Os olhos violeta contemplavam a janela aberta enquanto estava afundada entre os travesseiros da cama. As cortinas abertas e as luzes passando do dia para noite diante dos seus olhos fixos no tempo. O celular no silencioso, fora deixado de lado.Suavemente os dedos subiram tocando os lábios, enquanto as pestanas baixaram libertando o brilho espelhado dos olhos em forma de grossas lágrimas peroladas.Porque o certo e errado tornaram-se uma bagunça em sua mente? Em seu coração…Ela tentava lidar com aquilo para valer do seu jeito, mas havia um limite nas suas forças. Negar tudo aquilo era apagar uma parte tão significativa de si, uma parte que moldou a mulher que era. Porque ele conseguia a levar ao céu e segundos depois a arrebentar contra o chão? Ele era tão ruim a ponto de se não compadecer da sua própria dor? Ele era tão egoísta assim a ponto de não a deixar ir simplesmente?Sim, ele era egoísta, arrogante, frio. Ele não se importava no quanto estava a fazendo sangrar, porque no fim
Ela estava tomando um café matinal no jardim reservado do principal hotel do grupo de sua família, muito bem acompanhada pelo Hoffman. Conversavam algumas trivialidades e ela sorria, muito embora não houvesse motivos sinceros para tal. Os lábios estavam impecáveis em um batom rosado suave. Ostentava joias delicadas e um estilo completamente a altura de uma herdeira Sanches. Havia uma necessidade de superar a dor, deixando para trás o que a fazia sentir-se vulnerável: sua essência tola.— Bom… — começou o Hoffman ao enlaçar os dedos frente ao rosto a encarando com um sorriso bonito — na quarta vai ter uma festa exclusiva. Um amigo meu da Noruega fará uma festa, é algo bem… reservado. Acredito que seja o ideal para te tirar um pouco do seu tempo para mim.Ela levou a xícara de chá aos lábios, ainda o encarando, esboçou um pequeno sorriso.— Uma festa particular. Sabe que…— Sem fotógrafos, ou paparazzis. Como eu disse, é restrita. Tem uma lista. Será bem divertido. Posso levar convidado
O homem de cabelos negros deslizou a mão por entre os cabelos lisos enquanto a outra mão levava aos lábios o copo de bebida. Tinha desenhado nos lábios um pequeno sorriso diante da conversa que tinha com o Hoffman. Um casarão fora preparado para o evento, e era do lado de fora na zona da piscina que a parte mais viva da festa acontecia, havia várias mesas dispostas, bebida e comida que não parava de ser servida. Havia uma espécie de exposição progressiva e transitória de fotografias e holografias modernas, e por essa razão a Sanches se deslumbrava ao lado da Uckermann. Enquanto a mulher de cabelos loiros bebia algo bem alcoólico, Hanna se contentava com seu coquetel sem álcool.— Olha, vou dá o braço a torcer, o tal Hoffman é tudo de bom, amiga, ele é inteligente, vivido, gostoso pra cacete, e tem um sorriso provocador. Esse homem deveria ser definido como oitava maravilha do mundo, isso sim.— Deixa o senhor Uckermann te pegar falando isso — Hanna sorriu ladina. Estava mais que linda
A sensação poderia ser descrita como flutuar em um espaço vazio e escuro, e era assim que Nicolas sentiam-se enquanto seus olhos contemplavam aquela cena em câmera lenta. Não era igual quando vira a notícia dela em tabloides, ou quando só pressupunha o envolvimento. Não... A comparação seria pequena e medíocre.Era como se os sons houvessem sumido, ou as cores, desbotado. E ele tinha quase certeza absoluta que seu coração diminuía as batidas até que parou totalmente.A ficha finalmente caíra, aquele misto de sentimentos incendiara-o de uma vez e irrefreável. Frustração, medo, dor, angustia, solidão... Talvez fora mais fácil enxergar sem a venda do orgulho, e com isso ele conseguia imaginar o que Hanna sentiu consigo, com a sua traição a sua ex esposa. Principalmente ao se lembrar de todas aquelas fotos que ela também viu.Havia um certo nojo de si, um sentimento violento de culpa, de raiva, de ódio...Ódio de si.“Nem a mais escura das noites é tão sombria quanto o coração partido de
