Josué Monteiro
Deixei tudo para buscar meu filho após localizá-lo, entretanto, não consegui nem sequer me aproximar. Ele era feliz aparentemente com sua mãe adotiva. Eu não era um monstro para separar a mãe de um filho, ela o amava muito. Quase um mês observando de longe os dois. Senti que era o momento de um contato direto, mas não queria assustá-los. A mãe biológica do meu filho fez questão de se livrar dele no momento em que terminei nosso noivado. Me arrependi de não ter terminado só depois do nascimento do bebê, por causa dessa escolha ruim ela sumiu grávida e quando apareceu não estava mais com o bebê. Foram cinco longos anos sofrendo sem saber onde estava meu filho.
Precisei da ajuda de Alexandra para poder me ausentar do escritório. Minha prima era responsável e muito competente, sabia que tinha deixado em boas mãos. A fábrica de produtos alimentícios era um negócio de família há anos. Luara Arantes não parecia ser o tipo de mulher que conhecia, confesso que sentia um pouco de medo dela. Buscava uma forma de aproximação sem que ela fugisse com o meu filho. Tudo que queria era estar na vida dele e ser o pai que ele merecia ter.
Era domingo à noite e novamente vi uma oportunidade para tentar uma conversa com a senhorita, Arantes. Ela tinha acabado de adentrar a sorveteria sozinha. Eu era um pai desesperado. Nunca pensei que ficaria obcecado daquele jeito, estava perseguindo os dois na cara de pau durante dias. Tirei a gravata e guardei no bolso decidido a falar com a jovem. A cada passo meu coração ficava mais aflito. Ela parecia distraída no momento em que cheguei em sua mesa.
— Posso sentar? — perguntei, chamando sua atenção. Fiquei receoso que ela dissesse não. O que eu podia esperar dela? Pelo tempo em que passei observando-a notei o quanto ela era brava.
— O que você quer com o meu filho? — rebateu diretamente. A baixinha estava tentando me intimidar. Arquei as sobrancelhas com tamanha ousadia de sua parte.
— Sou tímido e por isso não me aproximei antes. — comecei a falar, sentando em seguida na cadeira vazia em sua frente. — Gosto de crianças e você parece ser uma mãe muito amorosa. E eu queria te conhecer melhor, pois te achei muito linda.
Conhecê-la melhor foi tudo que consegui pensar. Não era uma mentira, não totalmente, ela realmente era uma mulher muito bonita. Uma negra linda e usava uma calça jeans azul e um moletom branco de capuz. Preferia vê-la sorrindo como tinha visto todas as vezes em que esteve com o nosso filho. Sim, nosso, ela era a mãe mesmo não sendo a biológica e eu era o pai.
— De qual hospício tu saiu? — insultou-me chutando-me por debaixo da mesa e continuou. — Eu vejo o jeito que tem olhado pro meu filho. Pensou que se aproximando de mim ia chegar até ele? Não sou uma emocionada, querido!
Emocionada? Não tinha entendido nada. Ela tinha me achado feio? Isso era possível? Eu normalmente causava suspiros e não repulsa nas mulheres.
— Por favor, senhorita. — disse tentando forçar uma timidez que nunca tive. — Tenho dificuldade em me expressar. Você poderia me dar uma oportunidade de nos conhecermos melhor? Posso provar que não sou nenhum psicopata.
Ela parecia estar pensando, e no momento que pensei que tinha a convencido, tive uma surpresinha desagradável.
— Sério? Que você tá usando uma desculpa dessas pra cima de mim? Não é porque tenho um filho branco que eu goste de branquelos como você! E alias, metido ainda por cima! Ninguém usa esse tipo de roupa em uma cidade como essa. Não sei por qual motivo veio parar aqui, mas saiba que comigo não vai rolar nada, nadinha, nunca!
Ela simplesmente levantou-se e saiu me deixando para trás. Como eu ia conquistar a confiança de uma mulher como ela? Era algo que precisava descobrir e tentar. Talvez eu devesse usar roupas mais comuns, que não esbanjassem dinheiro. Saí da sorveteria com muitos pensamentos.
Na segunda-feira logo após o café da manhã no hotel em que estava hospedado decidi fazer compras. Eu precisava de ajuda e a única opção que encontrei foi fazer uma chamada de vídeo com minha prima enquanto experimentava algumas peças de roupas.
— Josué, pelo amor de Deus! Desde quando você monta cavalo? — desdenhou rindo. Alexandra era uma mulher de trinta e cinco anos, no entanto, seu humor era de uma garotinha de treze.
— Ela talvez goste, não acha? — brinquei dando um giro. A expressão da minha prima era de reprovação. Eu estava usando uma camisa xadrez e uma calça jeans justa com um cinto grande e botas.
— Melhor fazer bronzeamento artificial, branquelo! — zombou girando em sua poltrona.
