Não posso continuar provocando um homem como esse, ele pode me matar.LoganAquela mulher era louca, com certeza. Como ela pôde falar comigo daquele jeito?Ava Steven era uma ótima cirurgiã. Eu nunca levaria até ali uma pessoa que não fosse excelente em sua função, pois se tratava da vida do meu pai. Mas eu jamais apostaria que ela era assim... provocativa.Nenhuma mulher me tratou assim antes. A maioria tinha medo de mim, e as que me conheciam, tentavam me seduzir para se deitar comigo. Porém, Ava... Ela não teve medo de mim. Ela disse aquelas palavras, mesmo depois de eu ter falado que poderia matá-la.E o pior, isso me excitou de um jeito que eu não conseguia explicar. Ela me provocou e me olhou nos olhos, mesmo eu segurando em seu pescoço com força. Eu poderia acabar com a sua vida antes mesmo de ela piscar os olhos, contudo, a mulher não abaixou a cabeça.Mas eu tinha que me lembrar de que ela era apenas uma forma que achei de salvar o meu pai. Depois disso, iria matá-la, mesmo que tivesse prometido que ela sairia dali viva, caso ele sobrevives
AvaAo acordar, senti que mal conseguiria ficar de pé.Não era como se eu estivesse em um hotel qualquer, eu tinha sido levada quando saía do trabalho. Um bruto me sequestrou para que eu salvasse a vida do seu pai.Como poderia ficar calma com tudo isso?O pior era que eu temia que tudo desse errado.Orgulho-me quando penso que, ao entrar na sala de cirurgia, eu deixava todos os meus problemas do lado de fora e fazia o meu trabalho com maestria. Contudo, daquela vez era caso de vida ou morte. E não estou falando apenas do meu paciente.Não nego que eu estava com medo. Aquele homem teve sangue frio para me sequestrar; por que não teria para me matar?Claro que sim. E olha que eu nem conhecia o desgraçado.Naquele momento, eu estava batendo os pés no chão enquanto pensava em tudo que estava acontecendo. Como tudo isso irá terminar?Será que Logan realmente vai cumprir com o que prometeu e me libertar?Bem, eu esperava que sim.Então, ouvi passos vindo para o quarto, o som da
PovAva estava muito furiosa. Ela se limpava na pia, em frente à sala onde seu paciente já a aguardava, e não conseguia tirar Logan da cabeça.Aquele homem não tinha escrúpulos nem gentileza. Como pôde tratá-la assim?Ela rezava para que aquilo acabasse logo, para que pudesse voltar para a sua casa e esquecer tudo que tinha acontecido.— Devo confessar que nunca passei por nada disso antes. — Ava estava nervosa. Sua mente atordoada lhe pedia calma para que ela não matasse o homem que estava deitado na sala cirúrgica. Ela lavava as mãos na sala adjacente, assim como fazia sempre antes de operar. Contudo, daquela vez, as coisas não eram tão simples. — Nunca fui sequestrada antes para realizar uma cirurgia.O médico ao seu lado, o mesmo que havia discutido com Logan minutos antes, estava se preparando para a auxiliar. Ele lavava as mãos com tanta força, que quase se machucava. Ava fazia o mesmo, mas não percebia.A mulher encarava fixamente o homem que estava desacordado.— Eu deve
Ava— Devo admitir que você é impressionante — a voz de Logan entrou pelos meus ouvidos, causando um grande estrago.Eu estava de costas para ele, retirando todos os meus aparatos que usava para o procedimento. Foi quando me virei, assustada, e senti como se o meu coração fosse parar.Ele estava se aproximando de mim, com um meio-sorriso no rosto, mas o olhar... O olhar me deixou apavorada pela primeira vez.As palavras do doutor me torturavam e eu não conseguia me concentrar na realidade. Bem... Quando peguei aquele bisturi, tudo foi apagado, mas ali, quando eu já estava sem ele, sentia-me vulnerável.— Você fica bem com essas roupas.Desviei meus olhos dos dele, que me fuzilavam. Eu não sabia ser eu mesma na sua frente, sabendo do que ele era capaz. Apesar de ser corajosa, não poderia passar do ponto. Logan não ameaçaria apenas a minha vida, mas também a da minha família, e com isso, eu não brincava.— Bem... — Pigarreei, esperando não gaguejar. — O procedimento foi um sucesso
