Troi

A decoração moderna e paredes de tijolos à vista, com lustres pretos pendentes no teto e iluminação clara trazia um pouco de familiaridade e segurança para o coração da jovem. O cheio de comida sendo preparada, as meses ilustradas e perfeitamente limpas, e a música típica ambiente certamente eram tranquilizantes.

O Supra di Itália é um restaurante italiano famoso em São Paulo conhecido por sua gastronomia de requinte e um chefe de grande notoriedade. É um dos restaurantes favoritos dos pais de Eliza e era por isso que ela estava ali àquela noite.

Ela precisava informar aos pais a sua decisão, afinal partiria em breve à Itália para começar a coordenar o seu contrato, começar os treinos e preparação física já para entrar na sua primeira temporada do campeonato de Fórmula 2 – categoria que oferece gancho de entrada para a tão sonhada Fórmula 1.

Liza não queria ter de enfrentar os pais, mas não achava certo eles ficarem sabendo da sua decisão através da televisão ou jornais digitais. Então juntou toda a coragem que tinha e os convidou para um tranquilo jantar – sem citar o motivo, claro. Tratariam do assunto conforme os pratos chegassem a mesa. Nada que uma boa comida não pudesse resolver, certo?

- Oi, tenho uma reserva no nome de Eliza Benedetti. – a jovem diz ao recepcionista.

- Mesa para quatro pessoas? – o rapaz de sorriso simpático questiona ao mirar a tela do seu computador.

- Para cinco. – Priscilla diz ao lado da amiga.

- Bem pensado, pode ser que meu pai apareça com a barbie. – Liza diz revirando os olhos rapidamente. – É, mesa para cinco. Por favor.

- Perfeito. – o recepcionista diz e se levanta. – Favor, queiram me acompanhar.

As duas jovens seguem o rapaz pelo salão, por entre as mesas ocupadas, e ele as indica uma mesa com seis lugares ao canto. Ótimo, Liza pensou, quando mais discrição melhor.

- Boa noite. Sou Miguel, ficarei responsável pela mesa de vocês esta noite. Gostariam de fazer o pedido ou vão aguardar pelos demais? – o garçom se aproximou e questionou educadamente enquanto entregava os cardápios.

- Vamos aguardar, mas por enquanto pode me trazer uma garrafa de vinho. – Liza diz sorrindo nervosa.

- Brunello di Montalcino, seco. Por favor. – Priscilla diz e ele anota em seu aparelho em mãos.

- Pri. – Liza chama sua atenção disfarçadamente, o vinho era um dos mais caros do cardápio, contudo, também um dos mais deliciosos.

- Essa noite merece. – a loira diz confirmando o pedido. – Afinal, daqui a pouco você vai estar ganhando rios de dinheiro mesmo. Se permita à essas regalias.

Liza ri.

- Precisando, podem me chamar. – o rapaz diz e se afasta.

- Você precisa ficar calma. – Priscilla diz ao notar as mãos trêmulas da amiga.

- É para isso que o vinho serve.

- Eles não podem te proibir de ir. – a loira garante, charmosamente colocando o cabelo longo atrás no ombro. – Já é adulta e independente. O máximo que pode acontecer é ficarem com raiva...

- Pararem de falar comigo...

- Gritar no meio do restaurante...

- E armar um escarcéu. – Liza finaliza engolindo em seco. – Não tá ajudando.

- Só estou pontuando as possibilidades para você se preparar. – ela dá de ombros.

Miguel retorna com a garrafa solicitada e duas taças. Ele pousa a taça com delicadeza na frente de cada uma e despeja o líquido com agilidade.

- Aproveitem. – deseja e novamente se afasta.

Quando Liza está na sua segunda taça de vinho ela quase cospe o conteúdo na sua boca ao perceber Rafael na entrada do restaurante.

Ele passa a mão cuidadosamente pelo cabelo preto, reforçando o topete com os dedos enquanto conversava com o recepcionista alegremente. Mesmo de costas ela sabia que era ele, aquelas costas largas cobertas por uma camisa preta e bumbum redondo vestido com uma bermuda branca eram inconfundíveis.

