Six

As luzes de neon e ambiente escuro os deixam momentaneamente cegos, mas logo a visão se acostumou. O local é uma boate badalada no centro da cidade, e por isso estava praticamente impossível transitar de um ambiente ao outro, graças ao grandioso número de pessoas. Corpos suados dançavam a batida de uma música eletrônica, pessoas rindo e conversando com copos coloridos em mãos, luzes piscando e correndo pela pista de dança e um bar lotado lembravam Eliza à época de faculdade. Quanta ironia, ela pensa recordando-se da fala do tio de mais cedo.

Ela e Charlie vão diretamente ao bar e quando finalmente chegam lá Eliza pede duas cervejas. Enquanto esperam Charlie corre os olhos pela extensão da boate e Liza mira seu rosto animado e sorriso divertido.

Que ela estava atraída por ele, não podia negar, mas ela não queria levar os conselhos do tio à risca. Charlie não parecia ser um cara para somente uma noite, ele era tão divertido e com tanto conteúdo que, pela primeira vez em relação à homens, ela sentiu que queria tê-lo na sua vida de alguma forma. Fosse como amigos ou algo mais, não importa, ela só queria que ele fosse constante.

O barman pousou as duas garrafas no balcão à frete deles e logo voltou à atender os outros pedintes.

- Amigo, você esqueceu de abrir. – Charlie grita para o rapaz que já está na outra ponta do bar gigantesco.

- Não precisa. – Liza fala, abrindo a garrafa na quina do balcão, uma de cada vez. Entregando a dele em mãos, diz: - Voilá.

- Vai ter que me ensinar isso. – ele diz sorrindo para a garrafa. – Onde aprendeu?

- Faculdade. – ela ri.

Eles brindam e bebem.

- Quer ir procurar os seus amigos? – Charlie questiona em seu ouvido, visto a altura da música e gritaria do povo.

- Esse lugar está tão cheio, duvido que vamos encontra-los com facilidade. – ela diz próxima à ele. – Vamos dar uma volta, se não os encontrarmos ficamos só os dois mesmo.

Charlie está com um sorriso grande no rosto quando ela pega sua mão e começa a andar por entre as pessoas.

Eles caminham por todos os cantos da boate, olhando aos lados para checar se encontravam alguém conhecido. Quando o rapaz estava prestes a comemorar internamente que não tinham encontrado os tais amigos e por consequência ficariam sozinhos, ele os vê.

No andar de cima, apoiados no beiral de vidro com vista exclusiva para a pista de dança, estavam os seus ex-colegas de campeonato, quando disputou a F2. Felipe e Afonso, tais quais haviam feito sua vida na Fórmula 2 duplamente mais difícil.

Na intenção de não ser visto, Charlie aperta a mão de Liza e sopra em seu ouvido: - Podemos mudar o trajeto? Tem uns caras aqui que eu não...

- Encontrei eles! – ela vira em sua direção com um sorriso no rosto.

Charlie engole em seco, torcendo mentalmente que eles não estivessem falando das mesmas pessoas. Mas tem que controlar a frustração quando segue a direção que Liza apontava.

Ao perceber o olhar tenso do rapaz enquanto mirava seus amigos à frente, ela questiona: - Está tudo bem? Você dizia...

Ele fita seus olhos avelã e, apesar de saber que seria extremamente desagradável, dá de ombros e sorri: - Nada, vamos lá.

Liza entrelaça os seus dedos e segue na frente animada. Eles sobem as escadas escuras e chegam ao andar de cima, que estava parcialmente mais vazio. Ela caminha até onde os rapazes estão e antes que anunciasse sua chegada, Felipe esbraveja: - Benedetti! Você veio!

- E acompanhada. – Afonso comenta confuso.

- Oi gente. – ela salda à todos na roda. – Antes tarde do que nunca.

- É assim que se fala! – Felipe brinda sua garrafa na de Liza e olha Charlie – Lacroix, quanto tempo?!

- Bastante. – Charlie fala soltando a mão de Eliza para apertar a dele.

- É claro que vocês se conhecem. – a jovem diz mirando de um à outro.

- Claro que conhecemos! – Afonso se aproxima. – Lacroix era da nossa turma, éramos os novatos. Estreamos na mesma temporada.

Charlie aperta a mão de Afonso rapidamente e sorri à contragosto, em seguida procura pela mão livre da garota e entrelaça os seus dedos novamente. Liza parece não se importar, mas o ato não é despercebido pelos outros dois.

- Como está a vida entre os melhores dos melhores? – Felipe pergunta. – Ouvi falar que a próxima temporada só vai ter fera, espero que não caia para a Q1.

- A posição inicial não importa, o que acontece durante a corrida é que é importante. – Charlie diz, sem tirar o sorriso simpático do rosto.

- Com certeza. – Afonso concorda e dá batidas amigáveis em seu braço.

- Droga, a cerveja acabou. – Liza comenta olhando a garrafa em sua mão. – Quer mais uma? – ela questiona à Charlie.

- Sim, vou buscar com você.

- Tem bar aqui em cima, - Afonso diz antes que eles se afastassem e indica o balcão extenso e com três pessoas escoradas nele.  – é mais vazio que o de lá de baixo.

- Valeu! – Liza agradece e puxa Charlie pela mão.

Chegando lá os olhos da mulher brilha ao se deparar com uma bebida colorida na mão de uma das bartenders. Quando chega a sua vez, ela pergunta de imediato: - Oi. Do que é feita aquela ali?

- Frutas vermelhas, licor de manga e muita vodka. – a mulher com o braço fechado de tatuagens coloridas, cabelos vermelhos e roupa de couro diz sorrindo em sua direção.

Liza sorri animada e pede uma, virando-se para Charlie ela questiona: - Continua na cerveja?

- Eu não sou muito adepto à bebidas destiladas. – ele admite. – Elas são meu ponto fraco.

- Tudo bem. – ela diz – Cerveja então?

Charlie suspira.

- Se eu ficar muito ruim com isso, você cuida de mim? – ele indaga mirando a bartender trabalhar na bebida atrás do balcão.

Liza ri.

- Você pode confiar em mim. – ela diz sorrindo. – Mas não precisa beber se não quiser. Se for se sentir mais confortável com a cerveja, eu termino essa e te acompanho.

- Você é o que, um Opala? – Charlie indaga divertido e Liza gargalha. – Devo ter medo das suas histórias da época da faculdade?

- Ah, sim! – ela assente em meio á risos – O que eu mais aprendi na faculdade não era ensinado nas salas de aula. E não, não me orgulho disso.

Charlie ri.

- O problema não é não confiar em você, é em mim que eu não confio. – os dois riem. – Mas tudo bem, quero experimentar já que vai cuidar de mim. – o rapaz chama a atenção da bartender e fala: - Faz mais uma, por favor.

Liza escora no balcão e fica de frente para Charlie, cruzando os braços.

- Eu senti um clima tenso entre você e os meninos, ou foi impressão minha? – ela questiona com um sorriso divertido no rosto.

Charlie umedece os lábios para ganhar tempo. Não queria ter que dizer todas as coisas ruins que os rapazes haviam feito com ele, visto que Eliza parecia ter um tipo de amizade com eles.

Ela e Charlie haviam, literalmente, acabado de se conhecer e ele não sabia qual era o nível dessa amizade dela com os garotos. Além do fato dele não ter credibilidade o suficiente com ela ainda para desmascarar as faces de bom moço que os pilotos conseguiam manter.

Charlie não queria deixar o clima pesado, visto que estavam se divertindo tanto aquela noite. Portanto diz descontraído: - Não há nada, só a velha implicância entre adversários.

Ela sorri e assente, descruzando os braços.

- Então Charlie Lacroix é monegasco, tem um fraco por bebidas destiladas, gosta de velejar, nadar, jogar videogame e tocar piano. Além de correr, claro. – ela observa sorrindo – É adorável, um amor de tão gentil, engraçado e um gato. Tem mais alguma coisa que eu precise saber sobre você?

- Eu estou solteiro.

Liza arqueia as sobrancelhas em surpresa pela ousadia, mas acaba rindo ao mesmo tempo em que suas bochechas coravam.

- Desculpe. – ele se adianta sorrindo e olhando diretamente em seus olhos. – Eu não quis ser invasivo. Seu namorado não vai me bater, vai?

Liza umedece os lábios e abre um grande sorriso antes de falar o que Charlie mais queria ouvir naquela noite: - Eu não tenho namorado.

A mulher chega com as bebidas coloridas enfeitadas em taças de plástico e os entrega. Eles pagam e brindam antes de provar o líquido.

Charlie sente o doce descer pela sua garganta sem ardor algum e dá mais um gole, aquela era a bebida mais gostosa que ele já havia provado.

- Eu gosto dessa música. – Liza comenta com o canudo entre os lábios e começa a balançar os quadris conforme o ritmo da melodia.

- Quer ir para a pista? – ele questiona indicando o andar de baixo e ela assente, pegando em sua mão e o permitindo que a guiasse.

Chegando no centro da boate, onde as pessoas dançavam cada qual em seu ritmo e movimentos, Liza solta sua mão e fica de frente à Charlie. Ela pousa a mão livre em seu ombro e se aproxima.

Charlie sorri vidrado. Os fios do cabelo longo estavam escapando do coque que ela havia feito mais cedo, o suor causado pelo lugar abafado deixava a sua pele brilhando e o movimento singelo com que ela balançava os quadris deixavam o rapaz hipnotizado. Ela parecia uma caçadora e ele queria ser a sua presa.

Por isso pousa a sua mão livre na cintura fina dela e, por mais desengonçado que fosse para dança, deixou seus ombros seguirem o mesmo ritmo.

Ela suga a bebida do copo sem tirar os olhos dos dele e sorri quando vê ele engolir em seco. Liza se aproxima ainda mais, escorregando a mão pousada no ombro para a sua nuca – quase colando os seus corpos, e sopra no ouvido dele a letra da musica: “I gotta feeling. That tonight's gonna be a good night”. (Eu tenho um sentimento. De que esta vai ser uma noite boa).(TBEP, 2009)

Foi o que bastou para que Charlie deixasse o copo escorregar de sua mão, deixando-a livre para subir até o pescoço dela e se encaixar atrás da orelha e nuca. No mesmo instante Liza acaricia o cabelo da nuca dele com a mão livre. Charlie aperta levemente sua cintura e faz um singelo carinho com o dedão em sua bochecha.

Os olhos estão em uma conexão vidrada, um querendo desvendar os enigmas do outro. Liza umedece os lábios pouco antes de eles se encontrarem com os de Charlie, e é quando o seu copo vai ao chão e ela sente suas pernas fraquejarem.

O frio na sua barriga só intensifica a ânsia por mais e logo as línguas estão desvendando o espaço em suas bocas. Charlie desce sua mão, e ambas seguram a cintura da mulher de maneira firme, para não deixa-la escapar.

Liza por sua vez abraça o pescoço do rapaz com ambos os braços, colando os seus corpos por completo.

Eles manejam os movimentos em conjunto e desatrelam as suas bocas, só para que Charlie descesse uma linha de beijos até a lateral do pescoço de Liza, que arfa silenciosamente em prazer.

O coração no peito da jovem está batendo mais rápido que as batidas estrondosas da música ambiente e por um instante ela se sente em sintonia com tudo ao seu redor. Ela estava hiperconsciente na respiração de Charlie batendo em seu pescoço e cada célula do seu corpo se arrepiar gradativamente.

Ele afasta a boca de seu pescoço e ela abre os olhos, se deparando com aquela selva verde no olhar dele encarando-a extasiado. Eles juntam as bocas novamente, buscando explorar todo o gosto e sabor daquele beijo extraordinário.

Quando o ar se apresenta necessário, eles se afastam minimamente para puxar uma lufada quente para seus pulmões.

Os peitos estão subindo e descendo constantemente, e Charlie sorri ofegante.

- Você ainda quer ficar aqui? – Liza pergunta com a boca colada no ouvido do rapaz.

- Vou aonde você for. – Ele diz e Liza sorri de orelha a orelha.

(...)

Uma brisa fresca bate nas costas quentes de Liza e ela sente seus pelos se arrepiarem. Automaticamente sua consciência está ativa, porém confortável o bastante para acordar por completo. Ela respira fundo e aos poucos os sentidos de seu corpo vão se reestabelecendo.

Ela sente seu braço esquerdo dormente enquanto metade de seu tronco e braço direito repousam em cima de uma superfície macia divergente da do colchão. A claridade por trás das suas pálpebras denuncia que está de dia ou que o lugar, onde quer que estivesse, estava iluminado por completo.

Ela boceja ainda com os olhos fechados e move o seu tronco, sentindo um leve peso na terminação das suas costas. Liza franze o cenho ainda de olhos fechados e vai os abrindo aos poucos, acostumando a sua visão com a claridade.

Quando os seus olhos abrem por completo ela se vê completamente nua, deitada em cima de um peitoral, com o seu braço direito jogado por cima da barriga, as pernas entrelaçadas com as da pessoa debaixo dela enquanto ambos os braços do outro a abraçavam de forma protetora. Fora o lençol branco que os cobria da cintura abaixo.

Ela respira fundo, sentindo aquele perfume masculino alastrado sobre os dois, e levanta o rosto para encontrar a face plena de Charlie Lacroix consumida pelo mais profundo sono.

Automaticamente as lembranças da noite passada a atingem em alta velocidade. Instantaneamente as imagens do jantar, das conversas, da cerveja, da balada e do sexo estão evidentes em sua cabeça – com a última etapa sendo destacada das demais de forma discrepante e em letras maiúsculas.

Eliza não era uma mulher que pudesse considerar ter dormido com muitos parceiros. Por sempre estar em uma relação exclusiva com uma pessoa especifica por vez, a lista que contabiliza o seu total de parceiros não passava de cinco.

Contudo Liza já havia experimentado dos mais variados tipos de prazer e posições em uma cama e podia dizer com a mais absoluta certeza que nada havia sido tão prazeroso quanto a experiência da noite anterior.

O modo como Charlie a encarava com os olhos completamente vidrados; a forma como ele a tocava, com a sua mão grande despejando carinhos por toda a extensão do seu corpo; somado ao fato da sincronia com que eles se moviam, haviam a feito chegar ao ápice mais de uma vez em uma noite. E isso nunca havia acontecido anteriormente.

Fosse o doce dos lábios do rapaz ou o modo que aqueles olhos verdes pareciam a desvendar por inteira, ela havia abaixado a guarda por completo e permitido que ele usufruísse dos seus dotes como bem quisesse.

Ela sorri, recordando-se do quanto ele havia sido atencioso e cavalheiro, porém feroz e sagaz nos momentos propícios.

Apesar de querer fechar os seus olhos e aproveitar do corpo escultural de Charlie disposto ali só para ela, seu braço esquerdo estava doendo e ela precisava se mover para tirar o peso de todo o seu corpo de cima dele.

Delicadamente com o braço livre ela desfaz o abraço de Charlie ao redor dela, desentrelaça as suas pernas e desliza para o espaço livre na cama. Ela deita com as suas costas no colchão e balança o braço esquerdo no alto, causando formigamento.

Quando a sensação passa e ela sente o sangue voltando a circular no braço se senta e joga as pernas para fora da cama. No chão abaixo de seus pés ela encontra a sua calcinha e de imediato a veste.

Começa então a sua caça pelas suas outras peças.

Ela passa os olhos pelo quarto de hotel e é impossível não notar a trilha de bagunça que haviam feito na noite passada. Primeiro começou com as duas garrafas de vinho que haviam pego no frigobar, que estavam vazias junto das taças em cima da mesa de vidro na sacada. Suas portas estavam completamente abertas – as quais eles não se incomodaram em fechar, fazendo com que as cortinas brancas dançassem conforme a brisa fria que entrava.

Em seguida mirou o sofá grande de veludo, onde Charlie a deitara e mostrou que sabia trabalhar muito bem com a língua. Consequentemente ela havia desalinhado as almofadas, maltratando-as com suas unhas.

 Parte das roupas dos dois estavam jogadas pelo chão e a outra em cima dos móveis – a calça dela estava sobre a televisão gigantesca na parede e a camisa dele sob uma poltrona. Os inúmeros travesseiros da cama estavam um em cada canto diferente do quarto gigantesco... Enfim, o quarto estava uma bagunça.

Liza se levanta e começa a procurar preferencialmente por seu sutiã e camisa. A peça intima ela encontra caída perto do frigobar e rapidamente a veste, mas a camisa ela não visualizava em lugar algum.

É quando se lembra que assistiu a peça cair do décimo segundo andar e parar no meio da rua, quando eles começaram a se despir com veracidade ainda na sacada do quarto.

Porra, que tesão era aquele?!

O toque de seu celular a desperta dos devaneios e ela vai à sua direção sendo guiada pelo som, mas quando o alcança a ligação cai. Ela olha as notificações e se assusta ao se deparar com vinte e cinco ligações e dezoito mensagens de Cris, duas mensagens de seu engenheiro, duas de Priscilla, uma ligação perdida de seu pai e uma mensagem de seu tio.

Ela desliza os olhos até o relógio digital, arregalando-os de choque ao perceber que já passava das duas da tarde no horário da Itália.

- Eu tô muito fodida. – conclui aos sussurros.

Alarmada ela verifica primeiro a mensagem de seu tio.

“Espero que a noite tenha sido boa porque o chicote vai estralar pro seu lado. HAHAHA Cris achou que você não queria sair do quarto pelo jantar mal sucedido de ontem – em partes rs – e quis levar um café da manhã na cama para você. Imagina a surpresa dela quando abriu a porta do seu quarto e não te encontrou lá. Enfim, ela está louca atrás de você. Tentei dobrar ela, falando que você saiu para se distrair, mas se você não aparecer logo juro que ela vai acionar a policia italiana.”

Ela checa o horário da mensagem, havia sido recebida há duas horas.

Então ela passa os olhos rapidamente pelas mensagens de seu engenheiro que comemorando que a introdução da ferramenta do carro que ela havia solicitado iria dar certo; da amiga que a parabenizava pelo pódio de ontem e, por último – e bem mais alarmantes – as mensagens de Cris.

Começava com “Bom dia. Fiquei sabendo sobre o Matias, não sabia que ele era tão idiota. Sinto muito. Quando acordar me avisa.” Passava para um “Por que a sua cama está intocada e você não está nela?” e “Onde você está?” para finalizar com “SE VOCÊ NÃO ME RESPONDER EU VOU VENDER OS SEUS TROFÉUS NA INTERNET”. Fora as demais com conteúdos mais pesados.

Rapidamente ela digita em resposta: “Oi, estou bem. Não se preocupe, estarei de volta em breve.”.

Assim que é indicado que a mensagem foi recebida, a palavra digitando... surge no topo da janela de conversa.

“ONDE VOCÊ ESTÁ?” – ela recebe em menos de três segundos.

“Estou no hotel.”

Não havia muitos hotéis na cidade de Modena, principalmente os que acomodassem pilotos em suas visitas sazonais devido aos eventos automobilísticos. Não era coincidência que ela e Charlie estivessem hospedados no mesmo hotel, assim como os demais envolvidos com o esporte. Eliza agradeceu mentalmente esse fato, pois assim estaria de volta ao próprio quarto de forma discreta e rápida.

 “Em que parte?”

Liza morde o lábio inferior.

“Em um quarto.”

Meio segundo se passa quando ela recebe a resposta: “VOCÊ NÃO ESTÁ NO SEU QUARTO!!”.

“Eu não disse que era no meu.” Ela digita controlando o riso.

O informativo digitar... apareceu e sumiu por duas vezes consecutivas antes que a mensagem dela chegasse: “Por favor não me fala que você transou com um dos pilotos.” Acompanhada de: “Principalmente com o Mike.”

“Não transei com nenhum dos pilotos...da F2.” Ela digita e morde o lábio inferior.

Dois segundos depois ela recebe: “Mamma mia, você não pesca para pegar peixe pequeno. Lacroix?!”, e sequer aguarda Liza responder para m****r novamente: “Que seja, quero você de volta no seu quarto em quinze minutos.”.

“O.K.”

Ela bloqueia o celular e volta sua atenção para o quarto, concluindo que seria melhor responder as demais mensagens e retornar a ligação do pai quando estivesse mais tranquila – geralmente eles passavam horas conversando por chamada de vídeo. Liza recolhe a calça na televisão e pega a camisa de Charlie, vestindo-a sem abotoar enquanto caminhava rapidamente até o banheiro. Chegando lá ela veste a calça e não se demora para pegar uma das escovas descartáveis disponibilizadas pelo hotel para escovar os dentes. Lava o rosto, penteia os cabelos e se encara no espelho, checando se a aparência estava no mínimo apresentável.

Quando sai do banheiro se depara com Charlie terminando de vestir a sua cueca.

- Bom dia. – ela diz quando ele sorri ao vê-la. – ... tive que pegar emprestado porque... – ela começa indicando a camisa desabotoada.

- Derrubei a sua da sacada ontem.  – ele completa coçando a nuca envergonhado. – Eu te compro outra, me desculpe.

- Não se preocupe, estamos quites. – ela ri, começando a abotoar a camisa de cima para baixo – Eu não pretendia devolver essa mesmo.

Charlie ri.

Faltando alguns botões para finalizar, ela amarra as duas partes da camisa para que não parecesse tão grande. Em seguida procura pela bolsa e os sapatos pelo quarto enquanto o rapaz a observava atentamente.

O dia após a primeira noite de sexo com um parceiro novo sempre definia o que seria da relação dos dois dali adiante. As expressões corporais diziam por si só e Charlie estava atento às de Liza porque depois de uma das melhores noites de sua vida, ele não queria que tudo acabasse naquele quarto de hotel e virasse uma mera lembrança.

Ela encontra os seus itens e senta-se no sofá para calçar os sapatos. Quando finaliza levanta-se e para de frente á Charlie, com uma boa distância entre eles.

Um silêncio constrangedor assola o lugar.

- Tô vendo que você já está de saída. – ele comenta com um sorriso tristonho no rosto.

- Eu realmente tenho que ir, Cris está louca atrás de mim. – ela explica aproximando-se em passos lentos até a porta. Ele a segue.

- Pensei que tinha dito que estava de folga essa semana. – ele comenta quando ela para à um metro da porta, ela procura por seus olhos.

- E estou. – afirma presa naquele verde. Eles haviam se tornado a sua perdição. – Tem o teste no sábado, que eu acho que ainda vou ter que fazer. Mas fora isso eu vou ficar à toa por aqui até o final da semana. Ela só está preocupada com o meu sumiço.

Ele se aproxima.

- Então tudo bem se eu estender a minha estadia por aqui até o final da semana também? – ele questiona com um sorriso maroto no rosto. – Eu ia voltar à Mônaco para a semana livre, mas visto que tem algo bem melhor aqui...

- Alguma razão específica fora os seus compromissos com a Findspot que faça você querer estender a sua estadia? – ela arqueia uma sobrancelha sorrindo.

- É que eu fico pensando, - ele diz, dando mais um passo em sua direção – se vai ficar na cidade sede da escuderia da Findspot, nada melhor que um piloto da marca para te guiar.

- Quer ser meu guia turístico? – ela indaga sorrindo.

- Quero ficar com você. – diz sem hesitações.

Liza sente seu coração disparar, e aquele frio na barriga a atingir feito um soco. Ela umedece os lábios quando seus olhos caem para os lábios dele. Para ajudar, ele estava só de cueca, e com uma ereção matinal notável. O meio das suas pernas lateja.

Ela tem que respirar fundo e desviar os olhos.

- Você acha que isso, - ela indica os dois – é uma boa ideia? Digo, por questões das nossas posições sociais, o compromisso que temos com o nosso trabalho, as nossas equipes... Foi divertido, mas não acho que devemos passar disto. Eu não quero que pareça que eu esteja te usando.

- Me usando? – ele indaga.

- Não sei, a imprensa inventa um monte de coisa. Você entendeu o que eu quis dizer. – ela diz desconcertada. – E eu não quero que pense que eu sou esse tipo de pessoa que usa outrem para chegar à algum lugar porque...

Charlie sorri e a puxa pela cintura com uma mão, enquanto a outra seguia o caminho conhecido até se encaixar atrás da sua nuca. Seus lábios estão juntos antes mesmo que Liza pudesse prever, mas era inegável o quanto ela ficava abalada apenas com o beijo de Charlie.

- Estava dizendo... – ele diz com a voz rouca depois de separarem as bocas.

Ela abre os olhos e novamente encontra os seus.

- Eu não sei. – ela sopra para em seguida rir. – Isso não é justo.

- O que não é justo? – ele indaga também rindo.

- Você já tem um grande poder de persuasão sobre mim e sabe disso. – ela se afasta minimamente e fica séria. – Eu não posso ter distrações, não tenho tempo para me envolver com alguém agora. Sei que foi só uma noite, mas precisamos jogar às claras. Eu sou estreante, tenho que dar tudo de mim nessa temporada. E, apesar de ter sido muito divertido, eu não quero começar algo que eu sei que não vamos poder dar continuidade.

- Eu entendo completamente. – ele assente sério. – Mas você não concorda que, querendo ou não, nós tivemos uma conexão muito forte? Porque eu senti que foi forte.

- Sim, mas...

- É só isso que eu queria ouvir. – ele a interrompe e volta a colar os seus lábios.

Antes que suas bocas se afastassem ela está rindo novamente.

- Você está fazendo de novo.

Ele espera que ela o olhe nos olhos para falar: - Eu sou tão comprometido com minha profissão quanto você, no nosso ramo temos que ser e é por isso que vamos nos entender. Pude perceber o tipo de pessoa que você é e que tem as melhores intenções, e quero conhecer mais delas e de você. Quanto aos outros, deixe que pensem o que quiserem, basta nós saberemos o que é real. Me deixa ficar essa semana com você para nos conhecermos melhor. Eu te prometo que se não estiver convencida de que podemos fazer dar certo, simplesmente seguiremos cada um pro seu lado como bons amigos.

Ela arqueia uma sobrancelha pensativa, mas sabe que a partir do momento que colocara seus olhos nos dele estava rendida. Assim assente vagarosamente.

- Então, te vejo num jantar, mais tarde? – ele sugere sorrindo.

Ela umedece os lábios antes de sorrir.

- Passo aqui às oito.

- Combinado. – ele diz e sela os lábios nos seus novamente, desta vez, com um gosto de “até mais tarde”.

E eles ainda iriam se reencontrar muitas vezes durante aquela semana.

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