Luara Arantes
Eu queria esquecer, esquecer o quanto foi extremamente constrangedor meu suposto encontro na sorveteria. Andressa talvez tivesse razão o tempo inteiro, o senhor esquisitão deixou claro suas intenções comigo. Mas algo no meu coração dizia que não era apenas isso, existia algo a mais. Meu pequeno Lucas era quem realmente chamava atenção dele. Depois de fugir da sorveteria não quis saber de mais nada que não fosse retornar para casa e ficar com meu filho.
No dia seguinte acordei com uma dor de cabeça intensa, mesmo assim levantei logo cedo e deixei meu garotinho na escola. Enquanto voltava pra casa caminhando, algo inusitado aconteceu. Vi aquele homem novamente, ele colocou-se na minha frente, impedindo que eu passasse. O sorriso dele talvez fosse um dos seus pontos fortes. Todos aqueles músculos destacados, começaram a me deixar desconcertada.
— Josué. E você? — abriu a boca estendendo sua mão direita. Aguardava uma reação minha. Qual foi a minha reação? Revirei os olhos com seu atrevimento, claro! Cruzei os braços deixando claro que não me apresentaria.
— Não te interessa! Dá pra parar de me perseguir? Vejo que está mais palhaço que ontem! — desdenhei, fitando-o nos olhos. — Por acaso está voltando de uma festa a fantasia? Branquelo, você não combina com essas roupas!
Quis ofendê-lo e criticar suas roupas foi o que consegui fazer. Mesmo que ele estivesse usando um vestido continuaria um galã, quer dizer, um galã meio gay, mas, galã. Ele era irritantemente perfeitinho demais. Nenhum fio de cabelo fora do lugar. Barba ralinha bem desenhada na simetria do seu rosto. Tinha algo nos seus olhos que parecia familiar, entretanto, não sabia o porquê. Não nos conhecíamos antes, disso não tinha dúvida alguma.
— Sou tímido, moça! — afirmou, quebrando o silêncio, enquanto franzia os lábios finos. Bufei tentando passar por ele, sem sucesso algum. — Por que não me diz seu nome? Poderíamos tomar um café ou...
Enfiei o dedo no meio do seu peito, interrompendo-o.
— Você é louco! Não pode chegar em alguém assim! Entendeu? Branquelo de merda! Ou você me deixa passar, ou vou encher essa tua cara de uns tabefes!
Se era baixaria desnecessária? Pra mim era necessária sim!
— Tem certeza que quer fazer isso? — questionou, segurando meu pulso, sem machucá-lo. — Você é tão linda que fico todo sem jeito...
Desvencilhei-me do seu toque. Nunca estive com tanta raiva como fiquei por causa dele.
— Para com isso, cara! Tá ridículo! — berrei, empurrando-o de leve. — Não quero te ver na minha frente, nem nas minhas costas como um encosto! Pode ter certeza que da próxima vez, não vai ser aviso que vou te dar! Espero que tenha entendido, espigão!
Saí pisando duro e rezando mentalmente para o maníaco não estar me seguindo. O tal Josué estragou minha manhã. Distante o bastante olhei para trás e respirei aliviada por não ter sido seguida por ele. Parecia que ele tinha desistido de me abordar.
— Procurando por mim, Luara? — aquela voz grosseira veio seguida por um puxão brusco. — Eu te vi, sabia? Com aquele cara. Não sente vergonha? Ser vista no meio da rua com um como ele?
Yago apertava com força meu braço enquanto ansiava por uma resposta. Até mesmo seu cheiro de rampeiro causava-me repugnância.
— Vergonha deveria ter você, por estar me seguindo! — esbravejei, puxando meu braço. — O que faço ou deixo de fazer só diz respeito a mim, entendeu? Não me toque nunca mais!
Não esperava uma reação no momento em que fui na sua direção, prestes a estapear seu rosto, no entanto, em um movimento rápido, ele conseguiu segurar meu pulso.
— Muito corajosa, hein? — provocou, puxando-me contra seu peitoral. — Tenho certeza que sente falta do meu toque. Das nossas carícias debaixo dos lençóis. Não precisa fazer esse tipo de coisa se quer tanto chamar minha atenção.
Engoli em seco, sentindo sua respiração quente no meu pescoço. Eu não queria ser vista com ele. O homem que foi minha ruína. Meus olhos ficaram embaçados com lembranças do passado.
— Não é divertido tirar a inocência de uma garota ingênua. — resmunguei, empurrando-o. — Yago, pensei que fossemos amigos. Acreditei durante anos que a qualquer momento fossemos assumir para todos que estávamos juntos. Você não tem coração e muito menos compaixão!
