Os dias no hospital pareceram uma eternidade. A dor física já começava a se diluir, mas a dor interna, o vazio, a sensação de que tudo estava fora do lugar... essa doía com cada batida do meu coração.Quando Isabelle apareceu para me buscar, com um sorriso frágil e o olhar cheio de cuidado, senti uma ponta de alívio. Mas logo veio a inquietação. Eu precisava de atualização. Precisava saber como estavam as coisas — na empresa, com Thomas, comigo mesma.Ela assinou a papelada com uma pressa gentil e evitou falar demais.No carro ela insistiu que eu não me preocupasse com nada. — Você vai descansar hoje. Só hoje. Me promete isso?— Isabelle, eu preciso ir até a empresa. Não sei como está a situação, ninguém me ligou, não recebi nem uma mensagem de Thomas... — Eu tentei argumentar.Ela apertou o volante e desviou os olhos por um segundo. — Você quase morreu, Savannah. Um dia. Só um dia de paz. A empresa vai continuar lá amanhã.Algo na voz dela me fez parar. Tinha algo estranho... ela
Ela estava ali. Depois de tanto tempo. Depois do silêncio. Depois do sumiço covarde que eu precisei.Mas enquanto ela me encontrou naquela livraria em Paris, eu percebi uma coisa: Eu não a merecia.Não depois do que eu fiz.Não depois do que eu causei à melhor amiga dela.Não depois de tê-la deixado no hospital, implorando para eu não destruir o pouco que restava entre nós.O problema de amar Savannah não era a intensidade. Era o peso.Ela era um vendaval disfarçado de calma. E eu… um homem que nunca soube o que fazer com algo tão real.— Eu devia ter voltado antes — murmurei.— Mas não voltou. — A voz dela era baixa, firme, doída. — E nem atendeu nenhuma das minhas ligações.— Eu estava destruído, Savannah. Eu estava com medo de voltar e ver que você... que você tinha seguido em frente.Ela se afastou um pouco, com os olhos que beirava a tempestade que estava se agitando dentro de mim. — Eu estava em um hospital, Thomas. Isabelle estava mal. Eu mal conseguia respirar. E você sumiu.
Eu não sabia qual era o caminho certo. Só sabia que precisava andar. Cada passo até o prédio onde Savannah morava parecia pesar o triplo. A última vez que estive ali, bati à porta e quem abriu foi ela: Isabelle. Ela não gritou. Não bateu a porta na minha cara. Mas o silêncio dela gritou mais alto do que qualquer acusação.Agora eu estava ali de novo, e rezava em silêncio para que ela me deixasse falar. Bati na porta. Uma. Duas vezes. Ela abriu. Olhos fixos. Braços cruzados.— O que você quer, Thomas?— Falar com você. Ela hesitou, mas abriu espaço. Entrar ali foi como invadir um lugar que já não me pertencia — e talvez nunca tenha pertencido.— Não precisa fingir que está arrependido — ela disse, firme, mas com um tremor na voz. — Não estou com raiva por mim. Estou magoada por ela.— Eu sei.— Sabe? Sabe mesmo? Porque você não a viu chorando. Não ouviu ela implorar para te esquecer. Não viu ela sofrendo calada por sua causa… enquanto tentava cuidar de mim.Meu peito afundou. O tipo d
Chegar à Montserrat Enterprises numa manhã de céu claro e mente confusa já era por si só um desafio emocional. Eu mal havia conseguido dormir. Meus olhos ainda ardiam, mas o café ajudava a manter o corpo em pé — e o coração no modo silencioso.Mas nada — absolutamente nada — me prepararia para a criatura que me aguardava logo na entrada da empresa.Um homem alto, de sorriso lascivo e terno milimetricamente alinhado se aproximou como se estivéssemos em um filme antigo — daqueles ruins, com roteiro duvidoso e protagonista detestável.— Uau, você só pode estar brincando comigo — ele disse, me olhando da cabeça aos pés, com um sorriso que fez minha espinha encolher.— Desculpe? — franzi a testa, já me preparando para escapar dali.— É com você mesmo que estou falando. Essa empresa subitamente se tornou o paraíso corporativo. — Ele deu um passo mais perto. — Sou Damon. Damon Montserrat. Seu novo chefe, ao que parece.Meu sangue gelou.Damon Montserrat.O nome bateu como um tapa. Thomas men