Eu precisei contar tudo para ela do que tinha ocorrido na sorveteria. Não pensei que ela fosse usar isso contra mim.
— Não duvide que vou domar aquela mocinha brava. — disse seguro que conseguiria esse feito. — As mulheres nunca resistiram, com ela não será diferente.
Adentrei novamente o provador e troquei de look. Coloquei uma camiseta estampada e uma bermuda e tênis. Pensei ter acertado no visual e saí confiante do provador.
— Faltou o boné. Onde é o baile funk? Seus músculos estão tão expostos, primo.
Ela também não tinha gostado daquele visual. Mulheres, consegue entender? Porque eu não!
— Talvez ela goste dessa vez. Preciso apenas fazer umas tatuagens, não acha? — brinquei sorridente.
— Sinto pena dela. — proferiu, balançando a cabeça e continuou. — Pensou nas consequências quando ela descobrir tudo? Você deveria falar que é o pai do garoto logo de uma vez, mas não quer! Por que iludir a pobre moça? Ela pode acabar se apaixonando por você.
— Eu também posso me apaixonar por ela. Por que não? Seríamos uma família completa...
— Você passou nove anos em um relacionamento, Josué. Nove! Nunca foi apaixonado pela sua noiva. E fidelidade? Nenhuma! Primo, você usou a desculpa da gravidez da Vitória pra cair fora da relação.
Nem mesmo eu sei porque fiquei durante anos com aquela mulher. Alexandra tinha razão, em parte, nunca amei Vitória por isso tive algumas amantes. Eu não era de ferro e não era impossível um dia eu cair de quatro por uma mulher, certo? Acreditava seriamente nisso.
— Uma vez te disse, e vou repetir, a mulher que me conquistar vou casar com ela em menos de um ano. O amor um dia chega e não podemos deixá-lo escapar entre os dedos. Luara, a mãe adotiva do meu filho é uma jovem bonita e ama muito ele. Quem sabe nós dois não possamos nos apaixonar?
— Saiba que não apoio essa loucura. Você tem um tijolo no lugar do coração, Josué. Esperar que você se apaixone de verdade um dia, é tempo perdido. Não use-a para ficar perto do seu filho, nenhuma mulher merece ser usada dessa forma.
Alexandra ficou emocionada com tudo que disse, talvez tivesse recordado do seu ex marido que a trocou por uma mulher mais nova.
— Não se preocupe, prometo que no momento em que eu ver que tudo está saindo fora de controle, me afasto dela. Eu prefiro que as coisas aconteçam assim, não quero que ela leve meu filho para longe. Pode confiar em mim? Vou tentar não machucá-la.
Estava sendo sincero, minha intenção não era magoar ninguém.
— Tenha cuidado, está bem? Não sabemos como isso pode acabar.
— Tudo acabará bem, vou dobrar a senhorita, Arantes. — disse dando uma piscadela.
Luara Arantes logo se apaixonaria por mim, o moço tímido e romântico que seria para ela. Sairia apenas daquela loja quando tivesse várias peças de roupas novas para usar. Apesar da minha idade, aparentava ter menos. Eu era um homem de trinta e seis anos, mas aparentava ter no máximo vinte nove. Usaria do meu charme e cavalheirismo para conquistá-la, o plano sairia conforme o planejado.
Luara ArantesEu queria esquecer, esquecer o quanto foi extremamente constrangedor meu suposto encontro na sorveteria. Andressa talvez tivesse razão o tempo inteiro, o senhor esquisitão deixou claro suas intenções comigo. Mas algo no meu coração dizia que não era apenas isso, existia algo a mais. Meu pequeno Lucas era quem realmente chamava atenção dele. Depois de fugir da sorveteria não quis saber de mais nada que não fosse retornar para casa e ficar com meu filho.No dia seguinte acordei com uma dor de cabeça intensa, mesmo assim levantei logo cedo e deixei meu garotinho na escola. Enquanto voltava pra casa caminhando, algo inusitado aconteceu. Vi aquele homem novamente, ele colocou-se na minha frente, impedindo que eu passasse. O sorriso dele talvez fosse um dos seus ponto
Como o esperado em menos de duas horas, todos da minha família já sabiam tudo que tinha acontecido, envolvendo Yago, eu e Josué. Dona Regina entrou no meu quarto feito um relâmpago e trazia com ela um dos seus sapatos de salto baixo em mãos. Eu não fiquei nenhum pouco surpresa com sua atitude. Guardei o livro que lia e respirei fundo até que ela soltasse seu veneno.— Você quer envergonhar mais ainda nossa família? — questionou, sacolejando meu braço esquerdo. — Todos estão falando na rua inteira que você causou uma confusão em público! Por que envolveu o filho de Marieta nisso? Ele é um bom rapaz, agora todos estão falando dele! Não pode esconder seu gosto péssimo pra homens? Tem que esfregar um branco na cara de todos? As pessoas estão fala
