BeatrizO som abafado dos pés descalços contra o tatame ecoa na academia, misturado às risadas das crianças e às instruções firmes que dou entre uma demonstração e outra. O ambiente vibra com energia, mas minha mente está em alerta constante. Cada movimento, cada queda controlada é uma lição, não só de técnica, mas de disciplina e autocontrole.— Giulia, mantenha o equilíbrio! — digo, enquanto minha filha se posiciona para derrubar Nicolas em um golpe bem executado.Rafinha ri ao fundo, provocando os gêmeos Clara e Artur enquanto eles tentam imitar a sequência que acabei de mostrar. Luan e está concentrado como sempre, uma determinação no olhar que parece anos além de sua idade. Nicolas se ergue do tatame, balançando a cabeça, mas com um sorriso que mostra o quanto ele está se divertindo.— Muito bem, turma! — bato palmas, sinalizando o fim da aula para os pequenos. — Podem pegar suas garrafas de água e descansar.Enquanto eles correm para os bancos laterais, olho para Yasmin, que já
Don FalconeO dia começa com um telefonema urgente. Um carregamento foi interceptado, e meus homens precisam de instruções rápidas. Dou ordens precisas enquanto termino meu café, o aroma forte preenchendo o escritório que, para mim, é tanto um santuário quanto um campo de batalha. A máfia nunca dorme, e eu também não posso me dar a esse luxo. Mas hoje, algo além do habitual peso dos negócios me acompanha, uma sombra que nem mesmo o café mais forte pode dissipar.No meio do caos do dia, Isabella retorna. Assim que entra pela porta, sua presença ilumina a sala. Ela se joga nos meus braços com a alegria genuína de uma filha que ama o pai acima de tudo.— Papà! Finalmente em casa! Estava com tanta saudade.Sorrio, apertando-a em um abraço forte. — Minha menina, como foi a viagem?— Maravilhosa! Mas não é a mesma coisa sem você. — Ela me olha mais de perto, a felicidade dando lugar a uma preocupação silenciosa. — O que está acontecendo? Você parece... distante.Balanço a cabeça, tentando d
VívianO choro de Pedro preenche a madrugada como uma melodia desconhecida que ainda estou aprendendo a decifrar. Cada nota é um chamado, um pedido que me deixa alerta. É difícil acreditar que já se passou um mês desde que ele chegou ao mundo, transformando completamente a dinâmica das nossas vidas. Mesmo agora, enquanto o balanço da cadeira o acalma nos meus braços, uma parte de mim se pergunta: será que estou fazendo isso certo?Giulia entra no quarto com aquele sorriso tranquilo que parece ter o poder de dissipar qualquer dúvida. Ela me observa por um momento antes de se sentar ao meu lado, apoiando a mão no encosto da cadeira.— Você está indo muito bem, Vivian — ela diz, como se lesse meus pensamentos.Felipe chega em casa pouco depois, trazendo mais um presente. Não consigo evitar a risada ao vê-lo entrar com uma pequena caixa decorada com laços.— Mais um? — pergunto, divertida.— Foi dos colegas da faculdade — ele explica, inclinando-se para beijar Pedro na testa. — Acho que n
BeatrizO dia começa com uma energia diferente. Assim que entro no ginásio, sinto os olhares de expectativa. Há algo no ar, uma vibração que torna cada passo mais pesado, mas também mais significativo. Hoje é o meu exame para o quarto dan de judô. Anos de dedicação, suor e até lágrimas culminam neste momento. O meu coração acelera, mas não de nervosismo, é pura emoção, a adrenalina correndo. Sei que estou pronta, mas nada poderia me preparar para o que vem a seguir.O exame para o quarto dan é uma cerimônia de técnica, resistência e história. Ao entrar no tatame, sinto a tensão nos meus músculos e a clareza na minha mente. Estou pronta para isso. É mais do que um teste físico, é a culminação de anos de prática, dedicação e aprendizado.A primeira parte do exame é o kihon, as bases. Demonstrar os movimentos fundamentais é crucial. Cada passo, cada golpe e cada transição devem ser impecáveis, não apenas executados, mas compreendidos. Quando o examinador me pede para realizar o harai gos
