A primeira coisa que Deirdre fez ao voltar para o quarto foi ir ao banheiro e lavar o rosto, enquanto se recuperava do choque de ter reencontrado Brendan. Então, enquanto jogava água fria em sua pele, aos poucos, começava a se recompor. Entretanto, o peso em seu peito ainda a impedia de respirar.A jovem ficou muito grata pela chegada oportuna de Declan, que a salvou das mãos do monstro. Caso contrário, temia que pudesse não ter conseguido fugir dele.No fim, pegou o telefone. Afinal, tudo o que queria era ouvir a voz de Kyran.Assim que Declan deixou Deirdre na a mansão, saiu mais uma vez, pois um carro preto estava esperando do lado de fora. O homem se aproximou do veículo, abriu a porta e sentou no banco do passageiro. Brendan fumava um terceiro cigarro e parecia abatido. Depois de dar a última tragada e jogar a bituca pela janela, perguntou:― Deirdre está bem? ―― Tem certeza de que quer saber a verdade? ― respondeu Declan, sorrindo amargamente. ― Como existe alguma possibili
― Eu também não tenho ideia ― Brendan disse, meio imerso em pensamentos. ― Mas, vou esconder o máximo que puder. ― O empresário só desejava que esse dia não chegasse tão cedo. Assim, ele teria mais tempo para compensá-la.-Deirdre se manteve trancada dentro de cada, por vários dias e nem abria a porta, com medo de que pudesse ficar frente a frente com o monstro.Com base em suas experiências passadas com Brendan, estava confiante de que ele viria buscá-la, quando ela menos esperasse. No entanto, três dias se passaram e nada aconteceu. Estava tudo quieto, como se Brendan nunca tivesse aparecido antes.Deirdre até começou a se perguntar se o encontro com Brendan na delegacia tinha sido um pesadelo. No entanto, a sensação escaldante, quando os lábios do homem caíram sobre os dela e a tenacidade de seu aperto a lembrava de que tudo era real. Brendan estivera lá e eles se encontraram.Acontece que Brendan ainda podia estar incomodado com o caso de Charlene e, por isso, não podia se da
― Deixe-me adivinhar o que está te incomodando... É sobre Brendan? ― perguntou Declan.Deirdre cerrou os punhos e fechou os olhos. Depois de um tempo, respondeu honestamente:― Sim. É sobre ele. ―― Parece que acertei em cheio ― disse Declan. ― O que ele fez para você, desta vez? Ele veio incomodá-la? ―― Não. É exatamente porque ele não veio me perturbar que me sinto tão estranha. Isso não parece nada com Brendan. De acordo com o que sei sobre ele, ele não é alguém que desiste tão facilmente ― Deirdre disse, enquanto abaixava a cabeça. Ela conhecia Brendan muito bem, mas agora não tinha certeza. ― Além do mais...―― Além do quê? ―Deirdre respirou fundo e continuou.― Ele não fez nada para tirar Charlene da cadeia. Em vez disso, até deu à polícia evidências contra ela. Eu não entendo nada. O que ele pretende com essas atitudes? ―Um sorriso apareceu no canto dos lábios de Declan quando ele disse:― Eu estava me perguntando com o que você estava se preocupando. Então é isso. ―
― Além disso, todas as evidências apontam para o fato de que Charlene sequestrou você, então não há como Brendan ajudá-la. Acho que ele está apenas tentando se redimir. É por isso que deu as provas à polícia. ―Deirdre achou o comentário triste e, de alguma forma, irônico. O esforço de Brendan era completamente inútil, afinal, seu arrependimento era muito tardio e veio apenas dois anos depois.Se chegasse antes, quando sua mãe ainda estava viva, talvez ela pudesse fingir que nada havia acontecido e viver uma vida tranquila. No entanto, tudo já havia desmoronado e Deirdre não queria mais o arrependimento de Brendan. Por isso, respirou fundo e se deitou na cama, com os dedos já doloridos ainda cerrados.Então, a jovem sentiu uma sensação de agradável letargia se apoderando dela e adormeceu enrolada nas cobertas, perdendo completamente a noção do tempo até até que sentiu alguém tocando sua mão. Ela foi acordada com um susto e sentiu um arrepio na espinha.Alguém estava parado ao lado
