Capítulo 2
Ela tinha voltado à vida! Florence havia ressuscitado!

Ignorando os olhares incrédulos ao seu redor, ela cravou as unhas em seu braço, apertando com força. A dor aguda percorreu-lhe o corpo, e seus olhos logo se encheram de lágrimas.

— Chorando por quê? — Uma voz grave e autoritária ecoou pelo salão. — Quem deveria pedir desculpas aqui é você, não a nossa família Avery!

Florence voltou a si e ergueu o olhar, encontrando os olhos frios e impacientes de Theo Avery, o patriarca da família.

Imediatamente, ela baixou a cabeça, assumindo a postura submissa de sempre. Mas, por dentro, seu corpo tremia, não de medo, mas de excitação.

Ao redor, ouviam-se risinhos abafados e cochichos venenosos.

— Jovem desse jeito e já com coragem de drogar o próprio tio para seduzi-lo? Fez a maior confusão na cidade só para tentar obrigar o Lucian a assumir responsabilidade. E agora finge que nada aconteceu! Quem educou essa garota?

— Isso não é coisa de gente da nossa família. A família Avery nunca criaria alguém tão sem vergonha. Já viu os diários dela que vazaram na internet? Está tudo lá, as fantasias dela com o Lucian. Ridícula. E pensar que pagamos pelos estudos dessa garota para ela aprender a ser uma oportunista!

— Sempre avisei que não se deve trazer qualquer um para dentro de casa. Isso é colocar um lobo no meio das ovelhas. Aposto que ela aprendeu isso com alguém… Ou será que é coisa de sangue?

As palavras venenosas foram acompanhadas de olhares cortantes direcionados para o canto da sala, onde estava Lyra Valente, a mãe de Florence.

Lyra ficou pálida, abaixando o olhar. Mordia o lábio com tanta força que quase o rasgava. Mas ela não ousou dizer nada. Sabia que Florence era um alvo fácil por causa de sua origem.

Florence não era uma verdadeira Avery. Ela havia entrado para a família quando sua mãe se casou com Bryan Avery, o segundo filho da casa. Isso fazia de Lucian, o homem no centro de toda a confusão, seu tio por afinidade.

Mas Florence nunca o chamou de "tio". Ela sabia que não tinha esse direito.

Na vida passada, Florence havia sido esmagada por essas mesmas acusações. Envergonhada e acuada, não teve outra escolha senão pedir desculpas, mesmo sem ter culpa. Esse ato foi interpretado como uma confissão. Mais tarde, quando engravidou, forçou Lucian a casar-se com ela. Ele a odiava por isso. Todos a odiavam.

A imagem de Florence como uma mulher inescrupulosa, disposta a tudo para entrar para a elite, espalhou-se por toda a cidade.

Mas desta vez seria diferente. Nesta vida, Florence reescreveria seu destino.

Ela olhou ao redor, observando os rostos da família Avery sentados em suas posições de poder. Não havia mais qualquer traço da covardia que antes a definira.

Ela abriu a boca para falar, mas o som de passos firmes atrás dela fez com que todos os murmúrios cessassem.

Lucian Avery havia chegado.

Com exceção de Theo, todos os presentes endireitaram a postura instantaneamente.

O homem alto e imponente passou por Florence sem sequer lançar-lhe um olhar. O mordomo pegou seu casaco, inclinando-se ligeiramente.

— Sr. Lucian.

— Hmm. — Ele respondeu com um leve aceno de cabeça, dirigindo-se ao patriarca Theo.

Lucian sentou-se com calma, mas cada movimento seu parecia carregar uma autoridade implícita. Florence, por sua vez, não conseguiu desviar os olhos dele.

Lucian notou o olhar insistente e, finalmente, baixou os olhos, encontrando os dela.

A lembrança da vida passada atingiu Florence como uma onda. Seu corpo tremeu involuntariamente, as mãos cerrando-se ao ponto de as unhas cravarem na pele. Ela sentiu o gosto metálico do sangue na boca, mas tudo o que podia pensar era em Estela.

