No meio da conversa com Kristie, meu celular não parava de tocar. Era Maggie, para minha maior desgraça. Tive que falar o porquê de ter demorado tanto, se alguma das garotas me deu mole... enfim. Estresse na certa. Eram seis da noite quando acordei com os berros da minha mãe. Antes que ela me batesse, abri minha porta e a abracei – ela sempre desmontava quando eu fazia isso e acabamos rindo da situação. Ela sempre dizia que eu tinha que arranjar um emprego de verdade, mas minha única qualidade era com a música e mesmo Dona Claire desejando um futuro mais concreto para mim, ela sabia o que eu amava.
Tomei meu banho, comi qualquer coisa e fui dar uma checada nos meus e-mails, querendo saber se tinha sido chamado para fazer mais shows. Ainda só tinha dinheiro para algumas passagens de avião e talvez diárias em hotéis baratos. Eu era um músico falido – e me orgulhava disso.
Mal entrei em minha rede social e tive ótimas notícias na página. Ganhei três fãs e um outro Pub queria um pequeno show. No meio dessa turbulência de boas notícias, Kristine apareceu.
Kristine: Oi Thomas.
Thomas: Oi Linda! Tudo bem com você? – agora sim eu poderia falar com ela sem ninguém me pentelhando.
Kristine: Sim... está tudo bem.
Thomas: Aconteceu alguma coisa? – ela demorou a responder.
Kristine: Só estou pensando que você é meio bipolar. – bipolar? Logo eu? Realmente isso era comigo?
Thomas: Mas o que foi que eu fiz? – indaguei.
Kristine: Bom, da primeira e única vez que nos falamos, você foi completamente grosso comigo. Fiquei o dia todo com um humor péssimo.
Thomas: Ah, mil perdões, Kristie. Provavelmente estava cansado do show. Quer dizer, da minha tentativa de show. Desculpa mesmo, tá? – claro que eu não ia falar que a garota atual que eu estava, me pentelhava seriamente enquanto eu tentava digitar para ela.
Kristine: Show?
Thomas: Sim. Sou músico.
Kristine: Nossa, que legal! Eu lembro que você tinha começado a tocar violão.
Thomas: Isso mesmo. Além disso, aprendi a tocar piano e guitarra também. Faço alguns poucos e pequenos shows por aqui.
Kristine: Nossa, Thommy, isso é demais.
Thomas: Com certeza. Acabei de receber boas novas e ganhei mais três fãs. Querem outro show meu. É mais voz e violão, sabe?
Kristine: Sei, mas quero ver.
Thomas: Liga sua webcam e microfone que dou uma prévia.
Kristine: Espera dois segundos então. – os segundos dela se transformaram em sete minutos. Mulheres. – Pronto!
Thomas: Só esperar carregar...
Kristine: Olá! – sua voz e imagem surgiram.
Thomas: Olá. Você está gata. – e estava mesmo.
Kristine: Cala a boca! Não me vê há dez anos e já vem me cantar?
Thomas: Não estou te cantando, só to dizendo que você ficou muito bonita.
Kristine: Que eu fiquei “gata”, em outras palavras. Nossa, te ouvindo falar me deu uma saudade desse sotaque.
Thomas: Você tá muito americanizada para o meu gosto. – sorri.
Kristine: Vivo aqui a mais tempo do que vivi aí. – ela mexeu na bolsa e acendeu um cigarro.
Thomas: Também no vício? – mostrei minha caixa para ela. – Temos que parar com isso.
Kristine: Última tragada? – rimos.
Eu e Kristie começamos a nos falar quase todos os dias e por muitas horas. Ela me contou que seu pai seria promovido à vice presidência da empresa, que estava produzindo alguns curta metragens, era formada em fotografia, e que também estava recém separada de um longo namoro. Estávamos reconectando os laços que perdemos nesses anos e era muito bom para nós dois. Gostava de tê-la como amiga de novo e também adorava poder contar da minha vida para ela.
