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Capítulo 06: Não é Bem Um Dom

Michael

— Soube que a reunião não correu bem — comentou Lauren, a recepcionista. — Os acionistas não fecharam o contrato e Eloise está furiosa!

Sam murmurou:

— Eu não entendo. Tinha tudo para dar certo.

Lauren acrescentou.

— Eloise deve estar sobrecarregada. É muita responsabilidade.

Era incrível como todos se preocupam com Eloise, apesar de suas atitudes difíceis. O carinho e dedicação da equipe são realmente tocantes.

- Ela precisa de apoio. Você precisa ir falar com ela. - sugeriu Lauren.

- Por que eu? - Sam arqueou as sombracelhas.

- Porquê você é o assistente. Conhece ela melhor que todo mundo.

- Eu me recuso a ir na sala dela! Lembra do que aconteceu ano passado? Ela me acertou um abajur. Um abajur! - disse Sam.

Arqueei as sombracelhas. Eu sabia o quanto Eloise era mandona e exigente, mas não fazia ideia de que ela também fosse o tipo de chefe que j**a coisas nas pessoas. Cada dia uma surpresa diferente.

- Costuma passar por isso? - me repreendi mentalmente por ter saído do meu posto e se metido na fofoca.

- Na maioria das vezes.

- Isso é sério?

- Você não conhece Eloise - respondeu Lauren. - Quando nada dá certo é na gente que ela desconta.

Esse comportamento parecia ser a cara de Eloise. Mas não parecia certo ela descontar a raiva em pessoas que não tinham nada haver com o que estava acontecendo.

Sam encostou-se na parede ao meu lado.

— Eloise odeia admitir, mas cobra muito de si mesma para ser tão perfeita quanto o pai. Ela é teimosa e nunca desiste da busca pela perfeição.

— Isso deve ser muito pesado — comentei, sentindo uma ponta de compaixão por Eloise.

Sam assentiu.

— Sim, é uma pressão constante. Ela se esforça demais para atender às expectativas do pai, mas nunca se sente suficientemente boa. É um ciclo vicioso.

— E o pai dela é mesmo tão perfeito? — perguntei, curioso.

Sam sorriu ironicamente.

— Ninguém é perfeito. Com certeza, no início ele também já passou por isso. Mas Eloise não o vê dessa forma. E essa é a maior armadilha.

- Isso aos poucos está a consumindo, sabe. Ela está cegamente louca pela perfeição, o que acaba atingindo todo mundo a sua volta. Incluindo, alguns funcionários que mal chegam e já são demitidos.

- Mas, isso não é justo.

- Sra. Thompson não tem pena de ninguém. - disse Lauren.

Pensei em como aquilo tudo estava sendo uma tortura pra ele. Eloise Thompson era má, e eu não tinha noção do quanto.

- Ah, Kristal! - Sam foi em direção a uma mulher que estava aos prantos. - O que aconteceu?

- Ela me demitiu.

- Eu sinto muito. Vem cá - Sam a puxou para um abraço.

A mulher chorava sem parar. Eu por um momento me coloquei no lugar dela. Eu também ficaria indignado se tivessem o demitido daquele jeito.

Agradeci por não ter sido responsável por sua contratação, mas não podia ignorar a injustiça. Meu trabalho exigia neutralidade, mas minha consciência clamava por ação.

E então, sem pensar duas vezes fui em direção a sala dela, entrei sem bater e me deparei com Eloise virada para a janela. Ela se virou rapidamente assustada.

Ok, aquela não era uma das maneiras mais elegante de eu entrar numa sala.

- O que pensa que está fazendo?

- O que você pensa que está fazendo? Não é justo você demiti alguém quando na verdade, a culpa é sua.

- Saí da minha sala! Você não tem permissão de entrar aqui. - ela andou em direção a mesa.

— Eu sou seu segurança. E como segurança, é meu dever proteger os inocentes. — eu desafiei, mantendo o olhar firme. — Você não pode abusar do poder.

— Ah, eu vou ligar para meu pai pra acabar com isso agora mesmo! - Eloise esticou o braço e alcançou o celular.

— Pra ele me demiti igual você fez com aquela mulher? — indaguei, fazendo Eloise arquear as sombracelhas pela minha ousadia. — Pra ele me demitir como fez com Kristal? — eu desafiei. —Você é uma mimada, sem noção do valor do trabalho. Sempre teve tudo na vida.

— Você não me conhece!

— Sei que você erra e arruma alguém para jogar a culpa. Não é à toa que todos te chamam de rainha do gelo!

Ela me acertou um tapa forte. Eu segurei seu braço, colando-a contra a parede.

