Capítulo 4
Sob o olhar gélido de Lucian, Florence apertou os lábios com força, tentando se manter calma.

Mas, ao lembrar-se dos oito anos de sofrimento em sua vida passada, seus dedos começaram a tremer involuntariamente, e ela virou o rosto com esforço, tentando esconder sua fragilidade.

Lucian desviou o olhar, a voz carregada de desdém:

— Está planejando engravidar às escondidas?

Florence franziu a testa profundamente, lançando um olhar rápido para Lyra. O remédio havia sido comprado por sua mãe. Será que ela ainda não desistira da ideia de casá-la com Lucian?

Mas Lyra, diante do olhar frio de Lucian, tremia como uma folha ao vento. Comparada a Theo, Lyra tinha ainda mais medo de Lucian. Ela jamais teria coragem de agir sob os olhos dele.

Então, o que estava acontecendo?

Florence ergueu os olhos, sentindo-se cercada por olhares de todos os lados. Entre eles, havia um especialmente afiado: Daphne. Seus lábios esboçavam um sorriso ambíguo, que imediatamente trouxe à tona memórias desagradáveis do passado.

E, como Florence temia, no instante seguinte, Daphne virou-se de costas para o grupo, segurou a mão dela e, com uma expressão fingidamente aflita, disse em tom preocupante:

— Flor, me desculpe, mas eu não posso ajudar você a enganar a todos. Então, resolvi contar a verdade. Só não imaginei que você usaria isso para acalmar os rumores e depois tentaria engravidar em segredo. Se eu não tivesse ouvido seu plano ao ir até você para oferecer consolo, você teria conseguido, não é? E se você realmente tivesse ficado grávida, o que seria de mim e Lucian?

Após dizer isso, as lágrimas de Daphne começaram a correr incontrolavelmente, enquanto sua voz tremia, carregada de uma aparente mágoa.

Todos ao redor ficaram indignados, rapidamente se posicionando ao lado de Daphne.

— O que ela quer ainda não está claro? É óbvio! Ela quer tomar o lugar de Daphne. Se ela engravidar, vai usar o filho como pretexto, e Lucian não terá escolha senão se casar com ela. Isso seria uma vergonha para a nossa família Avery! — Declarou alguém, com raiva evidente.

Outro espectador apertou os punhos, exclamando furioso:

— Nunca vi uma estratégia tão baixa em toda a minha vida! Ainda bem que Daphne pensou no bem de todos e não caiu na armadilha dela. Se não, um casal apaixonado teria sido separado por essa mulher desprezível!

— Lucian, Florence não pode continuar aqui. Quem sabe que confusão ela vai causar no futuro?

Cada palavra cortava o coração de Florence como uma lâmina afiada. Era como em sua vida passada: todos protegiam Daphne, enquanto ela era vista como alguém sem valor.

Florence levantou a cabeça e encontrou o olhar de Daphne. Atrás de seus olhos frágeis, havia um brilho de cálculo. Por um momento, Florence ficou surpresa e observou Daphne secar as lágrimas. Enquanto fazia isso, de costas para os outros, exibiu um sorriso provocador, quase zombeteiro.

Então era isso. Daphne havia trocado os remédios!

Logo em seguida, Daphne abriu os lábios, com a voz doce e cheia de súplica, como sempre:

— Por favor, perdoem Florence. Tenho certeza de que ela não fez isso de propósito. Vamos considerar que fui eu quem causou toda essa confusão. Se isso puder ajudar a família Avery a recuperar sua reputação, estou disposta a sacrificar até mesmo minha honra.

Se Florence não tivesse visto a expressão triunfante de Daphne, apenas ouvindo sua voz, poderia acreditar que ela era realmente tão altruísta.

Nesse momento, Florence percebeu que ainda subestimava Daphne. Mesmo tendo renascido, mudado o curso de alguns acontecimentos, ela não tinha superpoderes. E, com certeza, não podia alterar a inteligência de sua adversária.

Daphne admirava a tensão no rosto de Florence, encantada com o efeito de sua encenação. Mas ela não era burra. Jamais admitiria, naquele momento crítico, que era a mulher na foto.

Lucian era um homem frio e calculista, um empresário implacável. Ele e Theo provavelmente já haviam avaliado a situação. Como poderiam não saber quem era a mulher na foto? Se Daphne confessasse, Lucian a consideraria manipuladora, e Theo a desprezaria por sua falta de caráter.

Mas, ao fingir-se magnânima, Daphne não apenas ganhava a confiança de Lucian, como também conquistava a admiração de Theo. E, o mais importante, destruía a credibilidade de Florence.

Mesmo que Lucian tivesse dormido com ela, o que isso importava? Para Daphne, Florence não passava de uma mulher insignificante.

