― O quê? Que história é essa com seu jantar? ―Deirdre contou a Tobey como tudo havia acontecido, e o rapaz riu.― Ha, eu sabia que você tinha a magia, Dee ― ele comentou.Um vento frio da noite soprou, e alisou o cabelo dela, criando um efeito encantador.― Pena que isso custou seu jantar, no entanto. Mas, você está com sorte. Há uma barraca de churrasco muito boa aqui perto e, segundo rumores, eles têm opções menos oleosas e saborosas. Quer tentar? ―― Parece bom! Mesmo porque, acho que o progresso de hoje exige uma celebração. ―Tobey bateu na almofada da bicicleta e disse:― Aceita minha modesta carona, senhorita? Sou apenas seu humilde motorista. ―Deirdre riu e subiu no banco de trás, segurando com força a barra da camisa de Tobey. Ele começou a pedalar e os dois zarparam contra o vento. Enquanto se movimentavam pelas ruas de Surstate, um Audi passou por eles, mas ficou desapercebido.― Senhor, a residência do professor Ward fica logo à frente ― relatou Sam, enquanto exa
Julia segurou o queixo com a palma da mão.― Acabei enjoando de pedir comida, ugh! Claro, meu avô contratou uma cozinheira, mas a comida dela não é tão boa quanto a sua. Não há alegria em comer o que ela faz! Ela ainda tem o emprego porque meu avô me proíbe explicitamente de demitir as pessoas, só porque não fui com a cara delas. ―Então, de repente, seus olhos brilharam e ela lançou um olhar muito significativo na direção de Deirdre.― Espere um segundo. Por que você não se torna nossa nova cozinheira!? Diga seu preço! Aposto que o vovô vai pagar muito mais do que o salário de professora de piano. ―A perspectiva tentou Deirdre, mas ela se lembrou de sua gravidez e descartou a ideia com um sorriso.― Eu vou ter que recusar. ―― Você vai recusar? Ah, não. Você está apenas guardando rancor de mim por ter sido um pouco desagradável com você quando começamos... Ah não! Quem diria que você poderia ser tão rancorosa, hein? Tudo bem... peço desculpas formalmente por ser uma pirralha e
O professor Ward suspirou.― Há uma pequena... complicação com a mão dela. Está praticamente curado, mas ela ainda não consegue mais pegar um pincel. Então, começou a aprender piano, como fisioterapia. ―Brendan estava imperturbável como sempre.― Eu entendo. ―Ao mesmo tempo, na sala do piano, Julia foi pega de surpresa pela abrupta melodia incompatível.― Que diabos? ―― Não foi nada ― respondeu Deirdre, rindo secamente, enquanto tentava se acalmar. ― Foi um acidente. ―― Foi um acidente bem caótico, isso sim! ― A menina se levantou. ― Retomaremos nossa aula mais tarde. Eu preciso sair e cumprimentar Brendan. Mas volto aqui em um instante! ―Julia saiu e Deirdre cerrou os punhos. Ela ainda não conseguia parar de tremer. E se Brendan de repente abrisse a porta e entrasse?Ela encostou o ouvido na porta e escutou a conversa. Ela podia ouvi-lo elogiando Julia com bastante decoro:― Uau, como você cresceu! Da última vez era uma criança e agora já é quase uma mulher adulta! ―B
Julia estava com um raro humor para elogiar os outros.― Eu sei que ela parece um pouco jovem demais para dar aulas, mas acho que é uma boa professora. Na verdade, eu entendo muito mais de piano com ela, do que com aqueles professores e suas palestras intermináveis sobre teorias e todo esse lixo! ―Um sorriso amável surgiu nos lábios do professor Ward.― Poucas pessoas poderiam arrancar tantos elogios da minha Julia. Eu realmente acho que encontramos ouro, desta vez.As bochechas da garota ficaram um pouco rosadas.― Quero dizer, para ser justa... eu tenho comido a comida que ela faz também, então não é como se eu fosse morder a mão que me alimenta, certo? ―― Você tem comido a comida dela? Menina! E eu que pensei que você preferia ficar pedindo fastfood do que comer refeições caseiras! ―O comentário de seu avô lembrou Julia da oferta que ela havia feito. Deirdre poderia tê-la rejeitado quando ela pediu para ser sua nova cozinheira, mas talvez... se seu avô fosse quem fizesse o