O que eu mais queria era esquecê-la. Apagar Savannah Harper da minha cabeça, do meu corpo, da porra do meu peito.Mas aí eu entrei na empresa naquela manhã, depois de dias me escondendo da vida, achando que teria a paz da distância… e dei de cara com Damon sorrindo como o demônio bem-vestido que ele sempre foi — e do lado dele, ela. Savannah.Tão linda que doía. Tão fria que me congelou por dentro.E então aquele verme teve a audácia de elogiá-la, como se ela fosse mais uma. Como se ele não soubesse que ela não é qualquer uma. Como se ele não soubesse que ela era minha.Minha respiração engasgou antes que minha voz saísse:— Damon... — falei firme, atravessando o espaço entre nós dois — se você tocar nela, ou olhar mais uma vez desse jeito, juro por Deus que não respondo por mim.Savannah tentou intervir, como se ainda tivesse forças pra ser diplomática, mas eu só queria pegar Damon pelo colarinho e jogá-lo pela janela. Era muito mais do que ciúmes. Era um aviso. Um instinto primitivo
Eu estava no 17º andar, na sala de reuniões vazia, revisando os contratos com a nova equipe — uma equipe que Damon fazia questão de espreitar como um abutre. Ele sorria demais. Me encarava demais. Me elogiava como se eu fosse um troféu de mármore.E Thomas? Nada. Silêncio absoluto. Ele havia feito aquela cena na reunião com Harry e desaparecido de novo. Nenhuma mensagem. Nenhuma tentativa. Talvez tenha sido um surto momentâneo de orgulho ferido. Talvez aquilo não tivesse passado de mais um espetáculo Montserrat. Eu deveria ter aprendido, não?— Savannah — a voz melosa de Damon cortou o ar. — Você tem um minuto?— Depende. Tem alguma proposta indecente pra me fazer hoje ou é só reunião mesmo?Ele sorriu como quem adorava ser odiado.— Reunião. Por enquanto.Tive que engolir a raiva. Sorri. Profissional. Gelada.Mas no momento em que ele se aproximou demais, invadando meu espaço pessoal — a porta da sala se abriu com força. Thomas.Camisa preta, mangas dobradas até os antebraços, cabelo
Aquela mulher vai acabar comigo, eu vou deixar. Porque, pela primeira vez na vida, alguém me fez querer ser um homem melhor — não por status, por legado, ou pelo maldito sobrenome. Mas por ela. Por Savannah.Quando ela entrou naquela sala de reunião, eu juro… eu esqueci como se respira. E quando ela saiu?Me deixou com um propósito: aparecer. Agir. Provar.A primeira coisa que fiz depois que ela virou as costas foi pegar meu celular e ligar pro Harry.— Coloca Damon pra fora. Hoje.— Não posso simplesmente...— Pode. Você colocou ele aqui por birra. Por joguinho. Por castigo. Acabou o tempo de castigos. Ou você tira ele, ou eu tiro você. Legalmente. Sei coisas que nem você lembra ter feito.Silêncio. Longo.— Você está assumindo as rédeas?— Estou assumindo a porra do trono, Harry.Desliguei.Hora de mostrar que eu sou um Montserrat, não mais aquele idiota que fugia quando sentia demais.No dia seguinte, fui o primeiro a chegar na empresa.Troquei a equipe de segurança, convoquei uma
Passei o dia inteiro pensando nela. No jantar. No que eu ia dizer. No que não ia dizer — porque com Savannah, uma palavra fora do lugar e tudo vira pó.Passei no mercado eu mesmo. Comprei vinho. Massas frescas. Flores. Fiz questão de tudo. Nada de assistente, nada de motorista, nada de mordomo. Hoje sou só eu. Homem. Vulnerável. Ridiculamente apaixonado.Quando ela chegou, na minha porta, usando um vestido vinho colado no corpo e aquele olhar entre o desdém e o perigo… Minha alma saiu do corpo por uns segundos.Ela me olhou dos pés à cabeça. E sorriu.— Espero que esse jantar valha a pena, Montserrat.— Se não valer, você pode me demitir da sua vida.Ela ergueu uma sobrancelha.— E o que te faz pensar que já não fiz isso?— O vestido. — respondi, com um sorriso lento. — Ele tá dizendo o contrário.Ela quase riu. Quase. Mas Savannah sempre prefere me deixar à beira.Levei ela pra dentro. A mesa estava posta. Luz baixa. Vinho tinto respirando. Música francesa tocando baixinho ao fundo.