Mas você não tinha que me excluirFingir como se isso nunca tivesse acontecido e que não éramos nadaE eu nem sequer preciso do seu amorMas você me trata como um estranho e isso é muito difícilNão, você não precisava se rebaixar tantoMandar seus amigos buscarem seus discos e depois mudar o seu númeroEntão eu acho que eu não preciso dissoAgora você é apenas um alguém que eu costumava conhecer!Os sons altos e fortes das lufadas de ar pareciam agonizantes. As roupas sujas de areia, a pele fria, lábios arroxeados, corpo trêmulo, músculos cansados… Havia cuspido uma boa leva de água e por isso tossira abundantemente, mas agora, tudo parecia leve. Os olhos azuis estavam focados no céu noturno enquanto ouvia as lufadas ofegantes por igual ao seu lado.Estava leve, no entanto, pesado em sentimentos agravados. Estava livre, mas nunca se sentira tão preso. Estava vivo, mas nunca se sentira tão morto.Virou a cabeça ao lado quando a respiração ganhou um ritmo constante e viu os cabelos ala
Era engraçado pensar em como ele estava ali, em como parecia que o dia anterior não foi tão merda quanto de fato foi, ou em como ele estava um caco mental e emocionalmente falando. Como havia cometido um ato fraco e desesperado, em como era de fato tão… Patético, sim, essa era a palavra que o definia muito bem na sua mente naquele momento: absolutamente patético.Naquele momento, ele finalmente tinha noção do seu fundo de poço e essa percepção o assustava, porque naquele momento ele era alguém afundado, mas que ao olhar aquela luzinha lá em cima na superfície parecia ser tão, tão distante que era inalcançável, haveria uma escada grande o bastante para tira-lo de onde se encontrava? Ele não tinha muitas expectativas disso, mas enquanto houvesse aquela minúscula luzinha ali ele deveria manter a esperança de que uma hora ele acharia o caminho de volta, até lá… Bom…— Senhor? — a voz feminina o despertou de suas divagações. Piscou algumas vezes encarando os olhos de Samantha, que parecia
Naquele instante, o Uckermann encarava o cardápio do restaurante como se fosse a coisa mais interessante do mundo, enquanto não escondia a face um tanto zangada de mais cedo com a esposa. Não que estivesse zangado com Susan, mas a verdade era que estava puto com a situação na totalidade em que o ex casal de amigos vinha proporcionando. Para ele, ficara nítido aquela noite que o melhor que poderia fazer um com o outro, era distanciar mesmo. Não faziam mais bem juntos, o que realmente era triste.Susan, que tentava pacientemente lidar com o temperamento do marido desde o ocorrido, estava agora de saco cheio daquela cara dele, daquele comportamento, aliás. Ela estava ainda com a sensação entalada em si do marido ter claramente tomado um lado que ela julgava absolutamente errado naquela história toda, e ela havia sido clara desde o início com ele.Bufou largando a taça de suco de lado encarando com firmeza Samuel que nem a olhava. Se fosse para ter aquele tipo de almoço, ela preferia esta
O barulho baixinho na sala, era provido das borbulhas da bomba do aquário imenso de peixes que havia ali. Existia um longo e pesado silêncio no ambiente. Enquanto estava sentado desconfortável, Nicolas agarrou-se a uma das almofadas e apenas encarava os olhos verdes e bastante sérios de Melissa, que havia começado todo aquele discurso revisando todas as suas anotações quanto ao “problema Scrudell”. Ela havia pedido para que ele começasse do início, mas ele ponderava exatamente onde era o tal início?Franziu o cenho mais uma vez ao soltar o ar pelos lábios de forma um tanto monótona e viu a morena olhar no relógio de pulso.— Senhor Scrudell…— Hm?! — ele desviou o olhar para os peixes que pareciam tão entretidos em algo.— Não pagou uma sessão apenas para olhar peixinhos. Se não se dispor verdadeiramente, nenhum resultado chegará. Só estar aqui não muda nada. — Ela fora direta, cirúrgica nas palavras e o fez torcer o bico tal como um menino.— O que quer que eu fale? Que sou uma pesso