- Que droga! – ela reclama contida na direção da amiga após engolir o vinho com dificuldade. – O que o Fael tá fazendo aqui?

Priscilla logo levanta ambas as sobrancelhas e morde a bochecha por dentro.

- Digamos que quando citei os cinco lugares, eu não estava contando com a namorada do seu pai. – diz receosa.

- Priscilla! – ela exclama inconformada.

- O que? – ela logo se recompõe, assumindo uma postura confiante. – Como você queria dar a notícia para ele, por mensagem? – ela ri fraco – O garoto merece ser noticiado cara a cara.

- Eu não ia fazer por mensagem. – Liza diz indignada, para depois desviar os olhos e completar em um tom mais baixo. – Ia ligar para ele do aeroporto logo antes de embarcar.

- Eliza! – Priscilla chama sua atenção de volta.

- Tá, eu sei que não seria a melhor forma. – ela confessa – Mas eu não queria ter que olhar nos olhos dele e falar que todos os planos que fizemos para o final do ano estão cancelados. Você já viu ele fazer “a” cara triste? – Priscilla nega com a cabeça – É desesperadamente dolorosa e, como todas as vezes que isso acontece, eu vou ficar me sentindo uma vilã.

- Você não é vilã. – Priscilla diz com convicção. – Está indo atrás do seu sonho e se ele realmente gostar de você vai entender. Eu meio que já adiantei sobre a história das corridas, então não vai ser um choque tão grande assim.

- Como é? – ela indaga inconformada.

- Falei por cima só, não aprofundei muito. Era só para ele não estar por fora da conversa, poxa. – ela sorri de lado. – Mas ele não faz ideia que seja sobre isso ou porque está aqui, então o resto é com você.

Liza solta o ar tenso.

- Você é impossível.

- E você me ama. – Priscilla diz rapidamente antes de se virar e cumprimentar alegremente: – Oi Fael!

- Oi Pri. – ele diz aproximando-se sorridente e eles batem as mãos no alto. – Oi amor.

Liza mal tem tempo de responder e logo os lábios do rapaz estão junto aos seus, em um beijo rápido.

- Que restaurante legal, nunca tinha vindo aqui antes. – ele diz sentando-se ao lado da parceira e apoiando o braço descontraidamente no encosto da sua cadeira.

- É, bem legal. – Liza concorda, sorrindo sem humor.

- Amor, sobre aquela viagem para as Maldivas, eu estava vendo uma promoção de passagens essa semana. – ele diz enquanto levantava o dedo para chamar o garçom. – Os preços caíram pela metade do preço, é a hora certa de comprar.

Priscilla arqueia as sobrancelhas em surpresa pela rapidez em que o assunto foi abordado e um segundo depois está de pé: - Eu vou até o toalete, se me deem licença.

Eliza observa a loira caminhar vagarosamente até os banheiros amaldiçoando-a silenciosamente. Miguel se aproxima da mesa e já deixa uma taça para o recém-chegado, prevendo o seu pedido.

- Obrigado, amigo. – Rafael agradece sorrindo enquanto Miguel despejava o líquido em sua taça.

- Então, Fael, sobre a viagem... – ela umedece os lábios ao virar em sua direção e encarar aqueles olhos pretos profundos. – vai ter que ser adiada.

Miguel inteligentemente se afasta da mesa quando nota o rapaz tirar o sorriso do rosto e parar o caminho que fazia da taça até a própria boca.

- Por quê?

- É melhor esperar os meus pais chegarem para a gente continuar essa conversa. – ela diz cuidadosamente.

- Ah Meu Deus – sua expressão se torna de completo pavor e ele pousa a taça de volta sobre a mesa com cuidado. – Viagem adiada, jantar com seus pais... Você está grávida. – o rapaz conclui.

- O que? – ela ri. – Claro que não.

- Ufa! – ele suspira com a mão no peito. – Que susto.

Liza ri verdadeiramente.

- Não que não seria legal uma mini Liza ou um mini Fael correndo pela casa, - ele se adianta, acariciando o ombro dela delicadamente. – Mas acho que não estamos prontos para isso ainda.