Josué MonteiroPrecisei retornar para a capital durante uma semana inteira para resolver negócios pendentes. Alexandra insistiu que o melhor era levar Luara Arantes ao tribunal pra tentar recuperar meu filho, mas não era simplesmente tirar o filho dela que resolveria tudo. Ela o amava tanto. Decidido a continuar com o plano anterior, retornei depois de uma semana. Para minha surpresa, algumas coisas mudaram, a moça era realmente determinada, pois tinha conseguido um trabalho em um restaurante, como garçonete. Esperava que aquele homem que tentou agredi-la fisicamente não estivesse importunando sua vida. Quando recordava que ele quase a espancou no meio da rua, sentia vontade de espancá-lo até perder a consciência. Ele era um homem covarde que agredia mulheres indefesas, contudo, naquele dia ele não contava com minha presença, muito menos qu
Luara ArantesEm casa comecei a pensar em Josué, não pensei que ele fosse fugir da forma como fugiu do restaurante. Sempre soube que tinha algo de errado nele e ter desmascara-o, talvez ele me deixasse em paz. Eu não era nenhuma ingênua mais, muito menos, acreditava em qualquer desculpa esfarrapada. Aproveitei que vovô Alfredo estava na sala de estar, decidi dar uma organizada em seu quarto. O quarto dele era como sua fortaleza, todos eram proibidos de adentrar, mas, eu não seguia essa regra.— Como ele vive assim? — perguntei-me, fitando a pilha de caixas de papelão ao lado da cama.O cheiro forte de mofo me fez começar a tossir. Primeiro fui até o guarda-roupas antigo dele e peguei tudo que precisava para trocar as cobertas da cama. Puxei
Não suportando mais o clima pesado em casa decidi me divertir um pouco. Lucas e eu fomos ao parque. A bomba familiar sobre a bisavó de pele clara, causou muitas discussões. Ninguém fora eu e o meu filho, ficavam perto do vovô Alfredo. Eu não queria a separação familiar, pensei que todos ficaríamos mais unidos do que nunca, foi uma ilusão. Talvez fosse possível esquecer todos os problemas, por, pelo menos, aquela noite. O vento frio deixou meus pelos eriçados. Usava um vestido de alças finas.— Boa noite, Luara! — aquela voz me fez dar uma volta ao mundo em segundos. Engoli em seco. Não esperava vê-lo, Josué nos encarava descaradamente.Apertei a mão do meu pequeno. Ele estava nos seguindo? Me questionei. Josu&
Josué MonteiroNão era momento para continuar com covardia, embora estivéssemos no local errado, sabia o que deveria ser feito. Aguardei a irmã de Luara sair do quarto com o nosso filho para que eu pudesse entrar no assunto que vinha evitando falar. O menino era nosso e não tiraria o título de mãe que ela tinha. Fechei novamente a porta e tentei controlar meu nervosismo. Não tinha outra saída, era necessário lhe contar toda a verdade.— Josué, por que fechou a porta novamente?Todas suas perguntas seriam respondidas, pensei. Enfiei as mãos nos bolsos da calça enquanto caminhava em sua direção. Eu sabia que o assunto precisava ter cautela, porém, quanto mais tempo passasse seria pior.
Luara ArantesMinha saída do hospital foi tranquila, no entanto, minha cabeça parecia ter sido esmagada por um caminhão. No dia seguinte, pensei que esqueceria tudo o ocorrido do dia anterior com um dia cheio de trabalho, contudo, no momento em que saí do portão para fora encontrei Josué. Engoli em seco. Eu queria fingir que tudo não tinha passado de um engano, que ele não era o pai de Lucas, mas aqueles olhos eram idênticos ao do meu pequeno.— Quero marcar uma data para o exame de DNA! — afirmou, prendendo-me contra o portão. Quase pensei que ele fosse me beijar, não que eu quisesse, mas a forma como nossos olhos fitavam um ao outro, me deu palpitação no coração. — Você vai facilitar as coisas? Ou vou precisar entrar na justi&cced
Josué MonteiroA mãe adotiva do meu filho era perturbada, psicologicamente. Por que estou falando assim? Bom, após a confirmação do resultado do exame de DNA que tínhamos feito ela me colocou em uma situação difícil. Acreditei que ela tivesse contado toda a verdade para sua família, mas ao vez disso, ela anunciou minha sentença de morte. Era domingo, final de tarde, e estávamos todos reunidos, sim, todos de sua família na sala de estar, menos meu filho. Isabela, irmã mais nova de Luara, não parava um segundo de fazer careta, enquanto mascava chiclete sem tirar seus olhos de cima de mim. Consegue imaginar o quão Último capítulo