***
- Mas eu não quero escutar. Licença, ok?
Maldito dia para Hayley ter deixado seu carro em casa. Não tinha a menor vontade de contar meu diálogo com Michael, muito menos falar sobre como eu me sentia. Queria mesmo ir até a praia e ficar quietinha, onde eu pudesse avaliar qualquer sentimento meu, sem escutar nenhuma opinião.
Não aguentava olhar para a cara dos meus amigos quando o assunto era “Michael”. Todos sabiam a enorme sacanagem que ele tinha feito comigo e todos me olhavam com cara de pena. Como se tomar um belo par de chifres fosse algo fora do comum em pleno século XXI. Depois de deixa-la em casa, não pensei nem meia vez e fui direto para a praia. No meio dos meus pensamentos em plena areia, meu celular tocou – e percebi que já eram dez horas da noite.
Entrei no carro de qualquer maneira e fui para casa. Precisava falar com ele. Precisava desabafar.
Você tá tão estranho... Por que você não larga esse computador e vem ficar comigo? – Maggie reclamava.Porque eu tenho que trabalhar em coisas novas, Maggie. Você sabe disso.Eu acabei de sair do meu trabalho pra ficar com você e nada, Thomas. Que tipo de namorado vocêé?Não sou... Somos amigos.Amigos não transam.Então não existe uma categoria para nós.Eu tô cansada disso, Thomas.Eu também.Thommy, você tá ai? – a voz de Kristie surgiu nas minhas caixinhas de som.Tô, linda.
Meus pais adoraram saber que Thomas estava vindo passar uns dias em nossa casa. Apesar do tempo em que ficamos todos separados, nós sabíamos que, se nos reencontrássemos, tudo voltaria a ser do jeito que era. Assim que acordei, vi que Thommy confirmou que chegava em dois dias e sinceramente estava muito animada para vê-lo.Assim que o fuso permitiu nosso encontro, ele me ligou para falar que chegaria às 13:00 horas de sexta feira, pelo horário daqui. Já me animei completamente e mal consegui esperar, mas assim que acordei cedo e me deparei nessa data, dei um sorriso e fui me arrumar para a faculdade.Sim, assumo que não prestei atenção em nenhuma aula e em nada que me falaram ao longo daqueles incontáveis minutos. O iPod estava no ouvido, tentando controlar o que era incontrolável – ansiedade. Claro que Hayley percebeu e já veio dizendo que eu gos
Assim que chegamos, minha mãe já foi logo correndo para abraçar Thomas e perguntar como seus pais estavam. Os dois ficaram conversando por tanto tempo que eu decidi ir para meu banho.Ainda era muito nova a ideia de que meu “irmão” ficaria um tempo por aqui. Nós dois tínhamos combinado de ir até as gravadoras e, se ele não conseguisse nada, ia tentar em outras cidades. Thommy me fazia rir e isso estava sendo maravilhoso. Queria poder apresentá-lo a Hayley logo e tenho certeza que vamos arrancar muitas risadas um do outro – principalmente da minha cara. Assim que saí de roupão do banheiro, encontrei Thommy olhando minhas fotos.Sua mãe mandou você me mostrar o quarto que vou ficar e me fazer companhia até o jantar. Vou tomar um banho.Bom, me desculpa, mas não vou fazer companhia no
Os dias passaram voando e lá estava eu indo buscar Thomas em minha casa para irmos ao shopping comprar nossas coisas. Ele já estava completamente adaptado com a nossa rotina e já tínhamos combinado que assim que essas coisas do meu pai finalmente acabassem, iríamos ver as gravadoras.Chegamos ao nosso destino e fomos logo tratando de almoçar, para bater perna depois. Decidimos começar pela roupa dele, por ser mais “fácil”, mas foi o oposto disso. Toda vez que ele experimentava um terno, dava algum defeito. Ou era grande demais, ou a gravata não combinava, ou o botão era estranho...Enfim, só para encontrar sua roupa levaram quase duas horas. Quando fomos procurar algo para mim, Thomas já veio pra cima, dizendo que queria ir para casa e eu sempre o lembrava do tempo que tinha perdido com ele, então ele teve fazer bico e aceitar.Era c
