Nem é o sonho que me acorda. São as lágrimas. Corro para o banheiro e me olho no espelho. Estou branco. Olhos arregalados. Um suor frio desce pelo meu corpo. Mais lágrimas rolam. Acho que chorei hoje o que não chorava em anos. Lembrando-me do que fiz mais cedo, acho que mais lágrimas rolarão.— Eric. — minha voz sai menor que um sussurro. Sinto um nó na garganta que me impede de respirar.Jogo água no rosto, mas logo ponho a cabeça toda embaixo da torneira. Fico uns bons dois minutos com o jato de água na nuca e entre os cabelos.Quando me seco e volto para o quarto, sinto-me indigno de me deitar ao lado do anjo na minha cama. Eu não a mereço. Eu menti pra ela. Eu a traí. Eu sou um canalha. Um grande canalha.Preciso de uma bebida.Vou para a cozinha e direto para a adega.— Olá amigo. Você e eu teremos uma conversinha. — digo para uma garrafa de Bourbon.Volto para a cozinha e pego um copo no armário. Meia hora depois, metade da garrafa já se foi. Minha vista já está um caos. E eu te
— Bom dia raio de sol. — ela diz quando levanto a cabeça.— Bom dia. — bocejo — Você fez café? — eu a vejo com uma grande xícara nas mãos.— Fiz. Do jeito que eu gosto. Forte, mas bem docinho. — ela sorri e não consigo não sentir uma pontada no peito — Quer um pouco?— Não. Acho que vou tomar puro. Melhor, me dá a lata que eu vou comer os grãos. — ela ri amplamente...— Noite difícil? — Ellen senta-se no banquinho ao meu lado e eu confirmo sua pergunta com um aceno positivo de cabeça — Vai me contar porque estava bebendo de madrugada? — ela olha sugestivamente para a garrafa quase vazia de Bourbon e o copo ao lado.— Eu tive um pesadelo. — é tudo que eu consigo dizer.— Oh. — ela faz biquinho e fala com voz dengosa — Com pesadelos e sem sexo com a Ellen, o Nick fica sozinho?Eu sorrio pra ela. Informo que vou pra ONG – porque francamente não posso nem olhar pra ela sem me sentir um merda – e vou tomar banho. Quando saio do banheiro, meu avô está sentado na minha cama com uma xícara de
Quarentena. Nunca tinha visto um estado desses de verdade. Mas é exatamente onde Ellen me coloca. Setembro vem e se vai e eu estou em quarentena. Quinze dias sem nenhuma comunicação com exceção de uma única mensagem "ME DÊ UM TEMPO" no dia em que ela saiu da minha casa com lágrimas nos olhos por causa da minha idiotice. Mais quinze dias sem comunicação pessoal apenas ligações durante o dia ou chamadas de vídeo de dois minutos antes de dormir. É assim que eu passo o último mês. Em resumo, o pior mês que eu já tive em muito tempo.Os dias no calendário parecem ter sido duplicados. Vinte e quatro parecem quarenta e oito horas. Uma semana parece um mês. Um mês parece um ano. Cria-se uma rotina para mim. Ir e vir da Universidade. Ir e vir da clínica. Nada durante a noite além de uns goles de álcool. Apesar de eu ter passado cinco anos sem companhia, minha casa nunca pareceu tão vazia. Talvez porque eu nunca tenha passado tanto tempo em casa. Eu normalmente chegava da clínica e ia para a “c
— Tudo bem. — digo com um sorriso forçado — Pode ser amanhã então? — Diga que sim.— Por que não fazemos assim, eu te ligo quando eu puder e então marcamos, o que acha?Acho que você está me deixando de lado totalmente. É o que eu quero dizer, mas...— Pode ser. Quando quiser. —... É o que eu digo.— Ótimo. Então eu te ligo tá? — eu vou dizer mais alguma coisa, mas ela já está se virando de volta ao cavalo.Antes de sair do estábulo, olho para trás, mas ela não. Ela apenas põe de volta os fones de ouvido e continua seu trabalho. Suspiro com pesar e vou embora.A tarde se passa devagar. Alguns pacientes desmarcaram, mas os que vieram não conseguem me distrair. Estou agindo no piloto automático e completamente ciente de que estou errado. Não posso misturar trabalho e vida pessoal. Não posso deixar que meus sentimentos interfiram nas coisas que faço aqui, mas é impossível me concentrar em algo mais do que a Ellen me dizendo que não tem tempo pra mim.Asher.Esse maldito nome fica indo e
— Eu perguntei o que está fazendo aqui, Nicholas. — ela repete com a voz como cacos de gelo.— Eu...— Eu já estou indo. — o bastardo diz — Você vai ficar bem?Ela relaxa um pouco o rosto ao olhar para ele e concorda.— Tudo bem, Asher. — ela chega até a sorrir — Pode ir.Ele aproxima a boca ao rosto dela e lhe deposita um beijo na bochecha. Eu tenho que me conter para não arrancá-lo a força de cima dela quando o beijo demora mais do que o necessário.— Até amanhã. — ela lhe diz. Bom pelo menos é melhor que “quer subir?”.Ele sorri, sobe em sua moto e vai embora. Espero até que ele se distancie o suficiente para olhar tão feio pra ela quanto ela olha pra mim.— O que veio fazer aqui? — ela pergunta ao mesmo tempo que eu pergunto — Quem é esse cara?Ambos não respondemos à pergunta um do outro. Olhamo-nos como rivais. Mas tudo o que eu quero é beijá-la. Deus, eu a quero tanto. Baixo a cabeça e enfio as mãos nos bolsos.— Me responde Nicholas.Nicholas mais uma vez.— Eu queria te ver.
