Quando Beto chegou a casa da fazenda juntos a Lucia, suas têmporas doíam diante do estresse. Havia sido passivo a fim de evitar mais confusão, mas não significava que estava feliz com o escândalo de Lucia, nem que ela conseguiria algo dele assim. Quando finalmente entraram na casa, Beto arrancou o chapéu da cabeça e o colocou na mesa, olhando para Lucia por um momento com os braços cruzados sobre o peito, tentando conter a raiva que o fazia respirar profundamente e ficar com os músculos tensos. — Tá me olhando assim por que? — ela perguntou, erguendo as sobrancelhas. Sentia-se vitoriosa como se tivesse ganhado o melhor dos prêmios, afinal, Beto a respeitaria depois disso, certo? Sabendo como ela era, ele jamais levaria uma mulher para a fazenda. Havia feito exatamente como sua sogra disse, tomado as rédeas de seu casamento. Beto bufou, com um sorriso sem humor estampado em seu rosto, suas sobrancelhas grossas se uniram instantes depois e ele passou a mãos nos cabelos, desacreditad
Quando Beto deixou a pequena casa, Sandrinha correu para os fundos, encontrando Cidinha escondida onde Beto a havia deixado. A garota estava com os olhos arregalados e o rosto corado havia ouvido dali toda a gritaria e a conversa, bem como a mentira contada por Beto, que a atingiu direto no coração. Já havia sofrido tanto naquele dia, naquela semana, sua vida nunca foi fácil, mas ultimamente pareciam que os santos a haviam abandonado. Cicinha fungou baixinho e, quando Sandrinha estendeu a mão para ela, a garota limpou o rosto, negando a mão da amiga e olhando para ela com uma expressão de pura tristeza. Então, passando por Sandra como um furacão, Cidinha foi para dentro da casa, pegando a bolsa que sua amiga havia trazido e trocando de roupa, prendendo os cabelos num coque e colocando a bolsa sobre o ombro, voltando para a sala decidida a sair dali. — Vambora, Sandrinha, que aqui num tem luga pra eu não — Cida falou, com uma expressão seria que a amiga nunca havia visto. — Mas,
Quando o São João chega no interior, tudo fica mais colorido e com sabor. Nessa época do ano, até os dias mais tristes se tornam alegres e, volta e meia, alguma surpresa muito bem-vinda vem acalentar a vida dos que não tiveram tanta sorte no começo do ano.E esse foi o caso de Cidinha. Uma menina bonita, com belos cabelos castanhos ondulados que desciam até abaixo da sua bunda, olhos de um tom de mel encantador, rosto de anjo, como todos diziam. Tinha traços muito belos, um nariz pequeno, levemente largo, uma pele bronzeada, como um café com leite recém-passado, lábios grossos e muito tentadores. Mas seu rosto não era a única coisa bonita em si, ela era o conjunto da obra, Cidinha tinha um corpo de dar inveja em qualquer moça da comunidade ribeirinha que ficava próximo ao Velho Chico.Mas sua sorte era, sem dúvida, só essa. Todos ali tinham pouco, mas o pouco que tinham era compartilhado, mas a beleza de Cidinha impactava diretamente em sua vida. As moças comprometidas não gostavam qu
— Mas tão cedo e tu já tá aí nessa vida — falou a amiga, aparecendo na cozinha após entrar na casa sem se importar com a ausência de um convite. — Vim te chamar para ir ali na feira comigo. Sandra era também uma moça de chamar muita atenção, tinha uma pele negra brilhante e bela, olhos escuros e um cabelo volumoso e enorme, que chamava atenção onde quer que ela fosse. Era bem alta e muito esbelta, facilmente poderia ser uma modelo, mas deixou esse sonho de lado, já que sua mãe não achava uma boa ideia por acreditar que todas aquelas moças acabavam como moças da vida, o que, certamente, não passava de uma ideia sem sentido algum que a mãe dela ouviu de alguma outra mulher. — Eu tenho que trabalhar, né — Cidinha revirou os olhos, terminando de enxaguar o último copo. — Vai fazer o que lá?— To precisando comprar umas coisas e, além disso, a arrumação para a festa já começou, podemos ver como as coisas vão ser esse ano! — a animação de Sandra ela clara, certamente ela queria muito que
