Fui abrindo os olhos lentamente para a manhã de Janeiro, cuja luz forte iluminava o quarto, deixando-o quente. Estava enrolada em seu lençol listrado, completamente sozinha na cama e no cômodo. Cocei os olhos enquanto bocejava, depois arrastei meu corpo até estar sentada.
Com o ato, senti minha intimidade pulsar e arder de leve pela noite intensa que tivemos. Meus pensamentos matinais iniciaram, repassando os três dias que se passaram ao seu lado, trazendo-os de volta a mim como um banho de ventos frios em meu corpo nú, arrepiando-me, até terminarem com o facto de aquela ser a última manhã do seu lado.
— Jesus! — espalmei a testa quando minhas têmporas bombaram.
Com os dedos, penteei meu cabelo desorganizado para trás e me levantei, fazendo com que o lençol caísse e me deixasse coberta somente por uma calcinha lilás de renda. Por cima de sua mesinha de cabeceira estava largada a camisete que Lio tinha usado no dia anterior, a
Relatórios por ler, emails por abrir, papéis por organizar, uma reunião por participar e algumas cobranças por fazer a alguns colegas. Meu primeiro dia de trabalho se resumia a isso. Passei o meu espediente no meu escritório, de onde só saí para comer alguma coisa antes da reunião com meus superiores.Naquele momento, depois de organizar a minha mesa, era hora de sair. O relógio marcava 17 e quaisquer minutos, quando segurei meu laptop contra o peito, passei os olhos pelo lugar, me certificando que estava tudo nos conformes, saí e tranquei a porta.— Até amanhã, Marcelo. — disse quando passei pela mesa do meu secretário.— Até amanhã, chefe.Eu ainda me sentia desconfortável com sua forma de se dirigir a mim, tendo em conta que éramos quase da mesma idade, mas, mesmo que tenha pedido várias vezes, parecia estar tatuado em sua língua desde o dia em que foi contratado. Apenas assenti e caminhei pelos longos e la
— Lio, você parece meu pai, as vezes.— Me deixa! — respondi atrás das duas mulheres hipnotizadas pelos alimentos espalhados pelas prateleiras do corredor de doces — Estamos dentro desse supermercado há quase duas horas.— Não exagera. — Judite riu sobre o ombro, depois parou para ver o preço de um pacote de bombons variados.— Fazer compras sozinho é mais fácil. Nem com Cléo eu levava esse todo tempo. Vos unir não foi minha melhor ideia. — franzi o cenho, movendo meus óculos escuros com o ato.— Trás esse carrinho para aqui? — Cléo pediu, ignorando completamente minhas palavras.— Parece um menininho mimado que teve seu pedido rejeitado e faz birra para a mãe pelo resto do tempo. — minha namorada riu, antes de lançar dois pacotes para dentro do carrinho e me dar um beijo na bochecha.— Isso não vai melhorar nada! Estou cheio de fome, apressem-se!Era
Mais uma vez, de frente para o espelho, eu me encontrava apaixonada pelo meu reflexo. O vestido que escolhi parecia ter sido feito pensando em cada detalhe do meu corpo. Nunca tinha achado um vestido que ficasse tão bem em mim.— Mamaaã! — com as mãos plantadas na cintura, chamei por ela.— O que se passa?— Olha. Como estou? — abri os braços para que ela me analisasse melhor.— Muito bem.— É lindo, não é?— Muito, mas vocês sabem que ninguém para além da noiva deve usar branco, num casamento, certo?— Foi exactamente o que eu disse para Lola, mas eles quiseram assim. Então pensei em algum acessório para diferenciar os convidados dos noivos.— É uma ideia, mas há tempo para isso?