Além do Robert, a Rachel é em Miami a única pessoa que sabe tudo sobre mim. Eu a conheci na mesma época em que conheci meu melhor amigo e ela me acompanhou desde o início. Então resolvo contar a ela tudo sobre o que aconteceu comigo desde que conheci Ellen há dois meses.— Quem diria? Nicholas Hoffman, o maior fodedor que eu já tive o prazer de ter na minha Casa, de quatro por alguém. De novo.— Ela me odeia Rachel. — a essa altura todo esse álcool já estava fazendo efeito — Eu estraguei tudo por causa da Ada. Acredita? — eu balanço a cabeça e peço mais uma dose ao barman.— Acredite amor, ela não te odeia. Não tem como uma mulher com quem você já transou te odiar. Eu tentei, acredite. Mas... não consegui.Bufo incrédulo.— Eu deveria saber que aquela cachorra da Ada não largaria o osso. — ela continua — Você foi burro Nick, me desculpa te dizer, mas você foi.— E você acha que eu não sei disso? Acha que eu não sei que eu sou um completo desastre como homem?— Não vou ficar aqui ouvin
Passo o fim de semana com ela. Com a minha Ellen. Mal posso esperar pra poder dizer a ela que ela é minha garota. Por enquanto me contento em dizer que ela é minha melhor amiga. Nós nadamos na minha piscina e no mar, e na piscina logo depois e no mar de novo... Surfamos ou pelo menos eu surfo, ela afunda junto com a minha prancha sempre que tenta se equilibrar. Corremos na praia, onde eu de forma não cavalheira, ganho dela todas as vezes em que apostamos. Levo Ellen para jantar e ela me leva ao McDonalds. Ensino Ellen a jogar pôquer na internet e ela me ensina a fazer origami. Quem diria? Ofereço minha moto a ela e ela tão prontamente recusa dizendo que já comprou uma vespa e que está bom demais para ela se deslocar na cidade. Conversamos no sábado à noite para colocar o assunto em dia, abraçados no sofá do seu apartamento até ela cair no sono em meus braços, totalmente exausta. Fazemos o mesmo no domingo, só que na ocasião, ela fica na minha cama deitada sobre o meu peito, onde adorm
— O que vamos comer? Convidaram-me pra jantar e eu estou morto de fome. — peço descontraído.Eles riem.— Bom considerando que desde as cinco da tarde o Asher queimou tudo o que colocou no fogo, acho que vai ter que ser pizza.Cinco da tarde é? Não sei se gosto disso. Tente Nicholas. Apenas tente.Mesmo com os meus protestos e do Asher, somos obrigados a ver O Homem de Aço com elas e ouvir seus suspiros e comentários cada vez que o Henry não sei o quê aparece sem camisa ou de alguma forma com os braços à mostra. Quando o filme acaba, todos nós conversamos até pouco mais das onze da noite. As meninas resolvem ir embora e ficamos apenas eu, Ellen e um grande elefante branco entre nós.— Bom então eu vou arrumar o sofá aqui pra poder dormir.Oi? Eu entendi bem? Dormir aqui?Enrugo a testa e olho pra Ellen que está evitando me olhar nos olhos. Ela se levanta e vai para o quarto. Volta pouco tempo depois com um travesseiro e um lençol. Eu não acredito nisso. Apesar de achar que Asher está