E é com essas palavras que eu adormeço mais tarde concretizando um fim de noite definitivamente diferente da que eu tinha em mente. A única coisa que me consola em meio aos pensamentos que me assolam é o fato de a Ellen estar em meus braços e ter feito carinho no meu peito até adormecer. É claro que eu quero um futuro com ela, mas eu não sei se consigo encarar essa marca do meu passado.Quando chego em casa à noite depois de uma longa conversa com o advogado da ONG sobre o Damian e os pais dele, encontro Ellen e Ada sentadas no sofá lado a lado. Ambas tomando vinho. Uma sensação de déjà vu me consome na mesma hora. A última vez que vi as duas nessa situação, Ada sumiu de Miami, Ellen me deu um gelo e eu fui um homem miserável por mais de um mês.— Qual das duas vai me explicar o que está acontecendo? — pergunto jogando as chaves do carro em cima da mesinha de centro da sala.Ada está com uma calça branca, blusa de chiffon azul e os cabelos soltos. Com as pernas cruzadas ela ergue uma
— Você só pode estar de brincadeira comigo, Ada. — rio com deboche.— Você era tão forte, Nicholas. Enfrentando sozinho tudo e todos em um lugar longe do que você conhecia e sem nada com o qual você estava acostumado. Eu não queria que você fosse uma constante lembrança do quanto eu era fraca.— Ninguém esperava que você fosse sempre forte, Ada. Principalmente diante de uma situação como a que você passou na época — digo com a lembrança de que ela nunca permitiu que ninguém a visse como uma simples garota que sofria de vez em quando, mas sim como uma garota que nunca era atingida por nada.— Mas era isso que eu esperava de mim mesma. — ela me olha já sem lágrimas — Olha Nick, eu sei que eu errei, mas porra eu só tinha dezoito anos. Eu era uma garota do caralho que tomou uma decisão errada. Eu achei que se eu me apaixonasse pelo Mike, o que eu acho que realmente chegou a acontecer em algum momento, eu poderia atender às expectativas dele, mas às suas... às suas eu não poderia.— Ada...
Os primeiros raios da manhã entram no quarto do apartamento da Ellen fazendo com que eu feche os olhos com força. Não queria ter acordado agora. Estava tendo um sonho molhado muito bom com uma certa morena de olhos verdes. Ah sol, por que você tinha que me acordar? Mas então eu sinto as mãos da garota dos meus sonhos trilhando círculos suaves pelas minhas costas. O mais suave dos toques em forma contínua me faz excitado logo cedo. Sem dúvidas muito melhor do que o sonho.— Bom dia, meu amor. — digo com a voz ainda rouca de sono.— Bom dia, meu amor. — ela responde num sussurro.Tomo consciência de que ela está sentada nas minhas pernas enquanto eu estou de costas pra ela. Acordar todos os dias com Ellen ao meu lado é a melhor coisa que poderia acontecer a mim. Estar com ela é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. Eu não tenho dúvidas. Ela continua o movimento dos seus dedos ao longo das minhas costas e então passa a língua da base da minha coluna até a minha nuca, mordendo de
À nossa maneira nós conseguimos manter uma boa comunicação através da sua tão boa arte e a minha nem tão boa assim. Hoje ele está pintando uma tela com um cachorro como protagonista. Os detalhes são incríveis. Eu sempre me surpreendo com o quão bem esse menino tão jovem pinta e desenha. Até parece que ele e a sua arte são um só.Olho ao redor para as telas que ele tem pintado nos dias em que eu estive ausente. Há várias outras telas aparentemente do mesmo cachorro, algumas da família que já vi ele pintando, além de algumas daqui. Entre as telas há três que me chamam bastante atenção. A primeira tem um garoto de costas para o observador, de frente para uma tela com o pincel na mão e um cara em pé ao seu lado. A segunda é exatamente igual à anterior. Difere apenas no homem ao lado do menino que agora está sentado perto dele. A terceira também é idêntica às outras e também diverge apenas no homem que desta vez está ajoelhado ao lado do garoto com um braço envolto nele e apontando para al
