BeatriceEu vivia um relacionamento aparentemente normal com um homem que deixava claro seu amor por mim. No entanto, a sensação de felicidade e realização me escapava. As razões para esse vazio me eram desconhecidas, e eu fazia o possível para evitar confrontá-las, adiando essa reflexão indefinidamente.Nem mesmo naquele momento, quando estava encerrando minhas atividades no escritório do jornal e me preparando para voltar para casa com o meu parceiro perfeito, era adequado abordar esses pensamentos. Tudo parecia perfeito, mas algo estava fora de sintonia.Uma batida discreta na porta indicou que Andrew estava à espera, pronto para irmos para casa juntos, como fazíamos sempre. — Oi, querida — Ele me cumprimentou, beijando os meus lábios rapidamente — Podemos ir?— Claro — concordei sem demora.Nós descemos pelo elevador até o subsolo e quando já estávamos dentro do carro, era chegada a hora de abordar um tópico delicado que sempre pairava entre nós, mas que, desta vez, se tornara in
BeatriceO jantar com os pais de Andrew transcorreu de forma tranquila, apesar de sempre me sentir um pouco desconfortável com a rigidez dos Smith. No entanto, não seria justo dizer que eles eram desagradáveis ou algo do tipo. Talvez meu desconforto se devesse ao fato de Joel Smith ser o dono do jornal e, consequentemente, meu chefe. De qualquer forma, ainda não havia nada que eu pudesse apontar com certeza.Quando estávamos prestes a ir embora, já que já passavam das vinte horas, um tópico de conversa chamou imediatamente minha atenção. Estávamos discutindo o almoço em comemoração ao aniversário de Andrew, marcado para o próximo fim de semana.— Espero que Justin não traga seu sobrinho desta vez — disse a senhora Thomas, me surpreendendo — Detesto quando trazem crianças para a minha casa.Justin era um grande amigo de Andrew, estudaram juntos e eu fiquei profundamente surpresa com essa afirmação, e, de maneira espontânea e incontrolável, olhei para ele. Não sabia ao certo se procurav
BeatriceAcordei mais tarde do que o normal, depois de um sonho em que nós três estávamos jogando tênis, parecendo uma família perfeita e feliz. Isso me deixou irritada. Não queria voltar ao passado, pois já estive lá e não foi agradável. Mesmo assim, tentei mais uma vez, insisti, e posso dizer que a tentativa foi quase tão terrível quanto a anterior.O toque insistente da campainha aumentou ainda mais o meu mau humor. Coloquei um penhoar sobre a minha camisola de seda preta e fui atender a porta, sentindo-me contrariada.Foi apenas quando cheguei ao hall que me ocorreu que a pessoa poderia ser Edward, vindo deixar Timothy. Um frio familiar na barriga e um aumento na batida do meu coração me fizeram parar um momento e respirar fundo. Eu precisava me acalmar e não deixar que meu ex-marido percebesse que, mesmo contra a minha própria sensatez e racionalidade, ele ainda conseguia me abalar.No entanto, minha preocupação foi infundada, pois quando olhei pelo visor da porta, vi um jovem en
EdwardTimothy estava visivelmente emocionado com o buquê de rosas, e não demorou para que ele começasse a chorar intensamente. Percebi a angústia no rosto de Beatrice e busquei uma explicação para o sofrimento do garoto naquele momento.Beatrice o abraçou e acariciou suas costas e cabelos, tentando consolá-lo da melhor maneira possível. Enquanto observava aquela cena, senti-me confuso e deslocado, como se fosse um intruso em meio àquela expressão intensa de emoção entre os dois.Contudo, tudo mudou quando Timothy abriu os olhos e me encarou com aquele olhar ainda marejado, enquanto enxugava as lágrimas com as costas da mão e sorria para mim, mesmo que estivesse claramente sofrendo. Fiquei completamente desconcertado com aquela expressão e não conseguia entender o que estava acontecendo.— A mamãe vendia rosas vermelhas para nos sustentar, Edward — ele explicou com simplicidade — Eu gosto muito de rosas vermelhas, e a Beatrice também. Ela costumava comprar as rosas da mamãe.Enquanto