Kristie apagou no meu colo quando chegamos em casa. As luzes externas estavam acesas, mas as internas não. Abri a porta e fui tentando encontrar o caminho da escada, sem acordá-la, e consegui chegar até seu quarto. A coloquei na cama e fui procurar alguma coisa para ela vestir. Kristie não poderia ficar com um vestido de festas. Abri inúmeras portas e gavetas e encontrava tudo: creme, perfume, bolsa... Menos uma maldita roupa de dormir. Maravilha. Fui até meu quarto e vasculhei minha mala, procurando uma blusa cumpridas que ficasse pelo menos “descente” até Kristie acordar. Quando retornei ao quarto, voltei a repetir o mantra “sua irmã, sua irmã” na cabeça, enquanto tirava seu vestido para por a blusa. Tirei seus brincos grandes e a cobri, sendo privilegiado com um suspiro longo dela. Já estava saindo quando resolvi dar uma última olhada antes de me trancar em meu qua
Até agora não conseguia explicar minha reação com Kristine. Estava com raiva de mim mesmo por não ser capaz de controlar um mero sentimento de atração – e era isso que eu mais queria acreditar, que era uma simples atração passageira e momentânea. Eu queria recomeçar, agir como se nada estivesse acontecendo entre nós, mas era um pouco complicado, sabendo que ela sempre estaria a uma porta de distância. De tanta raiva, acabei por pegar meu violão e me acabar no meio daquelas cordas. Cada um tem uma forma de aliviar seu estresse, e parte do meu era feito através da minha música. Eu estava perdendo meu foco em relação à música e eu não posso apenas vivenciar os problemas da Kristie como minha principal meta. Continuava me perdendo em meus acordes quando escutei a porta se abrindo lentamente. Kristie foi surgindo aos poucos e indiquei que
Eu queria explodir de raiva com aquela cena que Thomas estava criando com a ruiva bem na minha frente e dos meus amigos. Quando ele entrou no meu carro, pude reparar em sua boca avermelhada e o perfume adocicado e intragável. Cheiro de perfume barato.Não quis falar com ele pelo caminho. Minha noite estava completamente acabada por causa de suas atitudes. Assim que consegui chegar em casa e estacionar meu carro na garagem, apoiei minha cabeça no volante, tentando acalmar a imensa raiva que estava sentindo de mim mesma por ter observado tais atitudes dele. Thomas tentou mexer no meu cabelo, mas me afastei.Amanhã vamos a uma gravadora depois da minha aula.Sério? – ele disse, surpreso.Muito obrigado! – Thomas ameaçou me abraçar, mas abri a porta do carro e saí.<
Kristie e eu acabamos nos rendendo ao que tanto batalhávamos contra. Fiquei dedilhando seu rosto enquanto nos beijávamos, sentindo seus traços e sua pele. Respirava o seu perfume cítrico, misturado com a maresia vinda de um fim de dia e aquilo era basicamente a perfeição. Colamos nossas testas e cada um se aprofundou no olhar do outro. Pela primeira vez, em muito tempo, eu estava completamente feliz com o queme acontecia. Kristie apoiou sua cabeça em meu ombro e ficamos assim, olhando as ondas baterem até o sol se por.O caminho de volta para casa foi diferente de todos eles. Eu vim dirigindo com uma mão e segurando a sua com a outra, acariciando com meu polegar. Percebia que Kristie me olhava algumas vezes enquanto fumava seu cigarro. Ela também deveria estar tão confusa quanto eu.Sinceramente, aquilo tudo era errado ou não? Ela ainda estava apaixon