Saí do consultório de Beatriz, me sentindo leve depois de nossa sessão. O corredor estava silencioso, com a luz suave das lâmpadas tornando o ambiente acolhedor.
Enquanto caminhava em direção ao elevador, dei de cara com Miguel.
Ele estava encostado na parede, com aquele sorriso de canto que sempre parecia iluminar seu rosto.
一 Oi, Patricia. Como você está? - perguntou, com um tom amigável.
一 Oi, Miguel. Estou bem, obrigada. - respondi, tentando esconder o nervosismo que sempre surgia quando o via. 一 Não sabia que você morava no mesmo prédio. Voltei há um mês e não tinha te visto por lá.
一 Ah, sim. - ele assentiu. 一 Estive em um congresso de medicina em Santa Catarina. Acabei de voltar.
一 Entendi. - respondi, assentindo. 一 Deve ter sido interessante.
一 Foi, sim. Bastante produtivo. - disse ele, o sorriso se ampliando um pouco mais.
Nesse momento, o celular dele começou a tocar. Miguel olhou para a tela, e eu aproveitei para me despedir.
一 Bom, parece que você está ocupado. A gente se vê por aí, vizinho.
一 Claro, até mais, Patricia. - respondeu ele, antes de atender o telefone.
Caminhei em direção ao elevador, sentindo uma mistura de emoções. Havia algo reconfortante na presença de Miguel, mas ao mesmo tempo, ainda me sentia um pouco insegura.
No entanto, cada encontro com ele parecia um pequeno passo rumo à normalidade. Sorrindo para mim mesma, apertei o botão do elevador.
***
O final de semana finalmente chegou, e com ele, as incessantes insistências de Perla e Helen para que eu fosse com elas a um clube.
Inicialmente, recusei, lembrando-me de como lugares lotados costumavam me fazer sentir sufocada.
No entanto, as meninas garantiram que o clube tinha um espaço aberto e vários seguranças, e que os homens não se atreviam a mexer com as mulheres sem consentimento.
A ideia de estar em um ambiente seguro e rodeada de amigas começou a parecer menos assustadora.
Respirei fundo, encarando meu reflexo no espelho. Escolhi um vestido que caía até os joelhos, um pouco justo, mas sem marcar demais meu corpo.
Não queria atrair olhares masculinos, apenas me sentir confortável e confiante. Decidi que essa seria uma grande oportunidade para dar um passo importante em minha recuperação: sair em público, especialmente para um clube, era um grande desafio.
Peguei meu celular e liguei para Cássio. Ele atendeu no segundo toque.
一 Oi, Cássio. Eu... estou pensando em ir a um clube com as meninas hoje à noite. Poderia me acompanhar?
一 Claro, Patricia. Vou com você. - ele respondeu prontamente, sua voz cheia de apoio e carinho.一 Onde e a que horas?
一 Vamos nos encontrar aqui em casa às oito. - expliquei. 一 Obrigado, Cássio. Você sempre me apoia.
一 Você sabe que sempre estarei aqui para você, prima. Nos vemos daqui a pouco.
Depois de desligar, senti uma onda de alívio. Com Cássio ao meu lado, me sentia mais segura.
Enquanto me preparava, pensava nas palavras de Beatriz durante nossa última sessão:
“ Enfrentar seus medos é um passo crucial na sua recuperação, Patricia. E você tem a força para fazer isso. “
Sorri, determinada a aproveitar a noite e, quem sabe, até me divertir. Coloquei um pouco de maquiagem leve, apenas o suficiente para me sentir mais confiante.
Olhei mais uma vez no espelho, ajeitando o vestido e respirando fundo.
一 Você consegue, Patricia. - murmurei para mim mesma, antes de pegar minha bolsa e sair do quarto.
Desci as escadas e me dirigi para a sala, onde esperaria por Cássio. A noite estava apenas começando, e eu estava decidida a me permitir aproveitá-la.
O toque do meu celular ecoou e ao pegá-lo, vi uma mensagem do meu primo informando que já estava lá embaixo. Peguei minha bolsa e desci ansiosa.
Cássio abriu a porta do Uber e deu espaço para que eu me sentasse ao lado dele. Quando me acomodei, ele me lançou um sorriso acolhedor.
一 Estou surpreso com a sua ligação. - disse ele, enquanto o carro começava a se mover. 一 Você está saindo com amigos. Isso é ótimo, Patricia.
一 Eu conheci a Perla e a Helen no curso. - expliquei, tentando disfarçar o nervosismo. 一 Elas insistiram muito para eu sair hoje. Achei que seria bom tentar.