Eram 18 horas do dia 13, sexta-feira, quando os faróis de luzes brancas me cegavam os olhos. O motor de sua BT-50 roncava e vibrava há meio metro de mim. Cléo santou do banco de passageiro com sua pasta de costas em mãos, seguida de Lio, que estava vestido de forma descontraída. Seu cheiro veio até mim antes mesmo que ele começasse a andar e eu tive que que apertar meus pés sobre os chinelos para não correr e me jogar em seus braços.— Qual das duas vai dirigir na primeira hora? — sorriu para Yara, que balançou as chaves do meu carro antes de responder:— Eu.— Olá! — lançou um beijo para mim e se aproximou de minha irmã.— Tudo pronto?— Quase. Preciso da tua ajuda para me ajudar com alguma loiça, pode ser?— Claro.Corremos para minha cozinha, onde tinha pratos, talheres enroladas em um pano e quatro caixas de taças.— Levas os pratos? — perguntei enquanto empilhava as caixas para carregas, mas o seu silêncio
Fechei meu laptop e respirei fundo. Estava um calor infernal, dentro daquele quarto. A briza quente que vinha do mar não melhorava absolutamente nada, então fui até onde havia o remote do Ar-condicionado e liguei, devolvendo-o depois do mesmo começar a refrescar o lugar. Antes de me jogar de costas sobre a cama e cruzar os dedos por baixo da nuca, me livrei da minha camisete. Era meia noite, quando parei para pensar na nossa curta viagem. Não tinha sido tão agradável quanto pensei, depois da pequena conversa que tive com Judite bem no início dela. Assim que os 20 minutos de descanso dela passaram, acordou com um humor normal e estabeleciamos um diálogo com a mesma normalidade, porém, não estava mais tão empolgada. Me senti mal por tê-la deixado naquele estado, mesmo que não tivesse sido proposital. Uma má interpretação de suas palavras gerou aquele clima e eu não sabia muito bem como lidar.
Acordei com o som do autoclismo. Olhei para o lado e Judy não estava lá. Bocejando, cocei meus olhos enquanto seguia para a casa de banho. Assim que abri a porta, ela estava sentada no chão e com a cabeça entre seus joelhos altos.— Ei, tudo bem? — me agachei na sua frente, preocupado.Sua testa estava molhada e ela estava fraca. Pude ver pela forma como se esforçou para levantar sua cabeça e olhar para mim.— Tudo. Só vomitei um pouco. — limpou seus lábios e fechou os olhos, apoiando a cabeça na parede atrás de si.— Sente alguma dor?— Não. Nenhuma. — balançou a cabeça, me fazendo franzir o cenho.— Comeu alguma coisa que não te fez bem?— Acredito que não. Só comi aquelas maçãs e aquele iogurte de ontem. Nada mais. — passei a mão pela sua testa.— É a primeira vez que isso acontece?— Não. Aconteceu há uns dias, na casa da minha
De costas para a porta, me ajoelhei e depositei minha pequena mala sobre a cama, antes de respirar fundo, aprumar os lábios e engolir o gole adesivo e azedo de saliva. Minha respiração estava acelerada, meu coração apertado e meus dedos tensos por conta do que acabara de presenciar. Me senti tão envergonhada e inútil que minha vontade de participar da festa foi diminuindo a cada vez que a cena se repetia na minha mente.Não sabia se ficava trancada naquele quarto até tudo aquilo se esvoaçar ou se saía e desaparecia por um tempinho.Antes mesmo que pudesse me decidir, Lionel entrou por aquela porta que nem um furacão.— Judy!— Sim? — respondi com as mãos afundadas nas roupas contidas na mala.— Podemos conversar?— Claro. — ergui o vestido branco que achei e estendi sobre a cama.— Judy, me desculpa. Eu não queria ter agido daquela forma. Não tive tempo para pensar devidament
A noite caía lentamente sobre as nossas cabeças. Eu estava de frente para um lindo cenário, organizado por mim e outros amigos do casal.Havia um caminho estreito, limitado por lanternas modernas, decoradas por pequenos buquês de flores artificiais brancas, que ia até o altar improvisado. Uma parede de madeira protegia o cenário da violência do vento vindo da direcção do mar. Próximo a ela, havia uma mesa se vidro, ornamentada com pano, pétalas, pérolas e uma almofada no centro, tudo em branco. Poltronas quadradas estavam espalhadas pelo lugar para os convidados e por cima de cada uma, tinha pequenas faixas douradas, como se fossem feitas de ouro, para servirem de acessórios exclusivos para os convidados.Suspirei, satisfeita, antes de me aproximar da pequena mesa de bolo, para confirmar que tinha feito um bom trabalho. O cheiro de doce e menta eram aromas vivos para o lugar.— Judy! — me virei para ver Cléo se aproximar de m