― Isso não é da sua conta! ―― Como isso não é da minha conta quando sou seu marido? ― Brendan disse, em tom amargo: ― Acho que seu herói é apenas um covarde que quando descobriu que me enfrentaria fugiu, com medo de problemas! ―― Você não tem o direito de criticá-lo, Brendan! ― Deirdre foi atingida por uma nova onda de ódio. Ela esgotaria de todos os meios para defender seu amado. ― Ele é mil vezes melhor que você! Não adianta tentar se comparar. ―Ao ouvir as próprias palavras, o medo de Deirdre foi embora e a jovem achou a situação divertida, sem motivo aparente.― Qual é o sentido de eu levar o que alguém como você diz, tão a sério? Você sempre viveu em seu próprio mundo! Quando é que se importou com os sentimentos dos outros? Você nunca será capaz de descobrir sua própria mediocridade! ―Brendan olhou diretamente para o rosto da mulher e sentiu uma onda de dor no peito. A dor era tão avassaladora que ele se curvou e enterrou a cabeça na curva do pescoço dela. Então disse, co
'Você não merece ser comparado a ele.' A observação foi impiedosa e enviou uma onda de dor pelo corpo de Brendan como se fosse uma faca afiada que apunhalava seu coração. No entanto, ele nem sequer teve a desculpa de revelar a verdade sobre si mesmo. Kyran era ele, mas ao mesmo tempo, era uma pessoa diferente.Kyran foi o produto de um disfarce meticuloso. Era um robô com emoções e desejos sexuais fortemente controlados. Ele era exatamente o oposto de Brendan e, na verdade, Brendan não queria ser Kyran, mas queria que Deirdre aceitasse seu verdadeiro eu. No entanto, sabia que era apenas um desejo tolo que jamais se concretizaria.Os punhos de Brendan se apertaram ao ver a mulher vigilante que estava à beira de um colapso. Um sentimento de extrema relutância queimava em seu peito e não pôde deixar de dizer:― Você me odeia tanto assim? ―Deirdre tremia de raiva e deu uma risada repleta de ironia ao ouvir a pergunta, como se estivesse zombando da pergunta dele.― Eu entendo agora. ―
Depois que Declan saiu, Deirdre estendeu a mão e tateou o cartão de visita colocado na mesa de cabeceira.O cartão era feito de plástico, ao invés de papelão e as quinas pareciam tão afiadas que podiam cortar a pele, a escrita gravada na superfície era em alto-relevo, com várias bolinhas, permitindo a leitura em braile.Na verdade, sabendo que Deirdre era orgulhosa e não pediria que ninguém a ajudasse a ler o cartão, Brendan tinha ido preparado, levando as informações de uma maneira que ela pudesse desvendar, sem pedir para Declan.'Ele acha que vou concordar com sua condição?' Cheia de raiva sem limites, Deirdre desejou poder jogar fora aquele pedaço de plástico maldito. No entanto, no momento seguinte, foi lembrada por uma voz em sua cabeça: ‘Você realmente vai desistir da chance de se divorciar?’Se ela concordasse com aquela condição, poderia se livrar de interagir com o monstro pelo resto de sua vida. Poderia viajar para Germia com Kyran para ter seu casamento, com tranquilida
No passado, Deirdre não se importaria de ficar sozinha, então era evidente que Kyran a havia mimado e, pensando nisso, a jovem sentiu bastante vontade de falar com o namorado, por isso, pegou o celular e fez uma ligação.O aparelho chamou seis vezes e, quando a jovem se preparava para desligar, o homem atendeu: ― Meu amor... ―A voz soava rouca, como se o homem tivesse fumado a noite toda. Deirdre ficou momentaneamente atordoada e não pôde deixar de se sentir preocupada:― Kye... você está bem? ―― Estou sim. Por que da pergunta? ―Deirdre disse:― Você parece muito cansado, como se não tivesse dormido a noite toda. ―Kyran fez uma pausa por um momento, antes de dizer:― Eu não dormi a noite toda, de fato. ―― Por quê? É porque a condição do seu pai não é tão boa? Ou é porque você tem algo mais acontecendo no trabalho? ―Deirdre lamentou não ter ido a Germia com Kyran para que pudesse acompanhar de perto o que acontecia com o namorado. Também não estaria como tinha ficado,