Florence estava nervosa, mas já não era mais a mesma de antes. Ao perceber os planos de Daphne, ela se acalmou. Sua mudança repentina de postura surpreendeu até Daphne, que ficou encarando-a, tentando encontrar alguma falha em sua expressão serena.

Sem se importar com Daphne, Florence caminhou diretamente para a cabeceira da sala. Seus olhos encontraram os de Lucian, que a fitava com frieza, um leve traço de desprezo em seu olhar. Ele girava o anel distraidamente, como se Florence não passasse de um brinquedo em suas mãos.

Era como em sua vida passada. Sempre que Lucian falava com ela, seu tom era frio, carregado de desdém, como se ela fosse uma mulher ardilosa. Qualquer explicação dela era considerada uma desculpa.

Florence então desistiu de se explicar. Com um sorriso amargo, ela disparou:

— Eu já disse, a mulher na foto não sou eu. E, já que nem Daphne reconhece, só resta perguntar diretamente ao tio.

Ela fez uma pausa e, com um olhar provocador, continuou:

— Mas é curioso, Daphne. Você e o tio Lucian são noivos. Algo entre vocês dois seria perfeitamente natural. O tio nem se deu ao trabalho de contestar. Por que você está tão ansiosa em se explicar? Parece até que você não o ama de verdade.

Ela também sabia jogar sujeira, algo que aprendera com Daphne em sua vida passada.

O rosto de Daphne ficou rígido. Ela se virou rapidamente, sem conseguir esconder o nervosismo, balançando a cabeça repetidamente.

— Não, eu amo Lucian! Só não quero enganar ninguém.

— Você não quer enganar ninguém, mas está me caluniando? Além disso… — Florence fixou os olhos em Lucian e enfatizou cada palavra. — Além disso, existe apenas um homem no mundo? Não poderia ser outro o pai do meu filho?

"Nesta vida, prefiro ter qualquer ligação com um estranho a me envolver novamente com Lucian!"

Ao ouvir isso, Lucian apertou os dedos com força, seu olhar gelado e profundo. Ele perguntou com a voz grave:

— O que você disse?

Florence repetiu em voz alta:

— Eu disse: não há apenas um homem no mundo! Qualquer filho que eu tiver nunca será seu. Disse algo errado?

Lucian estreitou os olhos, sua presença intimidante quase derrubando Florence. Mas ela desviou o olhar, encarando os outros presentes.

— Mais alguém tem algo a dizer? Se não, estou cansada. Vou descansar.

Ela virou-se para sair.

— Pare! — A voz de Lucian soou ainda mais fria, carregada de um peso assustador. — Quem é?

Todos ficaram surpresos. Ninguém esperava essa pergunta de Lucian.

Florence abaixou os olhos, escondendo suas emoções. Ele realmente não sabia? Claro que sabia. Mas ela entendia o que Lucian queria.

Pegando o celular, ela olhou a tela por um momento antes de encará-lo.

— Não se preocupe, tio. Tudo isso vai terminar em breve.

Lucian franziu levemente a testa. O homem que acreditava controlar tudo sentiu um traço de irritação.

Nesse momento, o mordomo entrou acompanhado de seguranças.

— Estamos procurando pela Srta. Florence.

Um dos seguranças, visivelmente desconfortável com o grupo, explicou:

— A Srta. Florence pediu um delivery. Como o condomínio não permite a entrada de estranhos, trouxemos até aqui.

Florence pegou a sacola opaca e agradeceu:

— Obrigada.

Sob os olhares atentos, ela caminhou até a mesa de centro e despejou o conteúdo da sacola. Era um pacote de anticoncepcionais.

Ela havia explicado tudo para Lyra, mas ainda sentia que algo estava errado, então fez um pedido secreto de pílulas anticoncepcionais para garantir que tudo estivesse seguro, e não esperava que realmente fossem necessárias.

Florence abriu a caixa e exibiu os comprimidos para todos, especialmente para Lucian, onde permaneceu por alguns segundos.

— Tio, agora está claro? Desta vez, é anticoncepcional. Não se preocupe, eu jamais ficaria grávida de um filho que não deveria existir. Não era isso que você queria?

Ela riu amargamente, tirando dez comprimidos da cartela e colocando um na boca.

— Um só é suficiente? Não? Então mais um! Dois! Três! Quatro…

Enquanto Florence se preparava para engolir o quinto comprimido, Bryan, geralmente obediente a Theo, correu e jogou os comprimidos no chão.

— Lucian, o que você está fazendo? Florence já disse que não é ela. Por que continuar a humilhá-la? Se isso vazar, como vai soar?

Lyra a abraçou, chorando:

— Chega! Chega! Ela nem casou ainda. Tomar tantos de uma vez pode matá-la.

Florence, mesmo suando frio de dor no estômago, forçou um sorriso. Abrindo a palma da mão, exibiu o último comprimido para Lucian.

— Tio, já está bom para você?
Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App