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Capítulo 2 - O pânico vem com o silêncio

O silêncio era ensurdecedor.

Mesmo com o crepitar suave da lareira, com o tic-tac de um relógio antigo em algum lugar da sala, o silêncio pesava mais do que qualquer som alto. Ele se infiltrava pelos poros, se alojava nos ossos, fazia a mente gritar.

E eu? Eu estava congelada.

Minhas mãos, ainda atadas, formigavam com a má circulação. Meu pescoço doía. Meus joelhos, ainda arranhados da queda na rua, pulsavam em protesto. Mas nada doía mais do que a ausência de controle. A certeza de que eu não sabia onde estava. Que ele — aquele homem — sabia tudo sobre mim.

E eu, nada sobre ele.

Dante Morelli. Esse era o nome que ouvi murmurado entre os seguranças. Sussurrado como se fosse pecado pronunciá-lo em voz alta.

Dante. O diabo de terno.

Meu olhar vasculhou o quarto semiescuro, ainda que minhas pernas tremessem demais para me levantar. Era um cômodo grande, amplo demais. As janelas estavam cobertas por grossas cortinas vinho. Havia uma cama imensa em um dos cantos, arrumada como se ninguém jamais ousasse deitá-la. E eu estava no chão. Como um animal.

Respirei fundo, tentando conter o nó que se formava em minha garganta. Mas foi inútil.

O pânico me atingiu como uma onda bruta.

— Me solta! — gritei, de repente. A voz saiu rouca, alta demais. — Alguém! Tem alguém aí? Por favor!

Comecei a me debater, como se o simples ato de me mover fosse suficiente para quebrar as amarras. Os pulsos ardiam com o atrito da corda. Meu peito subia e descia de forma frenética. Comecei a chorar sem perceber.

— Socorro! Me ajuda! — berrei.

Nada.

Minutos depois, uma porta foi aberta com força. Ele entrou.

Dante.

O homem que parecia sair direto de um pesadelo elegante. Os cabelos escuros penteados para trás, os olhos tão profundos que pareciam fendas. Um demônio disfarçado de luto.

— Pare com isso — ordenou, a voz grave e baixa.

— Vai pro inferno! — gritei, as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Me solta! Eu não fiz nada! Você tá maluco!

Ele se aproximou com calma, como se não se importasse com meus gritos, com meus olhos cheios de fúria e medo. Apenas se agachou na minha frente e observou. Como um cientista diante de uma criatura selvagem.

— O pânico é irracional — disse ele, quase como se pensasse em voz alta. — Mas necessário.

— Você é doente! — cuspi, me contorcendo. — Vai acabar na cadeia como seu irmão!

A mudança foi imediata. O olhar dele escureceu, o maxilar trincou. A mão veio rápida, firme, e segurou meu queixo com força.

— Não ouse falar do meu irmão — rosnou, a boca próxima demais da minha. — Ele era inocente. Seu pai o condenou por política. Por influência. E pagou com a vida. Agora, você vai pagar com a sua liberdade.

Meu corpo tremia.

— Eu sou só uma garota — sussurrei, a raiva cedendo espaço ao puro desespero. — Eu não fiz nada…

— Você foi escolhida por causa do seu nome, sim. Mas… — ele passou o polegar pelo meu rosto, limpando uma lágrima. — Agora eu quero descobrir quem você é além disso. E o que mais você pode se tornar.

— Eu não sou ninguém! — gritei. — Eu sou uma estudante comum! Eu lavo minha própria roupa, eu como miojo quando estou com preguiça! Eu tenho uma vida normal!

— Não mais — disse ele, se levantando. — Sua normalidade morreu no instante em que seu salto quebrou na calçada.

A frase me atingiu como um tapa. Minha respiração acelerou tanto que começou a doer.

A porta se fechou atrás dele com um estalo seco.

E então eu desabei.

Os minutos seguintes — talvez horas, não sei dizer — foram um borrão de soluços, pensamentos desesperados e tentativas falhas de me acalmar.

Lembrei da minha mãe. Da última mensagem que não respondi. De como ela me odiaria por isso. Pensei no meu irmão, que seguia fielmente os passos do meu pai, sempre tão implicante, e em como ele me chamaria de dramática se me visse daquele jeito. Lembrei dos meus livros na estante, dos trabalhos da faculdade, da série que eu deixei pausada na metade.

Coisas idiotas. Coisas comuns. Coisas que pareciam pertencer a outra vida.

Levantei o olhar. A janela.