A imagem de Lucian estava gravada em sua mente, como um pesadelo que nunca se dissipava. O rosto de traços marcantes, os olhos negros profundos e insondáveis, e aquele anel de rubi no polegar esquerdo, cuja cor parecia sempre tingida de sangue. Ele era frio, perigoso, e mortalmente letal.

Lucian percebeu o olhar insistente de Florence e, por um breve momento, seus dedos pararam de girar o anel. Mas antes que qualquer coisa pudesse ser dita, uma mão delicada pousou em seu ombro.

Era Daphne.

Os olhos dela estavam vermelhos de tanto chorar, e a expressão delicada mostrava uma mistura de fragilidade e mágoa.

Finalmente, todos estavam presentes.

Theo, vendo que Lucian havia chegado, pegou sua xícara de café. Ele olhou para Florence, a frieza em seus olhos suficiente para fazer qualquer um estremecer.

— Chega de confusão! Vocês acham que nossa família já não foi humilhada o suficiente?

Ele virou-se diretamente para Florence.

— Florence, você e sua mãe estão na nossa casa há anos. Sempre fomos generosos com vocês. Se cometeu um erro, o mínimo que pode fazer é reconhecer.

Essas palavras! Na vida passada, elas haviam sido o gatilho. Theo usara a ameaça implícita para forçar Lyra e Florence a se curvarem.

Lyra, como esperado, perdeu a compostura. Sempre frágil e submissa, ela correu até Florence, puxando-a pelo braço.

— Flor, faz o que seu avô está pedindo! Pede desculpas, e tudo vai se resolver. Não deixa isso ficar pior!

Mas Lyra não sabia que Theo nunca teve intenção de resolver nada. Ele queria que Florence se tornasse o bode expiatório da família Avery, o alvo da fúria pública.

Desta vez, Florence não cedeu.

Ela endireitou-se, ergueu o queixo e olhou para cada rosto ao redor. Por fim, seus olhos encontraram os de Lucian.

Os olhos dele eram gélidos, como se já soubesse qual seria o destino dela.

Mas Florence sorriu. Desta vez, ele ficaria desapontado.

Sob o olhar atento de Lucian, Florence levantou-se, apoiando-se nos joelhos que ainda estavam dormentes.

— Por que eu deveria pedir desculpas?

— O que disse? — Theo levantou-se abruptamente, tão furioso que o café em sua mão derramou.

Florence repetiu, desta vez com mais firmeza:

— Por que eu deveria pedir desculpas? Primeiro, não fui eu quem colocou a droga. Segundo, a pessoa nas fotos está tão borrada que não dá para identificar. É porque os tabloides disseram que era eu? Algum de vocês viu? Ou será que… Meu tio acordou e me viu? Se estava consciente, como ele poderia ter feito algo comigo? Se estava inconsciente, quem pode provar que foi comigo?

O silêncio tomou conta da sala.

Se ela não admitisse, a culpa poderia recair sobre qualquer um.

E Lucian? Ele amava Daphne. Nunca assumiria que a mulher na foto era Florence.

Lucian estreitou os olhos, girando lentamente o anel em seu polegar. Ele não respondeu às palavras de Florence. Em vez disso, perguntou em um tom gelado:

— Como você me chamou?

— De tio. — Florence respondeu, o olhar indiferente.

A partir de hoje, ela não repetiria os erros da vida passada. Tudo terminaria aqui.

Lucian inclinou-se ligeiramente para frente, seus olhos sombrios avaliando-a.

— Muito bem.

Theo bateu a xícara com força na mesa.

— Então quem você acha que foi?

Florence relaxou os punhos e apontou para alguém.

— Ela.

Daphne congelou no lugar. As lágrimas que estavam prestes a cair ficaram presas no canto dos olhos.

Florence sorriu de forma irônica.

Nesta vida, ela ajudaria a unir Lucian e Daphne. Afinal, estava curiosa para ver como Lucian reagiria ao descobrir a verdadeira face de quem ele amava tanto.
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