Como o esperado em menos de duas horas, todos da minha família já sabiam tudo que tinha acontecido, envolvendo Yago, eu e Josué. Dona Regina entrou no meu quarto feito um relâmpago e trazia com ela um dos seus sapatos de salto baixo em mãos. Eu não fiquei nenhum pouco surpresa com sua atitude. Guardei o livro que lia e respirei fundo até que ela soltasse seu veneno.
— Você quer envergonhar mais ainda nossa família? — questionou, sacolejando meu braço esquerdo. — Todos estão falando na rua inteira que você causou uma confusão em público! Por que envolveu o filho de Marieta nisso? Ele é um bom rapaz, agora todos estão falando dele! Não pode esconder seu gosto péssimo pra homens? Tem que esfregar um branco na cara de todos? As pessoas estão falando!
— Yago, não é nenhum santo, dona Regina! — disse desvencilhando-me de sua mão pesada. — O homem branco tem um nome, sabia? Josué! A senhora não sabe de nada e muito menos, esse povo fofoqueiro! Acha mesmo que alguém se importa tanto assim com essa família ferrada?
— Luara, por que você não é como sua irmã? Isabela tem um caráter exemplar e sempre faz o que os pais querem e....
Gargalhei propositalmente para que ela parasse com aquela conversa idiota. Minha irmã desde cedo demonstrou ser um fantoche na mão dos nossos pais, porém, pelas costas era outra pessoa, uma irreconhecível.
— Alguma vez entrou no quarto da sua filha amada? — desdenhei, recordando das bitucas de cigarro que Isabela fumava. Não era somente o vício em cigarro que ela escondia entre quatro paredes em seu quarto. Havia também sua coleção bizarra de fotos de quase todos os homens bonitos da cidade, inclusive os casados.
— Ela merece privacidade. — explicou-se gesticulando com as mãos. — Sua irmã merece total minha confiança, nunca fez nada errado.
— Será mesmo que ela merece essa confiança toda? Deveria ser mais presente, mamãe. Sua filha favorita tem muitos segredos.
Não era errado colocar uma pulga atrás da orelha da nossa mãe. Ela precisava conhecer de fato quem era Isa, que nunca foi nenhuma santa. Dona Regina saiu do quarto bufando.
Após buscar meu filho na escola, saímos para almoçar fora. Foi a melhor escolha que poderia ter feito, pois estar naquele ambiente tão familiar, além de acalmar meus nervos, vi uma oportunidade e tanto. Uma vaga de emprego surgiu e não perderia a chance de trabalhar. Depois de conversar um pouco com a gerente do restaurante, ela disse que eu poderia tentar, uma experiência como garçonete. Concordei e agarrei aquela oportunidade de independência.
Quando saímos do restaurante mal conseguia conter toda minha euforia.
— Lucas, sua mãe está tão feliz. — comentei, alegremente, bagunçando seus cabelos loiros. — Logo vamos poder nos mudar. Vamos ter nossa casa de novo, filho.
Eu sabia que seria difícil com o dinheiro de garçonete, mas não era impossível. Minha esperança era maior que qualquer dificuldade que pudéssemos passar, superaríamos juntos tudo.
— Te amo, mamãe! — proferiu docemente, dando-me um abraço em seguida.
— Também te amo muito, meu bebê! — beijei o topo de sua cabeça com ternura.
Meu menino levado era meu amuleto da sorte. Seus olhinhos eram um dos seus atributos que admirava. Juntos caminhávamos, em direção a casa dos meus pais, e eu sabia que com ele nunca estaria sozinha. No momento que passamos pelo portão, Isabela veio feito um furacão pra cima de mim.
— O que você disse pra nossa mãe? — esbravejou, empurrando-me para trás. — Ela entrou no meu quarto, caralho! Sem aviso nenhum! Ela me viu fumando e ficou chocada com tudo que viu. Não acredito Luara que você fez isso comigo!
Dona Regina não perdeu tempo, pensei. Isabela não deveria dizer palavrão na frente do meu filho. Segurei firmemente seu braço, puxando-a para o canto.
— Para de agir como uma garotinha, Isa! Você tem dezoito anos agora! Seja responsável. Seja uma mulher de verdade...
— Mulher de verdade feito você? — zombou, olhando em direção ao Lucas. — Vai ter volta, maninha. Mamãe agora pensa que sou uma perdida como você!