Julia sentiu o choque e a preocupação por Deirdre se misturarem. Então cambaleou e ajudou a professora a se levantar, perguntando:― O que há de errado? Por que você estava se escondendo no armário? E Deus, por que você está tremendo tanto!? ―Os cílios de Deirdre tremiam e a jovem procurava desesperadamente por ar, tentando controlar as emoções até que, quando sua voz finalmente saiu, era um sussurro vago:― Estou... bem... ―― Não me venha com essa! Parece que você viu um fantasma!―Deirdre soltou uma risada seca. Era como se ela tivesse em contato com a própria morte. ― Estou bem, é sério. Mas, preciso de um favor. Por favor, Julia. ―― Q-Que tipo de favor? ―Deirdre fechou os olhos.― Nunca diga meu nome a ninguém. ―― Seu nome? ― Algo maior do que confusão e questionamento pairava sobre a menina. ― Por quê? ―Desempacotar todas as complexidades de sua vida era muito cansativo, então Deirdre simplesmente respondeu baixinho:― Eu sei que você é uma boa menina, Julia, ma
Brendan franziu as sobrancelhas.― Quando eles foram embora? ―― Não faz muito tempo! ― A resposta de Henry surgiu no final de sua pergunta. ― Cerca de três ou quatro semanas atrás. ―‘Três ou quatro semanas? O que significa que eles deixaram Surstate oriental e vieram direto trabalhar aqui. Então, achamos o próximo ponto dessa meada’.Brendan gostaria de poder se punir por não ter pensado em procurar na parte rica da cidade. Uma parte dele zombava de si mesmo. Sua querida Deirdre era capaz de mover montanhas se isso significasse escapar dele!‘Como eles estão sobrevivendo na área rica de Surstate, se a conta bancária de Tobey foi congelada?’ Brendan se livrou de seus pensamentos e finalmente se virou para olhar Henry nos olhos, pela primeira vez. Parte dele não pôde deixar de notar o quanto a pele do homem parecia brilhar sob a luz.― Você sabe para onde eles foram? ―Sua demonstração de paciência fez com que Henry se sentisse honrado e especial. Brendan era o tipo de elite, fi
Sam ergueu o homem do chão, sem aparentar estar fazendo muito esforço e o jogou contra uma cadeira. A força do arremesso somada ao peso de Henry quebrou tanto a cadeira, como alguns ossos do tarado.Sam pegou uma das pernas da cadeira e usou como um bastão, para desferir mais um golpe.Henry ainda não tinha entendido a mudança repentina de eventos quando deitado no chão, implorou:― Por favor, pare! Oh Deus! Misericórdia! Eu vou te dar tudo que você precisa! Não me bata! Por favor! Pare! ―O sangue de seu nariz e lábios parecia ter se misturado, antes de rolar pelo queixo e respingar no chão. O rapaz estava tremendo.Sam se virou para olhar para Brendan, que simplesmente acendeu um cigarro. A raiva em seus olhos mal ainda não tinha se dissipado.O guarda-costas entendeu e pisou em Henry mais algumas vezes, até que o homem estava machucado demais até para gritar de dor. Finalmente, Sam perguntou:― Você sabe qual foi o seu erro? ―Henry balançou a cabeça, como se sua vida depend
― Eu não estou aqui pelo professor! ― Brendan a interrompeu, seus dedos agarrando os braços de Julia. Ele nunca pareceu tão ansioso antes. ― Aquela professora de piano! Onde ela está? ―Julia congelou, por um segundo.― A professora de piano? ―Brendan a empurrou para o lado e correu para a sala do piano, enquanto Julia saía do choque para segui-lo. ― Brendan, ela terminou a aula e foi para casa. ―― Terminou!? ― Brendan apertou os lábios e se virou para fixar um olhar penetrante nela. ― Vou fazer uma pergunta e preciso que me responda honestamente. Aquela professora de piano é deficiente visual, não é? ―Julia desviou o olhar.― Deficiente visual? Quer dizer, como uma pessoa cega? ―― Sim. Uma mulher cega. ―Julia riu sem graça.― Isso é alguma pegadinha? Como uma pessoa cega pode ser professora de piano de alguém? ―― Ela é... uma pessoa saudável, então. ―― Sim ― Julia respondeu rapidamente, balançando a cabeça e não pôde deixar de acrescentar: ― Você está realmente aborr