Mas o problema mesmo foi que Florence viu uma silhueta familiar bem à sua frente.Daphne, mesmo estando bem agasalhada, tinha uma postura inconfundível. Aquela silhueta atravessava as memórias de Florence, do passado ao presente. Como ela poderia esquecer? Mas o que Daphne estaria fazendo no ginecologista? — Flor, o que foi? — Melissa, que estava à frente, chamou sua atenção. — Nada, tô indo. — Florence respondeu rapidamente e apressou o passo para alcançá-la. Quando olhou para trás novamente, Daphne já havia desaparecido. Melissa segurou seu braço e apontou para a escada logo adiante. — É só subir por aqui. Florence balançou a cabeça, distraída, e seguiu Melissa escadas acima. Enquanto caminhava, ela pensou se Daphne não estaria apenas cortando caminho pelo corredor do ginecologista para facilitar. No andar de cima, Florence ajudou Melissa a se acomodar para a consulta. O especialista daquela clínica era amigo de Melissa, e ela confiava muito nele. Mesmo com a demora, Me
— Ah? Eu... — Florence ficou atônita por um momento antes de perceber que o médico a havia confundido com outra pessoa. — Você está com um pequeno sangramento por causa da gravidez precoce. Precisa descansar mais, evitar esforço físico e prestar atenção na alimentação. — Disse o médico, com um tom direto. — Não, doutor, eu... — Florence tentou explicar. — Próximo! — O médico interrompeu, assinando rapidamente o prontuário e chamando a próxima paciente. Antes que Florence pudesse insistir, outra mulher já havia entrado na sala. Sem ver necessidade de continuar ali, Florence saiu apressada. Ao se virar, ela deu de cara com alguém e acabou esbarrando com força no corpo de outra pessoa. — Desculpa. — Ela murmurou, abaixando a cabeça. Quando tentou sair, sentiu o pulso ser agarrado com força. — Você mentiu pra mim? Está grávida. — Disse uma voz que costumava ser sempre calma, mas que agora transbordava raiva. Florence ergueu os olhos e, para sua surpresa, viu que era Lucia
— Eu... Florence está grávida? Meu Deus, eu não tô conseguindo respirar! Essa mulher me enganou direitinho! E eu ainda ajudei ela a conseguir aquele laudo psiquiátrico! — Fernando quase gritou, percebendo que Florence havia trocado a amostra do exame de gravidez. — Fala logo. — Disse Lucian, afastando o celular do ouvido, visivelmente impaciente. — Uma ameaça de aborto precisa de repouso absoluto, alimentação balanceada e nada de esforço físico. — Explicou Fernando, tentando manter a calma. — Entendi. — O que você vai fazer? Se na época daquele escândalo, Florence tivesse admitido aquela noite com você, você podia ter usado a pressão da mídia pra casar com ela. Theo não teria como te impedir. Mas ela se recusou, né? Fala a verdade, Lucian. Você tava tão empenhado em fazer Theo forçar ela a admitir porque tinha segundas intenções, né? — Fernando riu maliciosamente. Lucian abaixou o olhar, como se estivesse refletindo por um instante. — Vou desligar. — Você tá de sacanagem?