Cássio assentiu, ainda sorrindo.
一 Você fez bem em concordar. E sabe, você merece se divertir. Não se preocupe, eu vou ficar de olho em você.
Senti uma onda de gratidão e alívio. Inclinei-me para abraçá-lo, sentindo o calor do seu apoio.
一 Eu realmente não sei o que seria da minha vida sem você, Cássio."
Ele deu de ombros de um jeito brincalhão, um sorriso convencido no rosto.
一 Provavelmente não seria nada. - disse ele, arrancando uma risada de mim.
一 Você se acha demais, sabia? - respondi, ainda sorrindo.
Ele riu também, e aquele som familiar e reconfortante ajudou a diminuir a ansiedade que eu sentia.
一 Só estou falando a verdade. - disse ele, piscando para mim. 一 Mas, sério, Patricia, estou muito orgulhoso de você. Dar esse passo não é fácil.
Agradeci com um aceno de cabeça, me sentindo um pouco mais confiante com cada palavra de incentivo dele.
Durante o resto da viagem, conversamos sobre coisas triviais, o que ajudou a me distrair e a relaxar.
Quando finalmente chegamos ao clube, Perla e Helen já estavam esperando por nós na entrada, acenando animadamente.
Ao chegarmos ao clube, avistei Perla e Helen acenando animadamente perto da entrada.
Cássio inclinou-se e sussurrou:
一 A preta é linda.
Sorri, balançando a cabeça.
一 Sossega, Cássio. - disse, mas não pude deixar de sentir um pequeno orgulho ao apresentar meu primo.
Nos aproximamos das meninas, e eu fiz as apresentações.
一 Cássio, essas são Perla e Helen. Meninas, esse é meu primo, Cássio.
Cássio manteve seu olhar fixo em Helen, que não se intimidou e sorriu de volta para ele.
一 Prazer em conhecê-las. - disse ele, um pouco mais formalmente do que o habitual.
一 Prazer. - respondeu Helen, estendendo a mão para ele. 一 A Patricia falou muito bem de você.
一 Espero que só tenha dito coisas boas. - brincou Cássio, apertando a mão dela.
Perla e eu trocamos olhares e sorrisos cúmplices, divertidas com a cena.
一 Vamos entrar? - sugeri, tentando manter o grupo em movimento.
一 Claro! - exclamou Perla, pegando minha mão e me puxando em direção à entrada. 一 Hoje a noite é nossa, Patricia!
Entramos no clube, que estava animado e cheio de vida. As luzes piscavam ao ritmo da música, e o ambiente vibrava com a energia das pessoas dançando e conversando.
Cássio mantinha-se perto de Helen, e percebi que eles já estavam engatando uma conversa animada. Perla e eu, por outro lado, trocávamos olhares cúmplices e risadas.
一 Onde vamos primeiro? - perguntei, tentando abafar a excitação e o nervosismo que sentia.
一 Vamos pegar algo para beber. - sugeriu Perla, puxando-me em direção ao bar. 一 E depois, vamos dançar!
No bar, pedimos nossas bebidas. Eu optei por um suco, enquanto Perla e Helen pediram coquetéis coloridos. Cássio, sendo Cássio, pediu uma cerveja.
一 Então, Helen. - começou Cássio, inclinando-se casualmente contra o balcão 一 o que você faz da vida?
一 Estou fazendo engenharia com as meninas, mas também trabalho como maquiadora, para conseguir uma renda extra. - respondeu ela, girando o canudo em seu drink. 一 E você?
一 Trabalho com tecnologia, mas nas horas vagas sou o melhor primo do mundo. - disse ele com um sorriso presunçoso, piscando para mim.
一 Modesto, hein? - comentou Helen, rindo.
一 Ele só está tentando impressionar. - brinquei, dando uma cotovelada leve em Cássio. 一 Não precisa disso, sabe.
一 Mas e você, Patricia? - perguntou Perla, mudando o foco para mim. 一 Está animada com as aulas? Imagino que ficar um tempo assim sem estudar desse ser assustador no retorno.
一 Sim, muito! - respondi, sentindo uma onda de entusiasmo. 一 Estava com saudade da rotina e de estudar.
Eu não tinha contado tudo o que aconteceu comigo para elas, apenas contei que tinha passado por alguns problemas com meu ex, que gerou alguns traumas e elas se mostraram super compreensíveis.
一 Estamos todas torcendo por você. - disse Helen, levantando seu copo em um brinde improvisado. 一 A novas oportunidades e novos começos!
一 Às novas oportunidades e novos começos! - repetimos todos em uníssono, brindando e sorrindo.
