Ao entrar no quarto, Lucian se deitou de bruços na cama sem dizer uma única palavra. Fernando se aproximou e levantou o casaco que cobria as costas dele. Quando viu a extensão dos ferimentos, ele respirou fundo, surpreso. Embora o segurança tivesse aliviado na intensidade, as três primeiras chicotadas claramente haviam sido aplicadas com força. O chicote molhado, ao entrar em contato com a pele, parecia adicionar farpas invisíveis que rasgavam a carne de forma cruel. — O que deu no Theo dessa vez para te bater assim? — Fernando perguntou, franzindo a testa. — Da última vez foi por causa da Florence e agora... Ele parou no meio da frase, como se algo tivesse lhe ocorrido. — Foi ela de novo? Parece que ela veio ao mundo só para te castigar. Lucian lançou um olhar gélido para Fernando, que imediatamente percebeu que havia ultrapassado os limites. Até Bryan, que estava ao lado, tossiu duas vezes em desaprovação, indicando seu incômodo com o comentário sobre Florence. Constrangi
A chuva caía fina e constante enquanto Bryan atravessava apressado a porta da casa. Ele deu de cara com Florence, que estava parada ali, como se estivesse presa em seus próprios pensamentos. — Bryan. — Florence, você está aqui. Por que está parada na porta? Entre e se sente. — Bryan, há pouco eu e minha mãe vimos você indo para a capela da família. Aconteceu alguma coisa? — Florence perguntou com cautela, escolhendo bem as palavras. Bryan a observou por um instante, depois suspirou levemente. — Flor, se você quer mesmo saber, vá até o quarto do Lucian. Lá você terá sua resposta. Seu olhar carregava um significado oculto, quase como se quisesse alertá-la de algo. O coração de Florence começou a bater mais rápido. Ela sentiu as pernas ficarem fracas e precisou se apoiar no batente da porta. Seus dedos apertaram a madeira com tanta força que parecia que iam perfurá-la, mas ela não sentiu dor alguma. Depois de alguns segundos de silêncio, ela balançou a cabeça, como se estive
Ele ergueu a mão para levar o cigarro aos lábios, e a fumaça branca que escapava formava uma espécie de máscara, escondendo qualquer traço de sua expressão. No silêncio que se instalou entre eles, os olhares se cruzaram. Florence sentiu o peito vazio por um instante. Seus dedos se contraíram levemente enquanto ela forçava a si mesma a manter a calma. Lucian abaixou o olhar, apagando o cigarro no cinzeiro ao seu lado. — Deixe-a ir. Florence desviou o olhar para a água que escorria das folhas das plantas ao seu redor. Suas palavras saíram frias e cortantes: — Obrigada por tudo, tio. Mas, daqui em diante, não preciso mais da sua ajuda. A frase pairou no ar como uma lâmina fria. Lucian parou o movimento de apagar o cigarro por um breve momento, mas logo voltou sua atenção para o que fazia. Seus olhos escuros seguiram o vulto de Florence enquanto ela se afastava, até que o som do celular o trouxe de volta à realidade. — Ainda está vivo? — A voz de Lavínia soou do outro lado da
Florence xingava Lucian mentalmente, chamando-o de sem vergonha, mas ao ver o sangue em sua mão, ela ficou ligeiramente atordoada. No entanto, antes que pudesse reagir, em questão de segundos, o homem à sua frente usou o momento de distração para se inclinar contra ela, fazendo com que ela, por reflexo, o segurasse. O cheiro forte de álcool invadiu suas narinas. — Você está louco? Está machucado e ainda bebeu? — Um pouco. Não me senti bem e tomei algo. — Respondeu Lucian, com a voz baixa e rouca, enquanto apoiava o queixo na testa de Florence. Seu tom carregava um cansaço profundo. Florence sentiu o calor intenso vindo da testa dele. Por um instante, hesitou. Mas, antes que a compaixão pudesse prevalecer, sua racionalidade venceu. Ela colocou a mão contra o peito dele para afastá-lo. — Você está bêbado. Vou ligar para o Cláudio vir te buscar. — Ele foi embora. — Respondeu Lucian, sem alterar o tom. — Então vou ligar para a Daphne. Ela com certeza vai cuidar bem de você. —
