Capítulo 5
O salão era amplo, mas o ar ao redor de Lucian parecia congelado, sufocando todos ali presentes. Ele permanecia em silêncio, mas ninguém tinha dúvidas: estava furioso.

Lucian tirou do bolso uma caixa de cigarros, acendeu um deles e soltou uma nuvem de fumaça que envolveu seu rosto. Ele olhava para Florence através da névoa, com um olhar indecifrável.

— Saia.

Logo em seguida, Theo, visivelmente irritado, fez um gesto de desdém com a mão.

Lyra se aproximou para ajudar Florence a se levantar, mas ela afastou a mão da mãe e ficou de pé, ereta, no meio do salão. Sua voz soou firme, carregada de determinação:

— Já que minha presença aqui é tão inconveniente, vou me mudar imediatamente. Obrigada, vovô Theo, por todos esses anos de cuidado.

Se era para sair, que fosse com dignidade. Sem hesitação. Nunca mais ela se curvaria como antes, apavorada e submissa.

Sem esperar qualquer resposta, Florence se virou e saiu.

Mas, enquanto ela se afastava, sentiu o peso de um olhar frio e perigoso cravado em suas costas.

Ao sair do salão, uma onda de náusea e tontura tomou conta de Florence, consequência das pílulas anticoncepcionais que havia ingerido. Ela mal conseguiu caminhar alguns passos antes de desmaiar.

Quando abriu os olhos, estava deitada em uma cama. Lyra estava sentada ao lado, os olhos levemente vermelhos de tanto chorar. Ao perceber que Florence havia despertado, a mãe deu-lhe um tapa no rosto. Não foi forte, mais parecia um carinho.

— Você quer me matar de susto? Esse tipo de remédio não é brincadeira! — Ralhou Lyra, com a voz trêmula.

— Mãe, não adianta. Se eu não tomar, nunca conseguirei sair de Águas Serenas. — Respondeu Florence, com a voz fraca.

— Você é mesmo azarada! Eu sempre te disse para se aproximar de jovens ricos. Se tivesse casado bem, estaria vivendo com estabilidade agora. — Lamentou Lyra.

— Igual a você? E isso lá é vida estável? — Rebateu Florence com sarcasmo.

Lyra abriu a boca para responder, mas acabou se calando.

Nesse momento, a porta do quarto se abriu e Bryan entrou com uma tigela de sopa de bacalhau.

— Florence acordou. Tome um pouco de sopa, vai ajudar o seu estômago.

Florence estava prestes a agradecer quando notou que a orelha de Bryan estava machucada, com cortes que pareciam ter sido feitos por algo afiado. Só podia ter sido Theo. Ele desprezava a família dela, considerando Bryan fraco e tolo por ter insistido em se casar com uma mulher que já tinha uma filha.

— Desculpe, tio, por causar tantos problemas. Vou sair daqui o mais rápido possível. — Disse Florence, com um ar de culpa.

— Não diga isso! — Lyra protestou, aborrecida.

Bryan suspirou e deu um tapinha no ombro de Florence.

— O médico disse que você ainda precisa tomar os remédios. Lyra, pode buscar um copo de água morna para ela?

Lyra assentiu e saiu do quarto.

Bryan sentou-se ao lado de Florence e soltou outro suspiro, ainda mais pesado.

— Você realmente precisa ir embora, Florence?

— Tio, se eu ficar, só vou causar mais problemas para você e para minha mãe. Já sou adulta, sei cuidar de mim mesma.

— A culpa é minha por não ter poder suficiente. — Murmurou Bryan. Ele tirou um cartão do bolso e o colocou debaixo do travesseiro de Florence. — Não recuse. Você é uma jovem vivendo sozinha, vai precisar disso em algum momento. A senha é sua data de nascimento. Tenha cuidado. Se precisar de algo, ligue para mim ou para sua mãe.

Florence sentiu um aperto no peito. Olhou para Bryan e disse, com sinceridade:

— Obrigada, tio.

Bryan a encarou por alguns segundos antes de murmurar algo inesperado:

— Hoje Lucian estava estranho. Muito estranho.

Florence franziu a testa, confusa.

— O que quer dizer?

— Quando sua mãe gritou que você tinha desmaiado, Lucian foi o primeiro a correr. Ele te pegou nos braços e saiu com você. Se Theo não tivesse mandado te trazer de volta, você ainda estaria na casa dele agora.

— O quê? — Florence ficou tão surpresa que apertou o cobertor entre os dedos.

— Não se preocupe. Lucian disse que só fez isso porque não queria que você morresse em Águas Serenas e causasse problemas para a família.

— Ah… — Florence forçou um sorriso amargo. Isso, sim, parecia algo típico de Lucian.

A cena da noite anterior parecia um sonho distante.

Depois de tomar os remédios e descansar um pouco, Florence se levantou e começou a arrumar suas coisas. Pegou uma mochila pequena e, antes que sua mãe pudesse vê-la, saiu discretamente do quarto. Sabia que Lyra faria um escândalo se a visse partir.