BeatrizO som seco de um disparo ecoa pelo estande de tiro e me faz acelerar o passo. Recebo a mensagem de Ramiro dizendo que a aula vai começar em cinco minutos e sinto uma mistura de curiosidade e ansiedade. Hoje, o treinamento promete ser diferente. Quando entro no estande, vejo Priscila, Lua e Luana já preparadas, com seus equipamentos de proteção em ordem, e Ramiro ajeitando a mesa com as pistolas e munições. O ambiente é carregado de expectativa, como se algo especial estivesse prestes a acontecer.— Chegou atrasada, Beatriz! — brinca Ramiro, com um sorriso no rosto. — Espero que esteja pronta, porque hoje o treino vai ser intenso.— Sempre pronta — respondo, colocando meu protetor auricular e ajeitando os óculos de proteção. — Vamos ver do que somos capazes.Começamos revisando os fundamentos, empunhadura, postura, mira. Ramiro é implacável, corrigindo cada detalhe com a precisão de quem passou anos aperfeiçoando a sua própria técnica. Priscila é a primeira a acertar o alvo c
LucianaA manhã começa com um burburinho típico da nossa casa, Lua e Andrey implicando um com o outro enquanto ajudam a organizar as coisas. André está na varanda, conferindo as bebidas, enquanto eu, com as mãos ocupadas em uma tigela de salada, tento impor alguma ordem no caos. Mas no fundo, adoro esse som de vida, de família. É incrível pensar como a vida nos trouxe até aqui, juntos, seguros, felizes. Só que uma sensação sutil de algo à espreita me faz olhar pela janela, como se houvesse algo mais além do horizonte claro deste dia.— Mãe, essa salada de quinoa é mesmo necessária? — Lua resmunga, cortando tomates com a destreza de alguém que claramente não gosta da tarefa. — As pessoas só querem carne e sobremesa em churrasco.— Salada é essencial, menina. Não é só sobre carne — respondo, rindo. — Além disso, a Fabrícia me pediu. E quando ela pede, você sabe que é sério.Andrey surge carregando um engradado de refrigerantes, com o rosto franzido.— Pai acha que isso é pouco. Tá q
MariaO clima no churrasco está perfeito. Risadas ecoam, o som de música embala todos e o cheirinho da carne na brasa mistura-se ao ar de alegria que toma conta de cada canto do quintal. Quando Tobias chega com Mia e o pequeno Willian, a energia já é contagiante. Não demora para que Mirna, Liam e Luana também entrem no clima, e, claro, Monica com seus filhos – Robert, Rodrigo e eu – completamos a festa.Enquanto a música toca, Lua, Luana, Robert, Rodrigo, Lucas e Priscila decidem criar uma “boate improvisada” na parte de trás do jardim, onde as luzes piscantes e uma caixa de som montada estrategicamente transformam o lugar em uma verdadeira pista de dança. Na verdade eles reverenciam a missão mais importante que já viveram. Eu, como sempre, não consigo resistir e vou dançar!– Vamos lá, Maria! – grita Lua, puxando-me pela mão para o meio da pista.A música aumenta, e logo estamos dançando sem preocupação. Cada movimento é uma celebração da vida, da família e das histórias que compar
Meses depoisBeatriz Estou inclinada sobre a bancada, anotando os últimos resultados, enquanto Rafael organiza os equipamentos com precisão quase militar. Trabalhar com ele é como dançar uma coreografia bem ensaiada, cada movimento sincronizado, cada gesto antecipado. Não trocamos muitas palavras, mas o silêncio entre nós é confortável, um reflexo da cumplicidade que construímos ao longo dos anos.A porta se abre, interrompendo o ritmo. Marlon e Antônio entram, carregando aquele ar de descontração que sempre trazem consigo.— Trouxeram problemas ou soluções? — pergunto, brincando, enquanto tiro as minhas luvas e as deixo sobre a bancada.— Depende de como você enxerga. — responde Marlon com um sorriso de canto. — Mas, para ser justo, talvez as duas coisas.Rafael ergue uma sobrancelha, mas mantém o foco nos papéis à sua frente.— Isso soa promissor — comenta ele, com o tom seco que me faz segurar um sorriso.— Promissor é o que vocês têm feito aqui — diz Antônio, puxando uma cadeira