Isso fez Lucian lembrar do beijo de antes, e seu olhar se tornou ainda mais profundo. Florence sentiu um arrepio na nuca sob seu olhar, e, instintivamente, levantou os olhos para ele.Lucian deixou que seu olhar vagasse pelo rosto de Florence, até parar em seus lábios avermelhados. Ele podia jurar que ainda sentia o calor daquele beijo de pouco antes, o que o fez engolir seco, de forma quase involuntária. — Essa sua boca só fica quieta em uma situação. A respiração dele era quente, e Florence entendeu imediatamente o que ele queria dizer. Não tinha como evitar os pensamentos que surgiram em sua mente, mas, de repente, algo clicou em sua cabeça. A indignação tomou o lugar do embaraço, e ela o encarou com raiva. — Você me enganou! Você nem está bêbado. Não tem cheiro de álcool nenhum na sua boca! Lucian arqueou levemente uma sobrancelha, com um sorriso de canto. — Finalmente percebeu. Mas… Tarde demais. Ele abaixou os olhos para os próprios pés, e Florence só então percebeu q
Sob a orientação de Lucian, Florence parecia completamente desnorteada. Ela engoliu em seco várias vezes, tentando disfarçar sua evidente tensão. Lucian curvou os lábios em um sorriso de canto, lançando-lhe um olhar de desdém: — Ainda precisa que eu ensine? Ao ouvir sua voz, Florence finalmente saiu de seu transe. Tentando parecer calma, ela respondeu: — Não, tio. Você é o paciente aqui, e eu devo respeitar os mais velhos. — Não pedi explicações. — Ele estreitou os olhos, sem esconder o tom de reprovação. Florence mordeu os lábios e, sem perder mais tempo, começou a desabotoar a camisa dele. Por baixo da peça formal e séria escondia-se um corpo que estava longe de ser casto. Os músculos eram firmes e bem definidos, o abdômen marcado, mas sem exageros. A cintura era estreita e as pernas longas. O cinto, justo na linha da cintura, deixava entrever o começo de uma linha V que não precisava de mais para provocar pensamentos proibidos. Florence respirou fundo e desviou o olha
Florence sentia a mente completamente confusa ao pensar na sua vida passada. Primeiro, havia a mudança de Ronaldo. Depois, o silêncio de Lucian sobre os castigos que sofria. O que era verdade? O que era mentira? Ela encarou as cicatrizes que cruzavam as costas de Lucian e, mordendo os lábios, decidiu perguntar com cuidado: — Tio... Theo te pune assim com frequência? — Não sou burro. — Respondeu Lucian, com indiferença. — Então, em que situações você acaba sendo chicoteado dessa forma? — Quando alguém não usa a cabeça. Lucian era inteligente demais, sempre soube como proteger a si mesmo. Então, por que ele se machucava tanto por causa dela? Enquanto Florence tentava entender, Lucian virou o rosto na direção dela. — Florence. — Hm? — Já terminou de me tocar? Ao ouvir isso, Florence despertou de seus pensamentos e percebeu que sua mão ainda estava acariciando as costas dele. Ela recuou rapidamente, sentindo o rosto queimar de vergonha, e abaixou a cabeça, procurand
De acordo com as regras, ninguém da família podia assistir à cremação no crematório. Florence Winters, no entanto, pagou o que foi necessário. Com passos lentos, ela empurrou a maca de ferro gelada para dentro da sala de cremação. O ar tinha um cheiro metálico de queimado, e no feixe de luz que atravessava a janela, partículas de cinza flutuavam no ar. Talvez fossem restos de ossos. Em breve, sua querida filha também se tornaria isso. Vestida com um longo vestido preto, Florence parecia ainda menor do que era. Nem mesmo o menor tamanho escondia sua silhueta magra e abatida. Seus olhos, inchados e vermelhos de tanto chorar, estavam agora estranhamente serenos. Ela passou a mão pelo lençol branco que cobria o corpo imóvel e pálido da filha e, cuidadosamente, colocou na palma da mão fria da menina duas estrelas de papel cor-de-rosa. — Estela, espera a mamãe. Quando o tempo acabou, um funcionário aproximou-se e puxou Florence gentilmente para o lado. Ele ergueu o lençol, re