Uma ameaça vinda da minha irmã era algo para ter cuidado, não eram palavras da boca para fora. Isabela era vingativa e nunca gostou de mim.
— Se eu soubesse que você seria assim, nunca teria pedido tanto para nossa mãe me dar um irmão ou uma irmã. O que veio para mim foi um castigo. Sinceramente, você nunca foi a irmã que pensei que pudesse ser.
Desabafei algo que guardei durante anos. Nossa mãe não queria ter mais filhos e de tanto insistir ela engravidou. E quando soube que era uma menina, meu coração se encheu de felicidade, pensei que seríamos melhores amigas, mas as coisas não aconteceram assim.
— O único castigo é ter você como irmã, Luara! Que exemplo você é? Uma irmã mais velha mãe solteira! Sempre senti vergonha de você, por ser uma fraca ingênua! Eu te odeio!
Isabela berrou, esbarrando no meu ombro e indo embora. Senti vontade de chorar, no entanto, engoli o choro, pra não assustar meu filho. Eu não odiava minha irmã, apenas ela não era o que esperava ter.
— Sua tia, está um pouco nervosa, não foi nada viu? — disse me aproximando do meu menino. — Desculpe, meu amor, não queria te trazer pra essa confusão.
Lucas simplesmente abraçou minha cintura com força.
— Não fica triste, mamãe.
Sim, ele tinha percebido que eu não estava nada bem. Respirei fundo soltando o ar pela boca. Ele era somente um garotinho, não queria envolvê-lo em toda a bagunça familiar.
— Vai ficar tudo bem. — afirmei, acariciando suas costas. — Vamos entrar porque hoje quero ler um dos meus livros favoritos pra você.
Gostava de incentivar a leitura e mostrar pra ele o mundo incrível da literatura.
— Tem dragão, mamãe? Não é uma história de princesa né? Elas são tão sem graça, mamãe. Prefiro os dragões!
Ele era sincero e uma graça!
— Hoje não tem nem princesa e nem dragão, mas você vai gostar.
— Não sei. — respondeu fazendo carinha de bravo.
— Hum, acho que alguém quer chamar atenção. — brinquei, fazendo cócegas nele. — Meu pequeno, menino homem. O que não faço por você, hein?
O riso dele melhorou meu humor. Eu não tinha o amor da minha irmã, mas tinha o mais puro amor, o do meu filho.
Josué MonteiroPrecisei retornar para a capital durante uma semana inteira para resolver negócios pendentes. Alexandra insistiu que o melhor era levar Luara Arantes ao tribunal pra tentar recuperar meu filho, mas não era simplesmente tirar o filho dela que resolveria tudo. Ela o amava tanto. Decidido a continuar com o plano anterior, retornei depois de uma semana. Para minha surpresa, algumas coisas mudaram, a moça era realmente determinada, pois tinha conseguido um trabalho em um restaurante, como garçonete. Esperava que aquele homem que tentou agredi-la fisicamente não estivesse importunando sua vida. Quando recordava que ele quase a espancou no meio da rua, sentia vontade de espancá-lo até perder a consciência. Ele era um homem covarde que agredia mulheres indefesas, contudo, naquele dia ele não contava com minha presença, muito menos qu
Luara ArantesEm casa comecei a pensar em Josué, não pensei que ele fosse fugir da forma como fugiu do restaurante. Sempre soube que tinha algo de errado nele e ter desmascara-o, talvez ele me deixasse em paz. Eu não era nenhuma ingênua mais, muito menos, acreditava em qualquer desculpa esfarrapada. Aproveitei que vovô Alfredo estava na sala de estar, decidi dar uma organizada em seu quarto. O quarto dele era como sua fortaleza, todos eram proibidos de adentrar, mas, eu não seguia essa regra.— Como ele vive assim? — perguntei-me, fitando a pilha de caixas de papelão ao lado da cama.O cheiro forte de mofo me fez começar a tossir. Primeiro fui até o guarda-roupas antigo dele e peguei tudo que precisava para trocar as cobertas da cama. Puxei
Não suportando mais o clima pesado em casa decidi me divertir um pouco. Lucas e eu fomos ao parque. A bomba familiar sobre a bisavó de pele clara, causou muitas discussões. Ninguém fora eu e o meu filho, ficavam perto do vovô Alfredo. Eu não queria a separação familiar, pensei que todos ficaríamos mais unidos do que nunca, foi uma ilusão. Talvez fosse possível esquecer todos os problemas, por, pelo menos, aquela noite. O vento frio deixou meus pelos eriçados. Usava um vestido de alças finas.— Boa noite, Luara! — aquela voz me fez dar uma volta ao mundo em segundos. Engoli em seco. Não esperava vê-lo, Josué nos encarava descaradamente.Apertei a mão do meu pequeno. Ele estava nos seguindo? Me questionei. Josu&
Josué MonteiroNão era momento para continuar com covardia, embora estivéssemos no local errado, sabia o que deveria ser feito. Aguardei a irmã de Luara sair do quarto com o nosso filho para que eu pudesse entrar no assunto que vinha evitando falar. O menino era nosso e não tiraria o título de mãe que ela tinha. Fechei novamente a porta e tentei controlar meu nervosismo. Não tinha outra saída, era necessário lhe contar toda a verdade.— Josué, por que fechou a porta novamente?Todas suas perguntas seriam respondidas, pensei. Enfiei as mãos nos bolsos da calça enquanto caminhava em sua direção. Eu sabia que o assunto precisava ter cautela, porém, quanto mais tempo passasse seria pior.
