O estrondo da bolsa batendo no vidro foi alto, mas o vidro nem trincou.Florence apoiou-se na porta do carro, completamente perdida.Nesse instante, o vidro baixou devagar, revelando o olhar frio de um homem. Quase ao mesmo tempo, a porta se abriu, e ele envolveu a cintura de Florence com o braço longo, levantando-a do chão. Com um único chute, afastou o homem que ainda tentava se aproximar.Assim que viu Lucian, o agressor puxou o comparsa e os dois fugiram sem olhar para trás.Lucian lançou um olhar breve para Cláudio, que entendeu o recado e saiu silenciosamente.Com os dois longe dali, Florence mal teve tempo de respirar aliviada antes de ouvir a voz grave acima dela.— O que aconteceu aqui?Florence mordeu os lábios, quase contando tudo, mas engoliu as palavras. Ela tinha quase certeza de que Daphne tinha mandado aqueles homens. Provavelmente, Daphne percebeu que seu celular era novo demais e resolveu agir para tomar o antigo. Mas Lucian acreditaria nela? Ele era o tipo de homem q
— Quem disse isso? — Perguntou Lucian.— O que você acha? De qualquer forma, eu não quero! Nunca vou usar igual ao seu...Florence sentiu a gravata apertar ainda mais no pulso, fazendo-a cair para a frente.Lucian não perdeu tempo: calou a boca dela com um beijo intenso, decidido a silenciar qualquer resposta atravessada.Florence lutou com todas as forças, mas, mesmo na confusão, sentiu o frio metálico — o relógio já estava preso em seu pulso.Pouco depois, Lucian desamarrou a gravata, puxou-a para fora do carro e a fez ir junto.Florence tentou arrancar o relógio com a outra mão, mas Lucian apertou a gravata nas mãos e advertiu:— Se tirar, pode ficar aqui mesmo.Florence xingou mentalmente, sabia que ele era capaz de tudo. Sem escolha, soltou o relógio e o seguiu.Lucian a levou até um restaurante ali perto. Parecia que já estava tudo preparado, pois o gerente os recebeu imediatamente e os conduziu até a mesa reservada.O gerente ficou ao lado, quase sem respirar:— Sr. Lucian, vai
Depois do expediente, Daphne foi direto procurar um técnico de confiança para mexer no celular.O rapaz conectou o aparelho antigo de Florence ao computador, e enquanto a tela piscava sem parar, Daphne mal conseguia esconder o sorriso de satisfação.“Florence, não adianta se esconder. No fim, eu sempre descubro tudo. Quero ver como você vai bancar a esperta sem provas contra mim.”— Srta. Daphne, consegui acessar o celular.— Mostra aqui.Daphne pegou o aparelho, ansiosa, e começou a vasculhar. Mas, fora algumas conversas comuns, não encontrou nada que a comprometesse.Incomodada, ela abriu a galeria de fotos, revirou todos os álbuns e vídeos, mas não achou nada do que procurava.— Não pode ser! Se ela protege tanto esse celular antigo, alguma coisa esconde aí! Procura pra mim se tem pasta oculta, arquivo escondido, qualquer coisa!— Vou verificar.O técnico mexeu mais um pouco, e de fato achou algo.— Srta. Daphne, tem um álbum oculto aqui.— Então abre logo! — Daphne quase não contev
Ao ouvir aquilo, Florence interrompeu na hora.— Mãe, nem pense nisso. Você sabe muito bem como anda essa família Nunes. Se não confia no Lucian, pelo menos confia no Bryan, né?— É verdade... Mas olha, o pessoal dos Nunes conseguiu convencer muita gente a investir nesse projeto. Se não tivessem certeza, não iam se arriscar desse jeito. — Lyra respondeu, mas logo bocejou de novo.Florence pediu para ela não se preocupar tanto e insistiu para que a mãe fosse descansar logo.Depois que desligou, Florence ficou ainda mais inquieta....Apesar de se sentir desconfortável com o jeito que Marcos a olhava, Florence levou o trabalho a sério e desenhou uma peça exclusiva: um broche masculino.Ela buscou inspiração no aruanã-dourado, capturando o momento elegante em que o peixe se vira nas águas cristalinas do rio. As nadadeiras, alongadas e cheias de vida, pareciam trazer sorte e força para quem as usasse.A cabeça do peixe seria justamente a safira azul que Marcos forneceu. O restante da peça