Quando chego à Universidade, Luisy me dá o recado de que o Charlie está me esperando na reitoria. A sua secretária não é nem um pouco cortês ao me ver. Eu tenho a ligeira impressão de que a conheço. Com essa dúvida eu entro na sala do reitor. Apesar da sua boa vontade comigo, Charlie me chama para me dar uma bronca. A Junta Acadêmica está cobrando dele pelas minhas ausências recentes e eu sei exatamente sobre que tópico ele vai falar agora. Meu mestrado. Ou melhor, a falta dele. Dito isso, ele me da um mês para concluir o mestrado ou ele não terá outra saída a não ser acatar o pedido da Junta de me afastar da instituição.Com a nova pressão do Charlie, ligo para o meu orientador no projeto e marco com ele uma hora para reunir todos os meus estudos e os resultados das minhas pesquisas e começar o processo de conclusão. Ele está de viagem agora, mas voltará em breve. Enquanto isso, eu terei tempo pra concluir meu estudo com o Damian. Em seguida, totalmente empenhado em mostrar serviço,
Quando ela me perguntou os detalhes de como eu consegui o Tyler de volta, dias depois de dá-lo de presente a ela, eu apenas contei que fiz uma visita ao seu padrasto, mas não mencionei o fato de eu tê-lo chamado pra Miami para o aniversário dela. Na ocasião ela apenas ficou calada remoendo alguma coisa em sua cabeça e eu não a pressionei sobre nada. Decidi deixá-la à vontade para me contar quando quisesse, mas coloquei na cabeça que deveria fazer alguma coisa pra reaproximá-los. E qual ocasião é melhor que uma competição hípica?— Eu sei que você deve estar provavelmente pensando que eu não deveria ter me metido na sua relação com ele porque isso não é da minha conta, mas o caso é que isso é da minha conta. — ela abre a boca pra falar, mas eu a impeço — Você é a pessoa mais importante da minha vida e o que acontece na sua vida se torna importante demais pra mim.— Nick...— E você nem ao menos pode ficar com raiva de mim porque você fez a mesma coisa com a Ada quando ligou pra ela e p
Quando Nicholas chegou ao local era cerca de meia noite e quinze. Robert tinha ligado para ele avisando que o amor da sua vida havia dado entrada no hospital vítima de um acidente automobilístico. Ele entrou desesperado. Torcendo, rezando para que a mulher que ele amava não estivesse morta e encontrou-se com o seu amigo ainda nos corredores, esperando por ele. Seu amigo o levou para a sala de espera.— O que aconteceu? — ele perguntou em meio às lágrimas — Por que isso aconteceu com ela Robert? Por quê?Robert não tinha a resposta para a pergunta dele. “Essas coisas acontecem, amigo”, ele tentou dizer, mas não adiantou. Ele estava arrasado.— Onde ela está? Eu quero vê-la. Eu preciso vê-la.— Ela está na sala da cirurgia. Estão fazendo tudo o que podem para salvá-la.— Não. Não. — ele escorregou seu corpo pela parede até sua bunda tocar o chão esterilizado e chorou copiosamente por horas apenas com o amigo como consolo até o cirurgião responsável sair para encontrá-lo com notícias del
Nicholas deu entrada no hospital às oito e quarenta e cinco da noite. Seu avô era o único parente esperando por ele no local. Estava nevando lá fora. A neve suja de Nova Iorque que outrora o vira tão feliz, agora testemunhava o pior momento da sua vida. Aquele lugar não era mais a casa dele. A casa dele era agora em outro lugar. Um lugar distante e definitivamente... mais feliz.— Qual o quadro? — o médico perguntou enquanto as enfermeiras e os paramédicos levavam a maca pelos corredores do hospital.— Overdose por cocaína. — disse o paramédico que o tratou ainda na ambulância.O médico examinou o pulso e os olhos dele com uma lanterna. Ele não tinha reação alguma.— As pupilas dele estão dilatadas. Preparem tudo para entubar imediatamente. — ele disse às enfermeiras — Verifiquem os monitores cardíacos. Vamos começar o tratamento com Naloxona.— Sim, doutor. — a enfermeira 1 confirmou.Entraram no quarto da emergência às pressas e começaram os preparativos. Precisavam fazer a limpeza