- Definitivamente não estamos.

Eles sorriem um pro outro.

- Sabe, a Pri estava comentando algo esses dias atrás sobre você e alguns prêmios em campeonatos automobilísticos. – ele comentou descontraidamente antes de tomar um gole do vinho. - E eu fiquei me perguntando de quem eu estava com raiva: Você por não ter me contado nada ou eu por não ter jogado o seu nome na internet quando começamos a sair.

Liza ri.

- Você costuma jogar o nome de quem você sai na internet?

- Não, mas acho que vou passar a aderir. – ele diz rindo. – Descobri que você foi uma das melhores pilotas júnior. Por que não me contou?

Ela respira fundo.

- Era um passado que eu vinha tentando superar, esquecer. – diz olhando em seus olhos. – Contar à vocês não ajudaria no processo.

Ele se põe a pensar, mas logo admiti: - É, faz sentido.

Ela sorri e permanece com os olhos nos dele por alguns instantes.

- Pode perguntar, eu sei que você está se coçando para saber.

- Como que era? – ele questiona com um sorriso enorme nos lábios. – A sensação de dirigir um carro incrivelmente veloz?

Liza ri anasalado.

- Não era o carro mais incrivelmente veloz, mas era maravilhoso. – ela pronuncia, com paixão exalante no brilho de seus olhos. – Você sente todo aquele poder nas palmas de suas mãos e supri qualquer outro sentimento. Te deixa extasiado. É uma das melhores sensações que já senti na minha vida.

- Qual a velocidade máxima que você já alcançou? – ele indaga com o rosto repleto de admiração.

- Já cheguei à 305 km/h. Mas isso em testes com carros da F2, não cheguei a disputar com esses carros. Minha categoria permitia só até os 170 km/h.

- Isso é tão legal! – ele celebra. – Eu vi que você teve nove vitórias no Fórmula Renou, e foi campeã na sua temporada de estreia. Isso é impressionante!

- Você realmente me googlou! – ela comenta risonha.

- Era o mínimo que eu poderia fazer. – ele dá de ombros aos risos. – Têm umas três páginas de pesquisa falando sobre a minha namorada e eu não fazia ideia. Mas, tudo bem. A questão é: Você sempre se sentiu deslocada no trabalho e estava insatisfeita, agora eu sei por que, mas, por que não retomou sua carreira ainda?

Eliza sorri desconcertada e é salva antes que pudesse abrir a boca. Seus pais haviam chegado no momento certo.

- Boa noite, queridos. – diz sua mãe com um sorriso simpático no rosto.

Ambos se levantaram para cumprimentar.

- Oi pai. – ela diz abraçando ao homem. – Vocês vieram juntos?

- Não, chegamos ao mesmo tempo. – o pai informa sorrindo. – O que quer dizer que não estou atrasado.

- Vai chover, graças à esse milagre. – Patrícia alfineta de forma divertida, logo puxando a filha para um abraço depois de cumprimentar Fael.

- Seria o segundo da noite, já que é incomum a Liza convidar a nós dois para um jantar no meio da semana. – Marcos rebate, olhando sugestivamente na direção da filha.

Priscilla retorna à mesa no mesmo instante e cumprimenta os recém-chegados. Não se demora muito para que todos se acomodassem e avaliassem os cardápios.

Depois que haviam feito os seus pedidos, auxiliados por Miguel que havia feito aconselhamentos notavelmente deliciosos, Eliza sabia que não teria muito tempo até que alguém questionasse o real motivo para estarem reunidos naquela noite. E foi exatamente o que o seu pai pontuou na sequência: - Apesar de estar contente por esta reunião, minha filha, estou curioso em saber o porquê ela foi necessária.

Liza olha para Priscilla, que a incentiva com o olhar, e respira fundo.

- Reuni vocês aqui hoje porque tenho uma notícia importante para dar.

- Vocês vão se casar! – a mãe sugere alegremente, batendo as mãos em entusiasmo.

Rafael engasga com o líquido que havia acabado de colocar na boca.

- Não! – Liza se adianta em negar, e dar palmadas leves nas costas no rapaz. – Por favor, não tentem adivinhar. Só hoje já fiquei noiva e grávida.

