3

Ava

Agora

Sim, eu estava morrendo de medo. Havia acabado de ser levada por homens fortemente armados, criminosos que não tinham piedade de ninguém. Eu nunca tinha passado por isso em toda a minha vida. Já tinha feito muitas loucuras, devo admitir, contudo, aquela era uma situação digna de um filme de Hollywood.

Eu havia terminado de sair de um plantão duplo, minha cabeça estava cheia e tudo o que eu mais queria era tomar um banho e dormir. Entretanto, fui abordada, no meio do caminho até a minha casa, por um homem que tinha um olhar frio e um sorriso sexy.

Eu acreditava que estava alucinando, que era uma fantasia minha pensar no meu sequestrador. Porém, essa era eu: a mulher doida que adorava um homem bruto como ele.

Já tinha passado por muitos relacionamentos nos quais perdi o interesse e acabei achando que o melhor para mim seria ficar solteira para sempre. Mas parecia que o “sempre” estava prestes a acabar.

O que, realmente, aqueles homens queriam de mim? Dinheiro? Bem, eu tinha uma boa quantia no banco, mas nada milionário ou que faria alguma diferença para eles.

Eu era filha única e os meus pais eram tipo vagantes. Eles adoravam viver viajando e entrando na natureza. Nós não tínhamos muito dinheiro para ser cobiçados por aqueles criminosos.

Naquele momento, eu estava com as mãos algemadas, dentro de um quarto grande com janelas e cortinas que dançavam com o vento. Uma janela estava entreaberta, uma enorme cama king-size estava ali, com lençóis brancos, a mobília era contrastante, elegante e simples, e havia um banheiro e um closet.

Quem me levou até ali tinha muito dinheiro no bolso. O que me trazia tantas incertezas.

Então, ouvi passos. Pela fresta da porta no chão, vi alguém se aproximar. Meu coração se alarmou, entrando em desespero e quase saindo pela boca. Minhas mãos estavam suadas e eu estava incomodada com a algema, que machucava os meus pulsos.

Em seguida, alguém abriu a porta e entrou. Era ele, o homem que me tirou do meu carro bruscamente e me levou até aquele quarto.

Eu realmente estava tentando focar apenas no quanto tudo aquilo era assustador, e não na beleza dele, que, claramente, deixava-me tonta.

— Até que enfim. — Eu deveria ficar calada, não o provocar, porém sempre acabava falando as coisas sem pensar. — Você pode me explicar o que está acontecendo?

— Você não tem medo de nada, não é mesmo? — Cerrou os olhos ao se aproximar de mim.

— Eu deveria ter medo? — Franzi o cenho e pensei. — Certo. Você me sequestrou, me ameaçou e me colocou neste quarto, presa. Eu deveria ver os sinais.

— Você é mesmo uma médica ou eu peguei a mulher errada?

Quando o encarei, ele estava com o cenho franzido. O que me fez rir. Perigoso e cafajeste. Com certeza, fazia um estrago na cama.

Pare, Ava. Não pense nessas coisas, ainda mais com esse homem.

— Doutora Ava Steven, formada em cardiologia, residente no hospital Hope Health, onde estou trabalhando atualmente como chefe de cardiologia, sendo a mais nova na história do hospital. — Falei tudo isso com muita empolgação. Acho que me vendi muito para tão pouco entusiasmo dele.

O homem, de quem eu ainda não sabia o nome, apenas me lançou o seu olhar fixo e sem emoção.

— Ótimo, doutora. Então, que tal deixarmos de lado as diferenças e seguirmos com o plano?

— Desculpa, bonitão, mas... qual é o seu nome mesmo? — Levantei-me da cama e caminhei até ele sem perceber. Quando vi, já estava perto dele o bastante para sentir o seu perfume.

Aproveitei para dar uma olhada geral nele; coisa que eu não tinha feito antes. Ele realmente tinha tatuagens por todos os lados, e também músculos e cicatrizes.

— Logan. Mas não está em um SPA, tem um trabalho para fazer.

Confusa, pisquei algumas vezes e questionei:

— Tenho? — Franzi o cenho. — Que trabalho?

Ele pegou algo no bolso, a chave das algemas, e me soltou. Meus pulsos estavam doendo. Na verdade, tudo em mim doía.

— Meu pai foi baleado. — Arregalei os olhos. — Tem uma bala alojada no peito dele, que causou um dano em uma das artérias.

— Qual o estado do paciente agora? — Foi automático. Eu estava tão acostumada com isso, que me esqueci de que ali não era o hospital onde eu trabalhava, e sim um cativeiro chique.

— O médico que nos ajudou apenas parou a hemorragia, então ele ainda está em estado grave. Eu precisava de um cardiologista, e parece que você é a melhor na cidade.

