Capítulo 3

No meio da conversa com Kristie, meu celular não parava de tocar. Era Maggie, para minha maior desgraça. Tive que falar o porquê de ter demorado tanto, se alguma das garotas me deu mole... enfim. Estresse na certa. Eram seis da noite quando acordei com os berros da minha mãe. Antes que ela me batesse, abri minha porta e a abracei – ela sempre desmontava quando eu fazia isso e acabamos rindo da situação. Ela sempre dizia que eu tinha que arranjar um emprego de verdade, mas minha única qualidade era com a música e mesmo Dona Claire desejando um futuro mais concreto para mim, ela sabia o que eu amava.

Tomei meu banho, comi qualquer coisa e fui dar uma checada nos meus e-mails, querendo saber se tinha sido chamado para fazer mais shows. Ainda só tinha dinheiro para algumas passagens de avião e talvez diárias em hotéis baratos. Eu era um músico falido – e me orgulhava disso.

Mal entrei em minha rede social e tive ótimas notícias na página. Ganhei três fãs e um outro Pub queria um pequeno show. No meio dessa turbulência de boas notícias, Kristine apareceu.

Kristine: Oi Thomas.

Thomas: Oi Linda! Tudo bem com você? – agora sim eu poderia falar com ela sem ninguém me pentelhando.

Kristine: Sim... está tudo bem.

Thomas: Aconteceu alguma coisa? – ela demorou a responder.

Kristine: Só estou pensando que você é meio bipolar. – bipolar? Logo eu? Realmente isso era comigo?

Thomas: Mas o que foi que eu fiz? – indaguei.

Kristine: Bom, da primeira e única vez que nos falamos, você foi completamente grosso comigo. Fiquei o dia todo com um humor péssimo.

Thomas: Ah, mil perdões, Kristie. Provavelmente estava cansado do show. Quer dizer, da minha tentativa de show. Desculpa mesmo, tá? – claro que eu não ia falar que a garota atual que eu estava, me pentelhava seriamente enquanto eu tentava digitar para ela.

Kristine: Show?

Thomas: Sim. Sou músico.

Kristine: Nossa, que legal! Eu lembro que você tinha começado a tocar violão.

Thomas: Isso mesmo. Além disso, aprendi a tocar piano e guitarra também. Faço alguns poucos e pequenos shows por aqui.

Kristine: Nossa, Thommy, isso é demais.

Thomas: Com certeza. Acabei de receber boas novas e ganhei mais três fãs. Querem outro show meu. É mais voz e violão, sabe?

Kristine: Sei, mas quero ver.

Thomas: Liga sua webcam e microfone que dou uma prévia.

Kristine: Espera dois segundos então. – os segundos dela se transformaram em sete minutos. Mulheres. – Pronto!

Thomas: Só esperar carregar...

Kristine: Olá! – sua voz e imagem surgiram.

Thomas: Olá. Você está gata. – e estava mesmo.

Kristine: Cala a boca! Não me vê há dez anos e já vem me cantar?

Thomas: Não estou te cantando, só to dizendo que você ficou muito bonita.

Kristine: Que eu fiquei “gata”, em outras palavras. Nossa, te ouvindo falar me deu uma saudade desse sotaque.

Thomas: Você tá muito americanizada para o meu gosto. – sorri.

Kristine: Vivo aqui a mais tempo do que vivi aí. – ela mexeu na bolsa e acendeu um cigarro.

Thomas: Também no vício? – mostrei minha caixa para ela. – Temos que parar com isso.

Kristine: Última tragada? – rimos.

Eu e Kristie começamos a nos falar quase todos os dias e por muitas horas. Ela me contou que seu pai seria promovido à vice presidência da empresa, que estava produzindo alguns curta metragens, era formada em fotografia, e que também estava recém separada de um longo namoro. Estávamos reconectando os laços que perdemos nesses anos e era muito bom para nós dois. Gostava de tê-la como amiga de novo e também adorava poder contar da minha vida para ela.

***

  • Quando você for lá em casa, vou te apresentar ao Thomas.

  • Tá gamada, Kris?

  • Claro que não! Ele era muito meu amigo quando eu morava em Londres.

  • Hum, sei... – beberiquei meu café.

  • Você poderia calar a boca agora, sabe? Thomas mora basicamente do outro lado do mundo e mesmo que eu esteja adorando retomar o contato com ele, não passa disso. O máximo que pode acontecer é de eu ir até lá tirar umas férias algum dia.

  • Danada! – ela riu. Senti uma mão em meu ombro e Hayley não fez uma cara muito boa.

  • Kris, posso falar contigo? – era Michael.

  • Vou te esperar no carro, ok Kris? – Hayley saiu e Michael se sentou à minha frente. O silêncio predominou por alguns minutos.

  • Bem, o que você quer, Michael?

  • Falar com você. Tem tempo que não nos trocamos uma palavra. – ele sorriu. Como ele tinha essa capacidade de ser tão falso?

  • E por que será, não é? – olhei friamente para ele.

  • Você tá bonita, sabia?

  • Não quero ouvir suas baboseiras, Michael. O que você quer?

  • Queria te chamar pra sair.

  • Ah sim, claro. Meu namorado vai adorar. Ele vai junto, ok? – gargalhei bem na cara dele.

  • Que namorado? Tem três meses que nos separamos.

  • E daí? Você nem esperou até nos separarmos.

  • Eu queria te explicar sobre isso...

- Mas eu não quero escutar. Licença, ok?

Maldito dia para Hayley ter deixado seu carro em casa. Não tinha a menor vontade de contar meu diálogo com Michael, muito menos falar sobre como eu me sentia. Queria mesmo ir até a praia e ficar quietinha, onde eu pudesse avaliar qualquer sentimento meu, sem escutar nenhuma opinião.

Não aguentava olhar para a cara dos meus amigos quando o assunto era “Michael”. Todos sabiam a enorme sacanagem que ele tinha feito comigo e todos me olhavam com cara de pena. Como se tomar um belo par de chifres fosse algo fora do comum em pleno século XXI. Depois de deixa-la em casa, não pensei nem meia vez e fui direto para a praia. No meio dos meus pensamentos em plena areia, meu celular tocou – e percebi que já eram dez horas da noite.

  • Alô. – tentei esconder minha voz de choro.

  • Kris? – era minha mãe. – Onde você está, filha?

  • Chegando em casa daqui a pouco.

  • É porque seu computador não para de fazer barulho. Acho que tem alguém tentando falar com você.

  • Ok, mãe. Estou indo. Beijos.

Entrei no carro de qualquer maneira e fui para casa. Precisava falar com ele. Precisava desabafar.

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