Luara ArantesMinha saída do hospital foi tranquila, no entanto, minha cabeça parecia ter sido esmagada por um caminhão. No dia seguinte, pensei que esqueceria tudo o ocorrido do dia anterior com um dia cheio de trabalho, contudo, no momento em que saí do portão para fora encontrei Josué. Engoli em seco. Eu queria fingir que tudo não tinha passado de um engano, que ele não era o pai de Lucas, mas aqueles olhos eram idênticos ao do meu pequeno.— Quero marcar uma data para o exame de DNA! — afirmou, prendendo-me contra o portão. Quase pensei que ele fosse me beijar, não que eu quisesse, mas a forma como nossos olhos fitavam um ao outro, me deu palpitação no coração. — Você vai facilitar as coisas? Ou vou precisar entrar na justi&cced
Josué MonteiroA mãe adotiva do meu filho era perturbada, psicologicamente. Por que estou falando assim? Bom, após a confirmação do resultado do exame de DNA que tínhamos feito ela me colocou em uma situação difícil. Acreditei que ela tivesse contado toda a verdade para sua família, mas ao vez disso, ela anunciou minha sentença de morte. Era domingo, final de tarde, e estávamos todos reunidos, sim, todos de sua família na sala de estar, menos meu filho. Isabela, irmã mais nova de Luara, não parava um segundo de fazer careta, enquanto mascava chiclete sem tirar seus olhos de cima de mim. Consegue imaginar o quão Luara ArantesEnxotada de casa junto com meu filho me vi obrigada a ser abrigada por Josué. Andressa, mesmo que quisesse me ajudar, não teria como abrigar meu filho e eu em sua casa. Sem escolha aceitei a ajuda do pai de Lucas. Não imaginei que ele estaria hospedado em quarto tão simples quanto o que estávamos. Eu sabia que ele tinha dinheiro para pagar um dos melhores quartos, talvez, ele fosse mão de vaca. Por desconfiança ele não nos colocou em outro quarto. Meu menino sem entender nada estava admirando a vista pela janela que dava de frente para um pequeno jardim. Não tive coragem em lhe contar que seu pai era aquele homem que falei tanto que era só mais um babaca.— Amanhã veremos um apartamento pra vocês dois. — olhei para lado e vi Josué de pijamas! UCapítulo 14
Após escolhermos um apartamento para Lucas e eu ficarmos, retornamos ao hotel. Josué foi tomar um banho e eu me joguei sobre a cama. Meu momento de sossego logo cessou, pois o celular do espigão não parava de tocar em cima do sofá. Eram dez da manhã constatei ao olhar a hora pelo meu telefone. Quem poderia ser? Pensei em ir até a porta do banheiro para avisá-lo, apenas pensei porque não fui. Levantei da cama para dar um jeitinho naquele barulho.— É só desligar... — sussurrei, pegando-o do sofá. Arquei a sobrancelha ao perceber que o aparelho não tinha senha alguma de segurança. Meu coração disparou quando ele começou a tocar novamente. Mas quem era aquela mulher insistente? Perguntei-me. Fiquei tão nervosa que em vez de rejeitar a ligaçã