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CAPÍTULO 1 - A noite que tudo mudou

A chuva descia em fios finos e constantes, transformando as ruas em espelhos d’água. O som dos meus saltos ecoava na calçada molhada, ritmado e tenso, como se acompanhasse o bater acelerado do meu coração. O capuz do casaco mal protegia meu rosto do vento cortante, e eu apertava a bolsa contra o peito, buscando algum conforto no calor inútil do tecido fino. Atrasada. De novo. Claro.

— Droga de plantão extra… — resmunguei, apressando o passo.

Naquela sexta-feira à noite, tudo o que eu queria era chegar em casa, tomar um banho escaldante e esquecer que existia faculdade, trabalho e boletos.

Meu celular vibrou. Ignorei. Devia ser minha mãe me lembrando de trancar as portas, ou meu irmão querendo saber se eu chegaria tarde. Eu estava cansada demais para responder.

Foi quando ouvi os passos.

Lentos. Constantes. Precisos. Não apressados, não ruidosos. Mas suficientes para arrepiar cada pelo do meu corpo. Virei a cabeça rapidamente.

Um homem caminhava alguns metros atrás. Terno escuro. Rosto escondido sob a aba de um chapéu preto. Não era comum ver alguém assim por aqui. Não nesse bairro, não nesse horário.

Tentei ignorar. Coincidência, pensei. Mas meu corpo não acreditou.

Acelerei. Ele também.

Meu coração começou a martelar com força. Apertei ainda mais a bolsa contra o corpo e atravessei a rua sem olhar. A calçada do outro lado era irregular, cheia de buracos. Um dos meus saltos ficou preso.

Tropecei. Caí de joelhos.

— Merda… — sussurrei, tentando me levantar.

— Alina Ribeiro? — a voz surgiu como um trovão abafado bem atrás de mim.

Me virei, o susto me cortando o ar. Não tive tempo de ver seu rosto. Algo frio e úmido cobriu minha boca e nariz.

Clorofórmio.

Lutei. Me debati. Mas o mundo escureceu antes que eu pudesse gritar.

Acordei com a cabeça latejando, como se alguém tivesse batido nela com um pedaço de ferro. A boca seca. A garganta arranhando. As mãos presas atrás das costas. Uma venda pressionando meus olhos. Não conseguia ver. Não conseguia me mexer direito.

Meu coração disparou.

— Ela acordou — ouvi uma voz masculina, nervosa, próxima.

— Saia. — Outra voz respondeu. Grave. Fria. Autoritária.

Passos. Portas. Silêncio.

Meu peito arfava, a respiração saía entrecortada. Um pânico primitivo começou a me consumir. Tentei gritar, mas percebi a fita sobre minha boca. Fita grossa, firme. Meus olhos lacrimejaram sob a venda.

Dedos tocaram minha testa. Gelados. Cuidadosos. A venda foi retirada.

A luz do ambiente me cegou por alguns segundos. Pisquei até conseguir focar na figura diante de mim.

Alto. Imponente. Ombros largos sob um casaco escuro de lã. Barba cerrada. Olhos de um preto tão profundo que pareciam sugar tudo ao redor.

— Tire a fita. — Sua voz era um comando.

Alguém obedeceu. A fita foi arrancada da minha boca de forma abrupta. Gemi com a dor.

— O que… o que você quer?

Ele não respondeu de imediato. Apenas me olhava como se eu fosse um quebra-cabeça que ele já conhecia, mas queria montar mesmo assim.

Então se agachou na minha frente.

— Você é a irmã do Adam, estou certo?

Travei.

— Sim... Eu sou...?

Ele inclinou a cabeça, os olhos analisando cada detalhe da minha reação.

— É. Eu sei disso — Se levantou, caminhando em direção à lareira que aquecia o cômodo imenso.

Senti o estômago revirar.

— Não faço ideia do que está acontecendo — Engoli em seco.

— Só precisa saber que está aqui por causa do seu irmão. — Seus olhos cravaram nos meus.

— Isso é doentio! — cuspi, tentando me levantar, mas caí de lado. O chão estava frio. O orgulho, ainda mais.

Ele não reagiu. Apenas me observava, como se esperasse algo.

— Você foi escolhida — disse ele, por fim.

— Escolhida pra quê? Pra morrer? — cuspi as palavras.

— Para servir de exemplo que tudo tem consequência.

— Eu sou apenas uma estudante! — gritei. — Eu não tenho nada a oferecer! Nada que valha o risco de um sequestro!

Ele se aproximou. Cada passo dele parecia pesar toneladas no assoalho. Parou à minha frente. Tão perto que eu podia sentir seu cheiro: sândalo, fumaça e algo escuro, como madeira queimada.

— Você tem algo, sim — ele murmurou, a voz rouca. — E isto de alguma forma pode ser útil, assim foi o que seu irmão Adam disse.

O gelo percorreu minha espinha. Meu coração batia tão alto que eu podia ouvi-lo. E mesmo assim, algo dentro de mim, algo quebrado, curioso e confuso… queimou.

— O que meu irmão tem haver com isso? — minha voz saiu baixa, quase rouca.

Ele sorriu. Um canto da boca apenas. Um sorriso cruel, calculado.

— Seu irmão te vendeu por algumas fichas de pôquer e uma dívida que não valia metade do que você vale — Seus olhos deslizaram até minha boca. — Agora talvez eu tenha outros planos pra você.

Senti meu corpo estremecer. De raiva. De medo. De… não. Não era desejo. Eu me recusei a chamar de desejo.

E mesmo assim, meu corpo respondeu. Meu pescoço arrepiou. Meu ventre contraiu.

— Você é um monstro — murmurei, com os dentes cerrados.

— Sou. — Ele se afastou, caminhando até uma mesa onde repousava uma taça de conhaque. — E monstros não soltam suas presas. Eles as estudam. Moldam. Dominam.

As palavras ficaram no ar como veneno.

Ali, sentada no chão de madeira de uma mansão no meio do nada, com os pulsos presos e os olhos dele sobre mim, eu entendi:

A impressão que tinha naquele momento era que a vida que eu conhecia… tinha acabado.

E o pior?

Uma parte sombria de mim queria ver até onde aquele abismo podia me levar.

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