― Quem te odeia? ― perguntou Brendan. Deirdre quase caiu na gargalhada e disse: ― Quem?! Você me odeia! E além disso, é um covarde! ― desabafou ― Você não tem metade da coragem de Sterling! Será que você tem coragem suficiente para me levar até sua família e me apresentar para todos? Será que tem coragem de dizer ao mundo meu verdadeiro nome? ―Brendan congelou. Claro que não tinha. Deirdre já sabia a resposta e respondeu por ele:― Não. Claro que não. ―Um sorriso de escárnio surgiu em suas feições, tirando Brendan de seu estupor. Então, ele agarrou o volante com força, falando em tom de descrença:― Como você ousa?! Como você ousa me comparar a um filho bastardo que não é amado nem mesmo por sua própria família?! Você sabe exatamente o quanto eu e ele somos diferentes?! Você realmente acha que ele teria uma mulher cega como namorada se tivesse o mesmo status que eu? Pfft! Ele nem teria coragem de admitir que você é a mulher dele! ―Brendan não pensou muito em suas palavras
― Como você não recebeu intervenção cirúrgica durante o melhor período para o tratamento, será muito difícil reverter a condição. A taxa de sucesso da intervenção cirúrgica é baixa, por isso, não recomendo correr o risco de se submeter ao procedimento. ― ― Está tudo bem. Já me acostumei com a cegueira. ― Deirdre, então, se levantou e tateou o caminho até a porta, querendo sair. Brendan planejava ir atrás dela, mas se lembrou que ainda não havia conseguido o remédio. Então, depois de receber a medicação, saiu e constatou que a jovem tinha tateado todo caminho, até o final do corredor. Cruzando a distância em passos largos, o homem alcançou Deirdre e a puxou pelo pulso, dizendo:― Você perdeu a cabeça! Onde já se viu, sair no meio de uma consulta médica! Ainda bem que você é cega, ou teria escapado correndo do hospital! ― Deirdre lutou para se livrar das garras de Brendan, segurando, com força, em uma quina de parede, enquanto dizia:― Estou me sentindo sufocada, eu só quer
Deirdre achou a reação dele um insulto e o canto de seus lábios se curvou em um sorriso de escárnio enquanto enunciava suas próximas palavras, lenta e pausadamente, para que fosse entendida.― Minha cegueira é culpa sua! Responsabilidade sua, Brendan! E agora você finge querer tratar meus olhos? Você acha que isso me fará recuperar o ano que vivi sem enxergar, o inferno que passei!? Você espera que eu me desfaça em lágrimas e gratidão por você? Comigo esse seu truque de me recompensar após me punir não funciona mais! ― ― Que bobagem é essa? ― Brendan agarrou o volante, com força, enquanto olhava confuso para Deirdre ― Eu te deixei cega? Não se atreva a pensar que pode me difamar, só porque a trato bem! Não se atreva a fazer isso! ― ― Difamar você? ― A jovem sentiu um frio percorrer todo seu corpo, imobilizando-a e, ao mesmo tempo, fazendo com que todos os sentidos de seu corpo funcionassem em seu auge. Ela percebia que aquela conversa era inútil. ‘Será que Brendan vai reconhec
Ao ouvir isso, Deirdre cerrou os punhos com tanta força que as unhas cravaram na carne. Ela nunca esqueceria dos sofrimentos da prisão, é claro. Ela nunca esqueceria o quão impiedoso foi Brendan e todas as torturas a que fora submetida. O corpo de Deirdre tremia, mas ela se acalmou o suficiente para abrir os olhos cegos, mais uma vez. Seus olhos vidrados foram abaixados quando ela fez uma observação zombeteira:― Por que você desperdiçaria seu fôlego me ameaçando se tivesse capacidade de me mandar para a cadeia, mais uma vez? Acredito que a vida não foi tão boa para você, depois que Brendan me fez confessar. Estou certa? ― O rosto de Charlene empalideceu. Deirdre estava certa. Ela havia presumido que o relacionamento entre ela e Brendan cresceria depois que Deirdre fosse presa e que eles se casariam e teriam filhos. No entanto, Brendan ficou mais distante e, embora nunca tivesse declarado abertamente, Charlene sabia que Brendan a culpava pelo atropelamento. Ele também a culpava