As lágrimas desceram por todo meu rosto. Yago cerrou os punhos, dando um passo à frente. Fechei os olhos. Ele estava prestes a marcar meu rosto para todos saberem. Outra vez ele me machucaria, mas desta vez a marca seria visível para todos. Senti o vento do seu punho na minha direção, entretanto, não senti um toque seu sequer. Abri os olhos momentaneamente.
— Josué! — gritei, assustada, recuando.
Com meu coração disparado e sendo difícil demais para respirar, não conseguia acreditar. De onde ele havia saído? Ele tinha parado o soco que acertaria em cheio meu rosto. Tanto Yago como Josué trocaram olhares raivosos.
— Por que não briga com alguém do seu tamanho? — Josué disse rosnando. — Ela não é um saco de pancadas!
Pulei para trás ao ver Yago ser acertado por um soco no estômago. Ele era um covarde, pois após o soco saiu cambaleando para longe de nós dois. Limpei minhas lágrimas e decidi não ser uma orgulhosa, caso Josué não tivesse aparecido meu rosto estaria arrebentado.
— Eu me chamo Luara, Josué. — disse com a voz embargada, estendendo a mão pra cumprimentá-lo e continuei. — Obrigada por ter me salvado de sair com o rosto quebrado.
A mão quente de Josué me fez sentir um frio na espinha. Não queria ser vista naquela situação, mas não era apenas ele que tinha presenciado todo o ocorrido. Em algum momento a fofoca chegaria aos ouvidos da minha família.
— Luara, quer ir até a delegacia? — perguntou, parecendo preocupado. — Posso ser sua testemunha do que aquele cara queria fazer com você.
Soltei sua mão e gargalhei de nervosismo.
— Para com isso! Não foi pra tanto! Pode deixar que com Yago me resolvo depois. — afirmei, limpando uma sujeira imaginária do seu ombro esquerdo. — Agradeço por ter me resgatado como uma princesa em apuros, mas esse assunto não tem nada a ver com você.
Ele ainda era um desconhecido que me causava muitas desconfianças. Ter sido salva por Josué não mudou o fato dele ser um possível maníaco de criancinhas.
— Você que sabe. — essa foi sua resposta seca e direta. Franzi a testa sem entender nada. Talvez eu esperasse outra reação sua e não aquela inesperada.
O espigão simplesmente me virou as costas e foi embora, isso mesmo ele não insistiu para que fossemos até a delegacia, muito menos tentou me confortar.
— Esquisitão... — resmunguei, observando-o cada vez mais distante.
Quem realmente era aquele homem? Uma curiosidade foi implantada em mim. Talvez fosse uma boa investigar mais sobre o senhor espigão. Era algo apenas por segurança, sabe? Não tinha nenhum outro interesse no branquelo, claro que não tinha!
Como o esperado em menos de duas horas, todos da minha família já sabiam tudo que tinha acontecido, envolvendo Yago, eu e Josué. Dona Regina entrou no meu quarto feito um relâmpago e trazia com ela um dos seus sapatos de salto baixo em mãos. Eu não fiquei nenhum pouco surpresa com sua atitude. Guardei o livro que lia e respirei fundo até que ela soltasse seu veneno.— Você quer envergonhar mais ainda nossa família? — questionou, sacolejando meu braço esquerdo. — Todos estão falando na rua inteira que você causou uma confusão em público! Por que envolveu o filho de Marieta nisso? Ele é um bom rapaz, agora todos estão falando dele! Não pode esconder seu gosto péssimo pra homens? Tem que esfregar um branco na cara de todos? As pessoas estão fala
Josué MonteiroPrecisei retornar para a capital durante uma semana inteira para resolver negócios pendentes. Alexandra insistiu que o melhor era levar Luara Arantes ao tribunal pra tentar recuperar meu filho, mas não era simplesmente tirar o filho dela que resolveria tudo. Ela o amava tanto. Decidido a continuar com o plano anterior, retornei depois de uma semana. Para minha surpresa, algumas coisas mudaram, a moça era realmente determinada, pois tinha conseguido um trabalho em um restaurante, como garçonete. Esperava que aquele homem que tentou agredi-la fisicamente não estivesse importunando sua vida. Quando recordava que ele quase a espancou no meio da rua, sentia vontade de espancá-lo até perder a consciência. Ele era um homem covarde que agredia mulheres indefesas, contudo, naquele dia ele não contava com minha presença, muito menos qu
