BeatriceNão podia acreditar no que via, meus olhos jamais me enganariam. O homem sentado à mesa do restaurante, para o qual acabava de chegar com Timothy e Andrew, era sem dúvida Edward. A mulher ao seu lado era igualmente inconfundível, com sua postura aristocrática e seu nariz sempre empinado, típicos da mulher com quem Edward havia tido um relacionamento e que nunca conseguira superar o fim. O fato deles estarem jantando juntos, tanto tempo depois, dizia muito sobre isso.Aparentemente, Andrew não percebeu a presença de Edward, porém, Timothy parecia estar bastante atento.— Por que você ficou tão triste de repente, Beatrice?Olhei para o garoto ao meu lado, surpresa com a pergunta precisa sobre o que eu estava sentindo. Senti um pouco de culpa por deixar transparecer meus sentimentos em uma noite que deveria ser de comemoração.— Foi só um mal-estar passageiro — disse, mentindo descaradamente. A culpa aumentou um pouco. — Mas já estou me sentindo melhor, não se preocupe.Timothy
BeatriceDepois que voltamos do banheiro, fiquei atenta à mesa próxima, mas não os vi retornar ao salão, concluindo que eles devem ter pago a conta e saído após o encontro indesejado e totalmente desnecessário no corredor.No entanto, a cena não saía da minha cabeça, e eu continuava a relembrar a expressão com que Edward se aproximou de nós, deixando-me extremamente irritada, pois tinha certeza de que a mulher falsa e dissimulada seria capaz de inverter completamente a situação e fazer com que ele acreditasse que fui eu quem iniciou o confronto e isso é completamente ridículo.O restante do jantar transcorreu tranquilamente, afinal, o motivo do meu desconforto já havia partido. É algo difícil, mas acabo de perceber que Edward ainda tem o poder de me afetar, mesmo após tanto tempo separados. Andrew foi me deixar em casa, claro. Eu só não esperava encontrar um carro desconhecido estacionado em frente a residência. Senti uma leve apreensão, temendo que pudesse ser alguém com más intenç
BeatriceEncareu Edward, aguardando ansiosa por sua resposta. Estava genuinamente curiosa sobre o motivo que o trouxe até minha casa, considerando que ele não tinha obrigação alguma de prestar contas sobre as mulheres com quem saía, especialmente depois de um ano sem contato.— Você está certa, Beatrice — Edward concordou, parecendo visivelmente desconfortável — Não deveria ter vindo aqui hoje. Perdoe-me.Ele se levantou e se aproximou de mim, que havia escolhido uma posição estratégica o mais distante possível do lugar no sofá onde ele estava sentado.— Estou de partida — anunciou Edward — Mas antes, e por mais que você diga que não é necessário, volto a repetir que Louise e eu não temos qualquer envolvimento.Não consegui conter o riso cínico e desdenhoso que escapou dos meus lábios, considerando sua insistência no assunto, mesmo após reconhecer a veridade das minhas palavras.— Tudo bem, Edward — respondi, mantendo o sorriso irônico no rosto — Vou registrar essa informação. Fará al
BetriceDesde aquele encontro inesperado com Edward, minha mente havia se tornado uma bagunça de emoções conflitantes. Não consegui evitar confrontar a verdade, mesmo que isso fosse doloroso. Andrew e eu estávamos juntos há meses, mas, percebia que algo não estava certo.Eu precisava falar a verdade para Andrew e foi isso que pretendi fazer quando nos encontramos na minha casa na noite seguinte. Ele me olhou com preocupação, e a preocupação era justificada. Eu não sabia como abordar o assunto, mas sabia que precisava fazê-lo.— Andrew, precisamos conversar — comecei, escolhendo minhas palavras com cuidado. — Eu tenho pensado muito sobre nós e a nossa relação.Ele franziu a testa, claramente preocupado. A proximidade que construímos nos últimos meses não poderia ser ignorada. Andrew era um homem gentil, carinhoso, e me tratava com um respeito que eu nunca havia experimentado antes.— O que está acontecendo, Beatrice? — ele perguntou com a voz suave.Respirei fundo, tentando encontrar a
BeatriceA situação me pegou completamente de surpresa e acabei concordando com a sugestão, pois não queria decepcionar Timothy em um dia tão importante para ele. E nós fomos à escola de Timothy, onde ficamos um tempo extra para facilitar seu primeiro dia em uma escola inglesa, uma vez que ele era ucraniano e essa transição poderia ser desafiadora.Enquanto estávamos voltando para minha casa - Edward fez questão de me levar de volta - aproveitei para questionar Edward sobre o assunto que ele tinha evitado antes de irmos deixar Timothy na escola. Dessa vez, ele respondeu prontamente.— Eu não sabia que Abigail pretendia levar Timothy até nossa casa da primeira vez que ela o fez — ele começou a explicar. — Estava retornando de uma viagem à Escócia e não havia ido à empresa. Depois disso, decidi passar um tempo com Timothy.— Por quê? — perguntei.— Por quê? — ele repetiu minha pergunta, parecendo refletir sobre a resposta. — Porque eu gostei muito do garoto. Ele é incrível. Apesar de su
BeatriceQuando finalmente chegamos em frente à minha casa, o clima no carro já estava bem mais leve. Agradeço a Andrew pela carona e me preparo para sair rapidamente, ciente de que Edward está esperando, junto com Timothy. No entanto, Andrew segura minha mão, impedindo-me de sair. — Eu mereço um beijo da minha namorada? — Andrew perguntou com um sorriso terno.Sinto-me obrigada a atender o pedido do meu namorado, afinal, gosto sinceramente dele. O beijo entre nós é terno e apaixonado, e por um momento, consigo esquecer todas as confusões que envolvem minha vida.Quando o beijo finalmente se encerra, sinto meu coração aquecido e retribuo o sorriso que ilumina o rosto de Andrew. — Devo me preocupar com o fato de que o seu ex-marido está esperando por você na sua casa? — Andrew questiona.Apesar do sorriso ainda presente em seu rosto, a sobrancelha arqueada demonstra que essa é uma pergunta importante.— Não há mais nada entre Edward e eu. Também não há chance alguma de reatarmos a re
EdwardSem que ninguém precisasse explicitar, percebi como Beatrice tentava manter uma certa distância entre Timothy e eu, algo que se tornava mais evidente a cada dia.Compreendia que reacender nosso casamento seria uma tarefa árdua, repleta de palavras não ditas e silêncios que falavam por si mesmos. Especialmente considerando meu erro ao tentar reconquistá-la meses após nossa separação.Restava-me aceitar o que fosse possível, mesmo que fosse pouco, às vezes quase nada da parte dela. Qualquer coisa era melhor do que nada.Quando Beatrice passou a vir para casa todos os dias com Smith, algo que se tornou rotina desde o dia em que se atrasou, algo que não acontecia antes, estava claro que havia acontecido uma importante mudança na relação dos dois. Apesar de discordar de sua prática de deixar uma cópia da chave sempre no mesmo lugar, um local de fácil acesso, não protestei com a sua sugestão de aguardar dentro de casa com o Timothy. Era preferível ter Timothy em casa do que na rua,
BeatriceEu vivia um relacionamento aparentemente normal com um homem que deixava claro seu amor por mim. No entanto, a sensação de felicidade e realização me escapava. As razões para esse vazio me eram desconhecidas, e eu fazia o possível para evitar confrontá-las, adiando essa reflexão indefinidamente.Nem mesmo naquele momento, quando estava encerrando minhas atividades no escritório do jornal e me preparando para voltar para casa com o meu parceiro perfeito, era adequado abordar esses pensamentos. Tudo parecia perfeito, mas algo estava fora de sintonia.Uma batida discreta na porta indicou que Andrew estava à espera, pronto para irmos para casa juntos, como fazíamos sempre. — Oi, querida — Ele me cumprimentou, beijando os meus lábios rapidamente — Podemos ir?— Claro — concordei sem demora.Nós descemos pelo elevador até o subsolo e quando já estávamos dentro do carro, era chegada a hora de abordar um tópico delicado que sempre pairava entre nós, mas que, desta vez, se tornara in