Ao cruzar os portões de Águas Serenas, os empregados abaixaram a cabeça, como se tivessem medo de qualquer contato com ela.

Florence caminhou até o alpendre da entrada. O céu já começava a escurecer. Finalmente, aquele dia estava chegando ao fim.

O outono em Cidade do Sol chegava cedo. O vento da noite era frio e cortante. Florence segurou a alça da mochila e apressou o passo.

Águas Serenas era um grande complexo residencial, localizado na melhor área de Cidade do Sol. Para manter a privacidade, a família Avery havia comprado toda a área ao redor e transformado o entorno em um parque particular. O local raramente era aberto ao público.

Sem metrô, sem ônibus e com táxis escassos, Florence sabia que precisaria caminhar pelo menos vinte minutos para chegar ao ponto mais próximo.

Enquanto andava sob a luz dos postes, ouviu o som de uma buzina atrás dela. Instintivamente, ela se afastou para a beira da calçada, mas o carro parou ao seu lado.

— Srta. Florence, por favor, entre no carro.

O vidro da janela desceu, revelando um rosto familiar. Era Cláudio Pires, o assistente pessoal de Lucian. Florence olhou de relance para o banco de trás. Lucian estava ali, com a mão adornada por um anel de rubi, batendo levemente no joelho, como se estivesse impaciente.

Florence hesitou. Não queria mais nenhum tipo de ligação com ele.

— Não precisa, tio. Boa viagem. — Disse ela, recusando educadamente. Apertou a mochila contra o corpo e continuou andando.

Mas Cláudio saiu rapidamente do carro e bloqueou o caminho dela. Mantendo o sorriso profissional, ele falou em tom calmo:

— Srta. Florence, entre no carro. É para o seu próprio bem. O Sr. Lucian disse que, se você sair assim, carregando uma mochila, e for vista por alguém, isso não será bom para nenhuma das partes. Se não quiser colaborar, terei que usar outros métodos para convencê-la.

Florence sentiu o corpo gelar. Olhou novamente para o carro. O vidro escuro do banco de trás não mostrava nada, mas ela sabia que Lucian estava de olho nela.

Lucian era conhecido em Cidade do Sol por sua crueldade. Florence já havia experimentado isso em sua vida anterior. Se ousasse desafiá-lo, o resultado seria imprevisível.

Engolindo em seco, Florence assentiu com a cabeça e caminhou em direção ao banco do passageiro. No entanto, Cláudio a empurrou gentilmente para o banco traseiro.

Assim que se acomodou, o cheiro de álcool no interior do carro invadiu suas narinas. Confusa, ela olhou para Lucian. Ele estava recostado no assento, o rosto parcialmente coberto pela sombra, com os olhos semicerrados. Sua postura era relaxada, mas sua presença emanava perigo.

Lucian levantou as pálpebras lentamente e perguntou, em tom indiferente:

— Por que saiu?

Sua voz não tinha emoção, mas pesava sobre Florence como uma rocha no peito.

Demorou alguns segundos para que ela percebesse o quanto aquele tom lhe era familiar. Era o mesmo tom que ele usava em sua vida passada, quando a punia: "Quer sair? Não será tão fácil."

Reprimindo a raiva, Florence ajeitou-se no banco. Antes que pudesse responder, seu celular começou a tocar. Era Lyra.

Florence hesitou. Não queria atender, temendo que sua mãe começasse a reclamar sobre "perder oportunidades". Mas o olhar de Lucian já estava sobre ela, com as sobrancelhas levemente franzidas. Sem escolha, atendeu.

— Florence! Você quer me matar de preocupação? Eu te tratei mal? Por que fugiu de casa? — Lyra reclamava, com a voz trêmula.

— Mãe, eu sei cuidar de mim.

— Só tome cuidado, então. — Suspirou Lyra, resignada. — Florence, e se eu pedir para Bryan arrumar um encontro para você? Ter um marido é melhor do que viver sozinha.

Florence olhou de relance para Lucian. Não conseguia decifrar sua expressão, mas seu próprio coração já estava acelerado. Tentando encerrar o assunto, respondeu rapidamente:

— Mãe, preciso desligar. Tchau.

— Não me venha com desculpas! É para o seu bem. Está decidido. Em alguns dias, você irá conhecer alguém… — Insistiu Lyra, antes de Florence desligar o telefone.

Na vida passada, Lyra também tentou organizar encontros para ela. Mas, depois que houve o escândalo com Lucian, tudo foi por água abaixo.

Pensando em Lucian, Florence ficou apreensiva. Será que ele tinha ouvido? Mesmo que tivesse, não importava. Ele não se importaria.

Mas o silêncio no carro ficou tão pesado que era quase palpável. O brilho dos postes de luz atravessava os galhos das árvores, lançando sombras pelo interior do veículo. A luz oscilante iluminava o rosto de Lucian por breves momentos, seus traços tensos e profundos aumentando a inquietação de Florence.

De repente, ele soltou uma risada curta e seca.

— Um encontro? Florence, alguma das suas palavras de ontem à noite foi verdadeira?
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