— Como é que é? — Sandra disse, assustada com a notícia dada de última hora.— Eu já não sei nem mais o que fazer, Sandra. Eu não quero me casar e já falei com painho, mas ele insiste que tem que ser com aquele homem nojento — enquanto falava, Cida fazia expressões de nojo, como se estivesse chupando um limão bem azedo. Os braços cruzados e o bico deixavam bem claro sua insatisfação com essa ideia.— Amiga, quando, como? Me conte do começo, porque eu não tô entendendo mais nada. De onde que seu Antônio tirou essa ideia da cabeça? E logo com o Zé? Tanto homem mais bem-apresentado nesse lugar — quanto mais ouvia, mais confusa Sandra ficava com a situação que sua amiga estava. Ela desejava tudo de bom a Cida e não a imaginava nunca indo se casar logo com um homem tão asqueroso como o primo.— Olha, sabe de uma, vamo terminar de comprar as coisas logo que seu pai chega e eu to batendo perna com ocê, ele num vai gostar. Bom que cê vai lá pra casa mais eu e assim explico logo do início. Pod
— Amiga, é o seguinte. Você precisa enfrentar seu pai e dizer não, porque olha, aquele homem te olhou com uma cara de safado, que eu fiquei até com nojo. Ele não disfarçou em nada a vontade que ele tá de te pegar viu. Pelo menos seu Antônio quer deixar o casamento pra depois do São joão… Já pensou se fosse hoje mesmo? Do jeito que o povo já gosta de falar, ia comentar era que tu tá grávida.— Ave Maria, Sandra. Era pra me ajudar ou pra me botar medo?— Desculpa, não era a intenção. Mas pensa, hoje a gente vai dançar muito juntas e você vai poder se divertir antes da sentença. Deixa pra pensar nisso depois, mulher, que logo é dia de muito arrasta pé.— Olha, você tem razão. Eu vou curtir os festejos, depois eu enrolo meu pai o máximo até conseguir dar um jeito dele mudar de ideia. Agora, vem cá, você por algum acaso já escolheu a roupa? — nessa hora, Sandra deu um grito agudo, lembrando que não tinha terminado de colar os farrapos no vestido rodado, nem levado as compras pra mãe, que d
Quando o dia seguinte chegou, o cheiro de milho-cozido e amendoim torrando enchia toda a vila, finalmente era São João e todos tinham um momento para festejar. Os pescadores, que tanto trabalhavam todos os dias, tinham um momento de descanso onde ninguém os julgaria pela bebedeira. As moças mais tímidas finalmente poderiam dançar sem o risco de ficarem mal faladas e as que já eram mal faladas teriam uma noite onde não precisavam se importar com nada. Era São João, afinal, o dia em que a fogueira crepitava no chão do sertão e a vida difícil virava enredo de cordel.Quando o sol caiu, Cidinha estava se olhando no espelho com um sorriso de orelha a orelha. Seus olhos brilhavam com empolgação e por um momento, ela até esqueceu do destino triste que a aguardava depois daquela festa. Seus lábios grossos estavam penteados pelo batom vermelho, os olhos bem delineados por uma sombra que combinava perfeitamente com sua pele morena e as bochechas coradas pela alegria que ela sentia diante daque
— Ah, Cida, mar tu tá bonita mulher! — Sandra falou, sorrindo para a amiga com muita animação. — Todo mundo vai te olha assim, duvido tu não arranjar um marido melhor hoje! — Num fala bobagem, mulher — Cidinha reclamou, rindo levemente. — Tu também tá muito bonita! Tua mãe que fez o vestido foi?Sandra usava um vestido vermelho que combinava com ela, tinha uma saia rodada com alguns babados e um decote sutil, mas muito bonito e até um pouco sensual. Ela usava um colarzinho dourado delicado e seus cabelos estavam soltos livres como o vento e como ela mesma. Seus lábios estavam brilhantes e seu rosto ostentava uma maquiagem bem leve que, pela primeira vez, Cida a viu usar. — Foi, acredita? Ela também passou essas coisa em mim — Sandrinha apontou para o rosto levemente maquiado. — Disse que eu já to na idade de me arrumar como mulher. — Pois cê ficou foi bonita! — Cidinha elogiou, entrelaçando o braço ao da amiga e começando a caminhar. — Cê ta falando que eu vou arrumar um marido me