Me arrastei até ela, joelhos arranhando o chão. Estava trancada. Claro que estava. E mesmo que não estivesse, havia barras de ferro do lado de fora. Não era uma casa qualquer. Era uma prisão dourada.

Olhei para o espelho do armário. Me vi pela primeira vez.

Rímel escorrido. Olheiras fundas. Os cabelos bagunçados. Os olhos — os olhos do meu pai, como Dante disse — estavam vermelhos, fundos, apagados. Eu me vi e não me reconheci.

O que ele queria fazer comigo?

Minha mente se encheu de possibilidades. Nenhuma boa. Nenhuma racional. E então o pânico voltou, dessa vez em silêncio. Um pânico seco, interno, que me deixou imóvel. Só o som da minha respiração ofegante enchia o cômodo.

Até a porta se abrir novamente.

— Vai tomar banho — disse uma mulher, entrando. Loira. Jovem. Bonita. Rosto inexpressivo. Uniforme preto. Uma funcionária.

— Eu não vou a lugar nenhum — sibilei.

— Você vai. Se quiser comer hoje. Se quiser sobreviver aqui. — A voz dela era fria, mas com uma nota de… pena? Não. Não era pena. Era aviso.

Ela caminhou até mim e cortou as amarras com uma faca pequena, de lâmina curva. Meus pulsos estavam roxos. Mal consegui me manter de pé.

Ela me guiou por um corredor longo até um banheiro luxuoso. Tudo era claro, limpo, enorme. O contraste com meu estado era quase cômico.

— Dez minutos. — E saiu, trancando a porta atrás de si.

Eu olhei ao redor, ofegante. Água quente. Toalhas brancas. Um roupão.

Dez minutos.

Tirei a roupa com dificuldade. Cada movimento era doloroso. Entrei no chuveiro. A água escorria pelo corpo e, com ela, vieram os soluços. Chorei ali, debaixo da água, até sentir que não restava mais nada.

Até lembrar quem eu era.

Eu era Alina Ribeiro.

Eu não ia quebrar. Não assim. Não por ele.

Quando voltei para o quarto, encontrei uma bandeja de comida sobre a mesa. Arroz, legumes, filé grelhado. Nada que parecesse envenenado. Nada que parecesse… cruel. Era uma armadilha, eu sabia. Um gesto sutil de “domesticação”.

Comi mesmo assim. O corpo precisava.

Depois me deitei na cama — limpa agora, vestindo o roupão — e tentei dormir. Mas o sono não veio. Só o vazio.

Foi então que ouvi a porta abrir de novo.

Dante entrou.

Dessa vez sem o casaco. Apenas uma camisa branca, dobrada até os antebraços. As tatuagens negras serpenteavam pela pele bronzeada. Uma pulseira de couro no pulso. Um homem feito de sombras e domínio.

— Está melhor? — ele perguntou, como se fosse normal.

— Vai se foder — respondi, sentando na cama com dificuldade.

Ele riu. Um som baixo, quase divertido.

— Ainda cheia de fogo. Gosto disso.

—  Você podia ter escolhido qualquer outra forma de se vingar.

Ele se aproximou. Sentou na poltrona ao lado da lareira e cruzou as pernas, como se fosse uma conversa trivial.

— Porque você é a lembrança viva de tudo que perdi.

— Isso não justifica nada.

— Não precisa justificar. Só precisa acontecer.

Fechei os olhos. O cansaço me puxava, mas o medo me segurava.

— Você me odeia tanto assim?

Silêncio.

— Não — respondeu ele, por fim. — Eu odeio o que você representa. Mas você… você me intriga.

— Ótimo. Que emocionante ser “intrigante” pro homem que me sequestrou.

Ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.

— Você vai aprender que, neste mundo, intrigar alguém como eu pode ser perigoso. Mas também… pode ser útil.

— O que isso quer dizer?

— Que você ainda tem escolhas, Alina. Não liberdade, mas escolhas.

— Tipo o quê? Me ajoelhar e agradecer por estar viva?

Ele sorriu, lento, arrastado.

— Não. Ainda não.

O olhar dele queimava.

E naquele instante, enquanto ele me encarava, eu soube que a guerra entre nós estava só começando.

Eu podia entrar em pânico. Podia me esconder.

Ou podia fazer algo muito mais perigoso.

Observar. Esperar. Entender.

Porque se Dante Morelli achava que podia me moldar, dominar, transformar...

Ele não fazia ideia de quem ele havia sequestrado.

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