— Nunca mais me bata! — eu rosnei.

Eloise respirava pesadamente, olhos faiscando ódio. Seu silêncio apenas aumentou minha fúria.

— Como você consegue ser tão cruel e estúpida com tanto poder?

Ela tentou se libertar, mas eu a segurei firme.

— Me solta! — ela gritou.

— Não — eu disse, implacável. — Você vai me ouvir.

— Eu não tenho que te ouvir! Me solta!

Eloise se debatia, mas logo se acalmou. Seus olhos verdes brilhavam, intensificando sua beleza. Meu olhar pairou sobre seus lábios, e uma curiosidade irresistível me assaltou: como seria beijá-la bem ali?

A respiração de Eloise era pesada, quase ofegante, enquanto seu olhar fixo e sedutor nos meus lábios me deixava louco. Minhas mãos deslizaram suavemente sobre sua cintura, apertando-a levemente, sentindo o calor de sua pele.

Quando ela mordeu os lábios, um arrepio percorreu meu corpo. Era o sinal que eu aguardava. Eu a beijei com intensidade, devorando seus lábios macios e suaves. A língua dela se encontrou com a minha, criando uma dança sensual.

As mãos de Eloise puxavam meus cabelos, enquanto eu a pressionava contra a parede. Nossos corpos se colavam, sentindo o calor e a tensão. O beijo se intensificou, nosso desejo explodindo em cada toque.

Eu sentia seu coração acelerado, batendo junto com o meu. Cada segundo era uma nova descoberta, um novo prazer. O mundo ao nosso redor desapareceu, deixando apenas nós dois.

Quando estava prestes a explorar mais, o telefone tocou, interrompendo o momento.

Rapidamente, nos separamos. Eloise atendeu, enquanto eu ajustava meu terno, tentando recompor-me. O olhar dela encontrou o meu, cheio de tensão e promessa.

— Isso não podia ter acontecido! - Eloise disse depois de desligar o telefone.

— O telefone nos interromper?

— Não seu idiota! O beijo. O beijo, não deveria ter acontecido!

— Mas aconteceu e você gostou.

— Você não tinha o direito de me beijar. Ficou maluco?

— Teoricamente você também me beijou.

— Foi você que me beijou.

— E, você correspondeu e gostou.

— Eu não gostei!

— É sério?

— Já beijei pessoas melhores.

— Melhores, é? — Eu levantei uma sobrancelha. — Seu beijo diz o contrário.

Eloise engoliu em seco e eu sorri. As maçãs do rosto dela mudaram o tom para vermelho o que a deixava mais atraente na minha opinião.

Eloise fulminou-me com olhar furioso.

— Não quero você entrando na minha sala novamente! Se não, vou informar ao meu pai que, além de ser um péssimo segurança, você me beijou!

— Péssimo segurança? É sério? Estou aqui há apenas dois dias.

Ela se aproximou, irritada.

— E não me chame de mimada novamente!

— Se não vai me beijar novamente? — Eu provoquei.

Eloise me empurrou.

— Sai da minha sala! Agora!

Assim que passei, ela bateu a porta com força, deixando claro sua raiva.

Eloise possuía um mistério intrigante. Desde o beijo, senti uma conexão intensa, mas também uma distância inquietante. Ela parecia se render ao prazer, mas ao mesmo tempo, se afastar. Uma contradição fascinante que me deixava curioso e ansioso para desvendar seus segredos.

Sam me deu leves t***s nas costas.

— Você foi corajoso! Pelo menos saiu vivo! – Ele riu, notando meu terno amarrotado.

Forcei um sorriso.

— O que aconteceu lá dentro? — Sam perguntou, curiosidade estampada no rosto. — Ouvi gritos e barulhos de coisas se quebrando. Ela te atacou com um abajur?

Neguei com um sorriso forçado.

— Só uma discussão, já resolvemos.

Não poderia expor Eloise. Ela merecia respeito e privacidade. Meu segredo ficaria guardado. Protegê-la era questão de honra. Voltando ao meu posto, eu não podia deixar de pensar no mistério que a envolvia.

Sam atendeu o telefone e seu rosto iluminou-se.

— CANCELARAM O DESLIGAMENTO DA CRYSTAL! — ele gritou, surpreso.

A mulher, antes chorosa, agora sorria.

— Sério? Não acredito!

Sam confirmou com um aceno.

— É verdade! Obrigado, você fez um milagre!

Ele me deu um tapinha nas costas.

— Isso nunca aconteceu antes. Você deve ter um dom!

Não é bem um dom que eu tenho...

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