- Está grávida? – o pai indaga com a face alarmada.

- Não! – ela nega novamente e se vira à Fael. – Você está bem?

- Sim. – ele diz com a voz rouca, depois de duas tosses.

Eliza endireita a sua postura diante de todos os olhos em sua direção e respira fundo novamente.

- Eu vou voltar a correr.

A mesa é coberta por um manto agonizante de silêncio.

Liza olha para as expressões de cada um, que – exceto a de Priscilla – todas estavam surpresas, e continua: - Angél Rossi da Pruma Racing está me esperando na Itália até a próxima semana para finalizarmos o acordo sobre eu correr como pilota deles na próxima temporada da Fórmula 2 e já começar os testes classificatórios. Ela vai ser o meu gancho de entrada para a Fórmula 1 porque preciso completar minha caderneta de km corridos com um carro de mais de seiscentos cavalos para tirar a superlicença e ter autorização oficial. Embarco neste sábado.

Dito isso ela pega sua taça e dá uma grande golada no vinho. Depois que pousou a taça na mesa novamente aguardou pela torrente de perguntas que viriam.

- Você está louca?

- Colocar sua vida em risco assim?

- Você já assinou um contrato sem ao menos contatar os seus responsáveis?

- A passagem é reembolsável?

- Quando começa essa temporada?

- Você leu as cláusulas desse acordo?

- Calma pessoal, vamos ouvir o que ela tem à dizer. – Priscilla interrompe educadamente.

- Já basta. – Liza sobressalta. – Primeiro de tudo eu quero deixar claro que essa é a minha decisão e não há circunstância alguma que me faça mudar de ideia. Eu sou maior de idade e por ventura agora tenho direito de escolher o que eu quero para a minha vida. E é isso que eu sempre quis.

- Você já assinou o contrato? – a mãe pergunta incrédula.

- Há três dias.

A mãe põe a mão no peito enquanto ergue a outra, para chamar Miguel: - Uma água, por favor.

Marcos olha para a filha com uma expressão pensativa. Em seguida procura por sua mão por cima da mesa. Eliza entrelaça os seus dedos.

- É isso mesmo que você quer, querida? – ele questiona carinhosamente.

- Sim, pai.

Ele solta o ar que prendia.

- É muito perigoso. – ele comenta relutante. – As pessoas morrem nessas competições.

- Isso acontecia com frequência antigamente, pai. – ela explica – Hoje, com o avanço da tecnologia, a segurança triplicou e é muito difícil um acidente chegar á óbito. Eu sei que é um esporte perigoso, mas nós sofremos riscos todos os dias de nossas vidas em qualquer profissão. Para morrer, basta estar vivo. E eu não vou mais deixar que o medo decida por mim.

Marcos olha a filha nos olhos e sorri.

- Você tem um bom agente para cuidar da parte burocrática? – ele indaga.

- O que? – a mãe esbraveja olhando diretamente para Marcos, que a ignora.

- O tio Fábio já está lá cuidando disso para mim junto da Renata Rodrigues, aquela advogada que negociou a quebra do contrato. – ela informa sorrindo. – Eles estão fechando acordo com uma empresária para gerenciar minha carreira e evitar boa parte dos problemas da última vez, ela vai favorecer a minha imagem.

- Eu sabia que tinha dedo do seu tio nisso, assim que a mamãe falou que ele estava vindo para cá eu devia ter desconfiado. – Patrícia intervém na conversa, aos resmungos.

- Ele sempre cuidou de mim e apoia minha carreira, eu não poderia pedir à qualquer outra pessoa para exercer uma função que sempre foi dele. – Liza esclarece à mãe. – E, mais uma vez, a decisão foi minha.

- Vai abandonar tudo o que você conquistou aqui para correr? – a mãe questiona abismada.

- Sim. – ela sorri. – Vendi meu carro, desfiz das minhas coisas, juntei uma boa grana para começar. Minha mala já está pronta para a Itália.

- Como pôde? – a mãe grunhe – Depois de tudo o que tivemos que fazer para que você saísse desse mundo? Depois de todo o dinheiro que gastamos?