Enquanto bebíamos e conversávamos, percebi que estava realmente me divertindo.
A presença de Cássio, a amizade de Perla e Helen, e o ambiente acolhedor do clube me faziam sentir mais segura e confiante.
Pela primeira vez em muito tempo, senti que poderia realmente aproveitar a noite e deixar de lado minhas preocupações, mesmo que só por um momento.
Voltei do banheiro e, enquanto me dirigia de volta para a mesa, esbarrei em alguém. Levantei o olhar para me desculpar e, para minha surpresa, vi um rosto familiar.— Patricia? — ele sorriu.— Fabricio? — respondi, lembrando-me do amigo de Cassio que conheci outro dia. Ele era alto, com músculos nos lugares certos, cabelos castanhos claros e olhos azuis penetrantes. A música alta nos obrigava a nos aproximar para conversar.— Isso mesmo! — ele confirmou, inclinando-se para falar mais perto do meu ouvido. — Está sozinha?— Não, estou com umas amigas e o Cássio. Quer ir encontrá-los?Fabricio assentiu, e eu comecei a caminhar de volta para a mesa, sentindo-o seguir logo atrás. A multidão dançante nos obrigava a andar devagar, o que nos dava tempo para continuar a conversa.— O que você está fazendo por aqui? — perguntei, olhando para ele por cima do ombro.— Saí com alguns amigos. Vi o Cássio no bar mais cedo, mas não tive a chance de falar com ele. E você? Aproveitando a noite?— Ten
(Patrícia)Passei a noite resmungando, me virando de um lado para o outro na cama, tentando ignorar os gemidos e os sons da cama se movendo vindos do apartamento de cima. A cada som mais alto, meu desconforto aumentava. Finalmente, sento na cama e suspiro pesadamente.— Será que eles não têm vergonha? — murmuro para mim mesma, irritada.Fecho os olhos, tentando me concentrar em qualquer outra coisa, mas a realidade é implacável. Os gemidos continuam, interrompendo qualquer esperança de uma boa noite de sono. A frustração aumenta e, conforme a noite avança, percebo que não vou conseguir dormir. Olho para o relógio ao lado da cama: 3:45 da manhã. A academia está marcada para cedo, e cada minuto sem dormir me faz sentir mais cansada.O tempo passa lentamente. As horas se arrastam, e eu mal consigo fechar os olhos. Quando finalmente amanhece, me sinto exausta e abatida. A luz da manhã entra pelas frestas da cortina, e sei que é hora de me levantar. Preciso ir à academia.Levanto-me da
(Patrícia)Estávamos nos preparando para a apresentação do trabalho de quarta-feira. Perla, Helen e eu aceitávamos tudo quando vi a mulher do outro dia entrar na sala. Ela me olhou com uma expressão estranha, que logo mudou para desconfiança. — Eu te conheço.Olhei para ela, surpresa.— Você é a mulher que mora no prédio de Miguel, não é? Nos encontramos na entrada outro dia. - Disse, me olhando de cima a baixo.Fiquei ainda mais surpresa. Achei que ela nem tinha notado minha presença naquele dia. Assenti.— Sim, sou eu.Ela forçou um sorriso, que não parecia nada amigável.— Bom... — disse ela.Franzi o cenho, confusa.— Bom? Não entendi.Ela balançou a cabeça.— Não é nada. Só queria confirmar. Você faz o curso de engenharia, certo?Assenti novamente.— Sim, faço.— Sou Natália, a propósito.— Patricia.Ela sorriu, mas seus olhos pareciam analisar cada detalhe meu, me trazendo uma sensação incômoda.— Interessante. Eu também faço engenharia, mas já estou prestes a finalizar o curs
(Miguel)Acordei com o som do alarme às cinco horas da manhã. Suspirei, sentindo o peso do plantão de 36 horas que me esperava. Sentado na cama, olhei para a bela mulher ao meu lado, dormindo tranquilamente. Patrícia veio à minha mente, sua expressão irritada no meio da madrugada me fez sorrir. Havia algo sobre sua espontaneidade que eu realmente gostava.Levantei-me e fui direto para o chuveiro, deixando a água quente lavar qualquer vestígio de sono. Quando voltei para o quarto, a morena já estava acordada, sentada na cama e me observando com um sorriso preguiçoso.— Já vai sair? — ela perguntou, a voz ainda rouca de sono.Assenti, enquanto secava o cabelo com a toalha.— Tenho um plantão de 36 horas hoje. Preciso me preparar para o dia.Ela fez uma cara de desapontamento.— Não posso ficar só mais um pouco?Aproximei-me dela, inclinando e a beijei levemente.— Não gosto de sair e deixar pessoas na minha casa, Susane. Espero que você entenda.Ela não parecia muito satisfeita, mas