Luara ArantesEm casa comecei a pensar em Josué, não pensei que ele fosse fugir da forma como fugiu do restaurante. Sempre soube que tinha algo de errado nele e ter desmascara-o, talvez ele me deixasse em paz. Eu não era nenhuma ingênua mais, muito menos, acreditava em qualquer desculpa esfarrapada. Aproveitei que vovô Alfredo estava na sala de estar, decidi dar uma organizada em seu quarto. O quarto dele era como sua fortaleza, todos eram proibidos de adentrar, mas, eu não seguia essa regra.— Como ele vive assim? — perguntei-me, fitando a pilha de caixas de papelão ao lado da cama.O cheiro forte de mofo me fez começar a tossir. Primeiro fui até o guarda-roupas antigo dele e peguei tudo que precisava para trocar as cobertas da cama. Puxei
Não suportando mais o clima pesado em casa decidi me divertir um pouco. Lucas e eu fomos ao parque. A bomba familiar sobre a bisavó de pele clara, causou muitas discussões. Ninguém fora eu e o meu filho, ficavam perto do vovô Alfredo. Eu não queria a separação familiar, pensei que todos ficaríamos mais unidos do que nunca, foi uma ilusão. Talvez fosse possível esquecer todos os problemas, por, pelo menos, aquela noite. O vento frio deixou meus pelos eriçados. Usava um vestido de alças finas.— Boa noite, Luara! — aquela voz me fez dar uma volta ao mundo em segundos. Engoli em seco. Não esperava vê-lo, Josué nos encarava descaradamente.Apertei a mão do meu pequeno. Ele estava nos seguindo? Me questionei. Josu&
Josué MonteiroNão era momento para continuar com covardia, embora estivéssemos no local errado, sabia o que deveria ser feito. Aguardei a irmã de Luara sair do quarto com o nosso filho para que eu pudesse entrar no assunto que vinha evitando falar. O menino era nosso e não tiraria o título de mãe que ela tinha. Fechei novamente a porta e tentei controlar meu nervosismo. Não tinha outra saída, era necessário lhe contar toda a verdade.— Josué, por que fechou a porta novamente?Todas suas perguntas seriam respondidas, pensei. Enfiei as mãos nos bolsos da calça enquanto caminhava em sua direção. Eu sabia que o assunto precisava ter cautela, porém, quanto mais tempo passasse seria pior.
Luara ArantesMinha saída do hospital foi tranquila, no entanto, minha cabeça parecia ter sido esmagada por um caminhão. No dia seguinte, pensei que esqueceria tudo o ocorrido do dia anterior com um dia cheio de trabalho, contudo, no momento em que saí do portão para fora encontrei Josué. Engoli em seco. Eu queria fingir que tudo não tinha passado de um engano, que ele não era o pai de Lucas, mas aqueles olhos eram idênticos ao do meu pequeno.— Quero marcar uma data para o exame de DNA! — afirmou, prendendo-me contra o portão. Quase pensei que ele fosse me beijar, não que eu quisesse, mas a forma como nossos olhos fitavam um ao outro, me deu palpitação no coração. — Você vai facilitar as coisas? Ou vou precisar entrar na justi&cced
Josué MonteiroA mãe adotiva do meu filho era perturbada, psicologicamente. Por que estou falando assim? Bom, após a confirmação do resultado do exame de DNA que tínhamos feito ela me colocou em uma situação difícil. Acreditei que ela tivesse contado toda a verdade para sua família, mas ao vez disso, ela anunciou minha sentença de morte. Era domingo, final de tarde, e estávamos todos reunidos, sim, todos de sua família na sala de estar, menos meu filho. Isabela, irmã mais nova de Luara, não parava um segundo de fazer careta, enquanto mascava chiclete sem tirar seus olhos de cima de mim. Consegue imaginar o quão Luara ArantesEnxotada de casa junto com meu filho me vi obrigada a ser abrigada por Josué. Andressa, mesmo que quisesse me ajudar, não teria como abrigar meu filho e eu em sua casa. Sem escolha aceitei a ajuda do pai de Lucas. Não imaginei que ele estaria hospedado em quarto tão simples quanto o que estávamos. Eu sabia que ele tinha dinheiro para pagar um dos melhores quartos, talvez, ele fosse mão de vaca. Por desconfiança ele não nos colocou em outro quarto. Meu menino sem entender nada estava admirando a vista pela janela que dava de frente para um pequeno jardim. Não tive coragem em lhe contar que seu pai era aquele homem que falei tanto que era só mais um babaca.— Amanhã veremos um apartamento pra vocês dois. — olhei para lado e vi Josué de pijamas! UCapítulo 14