'Dormindo!?' Brendan ficou pasmo com a indiferença de Deirdre. Como ela podia ser tão fria depois de ser a causadora do acidente de outra pessoa? Aquilo era demais! A raiva que o homem sentiu foi tão intensa que ele agarrou a jovem pelo pescoço.― Como você pode ser tão cruel? Seus olhos são cegos, mas isso não basta para esconder suas intenções sinistras. Charlene ajudou você a subir as escadas, por gentileza, mas você não demonstrou remorso ao empurrá-la. É você quem deveria ter rolado escada abaixo! ― Deirdre sentiu vontade de rir, mas se segurou, preferindo responder:― Se você tivesse chegado um pouco mais tarde, seria eu a pessoa machucada no final da escadaria. ― Brendan parou por um momento e, sem entender o verdadeiro sentido do que tinha sido dito, apenas concluiu:― Você é podre! ― Mas, como a raiva, em seu peito, não cessava, puxou a jovem, arrastando-a para fora da cama ― Como você ainda consegue dormir, depois de quase aleijar alguém? Você me dá nojo! Vá lá par
― Deirdre! Deirdre! ― As pupilas de Brendan se contraíram de medo e o homem jogou fora o guarda-chuva para pegar a mulher, a quem levou rapidamente para dentro da casa, sem se preocupar com o rastro de lama que os dois deixavam por todo o chão da mansão.Afinal, a respiração da jovem estava tão fraca que cada uma sempre parecia que seria a última. O corpo também estava tão gelado que mais parecia o de uma pessoa morta, com a única exceção do rosto, que ainda ardia em febre. ― Eu não vou deixar nada de ruim acontecer com você! ― O homem gritou, arrependido pela intensidade do castigo e Steven certamente ficaria surpreso de ouvir, pois perceberia que naquela voz, havia ansiedade e preocupação genuínas, apesar das palavras não serem gentis. ― Você acha que pode escapar, apenas perdendo a consciência? Você acha que pode acabar com tudo fácil assim? Isso é impossível! Você é minha por toda a vida e será enterrada no túmulo de minha família, quando morrer! Nem pense em se desvencilhar d
Sentindo-se mais forte, Deirdre caminhou até a cozinha e, subitamente, se sentiu melhor e recuperada. Ficou feliz ao notar que os arranjos da cozinha ainda eram os mesmos. Então, pegou um copo, encheu com água e tomou em goles, antes de ouvir passos atrás dela. Passos pesados. Brendan estava em casa. Deirdre virou na direção do som, com o corpo enrijecendo. Ela podia sentir o olhar do homem e isso a pegou desprevenida. Mesmo vestida com roupas quentes, sentiu um frio intenso percorrer seu corpo. Por isso, sem nem perceber o que fazia, a jovem se aconchegou mais, em suas roupas.A voz sinistra e profunda ecoou:― Você acordou, hein!? ― Apesar de não entender a natureza do tom de ironia em que a pergunta foi feita, Deirdre assentiu e manteve a cabeça baixa, enquanto bebia o último gole de seu copo d’água. Enquanto isso, o barulho de passos se tornou mais alto e ela sentiu que Brendan tinha parado logo em frente a ela.O corpo de Deirdre ficou rígido quando sentiu o toque do home
Deirdre ouviu o som de algo quebrando e sentiu seu corpo queimar, como se Brendan tivesse erguido o braço e desferido uma bofetada com toda a força de sua ignorância, tamanho foi o impacto daquele pedido absurdo. A jovem constatava que o monstro não pouparia esforços para atormentá-la e realmente a faria se ajoelhar diante de Charlene. A ideia é que a jovem se humilhasse perante todo o hospital, não apenas para sua rival. ‘Não sou uma pessoa para ele? Não me resta nenhuma dignidade?' Seu coração doía tanto que parecia que uma corda tinha sido apertada em torno dele e apertado até que se desfizesse em sangue. Seus olhos estavam úmidos, mas, ela não conseguia mais derramar nenhuma lágrima. Depois de alguns segundos, Deirdre respirou fundo e disse, com os punhos cerrados: ― Está bem... Vou me ajoelhar e pedir desculpas a Charlene, contanto que você deixe Sterling fora disso! ― Houve um momento de silêncio mortal. E um estrondo de madeira foi ouvido, seguido pelo som de tábuas c