(Patricia)Acordei cedo no dia seguinte, sentindo uma mistura de ansiedade e excitação pelo acampamento. O sol mal havia despontado, e eu já estava de pé, organizando as coisas na sala. Cássio e as meninas tinham dormido na minha casa para irmos direto de lá. A cozinha estava cheia de risadas e conversas enquanto todos tomavam café da manhã.— Alguém mais quer café? — perguntei, segurando a cafeteira.— Eu! — gritaram Perla e Helen ao mesmo tempo, levantando suas xícaras.Enquanto despejava o café, ouvimos a campainha tocar. Perla foi abrir a porta e, um instante depois, ouvi sua voz animada.— Bom dia! Entre, por favor.Dei uma última ajeitada na minha camiseta e virei para a porta. Miguel entrou na sala, carregando uma mochila. Ele estava com um sorriso caloroso no rosto.— Bom dia, pessoal — disse ele, seus olhos pousando em mim por um momento mais longo do que o necessário.— Bom dia, Miguel — respondi, tentando ignorar o calor que subiu às minhas bochechas. — Deixe-me apresentá-
(Patricia)(Patricia)Enquanto mergulhava, senti uma dor aguda no pé e dei um gritinho de susto. Suspirei, tentando me acalmar, mas a dor era intensa. Fabricio se aproximou rapidamente, com uma expressão preocupada.— O que aconteceu, Patricia? — perguntou ele.— Acho que cortei o pé — respondi, vendo o sangue subir na água.Antes que eu pudesse protestar, Fabricio me pegou no colo, me assustando com a proximidade e a sensação dos nossos corpos sem tecido entre nós.— Não precisa, eu consigo caminhar — disse, tentando me libertar de seu aperto.— Melhor não, não sabemos a gravidade — ele retrucou, olhando nos meus olhos. — Deixa eu cuidar de você.Assenti, um pouco relutante, mas ciente de que ele estava tentando ajudar. Quando ele me colocou no chão, fora da água, todos se assustaram ao ver o grande caco de vidro enfiado no meu pé, com sangue escorrendo pela lateral.— Tirem isso dela — Helen pediu, fechando os olhos.Helen estava visivelmente assustada, e Miguel se aproximou rapidam
(Miguel) Quando chegamos na casa, os outros já estavam na varanda. Desci do cavalo primeiro e peguei Patrícia no colo em seguida. Cássio veio ao nosso encontro, a preocupação estampada no rosto.— Vocês demoraram — ele disse, olhando para nós com uma expressão intrigada.— Tive que vir devagar por causa do pé dela — expliquei, tentando esconder o incômodo que sentia com a situação.Cassio olhou para mim desconfiado, mas não disse nada. Apenas levou a égua para o estábulo. Perla se aproximou, a curiosidade evidente.— Como você se machucou? — Perguntou, os olhos arregalados.— Foi um caco de vidro no rio, mas já estou bem — respondeu Patrícia, com um sorriso tranquilizador.Olhei para ela, ainda sentindo o tremor em meu coração pelo que quase aconteceu momentos antes. Patrícia então se virou para mim.— Você já pode me colocar no chão, Miguel.Assenti e a levei até a varanda, colocando-a sentada em um pequeno banco. A observei, ainda processando tudo o que tinha acontecido. Ela era
(Patricia)Cassio me interrompe, a preocupação evidente em seu rosto.— Você tem certeza? - perguntou ele, a voz baixa e hesitante.Eu assenti, firme. — Sim, eu preciso superar isso. - Cassio me olhou por um momento antes de assentir e se calar.Respirei fundo, sentindo meu coração martelar com a dor de relembrar, mas sabia que era necessário. — Conheci Diego através de uma prima. - comecei, a voz trêmula. — Eu tinha 16 anos e nós namoramos por quatro anos. - Cassio fungou, demonstrando sua raiva, mas voltei minha atenção para continuar falando, tentando segurar o choro.— Diego sempre foi calmo comigo. Ele me ajudou a entrar na faculdade. Ele era muito carinhoso, até que um dia eu descobri que ele tinha me traído com essa mesma prima que nos apresentou. - A dor era palpável na minha voz. — Eu terminei o namoro, bem na época em que consegui o apartamento, já imaginando que nos casaríamos.Fiz uma pausa, limpando uma lágrima que escorreu pelo meu rosto, suspirando profundamente antes