LoganEu estava mais aliviado. Tinha passado as últimas duas horas assistindo ao meu pai ser aberto e costurado. Eu já havia visto homens sangrando até a morte, de diversas formas possíveis, e eu mesmo já havia dado cabo de vários. Mas, como era o meu pai deitado naquela maca, sendo aberto, com risco de morte, as coisas eram diferentes.Eu sabia que tinha sangue frio. Fui criado para isso. Meu pai me criou para ser o melhor assassino e líder da cidade. Porém, naquele momento, fraquejei, assim como em diversas situações antes dessa. Minha cabeça estava cheia. Óbvio que, depois de duas horas e de tudo ter dado certo, ele ainda corria o risco de não acordar ou de sofrer um infarto. Mas, pelo menos, não estava mais sangrando até a morte, e seu coração estava costurado. Eu esperava que tudo desse certo dessa vez.Entretanto, o meu problema não acabava por aí.Além de eu ter observado todo o procedimento, meus olhos não saíam daquela mulher. Ela estava me enlouquecendo. Eu nunca tinha
Ava— Por que me trouxe até aqui?Eu não fazia ideia do que aquele homem queria comigo. Fiz tudo que ele tinha me pedido, mas, naquele momento, eu me via em um lugar suspeito, vazio, longe de tudo, em frente a uma mesa para duas pessoas. Logan estava sério e silencioso. Não parava de me encarar, com aquele olhar perigoso que me deixava com o coração na mão.— Fiz o que me pediu. Já não posso voltar para a minha vida?— Como seria a sua vida depois disso?Franzi o cenho. Pensei e... Realmente, seria estranho e difícil de esquecer tudo que aconteceu. — Voltarei à minha rotina. Trabalho. Casa. Logan, ainda com a mesma expressão, cruzou as pernas e cruzou os dedos em frente ao corpo. — Tudo que aconteceu aqui, ficaria em segredo? — Levantou uma das sobrancelhas. — Esqueceria? Ou iria correr até a delegacia e dizer tudo que fez?Eu estava encolhida na cadeira. Pensei na resposta. Minha mente vagou, e as imagens das últimas horas que passei ali, com Logan e seu bando, voltaram e
AvaQuando passei pela porta do meu apartamento e a fechei, senti o peso de tudo que tinha acontecido cair sobre as minhas costas. As lágrimas, que eu havia impedido de cair por todo aquele tempo, simplesmente, saíram escorrendo pelo meu rosto.O desespero me destruía, forçando-me a quase deitar no chão. Eu ainda achava que tudo aquilo tinha sido um pesadelo.Em tão pouco tempo, minha vida inteira mudou completamente, e tudo por causa de uma pessoa. Ele sempre teve a intenção de acabar com a minha vida. Vi isso em seu rosto e no sorriso perverso de quem não tinha nenhum sentimento por nada.Eu apostava que Logan já havia matado muitas pessoas e que ainda iria matar. Eu não fazia ideia de quem era o seu inimigo, mas ele quase matou o seu pai.Estava desesperada, pois a única solução para a minha sobrevivência e a sobrevivência da minha família era eu me casar com ele. Como vou fazer isso?Eu ainda não fazia ideia do porquê ele escolheu isso, se, claramente, odiava quando eu o de
PovJá fazia meia hora que Ava estava sentada àquela mesa de restaurante, no centro de NY, com seus pais. Ela estava contente por vê-los, ainda mais depois do que tinha passado, mas não podia negar que, naquele momento, sua cabeça distante, enquanto ela mexia com o garfo no prato de comida, estava em Logan.A primeira coisa que Ava sentiu ao ver seus pais foi alívio. Ela os abraçou tão forte, que eles acharam estranho. Ela era amorosa e os amava, contudo, eles estranharam. Ela apenas justificou dizendo que era saudade.Ao se sentar à mesa, notou que algo estava esquisito. Era como se ela sentisse ou tivesse a impressão de que alguém a observava. O frio na espinha se intensificou. Ela coçou o pescoço e tentou disfarçar. Bebeu o vinho e sorriu. Mas, em nenhum instante, conseguiu tirar da mente a certeza de que estava sendo observada.“Logan”, ela pensou. Óbvio que ele a seguiria para todos os lugares. Bem, ele não, mas seus capangas, sim. Por isso, seu sangue gelou. Estar em perigo,