Quando todos ouviram o barulho, não teve jeito: a atenção geral se voltou para Rosana, inclusive a de Florence, que lançou um olhar de soslaio.Pelo que lembrava, aquilo era mesmo o tipo de coisa que Rosana faria. Não importava a situação, Rosana sempre dava um jeito de se mostrar vulnerável, esperando conquistar a simpatia dos outros.Na época da escola, os colegas eram ingênuos e, sabendo das dificuldades financeiras de Rosana, acabavam sentindo pena dela.Mas ali, cada olhar era afiado — ninguém caía tão fácil no jogo dela.Valentina franziu a testa:— Deixa pra lá, Rosana. Pode sair.— Sim, diretora Valentina.Rosana saiu com os olhos marejados, quase mordendo os próprios lábios, encenando perfeitamente o papel de vítima indefesa.Marcos, tentando amenizar, segurou Rosana pelo braço e sorriu:— Não foi nada grave, não precisa ficar assim.Rosana ergueu os olhos, cheios de lágrimas:— Obrigada, Sr. Marcos.Ela saiu da sala, parando várias vezes para olhar para trás, como quem espera
De acordo com as regras, ninguém da família podia assistir à cremação no crematório. Florence Winters, no entanto, pagou o que foi necessário. Com passos lentos, ela empurrou a maca de ferro gelada para dentro da sala de cremação. O ar tinha um cheiro metálico de queimado, e no feixe de luz que atravessava a janela, partículas de cinza flutuavam no ar. Talvez fossem restos de ossos. Em breve, sua querida filha também se tornaria isso. Vestida com um longo vestido preto, Florence parecia ainda menor do que era. Nem mesmo o menor tamanho escondia sua silhueta magra e abatida. Seus olhos, inchados e vermelhos de tanto chorar, estavam agora estranhamente serenos. Ela passou a mão pelo lençol branco que cobria o corpo imóvel e pálido da filha e, cuidadosamente, colocou na palma da mão fria da menina duas estrelas de papel cor-de-rosa. — Estela, espera a mamãe. Quando o tempo acabou, um funcionário aproximou-se e puxou Florence gentilmente para o lado. Ele ergueu o lençol, re
Ela tinha voltado à vida! Florence havia ressuscitado!Ignorando os olhares incrédulos ao seu redor, ela cravou as unhas em seu braço, apertando com força. A dor aguda percorreu-lhe o corpo, e seus olhos logo se encheram de lágrimas.— Chorando por quê? — Uma voz grave e autoritária ecoou pelo salão. — Quem deveria pedir desculpas aqui é você, não a nossa família Avery!Florence voltou a si e ergueu o olhar, encontrando os olhos frios e impacientes de Theo Avery, o patriarca da família.Imediatamente, ela baixou a cabeça, assumindo a postura submissa de sempre. Mas, por dentro, seu corpo tremia, não de medo, mas de excitação.Ao redor, ouviam-se risinhos abafados e cochichos venenosos.— Jovem desse jeito e já com coragem de drogar o próprio tio para seduzi-lo? Fez a maior confusão na cidade só para tentar obrigar o Lucian a assumir responsabilidade. E agora finge que nada aconteceu! Quem educou essa garota?— Isso não é coisa de gente da nossa família. A família Avery nunca criaria al
Daphne Gonçalves era filha de uma família tradicional, mas em decadência.Três anos atrás, Lucian surpreendeu a todos ao anunciar publicamente seu relacionamento com ela. Mesmo sob forte oposição de Theo, ele organizou um luxuoso jantar de noivado.Daphne, de um dia para o outro, tornou-se a mulher mais invejada de Cidade do Sol. Todos a admiravam: uma mulher linda, bondosa e elegante.Mas Florence sabia a verdade. Daphne não era nada disso. Se não fosse designer, certamente seria uma atriz de primeira linha. Ela era a melhor quando o assunto era fingir.E Daphne, com toda a sua esperteza, sabia exatamente o que Florence queria dizer ao apontar o dedo para ela. O casamento com Lucian já havia sido adiado por três anos, e Daphne não podia mais esperar para oficializar a união.Como esperado, Daphne deu um passo à frente. Sem hesitar, ajoelhou-se na mesma posição em que Florence estava antes e curvou a cabeça em uma demonstração teatral de humildade.— Vovô, fui eu! — Disse Daphne, com a