- Aquela tinha sido uma decisão de vocês, e sofreram as consequências por ela. – ela rebate. – Agora quem está escolhendo sou eu, e somente eu vou arcar com as consequências pela minha decisão.

Patrícia bebe a sua água, controlando a respiração fervorosa.

- Se pensa que estarei na arquibancada te aplaudindo de pé, está muito enganada.

- Eu não vim pedir isso. – Liza diz séria. – Vim explicar o porquê eu não estarei no Brasil durante um bom tempo. E quanto ao seu apoio, sobrevivo sem ele. Afinal, sempre sobrevivi. Você não estava lá para aplaudir os meus pódios e mesmo assim eu sempre estive neles.

Quando o último resquício da paciência de Patrícia se perde, a mulher pega sua bolsa e levanta-se da mesa, caminhando para a saída em passadas firmes.

- Patrícia. – seu pai à chama, mas ela sequer olha para trás.

Os pratos chegam e os na mesa os recebem em silêncio.

Liza olha da porta de saída do restaurante ao seu pai.

- Não vou ficar chateada se for até lá. Sei que tenho o seu apoio e pra mim isso basta. – ela diz e o pai sorri em sua direção antes de se levantar e ir atrás da ex-esposa.

Os três restantes começam a comer em silêncio, que é interrompido um tempo depois pela própria Liza: - Nada a declarar? – ela questiona à Fael, que se manteve quieto desde que a notícia fora dada.

Ele engole sua massa e toma um gole do vinho vagarosamente para em seguida mirá-la nos olhos.

- Eu estou feliz por estar correndo atrás de uma coisa que obviamente é importante para você.

Ela analisa o rosto pleno e sem expressões do rapaz.

- E por que eu acho que você está falando isso só para me agradar? – ela questiona.

Ele limpa a boca com o guardanapo e vira em sua direção. Priscilla automaticamente encontra uma desculpa para sair da mesa, dizendo algo sobre ir elogiar à comida ao chefe, e se afasta.

- Não estou falando só para te agradar, eu realmente estou feliz por você. – ele esclarece sorrindo. – Só estou pensando no quanto sua ida para outro país vai afetar o que temos. Poxa, uma hora estamos planejando uma viagem e na outra você vai morar em outro país. Estou tentando assimilar essas informações, pensei que estávamos atingindo o próximo nível no relacionamento.

 Liza engole em seco.

- Não se preocupe, eu não sou o tipo de cara que vai ficar te segurando em um relacionamento à distância. – ele diz rindo fraco. – Só que eu gosto do que temos e não deixo de ficar triste por ter que acabar.

- Não tem necessariamente que acabar tudo entre nós. – ela fala, porque sabe que o seu envolvimento romântico com Fael não era tão forte para resistir à distância e a falta de contato. – Somos bons amigos e eu não quero que fique como se nunca mais fossemos voltar a nos falar. Podemos fazer visitas, trocar mensagens, fazer chamadas de vídeo, tem tantas alternativas. – ela entrelaça os seus dedos nos cabelos da nuca dele – Não quero tirar você da lista de chamadas rápidas. Eu gosto de você.

- Essa é a questão. – ele sorri bondosamente – Você gosta de mim, eu te amo. E tudo bem, eu não tenho como te obrigar a me amar. Mas pensava que poderia conseguir que amasse com o tempo, que não vamos ter mais. Então, meio que acabou sim. – ele sorri sem humor. – Vou sentir falta do seu beijo, dos seus braços – ele encosta a bochecha no seu braço que ainda estava erguido para acariciar seu cabelo – do seu riso, das suas covinhas – ele acaricia sua bochecha com a mão livre – da sua sensatez, da sua inteligência...E apesar de saber que vou sentir muito a sua falta e do que temos, não vou ser egoísta e fazer qualquer coisa que te faça se sentir mal por estar indo atrás do seu sonho.

- Como eu queria que você só me xingasse e saísse batendo o pé, fica mais fácil te odiar e não sentir sua falta. – ela diz e enlaça o seu pescoço com os braços, abraçando-o forte. – Você é incrível, obrigada. Por tudo.