BeatriceDesde o nosso longo e ardente beijo na cozinha, eu estava deliberadamente evitando Edward. Além de sentir culpa por ter traído o homem com quem estava em um relacionamento, eu havia me arriscado ao extremo, desviando-me por um caminho perigoso. Estava sendo covarde ao fugir, mas achei que era o melhor para todos nós. Já sabia onde aquilo nos levaria, e não estava disposta a passar novamente pelo sofrimento que isso causaria.A palavra que resumia meu sentimento era tentação. Edward sempre foi e ainda era meu ponto fraco. Não me permitiria ser arrastada pelas emoções a ponto de sofrer novamente por ele. Então, quando Timothy voltou à cozinha, suspirei aliviada e os deixei comendo seus sanduíches, enquanto eu retornava ao meu quarto. Antes de qualquer coisa, retirei todos os buquês de flores da sala, deixando apenas o de rosas vermelhas, aquele que tinha emocionado tanto Timothy. Pensei que ele poderia querer guardar essa lembrança da mãe. As outras flores eram um excesso estra
BeatriceDe certa forma, Andrew e eu acabamos encontrando um equilíbrio, embora tenha sido um caminho um tanto sinuoso para chegarmos lá. Ele evitava tocar no assunto delicado de seus pais, e eu decidi aceitar sua abordagem.Depois de muita reflexão, percebi que não poderia manter minha raiva de Andrew eternamente por algo que ele não fez. Ele insistiu em sua discordância com as visões de seus pais, e isso me deu algum conforto. Resolvi, então, dar uma nova chance ao nosso relacionamento. No entanto, se antes já estava cautelosa devido às minhas experiências passadas, agora estava ainda mais hesitante.Alguns dias depois, chegou o dia do casamento de Sebastian e Elizabeth, e fomos juntos para Kent, mais precisamente para Higham, onde a propriedade rural da família Maddock estava localizada. Era lá que todos se reuniriam para as festividades.A viagem para Higham foi rápida, e em menos de uma hora estacionamos na vasta e bem-cuidada propriedade dos pais de Elizabeth, que já estava repl
BeatriceAlgum tempo depois, quando retornamos ao jardim, diversas pessoas estavam aproveitando o clima ameno de verão do lado de fora da propriedade. Conversavam animadamente e observavam as crianças correndo e brincando.Mantive conversas com algumas pessoas que eu conhecia, a maioria delas parentes de Edward com quem cresci durante minha infância e adolescência. Também encontrei algumas antigas amigas, que o tempo e a distância tinham afastado.Logo, Sebastian se aproximou de onde eu estava, exibindo um largo sorriso ao me ver conversando com Maggie, a mãe de Abigail e Edward, enquanto Timothy brincava no jardim com outras crianças.— Olá, belas garotas! — ele nos cumprimentou com entusiasmo. — Como estão?— Sebastian! — respondi com animação. — Estou tão feliz que vai se casar!Após alguns abraços calorosos e cumprimentos animados, continuamos nossa conversa. Maggie, então, pediu licença para atender outros convidados, o que era compreensível.— Respondendo a pergunta que está est
EdwardSegurei com mais firmeza as rédeas do cavalo e trotei tranquilamente em direção ao campo gramado onde todos pareciam me aguardar para dar início a partida de polo amistoso.De longe pude observar o olhar duro no rosto de Beatrice e me questionei o motivo pelo qual ela me encarava com tanta animosidade, quando apenas alguns dias atrás nós estávamos nos entregando a um beijo tórrido e apaixonado na cozinha de sua casa.Estimulei meu cavalo a galopar pelo terreno verdejante e logo me juntei aos outros no campo gramado, finalmente me reunindo aos convidados do casamento de minha prima.Beatrice lançou um olhar questionador em minha direção e logo compreendi a razão de sua expressão interrogativa.— Olá a todos! — cumprimentei as pessoas ao nosso redor com um sorriso tranquilo.Recebi diversos cumprimentos, principalmente das pessoas com as quais ainda não havia interagido desde que cheguei à propriedade de meus tios em Higham. A exceção era Beatrice, que fingia se concentrar em sua