Florence olhou para a grande mesa redonda à sua frente e, inevitavelmente, lembrou-se da última vez que havia se sentado ali. Naquela ocasião, ela havia perdido o controle diante de Daphne e sua mãe, uma cena que ainda estava fresca em sua memória. No lugar de honra, Theo estava impecável em um terno escuro, com uma expressão que misturava seriedade e autoridade. Por questão de educação, Florence o cumprimentou com um tom respeitoso: — Sr. Theo. — Hm, sentem-se e comecem a comer. — Disse Theo, fazendo um gesto com a mão para liberar os pratos. Florence olhou para a mesa repleta de pratos sofisticados, a maioria composta por frutos do mar frescos e bem preparados. Ela engoliu em seco, mas se limitou a pegar um pedaço de carne bovina que estava diante dela. Florence sabia que, naquele momento, não representava apenas a si mesma, mas também sua mãe, Lyra. Ela pensava no quanto era importante manter a postura correta, já que Lyra ainda precisava continuar vivendo sob o teto da
Florence entrou no banheiro e vomitou tudo o que tinha no estômago. Depois disso, usou o enxaguante bucal com sabor de frutas três vezes, mas ainda sentia um gosto amargo persistente na boca. Quando saiu, uma figura bloqueou seu caminho. Sentindo-se exausta, ela suspirou: — Sai da frente. Lucian a encarou com seriedade: — Onde mais você está se sentindo mal? Florence quase riu ao ouvir a pergunta. — Você tá sendo tão cuidadoso comigo porque acha que eu estou grávida? Não se esqueça que, na época, você mesmo disse que, se eu engravidasse, era pra eu tirar. O rosto de Lucian escureceu de imediato. Florence, ao lembrar do olhar de advertência de Theo durante o jantar, não conseguiu evitar que pensamentos sobre sua vida passada voltassem à mente. Ela se recordou de como Theo havia tratado Estela. Por ser uma menina, e ainda mais uma criança nascida sem ser desejada, ele nunca reconheceu Estela como membro da família Avery. Mas, quando Daphne voltou carregando um menino, t
Ela sentia algo inexplicável. Uma sensação de que aquela criança deveria ser seu amuleto da sorte, alguém que traria tudo o que ela sempre quis. Mas, por algum motivo, tudo que parecia estar ao alcance de suas mãos parecia agora se afastar, cada vez mais distante. Com esse pensamento, Daphne decidiu ir até Águas Serenas, impecavelmente arrumada, pronta para apostar tudo. Se naquela noite conseguisse dormir com Lucian, poderia facilmente fazer com que a criança em seu ventre fosse considerada dele. No entanto, o que ela ouviu hoje abalou todas as suas expectativas. Sua mão, que repousava sobre o ventre, apertou-se com força até que a dor se espalhasse pelo corpo. Estava claro que não conseguiria segurar aquela criança. Lucian não a tocaria naquela noite, definitivamente. Mas, se ela não poderia ter seu filho, ao menos Florence e sua gravidez não ficariam impunes. Florence pagaria caro. Se aquele bebê não existisse, Lucian não teria escolha, não poderia desafiar Theo para se casar
Florence havia imaginado dezenas de possibilidades para o que Daphne poderia fazer. Ela até considerou a hipótese de Daphne tentar usar suas mãos para provocar um aborto, transformando-a na culpada perfeita. Mas nunca, nem em seus piores cenários, Florence imaginou que Daphne a empurraria para dentro do lago artificial de Águas Serenas, em pleno final de outono. A profundidade do lago e a água gelada fizeram com que Florence fosse imediatamente engolida pelo frio cortante. O choque tomou conta de seu corpo, e ela começou a lutar para voltar à superfície. — Socorro... — Tentou gritar, mas, assim que abriu a boca, a água invadiu sua garganta, cortando qualquer tentativa de pedir ajuda. Florence pensou que aquele seria o fim. O peso do casaco encharcado tornava impossível continuar lutando, e seu corpo começou a afundar. De repente, ela ouviu os gritos de Daphne: — Socorro! A Flor caiu no lago! Os gritos de Daphne atraíram rapidamente outras pessoas, mas Florence já não tinh
Depois que Lyra deu à luz Florence, seu corpo ficou debilitado e ela não podia mais ter filhos. Melissa teve apenas um filho, Ronaldo. Lyra não podia gerar mais herdeiros, e se Lucian se casasse com uma mulher incapaz de engravidar, como Theo poderia aceitar isso? Quando percebeu o olhar de Florence, Daphne instintivamente colocou a mão sobre o ventre, um gesto que deixou Florence intrigada. Na sua vida passada, Florence e Lucian haviam se casado primeiro, e Daphne, já grávida, fugiu com o segredo de sua gravidez. Mas agora, não havia qualquer obstáculo entre Daphne e Lucian. Se Daphne anunciasse sua gravidez, o casamento entre eles seria algo natural e inevitável. Então, por que Daphne não apenas rejeitava a ideia de ter essa criança, mas também evitava revelar sua condição? — Florence, eu sei que você está se sentindo péssima. Mas não se preocupe, o pior ainda está por vir. Lucian disse que, assim que o contrato de parceria for assinado, ele vai se casar comigo. Viu? Eu te