— Sou sim. Muito obrigada. — Não sei o porquê, mas acabei me esquecendo dos fatos e da minha situação.

Pensando que esse homem me sequestrou para salvar o pai dele sem necessidade, fiquei perdida nos meus pensamentos, contudo, um flash em minha mente me trouxe de volta.

— Logan. — Dei um sorriso. Ele estava perto demais de mim, por isso dei dois passos para trás. — Você, simplesmente, poderia ter transferido o seu pai para o hospital em que eu trabalho. Então... por qual razão, estou presa aqui?

Não seja idiota, Ava. Será que não vê o óbvio?

Claro que sim, mas quero pensar positivo.

Eu ouvia muitas coisas quando não estava na sala de cirurgia ou estudando casos raros, porém nunca apostaria que esse homem era um criminoso.

— No hospital, fariam muitas perguntas — ele respondeu, duro. — Vamos deixar de papo, você tem um trabalho a fazer.

— Depois disso, poderei sair? — Minha esperança era essa, por isso eu cogitava ser boazinha.

Pensando bem, era melhor eu não saber de muito. Assim, não correria risco algum.

— Se o meu pai sobreviver, sim.

Era muita pressão. Ele não podia pôr nas minhas mãos a responsabilidade de salvar, 100%, a vida de uma pessoa. Apesar de estudar e desejar que todos os meus pacientes sobrevivessem, eu não poderia garantir isso, afinal, são muitos fatores de risco. Além do mais, em uma cirurgia cardíaca, tudo pode acontecer.

— Bonitão... — Eu tinha que parar de chamá-lo assim, apesar de ele ser sexy, com aquele corpo todo musculoso e tatuado. Até as cicatrizes eram excitantes, e ainda tinha o perfume, os cabelos pretos escorridos, os olhos verdes e intensos, a barba...

— Você tem alguma avaliação, doutora? — Ele levantou uma das sobrancelhas, encarando-me.

Logan não estava de bom humor.

Óbvio que não, Ava. O pai dele está quase morrendo.

Pare de ficar admirando esse idiota. Ele é um criminoso, ou não teria sequestrado você.

— Desculpa. — Fiquei vermelha de vergonha. — Tenho que informar que, apesar de ser boa no que faço, qualquer cirurgia cardíaca que realizo tem riscos, ainda mais no quadro do seu pai.

— Sei que vai dar um jeito, ou vai ter o mesmo fim que ele. — Ele se projetou sobre mim, com um olhar assustador que me fez engolir em seco.

Porém, também tinha algo a mais, como uma faísca que se alastrava pelo meu corpo. Logan era lindo e muito sedutor, mesmo não sendo essa a sua intenção.

— Não pode pôr a minha vida e a do seu pai nas minhas mãos médicas. Há riscos...

— Salve a vida dele, e eu terei piedade da sua.

Vi a verdade nas suas palavras e senti como se meu corpo estivesse todo congelado por dentro.

— Eu te achei muito abusado — disparei, irritada. — Está em uma posição de comando. Sei que seu pai corre riscos, mas isso não lhe dá...

— Descanse, doutora Steven. Amanhã entrará na sala de cirurgia e salvará o meu pai. Caso contrário...

— Você me mata. Eu já entendi, seu idiota. — Isso saiu sem que eu percebesse. Naquele momento, com raiva, não me importei. Contudo, ele sim.

Logan me agarrou, colocando-me contra a parede. Ele segurava em meu pescoço com uma certa força que quase me deixava sufocada. Olhei nos olhos dele, com as minhas mãos na sua, tentando me soltar. Ele me encarou tão de perto, que senti um frio passar pela minha espinha. Exercendo uma energia fora do comum, ele me deixou com medo pela primeira vez.

— Tome cuidado com o que fala, bonequinha — a voz grave, perto do meu ouvido, deixou o meu corpo gelado.

— Vai me matar antes que eu tente salvar o seu pai? — Um dos meus problemas era debater com alguém, mesmo a pessoa sendo bem mais forte que eu. Era instintivo, e Logan despertava essa mulher em mim. — Cuidado com minhas mãos, são elas que vão salvá-lo.

Curiosamente, Logan fitou meus lábios, quase me fazendo pensar que ele me beijaria. Então, ele me soltou e, finalmente, eu pude respirar direito.

— Não me faça matá-la, doutora. Agora, descanse. Meu pai precisa que você o salve. Caso contrário, duas famílias irão enterrar um ente querido. — Sendo assim, ele saiu batendo a porta.

Sozinha, arregalei os olhos e disse a mim mesma:

— Qual o seu problema? — Jamais imaginei que faria tal loucura. O sujeito, claramente, era um criminoso. Eu não podia provocar alguém assim. — Meu Deus, me ajude a passar por isso. Não posso continuar provocando um homem como esse, ele pode me matar.

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