 Depois que o clima ficou mais tranquilo e as pessoas retornaram à mesa, exceto por Patrícia que havia realmente ido embora, a noite foi fechada com conversas menos pesadas e risadas sobre assuntos aleatórios.

No sábado de manhã, para a sua surpresa, os três a acompanharam no aeroporto até a sua partida para uma vida completamente nova. Quando seu vôo foi chamado, cada um tinha as suas solicitações e recomendações para dar.

- Você trate de me ligar, ao menos a cada dois dias. Sei que vai estar ocupada, mas arranje um tempo para me atualizar se você tem comido direito, se tem dormido o suficiente e se precisa de qualquer coisa. Eu farei o possível daqui para ajudar. – o pai declara. – Seu tio não é lá muito certo das ideias, mas eu confio em você. Tenha juízo e não se meta em encrenca. No final do ano eu estarei lá para te visitar e, quem sabe, estar comemorando a vitória da minha filhota. Desculpe, minhas férias não saem antes disso.

Liza sorri compreensiva.

- Está tudo bem, pai. Eu entendo. Obrigada.

- E perdoe a sua mãe, você sabe que ela só está com medo de você se machucar. – seu pai diz. – Ela te ama e não quer te perder.

- É uma péssima forma de demonstrar. – ela suspira. – De qualquer forma, o importante é que desta vez ao menos tenho você ao meu lado. Obrigada.

Eles se abraçam, Liza afunda o rosto na curvatura do pescoço do pai enquanto ele a apertava em seus braços, guardando na memória cada detalhe. Eles sabiam que aquela poderia ser uma despedida real, não como de quando ela foi morar do outro lado da cidade com a amiga. Eles não se veriam mais todo final de semana ou tomariam cerveja assistindo os jogos de futebol na quarta, e aquilo doía. A saudade já batia precocemente antes mesmo dela partir.

Apesar do pai ser bruto e um pouco quieto, deixando a desejar palavras, ele recompensava em atitudes. Marcos sempre fez de tudo pela filha, claro, o que estava ao seu alcance; sempre a encorajando à seguir o coração e não ter medo de grandes desafios.

Vê-la depressiva partira o seu coração e, foi um dos motivos que o fez pedir o divórcio da ex-mulher – não estava mais disposto a compactuar pela limitação e superproteção que ela queria impor à filha. Então, neste momento, ele não poderia estar mais feliz por ela finalmente estar satisfeita consigo mesma. Não deixaria de apoia-la um instante sequer, mesmo que sentisse que um pedaço dele estava indo para o outro lado do mundo.

Eles se afastam e Liza limpa as lágrimas debaixo dos olhos rapidamente.

- Eu te amo, pai.

- Também te amo, Liz.

Visto o término da despedida, Priscilla se aproxima.

- Não se esquece de pegar o telefone de algum italiano gatinho, daqueles que você sabe que eu vou me derreter. – Priscilla pede e a jovem ri. – É o mínimo por ter que fazer eu dividir o apê com a minha prima.

- A Rebeca é um amor, Pri. Não dramatiza.

- Mas ela não é você, chata. – ela diz abraçando-a calorosamente. – E não ouse arrumar uma melhor amiga lá, que eu saio daqui pra ralar a cara dela e a sua no asfalto.

Liza gargalha.

- Ninguém vai assumir o seu posto, isso eu posso te garantir.

Elas se afastam e Rafael se aproxima.

- Isso não é um adeus. – ela diz convicta, entrelaçando os seus dedos – É um “até logo”, amigo.

- Vou ficar esperando, até lá vou assistir a todas as corridas e torcer feito um louco por você. – ele sorri encostando as suas testas.

Eles juntam os lábios calmamente, selando suas bocas vagarosa antes de se abraçarem. Logo se afastam e todo aeroporto pode ouvir: Vôo 2158 para Vicenza, Itália.

- É a minha deixa. – Liza diz sorrindo aos três. – Tchau, gente.

E assim ela se vira para o portão de embarque, guardando em mente aqueles que acenavam para ela, e completamente pronta para o que vinha pela frente.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo