Capítulo 05

Acordei pontualmente às 7h, seguindo minha rotina matinal precisa. Após as higiene pessoal e um banho revigorante, escolhi um traje formal do meu guarda-roupa, optando por um conjunto de tailleur preto e uma blusa de seda branca. Hoje era especial: uma reunião crucial com um importante acionista para fechar um contrato.

Ao me olhar no espelho, um suspiro de confiança escapou. Meu reflexo mostrava uma mulher elegante e determinada. Sempre acreditei que um look perfeito é sinônimo de sucesso. Ajustei o colar de pérolas e verifiquei se meu cabelo estava perfeitamente arrumado.

Peguei minha pasta e revisei os documentos da reunião. Estava preparada para impressionar. A confiança e a competência seriam minhas aliadas.

Antes de sair, lancei um olhar pela janela. O dia prometia ser perfeito.

Ao entrar na cozinha, encontrei May, minha leal funcionária, preparando o café da manhã.

— Você está deslumbrante, Eloise — disse ela, com um sorriso sincero.

— Obrigada. — respondi, sentando-me à mesa. — E o seu final de semana? Divertido?

May deu um sorriso desanimado.

— Na correria, como sempre. — Seu olhar baixo revelava preocupação.

Percebi algo mais.

— Tem certeza? Você não parece bem, May.

— Estou ótima... Não precisa se preocupar, Eloise. Você já fez tanto por mim e Daisy. — respondeu, evitando meu olhar.

— May, você é mais que uma funcionária. É uma amiga. Confie em mim. — insisti, estendendo a mão sobre a mesa.

Ela suspirou.

— Você é incrível. Quero que Daisy seja tão forte quanto você.

— Será. — garanti. — Pelo menos no que depender de mim. Você é um exemplo para ela, May. Uma mãe dedicada e corajosa.

May sorriu fracamente.

— Obrigada, Eloise. Você sempre sabe como me animar.

May tinha vinte e dois anos e tinha uma filha de quatro anos, a pequena Daisy. Era mãe solteira, tinha passado por muita coisa. E eu havia feito tudo que estava em meu alcance para ajudá-la.

May raramente pedia ajuda, e isso, era um dos pontos que eu mais adorava nela. A humildade. Mas ao mesmo tempo não gostava de vê-la passando pelas coisas sem desabafar. Ela não tinha muito com quem contar.

Após um silêncio, May continuou:

— Eloise, tinha um homem lá fora quando cheguei. Usava terno e gravata. Chama-se Michael, ele disse que é o segurança.

Michael.

— Sim, o segurança que meu pai contratou.

— Ele é um peixão!

Eloise fez uma careta, tentando esconder o rubor.

— Ele nem é tão bonito assim — disse, tentando convencer May, mas sem sucesso.

May sorriu maliciosa.

— Ah, não minta! Ele é um gato mesmo! E parece competente também.

Eloise suspirou, lembrando das palavras de Sam.

— Todo mundo parece achar ele atraente, menos eu. — menti. — Mas não quero precisar dele. Quero minha liberdade.

May's expressão se tornou séria.

— Seu padrasto é perigoso. Você precisa estar protegida.

Eloise concordou, sentindo um arrepio ao lembrar do sequestro frustrado.

— Eu sei... Papai contratou dois seguranças. Thobias fica no turno da noite e Michael durante o dia.

May assentiu.

— Fizeram bem. Você não pode se arriscar.

Eloise olhou para Michael, que aguardava na sala de visitas.

— Eu amo a minha liberdade.

— Liberdade? Seu padrasto não vai desistir facilmente. Você está correndo perigo, ainda não percebeu, Eloise?

Respirei fundo. Ela tinha razão. Mas o real motivo é que algo nele me atrai.

— O que acha de chamar-mos Michael para tomar um café? — May perguntou.

Me lembri de ontem, quando o deixei do lado de fora sem lhe oferecer nada para comer. Não queria que ele me achasse uma má pessoa.

- Não vejo problema.

May assentiu e foi em direção a porta. Levei o copo de chá até a boca quando ouviu a voz de Michael preencher o ambiente. Me virei para a porta onde o vi. Michael usava seu terno preto e uma gravata azul que combinava perfeitamente com seus olhos.

- Bom dia, Sra. Thompson - ele disse ao se aproximar de mim.

- Bom dia, Sr. Dallas - sorri formalmente. - Quer tomar um chá? - ergui o bule com o chá.

Michael assentiu e puxou uma cadeira. Se sentando na minha frente.

- Obrigado.

Enchi um copo e entreguei-o a Michael. Ele agradeceu e bebeu lentamente, lambendo o lábio inferior. Uma onda de calor me invadiu.

— Michael, nos conte mais sobre você. Eloise não me deu muitos detalhes. — May interveio.

Michael sorriu.

— Sou formado em Administração, mas não era minha paixão. Meu pai queria que eu seguisse essa carreira.

— Nossa sério? Mas administrador pra segurança tem muita diferença.

Ele me olhou intensamente.

— Pois é, hoje em dia eu não me vejo como administrador. Eu encontrei meu propósito protegendo pessoas. É gratificante saber que posso fazer diferença.

Levantei-me rapidamente.

— Precisamos ir. Tenho uma reunião importante.

Michael se levantou em seguida limpando a boca em um guardanapo.

- O chá estava uma delícia. - ele disse para May que sorriu parecendo nunca ter recebido um elogio de um homem tão bonito e elegante como Michael.

É sério? Qualquer mulher se derretia por aquele homem?

Antes de May falar um gentil "obrigada", Eloise a interrompeu.

- O chá dela sempre está uma delícia. Ela sabe disso. É por isso que ainda está aqui.

Michael balançou a cabeça, e se surpreendeu por May não ter ficado sem graça ou ofendida pelo comentário da patroa. Talvez já estivesse acostumada.

- E então, vamos?

- Claro.

Passei na frente dele e fui andando em direção ao elevador. Apertei o botão e esperei alguns minutos até a porta se abrir.

Entrei em grande estilo como sempre fazia. Michael entrou atrás de mim e se encostou na parede do elevador.

Saí do elevador com Michael.

— Não sou de me arrepender, mas peço desculpas por não oferecer comida ontem — eu disse.

Michael relaxou.

— Não precisa, Eloise. Está tudo bem.

— Você não almoça? — perguntei.

Ele deu de ombros.

— Só quando dá. É a vida de segurança.

— Aqui, você não passará fome — prometi. — Vou garantir.

Michael me olhou, surpreso com a gentileza. O silêncio entre nós se tornou eletrizante. O elevador parou, e eu saí, deixando-o com uma sensação inesperada.

Quando saímos do elevador, uma figura familiar surgiu diante de mim. Hilary Cowper, com seu sorriso calculista.

— Eloise Thompson — disse ela, com um sorriso superficial que me irritou.

— Hilary — respondi secamente.

— Que surpresa! — exclamou ela, olhando para Michael.

— Não tão surpreendente, considerando que moro aqui — rebateu eu, controlando meu desagrado.

Hilary riu.

— Esqueci disso... Agora somos vizinhas. Acabei de me mudar para a cobertura ao lado.

Meu sorriso forçado escondia a antipatia que sentia por ela. Michael, atento, observava a cena.

Lutei contra a vontade de revirar os olhos. Eu mais do que ninguém odiava aquela mulher.

Quando eu tinha treze anos, Hilary descobriu que eu e meus irmãos não eramos filhos biológicos do Heitor Thompson e espalhou para todo mundo. Ela fez com que eu passasse um inferno durante o resto do ensino fundamental. Eu sentia os olhares malvados das pessoas que acreditavam que minha mãe era uma interesseira por se casar com um homem bilionário apenas para sustentar os filhos. Por muito pouco isso não durou muito, e as pessoas aos poucos foram conhecendo minha mãe de verdade e vendo que ela de interesseira não tinha nada.

Mesmo que isso tenha sido a muito tempo, eu nunca esqueceu. Foi graças aquela mulher que minha família passou por tudo aquilo. E não era apenas por inventar um falso boato da minha mãe que eu odiava. Hilary trabalhava na Stylus Thompson, era secretária do meu pai e fazia tudo que estava em seu alcance para me prejudicar. Mesmo depois de tudo que ela fez papai resolveu dar uma chance pra ela.

- Não sabia que o salário de uma secretária dava pra pagar uma cobertura de luxo. - provoquei.

- É aí que você se engana. Eu não sou mais secretária.

- Ah, não? Deixe eu adivinhar. Achou um jeito mais fácil de conseguir dinheiro? - dei um sorriso e a olhei de cima a baixo. - Ah, Hilary, eu sabia que esse seu corpinho desnutrido serviria para alguma coisa.

Michael prendeu o riso.

- O quê? Não! Eu não estou me... - Hilary se interrompeu e pigarreou. - Eu subi de cargo. Agora sou a vice-presidente. Surpresa!

Meu sorriso foi embora na hora. Ela só podia estar brincando. Meu pai não seria capaz de colocar a minha arqui-inimiga de infância como vice-presidente da empresa família. Já que ele, mais do que qualquer pessoa, sabia perfeitamente, o quanto eu queria ser a presidente da Stylus Thompson.

- Isso não pode ser verdade.

- Pergunte para seu pai. — deu um sorriso de deboche.

Começo a andar, mas paro ao ouvir Hilary falar:

- Você nem me apresentou seu namorado.

- Ele não é meu namorado. É meu segurança!

A expressão no rosto de Hilary mudou para surpresa. Ela lentamente foi caminhando em direção a Michael.

- Prazer meu nome é Hilary. - ela estendeu a mão para Michael e ele a apertou.

- Michael.

- Um nome bem bonito e bem forte. Com certeza vou te ver mais vezes...

Observo enquanto ela descaradamente passava a mão pelo braço de Michael. A vontade de puxá-la pelos cabelos para longe dele era gritante. Aquilo estava me incomodando e eu nem sabia o motivo. Michael era meu segurança, não uma estátua de ouro para as mulheres se derreterem e passarem a mão nele. Eu hein.

- Temos muito o que fazer. Vamos, Michael.

O puxei pelo braço e o levei em direção ao carro.

♡♡♡

Depois da reunião desastrosa, minha frustração estava no limite. Nada saíra como planejado. Os acionistas cancelaram o contrato crucial. Eu havia seguido à risca os ensinamentos do meu pai, mas ainda assim fracassei.

Olhando para a vista de Los Angeles, refleti sobre o ano difícil. Seis contratos por mês era o objetivo, mas nada saía certo. Talvez fosse hora de renovar a equipe.

Kristal, minha secretária, entrou na sala.

— Senhorita Eloise?

— Sim? — respondi, ainda perdida em meus pensamentos.

— O Sr. Thompson ligou. Kristal hesitou. — E... sobre a reunião, sinto muito.

Sua insegurança me fez questionar.

— Kristal, sua performance nas reuniões foi insatisfatória — eu disse, firme. — Sua falta de experiência prejudicou negociações importantes.

Kristal chorou.

— Sinto muito, senhorita Eloise. Eu tentarei melhorar.

— Infelizmente, não dá mais tempo — eu respondi, gentilmente. — Seu contrato será rescindido ao final do mês.

Kristal chorando se retirou da minha sala.

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